Jornalismo de peito aberto
Esse programa foi transcrito pela Mamilândia, grupo de transcrição do Mamilos
Transcrição Programa 110 –
Este programa foi transcrito por Carla, Nadiezda, Fernanda, Alan Bastos, Bruna, Marina, Lu Machado, Felipe Gomes, Ana Carol Araújo, Fran Dalapícola, Letícia.
Revisado por João Gentil
Início da transcrição:
(Bloco 1) 0’ – 4’59”
Esse podcast é um oferecimento da Easynvest.
[Vinheta de abertura]
Esse podcast é apresentado por B9.com.br
[Sobe trilha]
[Desce trilha]
Ju: Mamileiros e mamiletes, bem-vindos ao espaço que construímos juntos
pra aprender, pra ouvir e pra crescer a partir do encontro com visões, vivências e pensamentos muito diferentes dos nossos. Esse é o Mamilos. Eu sou a Ju Wallauer.
Cris: Eu sou a Cris Bartis.
Ju: E hoje vamos falar sobre mulheres, dinheiro e independência. Beijo Para: Natal.
Cris: Indaiatuba/SP, em especial pra Ana Cristina, que é amiga da Bruna.
Ju: Pra Porto Alegre.
Cris: Pras alunas da FAAP e pros mamileiros de Toronto, Canadá, em especial pro Alan.
Ju: O Mamilos é feito pelo Caio Corraini na edição; pela Luanda Gurgel, Guilherme Yano, a Luiza e o Cleyton nas redes sociais; pela Jaqueline Costa e grande elenco no apoio à pauta; e pela Lu Machado e a maravilhosa Mamilândia, que eu já tô sabendo que tá rolando um amigo secreto e não me convidaram, [risos da Cris] que fazem a transcrição dos programas.
Cris: E essa semana tem merchan, Juliana?
Ju: Tem merchan!
Cris: Investir é um dos melhores caminhos pra alcançar a independência financeira. O que a Easynvest faz é trazer este universo para o seu alcance, para o seu bolso. Com o aplicativo da Easynvest, você investe da palma da mão, começando a partir de trinta reais, disponíveis na Play Store e na Apple Store. É baixar, cadastrar, transferir o dinheiro e começar a investir com 100% de segurança, do seu jeito. A Easynvest transformou o investimento em entretenimento, sem economês ou linguagem complicada. Pelo aplicativo, você aprende como começar a investir com dicas em vídeo. Difícil é trabalhar, pegar ônibus lotado, tentar entender polêmicas sem maniqueísmo, encontrar visões diferentes sem perder a empatia e a tolerância. E isso, vocês já fazem todos os dias. Investir pode – e deve – ser fácil. Baixe o aplicativo agora e comece a investir com a Easynvest “Easynvest”.
[Sobe trilha]
[Desce trilha]
Ju: Muito bem, vamos para o Fala que eu Discuto. Você pode seguir a gente no “@mamilospod” no Twitter e por lá o Gustavo Alves disse: “Sobre o podcast número 109 do Mamilos, a humanidade e a esperança que vocês mantêm, mesmo falando de um assunto tão difícil é linda, amo vocês.”
Cris: A Anna falou: “O desespero com a verdade explicitada pelo último @mamilospod me fez chorar – literalmente. Tenhamos força, tenhamos esperança, meninas!”
Ju: E a Soraya disse: “E esse Mamilos sobre crise política? Provoca, mexe na ferida, bota pra pensar… aff, que coisa boa!” Então, teve gente chorando, teve gente agradecendo, teve gente confusa, teve gente acalentada… esse programa fez muita gente bater pino.
Cris: Você também pode seguir e conversar conosco pelo Facebook. Vai lá: “Mamilospod”. A Laís Fraga disse: “Excelente episódio. Vi muitas das minhas aflições sendo colocadas em debate e consegui organizar meus pensamentos enquanto ouvia. Deu um quentinho no coração ouvir, ao final do episódio, que a ideia é começar a trazer propostas bacanas. É exatamente do que carecemos atualmente e acho que a situação do Temer deixou isso muito claro. Após ir para as ruas gritar ‘Fora Temer’, me vi em uma situação que acho que não pode ser melhor representada que [por] um: ‘Eita!’ E se cair, quem entra? O que discutimos, propomos, criamos durante esse ano após impeachment? Sinto que nossos esforços estão todos em barrar os absurdos que estamos vivendo e nos resta pouco tempo e habilidade pra criarmos o país que queremos. Gostaria muito de ver o debate ir para o lado da participação social e política, da desmistificação da persona política. Parabéns, meninas, ansiosa pelo próximo episódio!”
Ju: O Cadu Carvalho disse: “Gostei muito do programa. Os convidados foram muito precisos e eu, que achava que ia parar o programa no meio, por estar saturado desse tema, fui levado até o final me sentindo representado pela desesperança comentada no fim e pela necessidade de um departamento de ‘Calma, gente’.”
Cris: Vá também conversar conosco no site, você encontra lá também todos os nossos programas: “Mamilos”. Lá, o Vinicius Mota disse: “Na minha cabeça, eu já estava racionalizando que o Doria faria tudo pra corresponder à demanda da sociedade por recrudescimento e conquistar mais relevância no caminho (tática que, aliás, não foi inventada por ele). Mas eu não tava mergulhado nessa história; a fala da Ju me deixou com um nó na garganta, fez eu sentir, de fato, o significado disso tudo.”
(Bloco 2) 5’ – 9’59”
Ju: E o Fernando Bittencourt disse: “Quando se propõe em falar de política (ainda mais do jeito supostamente cheio de empatia, amor, respeito ao amiguinho e talz) temos que deixar nossas preferência ideológicas e partidárias do lado de fora. Caso contrário você cai no risco de fazer um programa raso, super tendencioso, sem contrapontos e falando para a galera que concorda com você. Achei que o programa seria sobre o sistema político, mas foi sobre alguns políticos que são bem piores que aqueles que eu me identifico. Nem na época do impeachment eu ouvi um programa assim. Talvez eu tenha ido ouvir achando que seria uma sucursal do último NBW, mas nem era. Enfim,fiquei bastante decepcionado. O que eu achei MUITO estranho é que o programa pegou um grupo para carregar a mão com críticas pesadas (e justas, com certeza), mas colocou o outro grupo (que passou mais de uma década sentado na cadeira e saiu “ontem”) pra baixo do tapete e fingiu que nada era nada. Que houve uma perseguição dos bons para os maus assumirem o poder e ferrar o trabalhador com reformas. Sério, Mamilos?! Eu percebo muitas vezes uma boa vontade incrível para defender os erros de A e uma intolerância absurdas com erros do B. Cara, todo mundo tá com lama até o pescoço e por nossa conveniência vamos pegar só metade da turma pra cristo? Ah, Mamilos. Não faz isso!”.
Ju: Eu escolhi esses dois posts porque eles representam opiniões distintas e que foram bem comuns. Admito que teve bem mais gente super feliz pelo meu desabafo lá em relação ao Dória, mas algumas pessoas incomodadas. E eu faço mea culpa aqui, que o tom que eu falei e o jeito que eu falei não combinam com o Mamilos. Muito simples. Porque a gente tenta ao máximo ser equilibrado, não sem motivo, mas pra possibilitar o diálogo. Então assim, eu entendo que tem muita gente que apóia o Dória, eu entendo que eles tenham suas razões – e que essas razões não incluem desconsiderar a vida de pessoas em situação de rua. Só que quando o dedo vai na ferida às vezes é difícil manter o distanciamento, então assim… acho, sim, que eu perdi o tom que o Mamilos faz, saí um pouco da proposta que o Mamilos faz, e acho que isso faz parte. Pra além disso, pra quem faz crítica que o programa pendeu muito prum lado – e, de fato, o Arthur, ele é muito transparente na posição dele, por isso mesmo que ele fez um contraponto no programa de PEC. Então assim, a proposta do Mamilos é ampliar os nossos horizontes, ele nos dá oportunidade de encontrar pessoas com experiências e visões muito diferentes das nossas e escutar argumentos defendidos com inteligência e empatia com os quais a gente não concorda. Fazer esse exercício de escuta e reflexão é um desafio, e embora a gente goste do conteúdo que a gente faz, a gente “nos” [se] orgulha demais do trabalho que são vocês, os ouvintes, que fazem a partir disso, de transformar o que a gente faz em crescimento pessoal. Então assim, em alguns programas, esse encontro de visões diferentes se dá na mesa, como por exemplo o programa da PEC, que vocês viram o Arthur. Nos outros, o exercício é de escutar um lado da discussão, desenvolver o raciocínio, como foi, por exemplo, o programa do Pixo, que só tinha uma visão na mesa. E tudo bem, era importante a gente escutar o que aquela visão, que nunca é trabalhada em profundidade, tem. A mesma coisa nos programas de Reforma. Então eu acho muito difícil, por exemplo, pra quem tem uma linha de pensamento mais alinhado com a esquerda escutar o programa sobre Reforma, como a gente fez dois. Mas eles foram feitos, porque os argumentos precisavam ser apresentados e explicados. Esse público achou ruim, achou amargo, achou difícil, mas escutou, criticou pontualmente no que tinha argumentos diferentes e elogiou o conteúdo e a importância da experiência de encontro com esse outro universo teórico.
É a mesma coisa que eu espero de quem ficou muito incomodado de ouvir a palavra ‘golpe’ falada no Mamilos. Não precisa concordar com o que foi pra mesa. Não precisa mudar de opinião. Mas eu acho bem interessante que se aplauda de pé a oportunidade que a gente dá de vocês se confrontarem a cada momento com visões honestas, inteligentes e bem intencionadas de mundo – ainda que completamente diversas das suas. Dito isso, muito obrigada, gente, pelo carinho. Continue com a gente que essa jornada vale a pena.
[Sobe trilha]
[Desce trilha]
Ju: E vamos então pra Teta do Mês; primeiro apresentar quem tá com a gente. Vamos começar pela Vivi Duarte, do Plano Feminino. Vivi, cê já veio aqui? Cê já gravou Mamilos?
Vivi: Oie! Não, no Mamilos, não. A minha estreia! Tô assim… muito feliz, emocionada, feliz mesmo! Adoro o Mamilos!
Ju: Noooooooooooossa, Vivi! A gente ama o trabalho da Vivi, a gente super acompanha e enaltece. A gente precisa te perguntar primeiro, então, já que é a primeira vez, pra te apresentar pros nossos ouvintes: quem é você na fila do pão, Vivi?
Vivi: Meu, quem é a Vivi Duarte na fila do pão? [Risos] É uma menina que nasceu na periferia de São Paulo, que viu ali mulheres batalhadoras fazendo acontecer, acordando de madrugada com sacolinha pra ir vender bolo, pão, roupa e… minha mãe e minha vó, umas dessas mulheres, né? Então, é uma menina que cresceu no meio de mulheres fortes, né, e mesmo sem privilégios conseguiu ir alcançando espaços e conquistando, então… hoje eu sou jornalista, sou empreendedora;trabalhei quinze anos em empresa, em global, e saí pra montar meu negócio, que é o Plano Feminino. E agora o Plano de Menina, né? [Cris: Ai, que a gente ama!] Que é a menina dos meus olhos! Ai, eu quero vocês, também, com a gente no Plano de Menina!
Ju: Já tamos!
(Bloco 3) 10’ – 14’59”
Vivi: Que bom! E aí, o ano passado a gente conseguiu formar 150 meninas. A gente tem cinco comunidades hoje de São Paulo, todo sábado simultâneo a gente se encontra com essas meninas. Têm uma rede de mulheres incríveis, de juízas, jornalistas, empreendedoras, que dão aulas de empreendedorismo, educação financeira, auto estima, moda, e a gente se encontra com elas.. Sábado agora tem, né, todo sábado tem. O ano passado foram 150 meninas formadas e esse ano a gente já tem 200 que a gente tá, tá juntas, tá crescendo né?
Ju: E a rede só se espalha..
Cris: A gente foi na formatura e é muito difícil não chorar, nossa.
Vivi: Eu amei ver vocês lá também! E a gente vai realizando né?, vai acreditando nos planos, e além de ter plano tem que colocar para acontecer.
Ju: E também com a gente, Cynthia Almeida. Cynthia, conta um pouquinho quem é você? que que você faz? de onde você vem? do que que você se alimenta?
Cynthia: Adorei [risos] Eu adoro a história da fila do pão. Bom..
Ju: [interrompe] Quem é você na noite, também pode ser.
Cynthia: Ultimamente, eu estou mais pra fila do pão (risos). Eu sou uma jornalista, uma velha jornalista, mas eu tive uma passagem bem extensa, durante mais de 30 anos em editoras, então eu sou especialista em revista, nessa mídia que atravessa uma fase minguante, né? Minhas amigas vão ficar tristes comigo, mas é verdade, eu amo revista e eu acho que revistas serão eternas. Não naquela dimensão que conhecemos, mas em muitas outras. E depois dessa carreira corporativa longa, extensa, passagem por direção de diversos veículos e tal, eu comecei a gostar dessa história de falar sobre carreira feminina. Até porque, eu acho que eu era uma protagonista, né, dessa carreira. Durante muitos anos eu não enxerguei a diferença de gênero durante esse percurso, e fui aprender muito tarde que havia uma enorme diferença, e isso muito me motivou logo… enfim, quando eu comecei a escrever uma coluna sobre carreira de mulher, eu entendi que carreira de mulher não tinha nada a ver com carreira de homem. Eu ocupei alguns espaços bastante masculinos para não dizer machistas. Eu fui diretora da revista Playboy, é uma coisa [Ju: uuuuuuu] E acho assim.. E isso me deu ali uma sensação errada, né? Uma ilusão, talvez, de que imagina: “Se uma mulher pode dirigir Playboy, o que que nós não podemos fazer?” Tava tudo errado, mulheres realmente tem um percurso muito mais difícil, muito mais… inclusive em situações bastante questionáveis como a própria revista Playboy.
Cris: É isso ai, vamos então com essa mesa estrelada entrar no nosso tema. A gente vai fazer uma introdução pouquinho longa, mas é que é pra dar o tom da conversa. E nosso tema dessa semana é: “mulheres, dinheiro e a independência”. Qual é o fato? A dificuldade das mulheres em lidar com dinheiro e com carreira profissional existe. Começou séculos atrás, quando elas eram impedidas de estudar, trabalhar, ou até mesmo participar da decisão de negócios em suas famílias. No Brasil, até 1962, as mulheres não tinham CPF. Como abrir uma conta no banco sem esse documento? No fim, foi criado o estereótipo de que mulheres se dão melhor com amenidades, humanidades e sentimentos. Foi também a partir dessa visão que foi construído o mundo dos negócios. O mundo feito por homens e para homens. Porém, após a Revolução Industrial, o que os maridos e pais traziam para casa já não era o suficiente para o sustento da família e a mulher começou a ir ao mercado de trabalho. Muita luta, muita dedicação, muita superação. Mulheres em lugares nunca antes imaginados e em todas as profissões, e hoje estamos diante dos seguintes números de acordo com o IBGE: 12,5% das mulheres no Brasil são graduadas contra 9,9% dos homens, e 43% dos empreendedores no Brasil são mulheres. A renda feminina cresceu 83% em 10 anos. Mulheres detêm aproximadamente 75% do poder de compra; 38% dos lares brasileiros são chefiadas por mulheres, porém mesmo com tanta evolução ainda se enfrentam problemas graves. Mulheres ganham em média 32% a menos que homens, mulheres negras ganham 65% menos que um homens, mulheres estão em apenas 37% dos cargos de chefias nas empresas, no setor público, esses são 21,7%. Somente 10% do cargo de diretoria executiva, no Brasil, são preenchidos por mulheres. Em pesquisa realizada pelo Serasa: 45% das mulheres estão negativadas, já esse percentual cai para 43% em relação aos homens; elas ainda estão as mais endividadas em linha de crédito, com cartão, com crédito consignado, e também com cheque especial. Outra pesquisa constatou que 39% das mulheres se dizem bem informadas sobre investimento, mas quando o número é homem são 67% que dominam esse assunto. Ainda segundo o estudo da Blackhawk, somente 40% das mulheres dizem que agem por conta própria quando o assunto é onde investir seu dinheiro, enquanto 67% dos homens fazem isso sozinhos.
(Bloco 4) 15’ – 19’59’’
Cris: Um estudo da Prudencial mostra que 60% das mulheres se vêem como poupadoras, ao invés de investidoras. Já 70% dos homens estão dispostos a assumirem algum risco na oportunidade de fazer o seu dinheiro render mais. Mulheres escolhem carreiras em que podem conciliar trabalho com as tarefas de casa, mãe, esposa e cuidadora. Outras abrem mão da carreira ou dão prioridade para a ascensão do marido, porque ele ganha mais. Há vários aspectos que restringem essa ascensão, inclusive o machismo, pois alguns homens não aceitam a ideia de serem comandado por uma mulher, ou mesmo que sua companheira ganhe mais que ele. A diferença como homens e mulheres olham para o dinheiro fica estampado em um estudo feito pela Organização Fidelity, 54% das mulheres associam riqueza com a palavra segurança, enquanto que 82% dos homens associam com sucesso e poder. A realidade é que mulheres ganham menos, gastam mais e investem menos e pior. Não importa se você é rico ou pobre, dona de banco ou dona de casa, funcionária público ou empreendedora, o dinheiro é uma presença constante na vida de todas nós.
Ju: O primeiro passo para o equilíbrio financeiro é entender o que fazemos e por que fazemos. A nossa relação com o dinheiro não é meramente racional e orientada por uma planilha, pra isso basta fazer três perguntas simples: “Como as questões financeiras eram tratadas na sua casa?”; “Pra você, dinheiro está relacionado com liberdade ou angústia?”; “Quem você admira pela forma como lida com o dinheiro?”. Compreender a partir da sua história, as razões por trás das suas atitudes, é o que vai redefinir seu relacionamento com o dinheiro. As dificuldades e desigualdades já são nossas velhas conhecidas, nossa proposta com esse programa é deixar de lado aquilo que está posto e buscar sair das práticas pra mudar a relação das mulheres com o dinheiro, visando sua independência. Um dos principais ditados sobre dinheiro, não é mentiroso: dinheiro é poder. E a mulher de hoje sabe que o dinheiro pode ser o agente libertador das mais diversas situações, seja de um ambiente de trabalho opressor, seja de um relacionamento abusivo, porque a partir dele que ela consegue barganhar aumentos, abrir seu próprio negócio e até mesmo pagar um aluguel sem depender do marido. Bora conversar mais sobre como podemos alcançar esse bem estar. Sim. Esse programa tem um recorte de gênero, mas meninos, temos certeza que vocês também irão se identificar com várias passagens aqui comentadas e poderão tirar lições práticas pra vida e carreira de vocês. Não desliguem agora. Esse programa faz parte da série “Trabalho e vida” que incluem os programas Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista e Futuro do Trabalho.
Cris: O nosso roteiro foi amplamente inspirado no livro que a co-autora está aqui presente que é a Cynthia que escreveu em parceria com a Denise Damiani que é o “Ganhar mais, gastar menos, investir melhor”. Então a gente vai passar por uma série de temas, inclusive o nosso roteiro tá bastaaante aí recortado a partir do livro. E a gente começa com a polêmica: mulheres e dinheiro, não tão amigos assim. Uma relação mal trabalhada desde a infância, passando por uma juventude super exposta ao consumo, música, livros e filmes que reforçam a falta de destreza com números e falta de referência de grandes empresárias no mercado, as mulheres vivem uma relação de amor e ódio com o dinheiro. Pra abrir essa discussão, vamos debater alguns comportamentos padrões que ajudam as mulheres a manter essa relação tão complicada com a sua carteira. E eu acho muito legal porque quando a gente começa a ler sobre esses mitos a gente começa a se identificar e a gente começa por aquele que é de cara pelo que a gente mais conhece que é o mito do príncipe encantado. Então as frases: “O homem lida melhor com o dinheiro.” ou “Meu marido entende desse assunto e cuida do dinheiro pra mim.” São questões que a gente mais ouve. Como que vocês entendem e como que vocês se relacionam com esse mito, algumas de vocês já passaram pelo momento de: “Miga, não quero saber de dinheiro”. Como que é isso?
Cynthia: Então eu na minha apresentação eu esqueci do principal que era o livro, [risos] a co-autoria do livro com a Denise, que é uma honra. Assim, primeiro que a Denise Damiani é uma consultora, hoje uma consultora de empreendedorismo, de carreira…
Cris: Uma diva, praticamente.
Cynthia: Uma diva, uma gurua. Que me ensinou muito e pra quem eu tive o prazer de simplesmente traduzir a essência do pensamento bastante bastante sólido a respeito desse mundo, para uma mulher que é como todas as outras que é nós temos essas questões com o dinheiro e, amiga, nós temos mesmo e eles não partem apenas deste modelo, a falta de tradução adequada do mundo financeiro para as mulheres. Esse eu acho que é a última ponta. A gente não entende mesmo a linguagem financeira e isso dá uma certa, a princípio uma certa rejeição: “Eu não quero saber sobre coisas que são muito complicadas e que os homens e o mundo das finanças fazem questão de tornar ainda mais complicados”, o que nos levariam a essa terceira equação do livro que é ganhar, gastar e investir. Não existe uma forma de você lidar com dinheiro que é ganhar mais, gastar menos e investir melhor, separadamente. São as três pontas desse triângulo virtuoso que vão fazer com que a gente chegue lá mas para responder a sua pergunta, Cris, que é [sobre] o príncipe encantado… Claro que as mulheres foram educadas, mesmo as pessoas que são batalhadoras, pessoas que, aliás, o mundo é difícil para quem não nasce em berço esplêndido, que é a maioria, a grande, a enorme maioria, mas mesmo assim a mulher ocupou um lugar de “Sim, trabalhar, ralar legal”, mas na hora de quem cuida e quem toma decisões à respeito de como fazer esse dinheiro render mais, principalmente na parte do investimento é o homem porque a gente acha que vai ter alguém que vai cuidar da gente e as mulheres tem um pensamento mágico “Ah! Essa assunto é chato. Trabalhar não é chato, mas [lidar com] dinheiro é chato” e dinheiro está sempre associado a um caráter, uma porção do seu comportamento que não é aplaudido. Ninguém acha bacana… Se pergunta… Eu perguntei aqui para vocês qual é o modelo de negócio de vocês, mas essa não é uma pergunta simpática. As pessoas gostam de…
(Bloco 5) 20’ – 24’59”
Ju: [interrompe] Nããão, é feio. Falar de dinheiro é sujo, né?
Cynthia: É feio…
Ju: [interrompe] Dinheiro é sujo.
Cynthia: É legal trabalhar, é legal fazer coisas bacanas, é legal realizar, é legal ter uma obra, poder dizer “Nossa, como eu faço coisas incríveis!”, “Eu sou reconhecido!”. Mas se falar assim “Mas quanto você ganha com isso?”, “Ah, nada.”, “O suficiente”. [Risada da Ju] Então é um problema que vem da origem. É por isso que a gente quer um príncipe encantado. Não é só um sentimento romântico, que as mulheres já passaram desse tempo de achar que alguém vai carregar você no colo e colocar num cavalo branco. É um jeito da gente se proteger, de não ser obrigada a se lançar a tratar de um tema que não é aplaudido. Eu tenho uma teoria que não é a da Denise: eu acho que tudo no fundo se resume a uma necessidade absurda que as mulheres tem de ser admiradas, de serem queridas e que essa questão de ser chamada de ambiciosa, de carreirista, de gananciosa, dinheirista, é horrível.
Cris: Você está entrando aí no complexo da boazinha. Eu acho que é o que destrói a gente, frases como: “Não quero ser vista como ambiciosa”, “Eu tenho vergonha de cobrar mais e ser chamada de mercenária”, “Pedir aumento é muito desconfortável. Eu quero é ser reconhecida pelo que eu faço sem precisar pedir”, “Eu não quero ter o controle financeiro da casa porque meu marido entende melhor disso e se eu entrar no meio vai dar problema”…
Cynthia: [interrompe] Exatamente, exatamente…
Cris: Eu acho que, misturando um pouco disso, primeiro que é o delegar, ter um pouco desse pensamento mágico “Quem sabe um dia eu não ganho na loteria?”, “Mas eu nem jogo!”.
[Todas riem]
Ju: Não, mas duas coisas distintas aí nesse mar de coisas que você colocou. Uma é “Eu não quero ser vista como gananciosa, como ambiciosa” que eu acho disse homem nenhum nunca. Não sei se conheço um homem que falou assim “Deus me livre! Já que pensou se alguém pensar que eu sou ambicioso?”. [Cynthia: Ah, homem não tem esse pensamento.] Não é feio para um homem ser ambicioso. [Cynthia: É elogio! É elogio! Se um homem é ambicioso…] Pelo contrário. E aí assim… A gente fala isso no Mamilos de que o machismo é uma prisão para todo mundo, né? Porque o homem que não é ambicioso, ah, ele está ferrado, né? Ele está ferrado porque aí ele é um Zé Ninguém…
Cynthia: [interrompe] Ele é um acomodado, ele é um acomodado.
Ju: Porque ele não pode. Porque ele é um acomodado. É aquela coisa: para a gente é feio ser, para os homens é feio não ser, mas o papel ele tá claro. Você só pode ser isso e você só pode ser aquilo, né.
Cynthia: O machismo…
Vivi: Coisa de menino e coisa de menina, né? Acho que vem mudando muito agora, gente olhando como mães, observando como a gente trata coisa de menino e coisa de menina. Menina tem que ter rosa e menino tem que ter azul. Os meninos brincam de lógica, de jogos de negociação e de força e as meninas, de delicadeza, serem mamãezinhas de bebês, né, naquele mundo encantado então essa educação da gente faz a gente achar que não pode ser uma mulher competitiva, uma mulher audaciosa. Então muitas vezes no mundo dos negócios eu vejo isso, quando a gente precifica um trabalho, as pessoas “Uau, como você é, né?”. Por quê? Porque eu estou dando valor para uma coisa que sei fazer e sei fazer bem? Ou se a gente fala “Obrigada”, se a alguém te elogia por um trabalho e você não atribui aquilo para o grupo inteiro, porque você sabe que realmente teve noventa por cento do teu esforço naquilo e, óbvio que existe uma equipe… Eu acabei de falar, ninguém faz nada sozinha, mas a gente saber receber um elogio e falar “Muito obrigada, eu realmente sou muito boa no que eu faço”. [Risada da Cris] Gente, por que que a gente não pode fazer isso? Acho que está na hora da gente começar a criar as meninas para serem o que elas quiserem ser.
Cris: Eu gosto muito dessa pergunta da introdução que é “qual a memória que você tem de dinheiro em casa?”, “quem você admira porque lida com dinheiro?” Lida bem com o dinheiro.. Quando você para e reflete sobre essas questões você vê a ausência do feminino nisso…
(Bloco 6) 25’ – 29’59”
Chynthia: As memórias afetivas… O livro começa assim, né, começa com essas perguntas porque como a gente não sabe lidar com dinheiro, a gente não reflete muito sobre dinheiro. Porque dinheiro, afinal, ele é um símbolo, ele não é um papel, ele não é uma moeda, ele é o que ele significa, né? Só que a gente tá acostumado a atribuir dinheiro a unicamente a consumo, então “Eu quero ter mais porque assim eu compro mais, eu posso viver melhor e é isso” e na verdade, o significado de dinheiro, como vocês falaram em diversos momentos aqui é o poder e a liberdade e a premissa do livro é a liberdade e a autonomia feminina.
Ju: Quem tem o dinheiro, facilmente nas nossas memórias afetivas, quem tem o dinheiro tem poder de escolha.
Chynthia: E tem o poder de ficar falando coisas como “O dinheiro não dá em árvore”… Essas são as míticas das famílias, toda família tem. Meu pai tinha uma figura que era muito engraçada. Ele sempre falava assim: “Ou você vai trabalhar e ganhar seu dinheiro ou você vai ser carroceiro”. [Risos] Então o mundo era dividido em pessoas que trabalhavam….
Ju: [interrompe] Nossa, minha mãe falava isso, cara. Que gênio! [Chynthia: Falava do carroceiro?] Falava isso…
Chynthia: Coitados dos carroceiros.
Vivi: Minha vó falava que dinheiro não aceita desaforo.
Chynthia: “Dinheiro não aceita desaforo”, “Dinheiro não dá em árvore”.
Vivi: “Pega aquela moeda ali que tá naquele canto ali, isso é desaforo!”
Chynthia: Que “Eu não sou sócio da Light” que não podia gastar luz… Eu não sou sócio da Light ainda, né?
Vivi: É, verdade. [Risos]
Chynthia: E aí você fala, quando você fala assim, essa era a referência, era uma pessoa que trabalhava muito, meu pai, e portanto era muito cuidadoso com seu dinheiro, que não dava em árvore e não era sócio do Light e se você não trabalhasse e ganhasse você ia ser carroceiro.
Cris: Não e isso vai totalmente contra o que é a boazinha, né? Porque a boazinha ela não brilha além da conta, ela não exige muito, ela não chama atenção pra si, ela não levanta a voz. A boazinha ela é meiga, ela aceita.
Chynthia: Tem uma boazinha meiga, mas tem também uma boazinha que é a boazinha valente e corajosa só que não nessa seara.
Cris: É porque o contrário da boazinha não é a “mázinha”. [Risos].
Chynthia: E também o lugar da boazinha não é o da rica. A rica normalmente não é… A boazinha é a Cinderela, a boazinha é aquela que trabalha que nem uma coitada, uma cavala, mas então ela tem valor. Ela tem valor de beleza, ela tem valor de força de trabalho, ela é inteligente. Mas a rica, o estereótipo que é dado pra mulher que tem dinheiro não é uma coisa positiva. [Cris: Fria. Ela é má, ela é fria.] Então você pode ser uma sonhadora, você pode ser uma pessoa que quer ter um trabalho importante, você pode querer ser uma cientista, uma artista… isso hoje, né? Eu tô falando dos séculos passados, mas ser uma rica? “Não!” [Ju: Não!] Não é bonito ser rica. [Ju: Não!] Então dinheiro, você pode até sonhar com uma carreira onde você seja reconhecida pelo seu conhecimento, pelo valor até social do seu trabalho, mas dizer assim: “Poxa, que legal! Fulana ganhou dinheiro à beça na vida!” Ninguém fala isso.
Cris: Ninguém.
Ju: Mas sabe o que é engraçado? Que assim, eu tava falando com um amigo meu essa semana e ele tava falando sobre que ele vira o Pateta no trânsito, né? E que ele, putz, briga, ele grita, então por isso ele não quer mais dirigir e tal. [Risos] E olha como é engraçado, não tem nada a ver o trânsito com finanças , mas tem, né? [Chynthia: Tem!] Porque é como a gente se coloca na sociedade, porque eu falei: “É muito difícil uma mulher falar assim: Olha só. Até aqui você vai, daqui você não vai mais.” Então assim na hora que ele falou que ele tem uma chave de roda, sei lá, do lado porque se o cara cortar ele “Ele sai do carro muito louco pega a chave, não sei o quê…” Porque assim, você passou do limite! E você não passa do limite comigo, porque tem o meu espaço e tem o seu espaço e eu não vou ultrapassar o seu espaço, eu vou te respeitar e tal, mas “Você não passa do meu espaço, não”. E a mulher não pode botar esse limite desse jeito e com essa violência e tal. E OK, muito ruim a violência masculina na sociedade e tal, tudo errado. Mas quando a gente tá falando de relações e de negociar. E no trabalho você vai negociar o seu espaço pra salário; e no banco você vai negociar o seu espaço quando ele te falar que o juro é maior e você vai falar assim: “Ó então, olha aqui, OK. Eu não consigo pagar essa prestação e OK que você tem o risco de você aqui, mas assim, isso aqui é abusivo. Então nem eu vou ultrapassar o seu espaço e você não vai ultrapassar o meu”. Então o empoderamento pra se colocar numa posição de negociar, seja financeira, seja de carreira, isso é muito difícil pra mulher. A gente não tem esse arcabouço, a gente não tem essa construção.
Cris: A gente… Inclusive a gente entra no próximo item que é a síndrome da fraude, que é justamente esse medo de colocar todos esses limites. Então assim, “eu não sou capaz de lidar com dinheiro, eu nunca fui boa em matemática”, “Eu tenho medo de ter mais responsabilidades e não dar conta do recado”, “Eu não sei se eu quero ser promovida, eu me sinto segura e feliz com aquilo que eu já faço bem”. Então essa Síndrome, ela tá diretamente ligada a esse perfeccionismo, à essa baixa auto-estima que acomete a esse monte de mulher que é muito perverso.
(Bloco 7) 30’00” – 34’25”
Cynthia: Que tá ligado também à “Síndrome da Boazinha”, dois complexos muito parecidos, embora eles sejam diferentes. A “Síndrome da Boazinha” é eu tenho um papel e eu quero cumprir um papel e esse papel que me ensinaram é que se eu for negociar dinheiro ou querer um salário maior, é porque uma das razões pra essas estatística lamentáveis que você leu no começo do programa, ela só piora. Eu sei que as pessoas gostam de chamar isso de evolução, eu não vejo evolução, eu não acho que a gente tá evoluindo, nós estamos estagnadas, nós evoluímos como gerações que foram trabalhar simplesmente, porque também não fazia-se mais sentido ter um monte de gente dentro de casa porque a economia necessitava de mulheres pra ir trabalhar, a nossa posição não evoluiu nada, a nossa posição continua muito abaixo dos homens e numa inversão perversamente contrária ao grau de conhecimento ou grau de formação. Quanto mais a gente estuda, maior a diferença salarial. Quando você tá no primeiro degrau, quando você tem o ensino fundamental, você é capaz de ganhar a mesma coisa do que uma pessoa do que um homem na mesma função primária. Quando você estuda um pouco mais o gap vai aumentando. Mas voltando então a questão da boazinha e a “Síndrome de Impostor” a Denise conta uma história, que aliás foi grande motivadora desse grande novo viés na carreira dela, que era um viés de gênero, um viés de como ajudar as mulheres a chegarem mais perto do que elas poderiam. Que que ela percebeu como executiva que tinha uma equipe de mais de mil mulheres? Quando ela começou a fazer entrevistas com as suas funcionárias e depois ela começou a ser uma pessoa bastante curiosa, embora não jornalista, e entrevistar mulheres de todos os calibres e em todas as instâncias, da empregada doméstica, ela brinca, até a Hillary Clinton quando ela teve a oportunidade de encontrar. Fazendo uma pergunta de como você lida com o dinheiro. E o que que ela percebeu? Qual que era o grande fator comum entre elas? A grande maioria das mulheres, e aí a gente tá falando de negociação e de “Síndrome de Impostor”, achava que não deveria dar um passo além, nem no momento de contratação, porque é aí que começa a grande diferença. Você não negociou seu salário, os homens negociam. “Eu tenho aqui pra te oferecer dez [mil]”, você fala “Ai, tá ótimo. E o plano de saúde?” “Plano de saúde é bom também” [risadas da Ju]. Aí você não vai pedir vinte, os homens já começam a pedir. Primeiro, porque ela acha que ela não é capaz, etc e tal. Mas quando ela vai, ao longo da carreira, tentar uma movimentação não é que ela se sente muito bem fazendo o que eu já estou fazendo, é porque tenho medo de ser mandada embora se ela não conseguir fazer o próximo e não dou o próximo passo. E aí tem um monte de razões pelas quais você não se sente capaz, você não sente autorizada a pedir aumento, promoções, empreender, seja o que for, mas a principal é que você não tem dinheiro guardado. Se você perder aquele emprego, você não tem nada. E você vai ficar, bom se eu perder esse emprego eu não tenho outro, eu não tenho um centavo guardado, nunca cuidei dessa parte, eu vou ter que depender do meu pai ou depender do meu filho ou vou depender do meu marido. Então é uma situação muito difícil essa que não te dá um backup…
Ju: [interrompe] Margem de erro. Você não tem margem de erro.
Cynthia: Você não tem um backup. Você não tem. “Se eu errar aqui…” [Cris: Sensacional] E ela falou: “Bom, então eu não vou ensinar …” E aí começou essa… Enfim… [Cris: Essa jornada!] Essa jornada para ajudar as mulheres a aprenderem a investir. Porque ganhar, todo mundo ganha. A pessoa está empregada, ela está ganhando e ela acha que porque está ganhando pouco, ela não tem como investir. Ela tem.
Cris: A gente vai ver. Dentro dessa parte, dessa “Síndrome da Impostora”, eu acho muito legal um dado que achei numa pesquisa que quando tem uma vaga de emprego que tem ali a descrição das características [Cynthia: Ah! Isso é ótimo!] uma mulher só vai se candidatar à vaga se ela preencher 100% dos requisitos ali. Já os homens, se eles atingirem 60% do que for pedido, eles já se candidatam. [Cynthia: É verdade.] Então assim, a mulher tem uma questão que ela, nesse negócio da impostora que é: “Se está pedindo isso, eu não tenho, eu não vou”, ela não dá oportunidade que eu acho que era essa a virada de chave que a gente precisa fazer. Quem decide se você está apta ou não para o trabalho é o entrevistador.
(Bloco 8) 34’25” – 39.56”
Cynthia: Exatamente, mas a gente tem medo… [Ju: É autoestima, também. É autoestima, tem tudo a ver.] [Cris: Mas aí não vai…] Cê sabe que… Olha, eu, eu fiz… eu entrevistei o diretor de RH do Google lá do Vale do Silício, o Laszlo Bock, um cara genial. Escreveu um livro bem interessante: chama “Um Outro Jeito de Trabalhar”. E ele contou que… olha, isso para mim é uma ação afirmativa dentro de um RH de uma grande empresa. E era exatamente isso: abria-se uma vaga para uma promoção qualquer e eles viam que os homens se candidatavam sem a menor cerimônia se cumprissem trinta por cento daquilo lá, não era nem os sessenta. [Ju: risos] E as mulheres ficavam esperando, fazendo a continha… [Ju: a Sheryl fala isso também, né? No livro dela “Faça Acontecer”] É, né… Fazendo a continha, né, noventa. E aí eles fizeram um negócio super bacana. Eles começaram a selecionar e dizer assim: “Fulana, você tem sim! Se inscreve aí!” E eles ligavam ou mandavam e-mail para as mulheres que eles começavam enxergar, em vez de esperar. E aí elas…
Cris: [interrompe] Veja isso!
Ju: A Sheryl fala: um lugar na mesa. Para de se esconder!
[Vivi: Sim! Para de se esconder, bate nessa mesa e fala das suas ideias] Assim… a imagem… a imagem que ela fez de uma reunião em que, por exemplo, tem dez pessoas, oito cadeiras e você pega uma cadeira da outra sala e senta do lado e você não se senta na mesa. Ocupa um lugar, né. Você tem tanto direito quanto qualquer pessoa que tá ali [Vivi: Caramba!]. Senta na mesa! Como é que você vai participar do jogo se você nem sequer sentar na mesa. E a gente… essa “Síndrome da Boazinha” sempre faz falar assim: “Entre eu e você, por favor, você primeiro. Vai você! Licença..”. Muito bom, sensacional.
Vivi: É… vai você, licença, né, sorry. Tem um propaganda gringa da Pantene, né, que é: “Não peça desculpas, né”. [Cynthia: Não peça desculpas, que a gente pede muito isso: sorry, sorry, sorry, sorry…] Que a gente fica o tempo inteiro pedindo desculpas: sorry, sorry, sorry. Gente, para! Ocupa teu lugar, né. Eu acho muito interessante essa conversa que a gente tá tendo, né, e disseminar, falar mais sobre isso pra gente sair da nossa zona de conforto. Porque pra gente ocupar o nosso lugar é sair da zona de conforto total. Eu fiz agora um mentoria com mil mulheres pra uma marca. Eu tô com um olhar muito otimista. Eu sei que a gente tá… a gente pode estar estagnada, mas eu tô vendo muito microevoluções dentro das corporações. A gente atende muita global e empresas que tão assim a top down. Tem que começar a igualar salário com executivas do C-level e isso é muito legal. A gente já ta vendo em>CEOs que a gente aplica media training, que a gente faz, né, cursos internos pra essas CEOs, para diretoras de globais e, essas mulheres, elas querem e estão negociando, querem ganhar mais, querem a igual e elas estão conseguindo. Então o RH, ele está se mobilizando para mudar, trazer diversidade, começar equiparar, porque por mais que a gente ainda esteja estagnada, a gente tem agora uma luz acesa, né, com toda essa revolução [Cynthia: Isso tem, concordo. Tem uma luz.] Não é? Então tá todo mundo ali se mexendo. Essas microevoluções e revoluções vão transformando. Eu tenho acompanhado muito isso com as consultorias que a gente dá pelo plano, né, por meio das atividades com o plano. E a gente mentorou mil mulheres agora, ficamos seis meses mentorando mulheres empreendedoras, que é uma ação de uma marca, e convidou a gente para fazer essa mentoria. As mulheres eram total “Síndrome da Impostora”. Essas mulheres não acreditavam no potencial de negócio, não acreditavam na ideia, em nada. Então você olhava assim para as conversas e falava: “Mas, por que você tá com esse negócio em pé ainda, mulher?”. Né? “Ai, porque eu tenho uma relação emocional com essa marca”. [Cris: Tudo no sentimento] É! E aí, trazer para essa mulher o racional e falar: “Olha, você tem um potencial gigantesco, o teu negócio é um modelo de negócios que pode crescer trezentos por cento se você for assim, assim, se você bater na mesa, se você ocupar teu espaço, começar negociar melhor.” Em seis meses a gente conseguiu ajudar muitas mulheres a pelo menos levantar a voz e começar a falar e negociar de igual para igual. Muitas dependiam do marido para negociar com um fornecedor. E o marido trabalha em outro emprego e aí leva ela também meio, né, na esportiva, né, o negócio da mulher: “Não, pode deixar que eu negocio pra você.” Não! Ou então contrata um cara para ser o financeiro porque… é óbvio que pessoas têm expertises diferentes e eu sou péssima em finanças. [Cynthia: Mas é sempre o financeiro, né.] Mas a gente tem que saber o que tá acontecendo no nosso negócio, né. Eu, quando comecei empreender também… Eu fui gerente de marca por muito tempo de companhias grandes que gerenciava milhões, mas não cuidava diretamente daquilo. Eu tinha as ideias criativas, fazia interface com campanha e tal. Mas, exatamente com contabilidade eu não precisava lidar, né. Quando comecei a fazer com o meu negócio, me dava taquicardia.
Cynthia: As pessoas passam mal, passo mal, a gente passa mal.
Vivi: Gente” Eu falava: “meu Deus, como isso é complexo!” Eu não sei se vão conseguir lidar. Mas eu tive que quebrar essa barreira pro meu negócio avançar. E a gente tem que fazer isso, né? Então, eu tô muito confiante que as mulheres tão começando a olhar e entender que se elas não ocuparem os lugares que elas precisam, né, e desmistificar muita coisa aí que vem massacrando a gente, oprimindo por tanto tempo. A gente não vai sair mesmo do lugar.
Ju: Não, é que isso aí, não é terceirizável. Né? Não é terceirizável.
Vivi: Não é terceirizável.
Cynthia: Ah… não é… não é o príncipe encantado.
Ju: Então assim: “Amiga, para de terceirizar” [Cris: Esquece!]. Não importa se é seu marido, seu irmão, seu pai, o financeiro da sua empresa. [Cris: Entenda do seu negócio] Assim, não dá pra você ser alheia de falar assim: “Ai não, então, finanças não sou booooooa. Então, finanças não gosto de núúúúúúmeros”. Então, assim não dá, entendeu?
Vivi: Não, a gente tem que assumir o que é nosso, né? E isso é muito importante. Você ter esse protagonismo, né? Porque o protagonismo, ele te tira da zona de conforto. Você quer ser protagonista da tua história? Minha filha, então começa se mexer, começa a negociar, [Cris: Vai ter que decorar mais fala] não adianta querer que as pessoas te observem. Você tem que se fazer observar, então negociar um salário, não estar satisfeita com aquele lugar e sair, procurar um outro espaço que te valorize. Então é mexer o doce, né.
(Bloco 9) 39’56” – 44’59”
Cris: E eu acho que a gente entra nesse último dilema, aqui, pelo menos estrutural para a gente começar a falar das fases do dinheiro que é o falso dilema, que é a última e grande barreira que a gente coloca para nós mesmas que são frases do tipo “Dinheiro é sinônimo de estresse e preocupação” ou eu vou poupar ou eu vou ter uma vida boa, os dois não dá. Ou então “Ela deixou o casamento acabar porque só pensava em trabalho”. [Ju: Aaaiiinnn, Tadinho. Peninha.] Isso faz muitas mulheres abrirem mão da carreira e da independência financeira dela porque ela acredita que é um ou outro.
Cynthia: Então, aí eu quero defender as mulheres ou pelo menos o que induz as mulheres a pensarem assim é porque, na verdade, o nosso modelo é masculino. Portanto, não é que as mulheres sejam idiotas, acomodadas, que ficam sonhando com o principezinho é que nós fomos induzidas a achar isso. Então, o que… Tem uma história ótima que a Denise conta e que eu acho, me enxergo e me identifico bastante, que as pessoas acham, olham para cima no mundo corporativo, olham um CEO ou para um grande empresário e acham que ele tem uma vida horrível e ela olha e fala: “Eu não quero essa vida, eu quero acordar, cuidar dos meus filhos…”, coisa que ela não faz nunca porque ela vai, acorda cedinho, pega um ônibus, pega mais não sei o quê. [Risadas das presentes] Ela idealiza a vida dela e transforma a vida daquele role model que ela tem e fala assim “Nossa, e esse cara que só trabalha estressado”, “E essa empresa que só dá trabalho”, “E dinheiro…” e tarará tarará. Só que na verdade é o contrário! Aquele cara lá que ela está olhando, que tem uma vida horrorosa, que ela não queria para ela. Ele tem não sei quantos assistentes, a secretária que é maravilhosa, ele faz assim ele estala um dedo aparece a passagem aérea, ou seja, ele tem uma série de facilidades que fazem com que você possa ser presidente sim da empresa porque… Essa era para responder por que as mulheres não querem ser a presidente da empresa? Porque elas querem ser felizes. E elas acham que ser o presidente ou o vice presidente [Cris: Ou ter o próprio negócio.] Ou ter o próprio negócio, ser sua própria dona… do seu próprio negócio é uma trabalheira louca que ela não está disposta a enfrentar, mas é que a gente não tem os modelos. Porque se a gente tiver os modelos certos as mulheres não serão as loucas como os homens, naquelas mesmas posições, eles terão a oportunidade de transformar aquele papel e moldá-lo melhor para o que ela considera uma boa vida, considera viver bem, e parar de achar que: “Ah, quanto mais você cresce, mais infernal fica a sua vida”. Não é verdade. Quanto mais você fica no meio é que é infernal.
Cris: Eu acho engraçado que às vezes você está com uma vida infernal, muito infernal, e fala “mas se eu conquistar o meu negócio é que vai ser infernal”. Gata, você já está no inferno. [Cynthia: Você já está no inferno!] [Risos da Cris] Ou então assim, “Se eu crescer e virar chefe e virar diretora vai ser infernal”. Não, você não está entendendo.
Vivi: Já tá!
Cynthia: A Denise que falava assim: “Não, mas aí pelo menos vai ser um inferno, mas você vai ganhar melhor”.
[Todas riem]
Ju: Não, mas também tem aquelas que acham que, de tudo o que a gente está falando, de características que a gente tem, é de que você centraliza tudo [Concordância da Cynthia], então esse cara acha que está no direito dele de que ele nasceu com esse direito [Cynthia: Sim.] que as pessoas cuidem das coisas dele porque ele nasceu para pensar naquele floquinho de neve que vai fazer a diferença no negócio e ele não tem que se preocupar com essas miudezas e pequenezas como, por exemplo, essa passagem de avião que você falou. Então, ele espera que exista um secto ao redor dele para cuidar de todas as coisas que são mínimas e pequenas e não valem o tempo dele [Cynthia: Exatamente.]. E a gente quer cuidar de tudo [Cynthia: A gente quer cuidar de tudo.], e de cada centímetro, e de cada…
Cynthia: E se sente culpada se você delega a este tipo de tarefa… Porque é uma coisa muito importante você entender o valor do seu trabalho. Se a minha hora e o meu trabalho valem mais do que eu ficar no computador tentando fazer uma reserva na companhia X, é óbvio que se tiver alguém ali do meu lado para fazer é a ela que eu tenho que delegar. A gente delega coisas muito mais importantes como as decisões de sobre como vou colocar o meu dinheiro, aonde vai…
Cris: [interrompe] Isso você delega, né, bonita? Agora a passagem aérea você não abre mão.
Cynthia: Da passagem você não abre mão. Ou bobagens do tipo… Não é?
Cris: [interrompe] Pedir reembolso. [Cynthia: Pedir reembolso.] Imagina que eu vou pedir para a secretária pedir meu reembolso, eu mesma faço.
Cynthia: Eu mesma faço, eu sou autônoma. Dá uma falsa sensação de autonomia, porque isso não é autonomia. Autonomia é você de fato se reconhecer e uma coisa muito importante para a “Síndrome da Impostora” é porque aí a gente também de novo, graças a educação que tivemos, a gente acha que o mundo vai reconhecer a gente porque a gente é tão legal. [Cris: Né?.][Risadas da Ju] E aí então a gente senta aqui…
Ju: [interrompe] E aí quem nunca caiu nessa balela, gente…
Cynthia: Olha, vai ter… Vai ter uma promoção…
Ju: [interrompe] “Gente, eu não quero falar porque de mim mesma. Que coisa mais horrível, né?”.
Cynthia: “Promoção? Claro que eu serei lembrada!”
Ju: “Todo mundo odeia gente falastrão.”
Cris: “Vão me chamar de convencida.”
Ju: “Todo mundo odeia gente convencida.”
Cynthia: “A gente se gabar é muito feio.”
(Bloco 10) 45’00” – 49’59”
Ju: Muito feio, horrível. “Então assim, o que que você tem que fazer? Trabalhar!”
Cris: [Interrompe] “Uma hora vão me reconhecer!”
Ju: “Porque se você trabalhar as pessoas vão ver e pronto, você nunca tem que falar de você, porque falar de você mesmo é o suprassumo da falta de…”
Cynthia: É assim: “O meu trabalho fala por mim!” [Ju: Claro!] Sim, fala. Mas não fala tudo. Porque o resto é você que tem que falar.
Ju: E as pessoas também não têm tempo, né? Elas não tão vendo tudo.
Cynthia: E elas não passaram, mesmo os seus colegas ou seus chefes ou quem tiver em torno de você, elas não passam o dia inteiro pensando em você. [Ju: Não.] Então se você não lembrar a elas do seu trabalho, do seu valor, e você não for atrás e pedir aquilo que você acha que merece… É que a gente tem o medo de levar, ou ouvir o “não”. E a gente pode ouvir o “não”. [Cris: O “não” faz parte] E aí entra a história de ter o… [Cris: O guardado] O guardado. E fala: “Ué, eles podem não concordar que eu sou tão maravilhosa assim e aí… [Cris: Vou ser maravilhosa em outro lugar.] Vou ter que ser maravilhosa em outro lugar, eu vou ter que ter o dinheiro suficiente para eu fazer essa transição de carreira.
Cris: Então vamos lá. A gente está entrando um pouquinho já no primeiro item que, saindo desse cenário de como a mulher e o dinheiro se relacionam, a gente entra no “Eu ganho pouco”, né? A gente ouve isso todo dia: “Eu ganho pouco”. E aí a gente já conversou aqui um pouquinho sobre o porquê que as mulheres ganham menos. Tem toda essa parte machista, a gente falou lá na introdução, mas tem muito disso de aceitar a primeira oferta. Então, quando as mulheres estão lá falando de salário, na maior parte das vezes entra a “Síndrome da Impostora” e vem todo mundo, né? Junto. [Cynthia: Vem tudo. Vem tudo, vem você]. A “Síndrome da Impostora” em um ombro, do outro lado está o “Complexo da Boazinha”, e as duas falando no seu ouvido. Então, enquanto os homens querem saber de salário, de política de aumento, de bônus, as mulheres perguntam sobre equipe [Cynthia: Issooo.] Sobre o plano de saúde, horário flexível… Porque isso é que é importante.
Cynthia: Que é uma balela o tal do horário flexível.
[Todas riem]
Ju: Só é uma balela o tal do horário flexível quando a mulher, gata. [risos] Porque quando é para homem, funciona. [risos] Você não ouse oferecer para um homem um horário flexível e não cumprir. Você não ouse.
Cynthia: Por que o horário flexível é assim, você flexibiliza a sua jornada em 24 horas. É isso que você ganha quando você fala assim: “Não, vamos combinar aqui, vamos negociar”…
Cris: Não. Vamos lá então. Primeiro, você já chega, é a primeira oferta, e ainda fica feliz, né? “Nossa, me ofereceram um bom salário… [Cynthia: E ainda me deram horário flexível]. Eu tenho… eu quero mandar um beijo para Lorenzo. Lorenzo, se eu não falar dele nesse programa, eu sou fake. Lorenzo é o meu anti-complexo da boazinha, que vive na minha mente, né? Então, eu e Lorenzo estamos sempre conversando sobre as coisas, e ele fala, ele vira pra mim e fala assim: “Eu não acredito que você vai pedir tão pouco. Eu vou dar um tapa na tua cara. Você merece muito mais, e que não sei o quê…”. Lorenzo me vê assim. Eu quero me ver pelos olhos de Lorenzo.
Ju: Lorenzo é benchmarking até pra mim. Quando eu vou numa entrevista de emprego, eu penso: “Lorenzo… O que que Lorenzo pediria” [Cris: Eu penso no Lorenzo.]. Peço o mesmo que Lorenzo pediria.
Cris: Porque eu conto tudo pra Lorenzo.
Cynthia: Mas que maravilha! Vocês são muito evoluídas… Talvez seja o Lorenzo.
[risos]
Ju: Provavelmente é o Lorenzo.
[risos]
Cris: O Lorenzo existe, vai ouvir esse programa e vai ficar me mandando mensagem: “Até que enfim caiu a sua ficha”.
Cynthia: Tem uma parte que é… eu vivi muitos episódios. As mulheres elas têm… elas vão engolindo, porque elas também querem. Não é que elas não querem nada, elas estão lá felizes, brincando de nível médio. Elas querem chegar lá. Só que elas ficam esperando e tal, mandando sinais. Adoooro… linguagem de sinais. [risos] Eu to vendo, eu estou mandando sinais de que eu quero crescer, eu tô fazendo coisas incríveis, aqui dentro. Ninguém tá vendo…
Cris: Não mande sinais. Mande os relatórios.
Cynthia: Mande os relatórios, mande e-mails e tal e aí… Só que isso vira uma mágoa horrorosa. Quando a pessoa está por aqui e é “um pote até aqui de mágoa”, ela vai e resolve negociar. Aí é um fracasso. [Ju: Tá no limite.] Porque a negociação… Eu já negociei com muitas mulheres que vêm falar sobre oportunidades de aumento, ou seja o que for, e começa a chorar. Porque aquilo está tão entalado, e já começa a chorar ofendida: “Por que que até hoje ninguém reconheceu? E eu passei uma carreira inteira aqui, dando o melhor de mim, e agora que surgiu a oportunidade, chamaram o… Então, ou seja, é a não negociação, né? É o momento dizendo assim: “O mundo me traiu e eu vim aqui, diante do meu chefe ou da minha chefe, contar que eu sou um fracasso emocional”. [Cris: Porque você está no limite.] Ele não vai dar um aumento para essa pessoa, você não quer.
Ju: Só que dá pra ver, né?.
Cris: É, e eu acho que junta com isso, de aceitar a primeira oferta, com o fato da gente não conhecer o terreno o suficiente, né?. Então, a gente não pesquisa o suficiente, não conversa sobre dinheiro nem com as amigas… Eu sou prova disso. E dinheiro é um negócio tão pessoal. Então, assim. Gica, beijo! [risos] Gica vira-e-mexe fala: “Cris, quanto você ganha”? E eu: “Gica! Como assim? Pergunta quanto eu peso, mas não pergunta quanto eu ganho”.
[risos]
Cris: Porque, família tradicional mineira, tá acostumada a não contar as coisas… E na verdade, a gente serve de bench para as amigas. Mas eu acho que, pesquisando para essa pauta, eu vi o quanto isso é importante. Os homens falam claramente sobre bônus e o preço do carro que eles compraram e a gente, até pelo “Complexo da Boazinha”, né? A gente não quer parecer que tem tanto. [Cynthia: É pecado.] A gente não quer aparecer que conquistou tanto, porque, né? “Que que vão pensar de mim? Vão pensar que eu fiz o que pra conquistar esse tanto de coisa”? Então, a gente vem essa falta de acesso, de pesquisa desse terreno, mais ao “Complexo da Boazinha”… Então isso tudo vai te achatando.
(Bloco 11) 50’00” – 54’59”
Cynthia: E esse que você falou do “eu ganho pouco”, eu não sei se eu ganho pouco.
Vivi: E a falta de sororidade, também, acho importante a gente falar disso.
Cynthia: Porque eu não sei se eu ganho pouco.
Cris: Como é que cê sabe?
Cynthia: Como é que eu vou saber se eu não sei nem quanto ganha quem? Eu não fui pesquisar, então eu não posso chegar diante de uma mesa de negociação, com qualquer pessoa que seja, e dizer assim “ah, porque eu tô ganhando muito pouco”, com base no que? Qual é a sua referência? Sua referência é a outra empresa? Ok, quanto? Quanto se paga?
Cris: Eu gosto muito de um exemplo que tem num livro, de uma menina que trabalhava numa loja e eu não vou citar os números corretos, mas só por questão de entendimento, aí a menina fala assim: “Eu quero ganhar 10 mil”, ela era gerente e ela fala: “Eu quero ganhar 10 mil” aí a consultora fala com ela “então, a loja fatura 30 mil, como é que você vai ganhar 10?” Aí ela fica completamente atordoada.
Cynthia: E ela fala assim: “Se você ganhar 10 mil, você vai ser mandada embora” porque a empresa vai fechar.
Cris: … cê vai ser mandada embora. E aí a pessoa fala assim: “Você tem duas opções: ou você melhorar o business e crescer com ele, ou você vai procurar emprego em outro lugar” ela fala: “Não, eu adoro trabalhar aqui” e ela: “Então, se a meta é ganhar 10mil, pra você ganhar 10 mil a loja tem que faturar muito mais. O que que você vai fazer pra loja faturar mais?”
Cynthia: Quais são suas ideias de faturamento? Quais são suas ideias?
Cris: Quais são as suas ideias? E aí a menina fica sangue-no-zóio, consegue uma nova linha de produto pra loja, ela negocia, ela busca nova linha de produto, coloca o produto, a loja aumento muito o faturamento e ela aumenta o salário dela. Mas então eu acho que isso deixa tão claro a falta de pesquisa que a gente tem, eu ganho pouco baseado em quê? O salário de quem que você tá vendo? Que área que você tá vendo, pra falar se você ganha pouco ou não? “Ah, porque eu trabalho muito”, então, todo mundo trabalha muito né…
[Todas riem]
Cris: …eu trabalho muito, eu me esforço muito… você se esforçar é o pressuposto de você estar empregada.
Cynthia: Exatamente!
Cris: Todo mundo, teoricamente, tá aqui se esforçando. A gente sabe que tens uns braço-curto, gente que trabalha mais, gente que trabalha menos, mas não dá pra chegar numa mesa de negociação e falar: “Eu mereço aumento porque eu trabalho muito”.
Ju: Então, mas isso, de verdade, não é dado pra mulher. [Cynthia Não!] Eu acho que é dado pro homem que ele saiba, ele já senta na mesa de negociação sabendo qual é a linguagem, a gente não tem essa linguagem…
[Cynthia Exatamente! A gente não tem essa linguagem.] Então o homem chega falando assim: “Então, o negócio é 10, eu tenho umas ideias aqui que podem levar o negócio pra 15. Pra eu levar pra 15 eu quero levar 6, ok? O meu é 3 e se eu levar o negócio pra 16 eu quero ganhar 6. Beleza?” Faz sentido, ele entende a linguagem da negociação. A gente…
Cynthia: [interrompendo] E ela é intuitiva. É incrível.
Ju: Ela é intuitiva! A gente chega nisso né? Tipo, tão falando inglês a gente chega no japonês. Eu me esforço. “Eu me esforço” mas não cabe no léxico da empresa, entendeu? “Eu me esforço” não… [Cynthia Eu mereço!] Eu mereço! É tipo… mas é assim, eu sempre fui bem esforçadinha do pop [Cynthia ri], mas assim, eu não tinha essa posição…
Cynthia: Essa linguagem…
Ju: Essa linguagem, sabe? De que assim: “Não. Peraí, eu sou quem faz mais job, eu sou quem isso, eu sou quem aquilo, eu sou mais comprometida, eu entregou isso, aquilo, nã nã nã … Assim, demorou um tempo pra eu aprender, e eu só aprendi na prática de olhar ao redor e entender uma série de coisas, de, por exemplo, uma coisa que não era óbvia pra mim. Que o salário não tem a ver só com o que você faz. Que o salário tem muito a ver com o momento que você foi contratada, a posição que você tava pra negociar.
Cynthia: Exatamente.
Ju: Então, eu entendi, por exemplo, na época que eu, putz, pegava as contas mais importantes da agência em que eu tava, com a maior volume de job e eu era disparado, tipo eu tinha um terço do salário da galera e eu olhei pro cara que tava do meu lado que não era bom como eu, que não era inteligente como eu e tal, mas que na hora que ele entrou não tinha ninguém pra pegar bucha e ele tinha a pistola da negociação e ele soube negociar a entrada dele. Negociar depois que você entrou é muito difícil [Cynthia: É isso], mas na entrada é fácil [Cynthia: É verdade]. Então ele tinha a pistola ele soube jogar e assim, eu, se eu tava remando muito e ele pouco depois, pouca diferença fazia, na hora da entrada ele negociou. Aquilo eu aprendi: “Bom, então na próxima eu tenho que negociar na entrada”. Isso eu aprendi. Negociei bem na minha próxima entrada. Essa virada de depois que entrou você tem que negociar não é com “Eu trabalho muito”, não é com “Eu sou comprometida”, não é com “Eu sou boa”. É com o business da empresa é isso…
Cris: “Vou resolver seu problema”.
Ju: “Eu vou resolver seu problema”. isso foi um outro aprendizado.
Cynthia: Essas qualidades que você mencionou são primordiais, premissas. Elas não são diferenciais. Elas podem ser diferenciais e a gente reconhece e talvez o coleguinha do lado reconheça também mas isso não te eleva, não te qualifica para aquilo que a empresa entende como “Ah, mas você é tão bacana…”
(Bloco 12) 55’00” – 59’59”
Ju: “Mas Ju, aquele cara que está ganhando mais não é nem comprometido nem é isso, então ele não cumpre a premissa”. Gata, ele domina o léxico [Concordância da Cynthia]. A gente tá aqui falando o inglês. Aprenda o inglês. Se você não sabe inglês, aprende o inglês, vai fazer um cursinho.
Vivi: Você vai fazer parte do jogo.
Ju: Rápido.
Vivi: Entra no jogo.
Ju: A regra do jogo é… Entenda a regra do jogo.
Cris: Eu acho que é aí que a gente…
Vivi: Eu lembro de uma empresa que os caras reuniam nos cafés e os gestores se reuniam, os grupinhos, em cafés, no fumódromo. Eu não fumava, eu não gostava de tomar café, logo todos os meus pares estavam ali trocando várias ideias e quando a gente ia para a mesa de reunião, assim, sempre, meia hora antes de começar a reunião… A reunião estava marcada para sala X e eles estavam lá, fumando, trocando ideia e eu estava na minha mesa. Quando eles entravam para a sala de reunião eles estavam superaquecidos. Super estavam todos na mesma sintonia. Eu chegava e sentia que eu não estava na mesma vibe e obviamente não estava. Comecei a perceber isso e comecei participar das conversas. Eu não estava fumando, mesmo não tomando café e ia para o meio, ia me aquecer também, ia trocar ideia e comecei a entender como esse “estar presente”, “se fazer presente”, é importante também, para valorizar, para te dar voz…
Cris: Não é necessariamente o que você fala, mas é muito do que você escuta.
Vivi: Exatamente, porque aí você sabe do jogo. Você sabe tal: “O superintendente vai chegar e eu já sei exatamente… troquei a minha idéia, deixei a minha mensagem ali, a gente está entrando junto para essa reunião. Eu sempre entrava meio que na…
Ju: [interrompe] Vendida, né?
Cynthia: Eles tem um truque básico. Meninos chegam primeiro na sala de reunião e eles ocupam os melhores lugares. E eles já sabem, eles sabem onde é que o chefe vai sentar [Ju e Vivi: Sim!] ou a pessoa que eles tem que impressionar. E você pode olhar que a mulher vai chegar exatamente às 10 [horas], pontualíssima, e ele chegou lá dez minutos antes.
[Risada da Cris e Ju]
Cris: A gente começa a entrar…
Vivi: [interrompe] Está por ali, está por ali, está rondando, falando com a secretária do presidente. Vai lá, dá uma voltinha, mas, sempre na área antes.
Cris: Enquanto você estava terminando a apresentação [Risos da Vivi]. A gente entra um pouco… A gente já está permeando isso, né, que é como ganhar mais, o que é que você faz para ganhar mais porque existem ações efetivas a serem feitas e não tem como fugir. A primeira delas é vender. Não tem como você ganhar mais se você não se vender.
Ju: [interrompe] Ai que vergonha, né? Eu quero trabalhar, mas não quero vender.
Cris: Eu sou a primeira a falar isso porque quantas vezes eu já caí nessa falácia de “Vão me reconhecer pelo quanto eu entrego”. Não, não vão te reconhecer, gata, porque, primeiro que está todo mundo ocupado com outras coisas, ninguém está olhando assim para você e vida é muito corrida e quando a gente pensa em venda a gente vai pensar naquele vendedor de carro usado que quer te empurrar qualquer coisa, que é um charlatão, e não é sobre isso que a gente está falando. A gente está falando sobre fazer relatórios das suas entregas, das suas conquistas. O cliente mandou um e-mail elogiando? Repassa o e-mail para a equipe [Concordância da Cynthia] e coloca o seu chefe em cópia. “Olha aqui que legal. Parabéns para todos nós.”. E coloca lá porque o e-mail veio para você.
Cynthia: E vender, nesse sentido, que a gente, mulheres principalmente tem muito preconceito, vender passa um pouco por… As pessoas acham assim “Fulano é um vendedor nato” então ele vai vender o seu projeto, vai vender a sua ideia, vai vender até a sua própria promoção e a gente acha bom, mas porque “ele sabe, ele tem esse dom, ele vai vender areia no deserto. É incrível.”. Mas, na verdade, tudo é treino e nós também aprendemos que se nós não nascemos com aquela graça divina e o dom natural de se convencer alguém de alguma coisa a gente não pode fazer nada a respeito mas eu sou muito boa no trabalho, eu faço muita coisa legal, mas eu não sei… Mas, se não aprende, querida! Porque dá para aprender! Você aprende como? Treinando. E tem muitos truques para treinar. Então você começa a treinar em casa. Você vai falar assim “Quero vender este projeto”. Pega a tua amiga e fala assim: “Me convença que o seu projeto é bom”, e aí a amiga, se for amiga de verdade, não vai falar: “Aí, está ótimo”, ela vai falar: “Está uma merda. Eu não ia comprar”. [Risos] “Não adianta, não vou vender” e aí você vai diminuindo… E enfim, tem literatura, tem treino, tem curso…
Cris: [interrompe] Tem coisa muito prática.
Vivi: E o melhor de tudo é não ter vergonha, né? Porque Agora tem o QI Coach, tudo que você pergunta… salesman… [Risos] Mas falar vendedor é uma coisa que… Não. Meu amor, não tenha vergonha de vender, né?
Cynthia: Começa tudo no elevador, né. Tem o discurso do elevador que eu acho ótimo.
Vivi: Tudo é venda. É vender imagem, é vender projeto. Eu lembro quando eu era vendedora de loja, eu trabalhava em shopping na minha adolescência e eu queria ganhar dinheiro com as palavras. Eu comecei a escrever, eu falava: “Gente, eu queria ganhar dinheiro só escrevendo matéria, só com as coisas que eu gosto. Que droga eu ficar vendendo. Detesto ser vendedora”. E depois eu comecei a entender que tudo era venda na vida, né. E é legal quando a gente vê que… [Cynthia: Cê vende pauta, né?] A gente tinha que vender pauta, virar televendas praticamente, vendendo pauta para jornalista e depois, dentro das empresas como executiva tentando vender meus projetos para poder crescer dentro daquela empresa e agora como empreendedora tenho que vender… Aí eu falei: “Cara, como é importante vender”. Eu até escrevi sobre isso: tudo é venda.
(Bloco 13) 1:00’00” – 1:04’59”
Cynthia: Tudo é venda.
Vivi A gente não pode ter vergonha de vender…
Ju: não.
Vivi: …e treinar, né, treinar isso.
Cynthia: E não é só perder a vergonha, você tem que aprender. Você tem que aprende e vai aprender com alguém.
Ju: Sabe qual é a vergonha da venda? O vendedor ele é protagonista. É tipo cê tá no palco, cê pega o microfone…
Cris: Tá dando a cara a tapa…
Ju: E aí, cê pega o microfone…
Cris: E aí, amiga, o “Complexo da Boazinha” na hora sobe no ombro, na hora, igual aquele miquinho lá do comercial. Porque aí cê tá na luz, porque o resultado, ele tem que ser citado, endereçado e creditado, então quando termina um projeto e você faz um book do projeto e coloca ali o que foi entregue, quantas horas foram trabalhadas, que ficou dentro do budget, que ficou dentro do budget de horas, tá aqui o resultado, o que que o cliente retornou, tá aqui o que que foi entregue e encaminha… Sua mão tá até pingando no teclado na hora que cê termina de digitar. É um esforço, eu demorei muito pra conseguir fazer isso… pra chegar no final de cada semestre e falar nós trabalhamos tantas horas, em tantas concorrências, foram entregue[s] um projeto por semana nos últimos seis meses e aí na hora que você manda isso pro seu chefe ele fala: “É mesmo? Caraca!”
Ju: “Vocês fizeram tudo isso?”
Cris: “Sério?”
Cynthia: E ainda por cima se você for bem, bem esperta você ainda valora: “E cada um destes custou tanto, deu tanto, deu margem de tanto e eu hoje e minha equipe… Você não precisa esquecer sua equipe, mas você se coloca no centro dela. Eu e minha equipe representamos 30% deste faturamento”. Essa linguagem todo homem, todo executivo, toda empresa, todo cliente entende, quanto você faturou e você tem que faturar, mesmo que o seu trabalho seja um trabalho de criação, é claro que a sua criação tá impactando…
Cris: Tudo dá pra ser valorado.
Cynthia: Exatamente.
Cris: Quando você faz book de projeto, a hora que você termina cê fala: “Nem eu tô acreditando que isso foi assim”.
Cynthia: Que custou tanto.
Cris: E a perfeccionista né, vem ali o dilema da impostura e fala: “Ah, mas não é tão bom assim não, vai. Todo mundo faz. Qualquer um faria no meu lugar”. E não é assim, gente. Não é. Tem um valor enorme, [Ju: Tem que dar valor] tem uma energia enorme colocada ali e isso entra num segundo ponto sobre “ganhar mais” que a gente já permeou aqui que é o “ser direta”. Então assim, não tem linguagem dos sinais.Se é isso que você quer, você tem que falar claramente e cê vai ter que sentar numa posição entendendo que pode ter uma negativa, entendendo que a pessoa do outro lado pode não ter a mesma opinião que você ou não conseguir reconhecer. Por isso que vender é primeiro, porque depois que você começa a endereçar os resultados, a hora que você começa a ser direta sobre as suas intenções fica muito mais fácil do cara fazer um gancho com o que cê tava falando.
Cynthia: Exatamente.
Cris: Não adianta ser direta se você ainda não mostrou resultado. E aí que eu acho que a gente consegue enforcar o “Complexo da Boazinha” porque você não vai ser valorizada e não vai ganhar aumento porque você é legal, porque você é gentil, porque você chegou antes pra receber o cliente, porque você anotou tudo da reunião. Cê vai ter aumento, vai ter uma carreira em cima de entrega, resultado.
Cynthia: Exatamente, resultado.
Ju: Então, mas isso é uma coisa que eu acho… toda vez que falam de liderança, engraçado que é a coisa que eu mais falo. Que pra mim o fator mais importante de um líder é ele ser claro no que ele quer e como ele mensura isso, e agente tem uma grande dificuldade disso porque a gente como um país de relacionamento a gente deixa tudo não dito, né? E a gente quer que os outros entendam e joguem o nosso jogo e aí pra mulher isso é muito complicado, porque a gente vai ler o que é socialmente aceito de tentar se conformar à sua vontade e tem muita margem pra erro aí, entendeu? Então assim, é também, quando você fala ser direta, faz parte você cobrar uma gestão que seja transparente e que seja: “Deixa eu entender, explica pra mim, mas, textualmente, fala pra mim”. Não ache que você entendeu porque se você achar que você entendeu você vai impor os seus valores e não funciona, porque no final do dia o valor que vale é o do seu gestor, tá? E aí é assim, o seu gestor, bom, eu já tive gestores que valorizavam o horário mais do que entrega e aí não adianta o que você falou. Cê vai chegar como a entrega nã, nã, nã e o cara, ele não consegue lidar porque ele já fechou o diagnóstico que você não é bom , entendeu? Então tem outro que valora, assim, as pessoas têm valores muito diferentes, assim, que seja transparente, o que que você quer, porque as vezes o valor da empresa é um e o valor do gestor é outro, a empresa quer cresce 25% e o gestor quer que a área dele seja maior do que a área do vizinho, entendeu?
Cris: A gente já tem uma dicotomia.
Ju: Então assim, é bem simples…
Vivi: É ler o território, tem que ler esse território antes e negociar.
Ju: pra você ser direta implica em seja direta com seu gestor na hora de perguntar pra ele: “O que você quer? Explica pra mim qual é o seu KPI, que significa quais são os indicadores que você vai usar pra entender se eu sou boa ou ruim”. Então assim, mapeia pra mim, eu entrei aqui, o que você ambiciona com a minha posição é isso aqui, mensurável, para que eu possa chegar no final de um período de X meses, um ano ou não sei o que: “Ó, então lembra que eu cheguei aqui e que você queira isso? Eu já te entreguei duas vezes isso, vamos renegociar?” Aí você tem fatos e dados, e aí você não ta conversando sobre “mas eu acho que eu fui tão bem… mas eu me esforcei tanto…”
Cynthia: Eu me esforcei.
Vivi: Eu fiquei até mais tarde…
Cynthia: E eu achei que você tava vendo… eu achei, né, que você tinha visto… você demonstrava estar gostando…
Ju: Exato! Então, assim, não ache…
Cris: ou desgostando…
Ju: Não ache que os seus valores são os valores do seu gestor. Isso é um erro, sério, “mirim”, e a gente faz muito isso.
(Bloco 14) 1:05’42” – 1:09’59’
Cynthia: [Interrompe] É, a gente deve torcer para que tenha um gestor sincero, porque normalmente ele também não é sincero.[Ju: Ah é, é difícil.]
Cris: Um outro ponto pra gente poder ganhar mais é fazer network. Então assim, aquela frase: “Eu jamais teria amigos por interesse”, tem que ser banido [banida], porque é o “Complexo de Boazinha” vindo aí de novo subir no seu ombro [Cynthia: Eu acho esta parte muito legal]. Então assim, network, eu acho muito importante deixar claro que é uma conexão verdadeiramente humana que te conecta com alguém do trabalho. É quando você vai lá e fala: “chegou um chefe novo internacional que veio morar agora no Brasil”, aí você vira e fala: “ Eu vou te ajudar a achar uma escola para o seu filho”.
Cynthia: E é porque também, diante daquele modelo “somos boazinhas, sinceras e honestas e comprometidas”, você acha que, ao se aproximar de alguém pra fazer qualquer tipo de relacionamento, ou você é amiga desinteressada, esta palavra é muito importante “desinteressada”. TODA relação pressupõe um interesse. O interesse junta pessoas como nós num lugar como este… de vocês. Nós estamos aqui hoje falando com o Mamilos por interesse, e isto não é um mau interesse. Qual é o interesse? O interesse de usufruir do conhecimento de vocês, da capacidade de vocês de se comunicar, do público que vocês tem, do respeito pelo conhecimento de vocês a este público, é o que traz pessoas de outras áreas a darem o seu depoimento, a estarem presentes. Isto é networking, isto é um sincero e autêntico networking. E isto não é assim: “Eu fui lá só porque eu gosto muito, muito da Cris”. Eu não conheço a Cris, mas eu conheço o trabalho dela, a capacidade do trabalho, o que ela pode me trazer de horizontes, de penetração num veículo que é importante, e a gente acha que isso é feio? Por que que é feio? Tá claro, que eu não estou enganando ninguém, você não tá me enganando, mas por que que nós não podemos sair pra tomar um café, um chopp mais tarde? “Ah, mas é interesse”. Claro, interesse no conhecimento de cada um porque nós estamos aqui numa atividade profissional.
Cris: Eu acho isso incrível porque durante muito tempo esta também foi uma falácia que eu caí, tipo: “Imagina que eu vou fazer amigo por interesse”. Não é sobre isso, gente. Primeiro: tudo é sobre interesse [Cynthia: TUDO é interesse]. Segundo: Nada precisa ser falso [Cynthia: Exatamente, você faz aquilo porque você gosta de fazer], porque na verdade você trabalha e conhece um monte de gente, você encontra pontos em comum com esta pessoa e é isto que te conecta com ela.
Vivi: Exato.
Cynthia: É interessante para os dois. Eu vou te conhecer e você ainda vai transformar esta ocasião [Cris: É uma troca] numa ocasião saborosa, você vai me tratar bem, você vai abrir a porta da sua casa, vai por uma conversa boa e inteligente, uma comida gostosa, um vinho bom. Quem que está sendo enganado? [Ju: Quem ia recusar isso, meu Deus? Vamos fazer networking] [Risos da Ju] Quem que está sendo prejudicado aqui? Ninguém né [Ju: É isso aí].
Vivi: […] Este ponto é muito interessante: relações de interesse, e a gente saber trocar também. O networking negativo é aquele networking daquela pessoa que não tem nada para oferecer e tá o tempo inteiro ali parecendo um vampiro sugando contatos [Risos da Cynthia]. Aí começa a acumular contatos [Cynthia: Vira um chato]. Aí tá em evento trocando cartão e nem olha na cara das pessoas [risos da Cynthia], já virá o cartão pra ver qual que é o cargo da pessoa. ”Ah não, não é CEO ou não quero, [risos da Cynthia] vou para o meu foco…” Este tipo de pessoa não! Não seja essa pessoa. Mas uma pessoa que quer aproximar, que quer trocar e estabelecer relações com um propósito em comum, isto é importantíssimo, e no mundo dos negócios e dentro das empresas, as mulheres a aprenderem a ir fazer um happy hour, a sair, a participar destas mesas de networking fora do escritório é muito interessante porque tem muitos cargos…
Cynthia: [interrompe] É, é mais difícil [Vivi: é mais difícil]. Eu já entrevistei executivas que falaram o seguinte para mim: “ Ah, eu fiquei vendo que os meus colegas homens estavam com uma grande vantagem porque eles faziam este tipo de relacionamento no fim de semana, iam jogar futebol, ir no jogo, ou depois do trabalho iam tomar whisky. Ai eu pensei comigo mesma: ‘Eu vou chamar o fulano pra tomar whisky, pra não sei o que…’”, pegava os clientes dela e falava assim: “Não, vamos jantar, conversar sobre este assunto”. E ela falou assim ó: “Olha, alguns tiveram a honestidade de dizer pra mim: ‘Fulana, eu não posso jantar com você porque minha mulher me mata’” [Risos da Ju]. E aí, ela fica assim desarmada e mantém isso [Cris: Não, mas assim, mas eu acho que quando é grupo não].
(Bloco 15) 1:10’00” – 1:14’59”
Vivi: Mas existe, gente, algumas coisas que a gente precisa romper. E se a gente estiver sozinha, e isso, agora falando de sororidade, isso é muito importante. Porque muitas vezes uma mulher que vai para um cargo de liderança e ela tá sozinha ali, ela não puxa outras. E aí ela fica solitária naquele “Clube do Bolinha”, porque ao mesmo tempo que ela se sente a fodona, é ela a única que manda, que desmanda e tal, única entre os homens na mesa de reunião, ela tá solitária, porque os caras saem e tá ela lá, sozinha, tentando um espaço e tentando, né… E muitas vezes até correndo o risco de ser, né? Taxada pelo cara de: “Ó, desculpa, minha mulher vai achar que você é minha amante”. Mas, muitos casos que a gente vem conversando, trabalhando essa questão de networking pras executivas dentro das empresas, que é uma forma que a gente trabalha, de como a gente vai fazer essa equidade, é ter a iniciativa. Promover algumas ações para sair fora daquele ambiente, um ambiente que não seja o corporativo, com essas pessoas…
Cris: Que procure o que você pode oferecer de melhor para as pessoas, se conecte com quem tem interesses que você pode ter troca, e essa busca é sua. Não tem um jeito certo de fazer. [Vivi: É o teu estilo] Tem o seu jeito de fazer. O último passo para ganhar mais é abrir seu próprio negócio. Então, o trabalho e o empreendedorismo, ele não é só uma fonte de renda, ele é uma escolha para romper com o sistema que não entende como essa mulher gostaria de ser. Essa mulher que vai lá e faz o próprio negócio dela, apesar que, a gente escuta a mulher falando que vai empreender porque ela quer mais tempo com o filho, porque ela quer horário mais flexível, nunca porque ela quer ganhar mais dinheiro. Até porque a “boazinha” não ganha dinheiro, né, gente? Então, o empreendedorismo vem aí como uma chave para essa mulher despontar na sua própria forma de trabalho, fugindo dessa gestão opressora, machista e que não valoriza o que ela tem para entregar, entregando isso em outros formatos, e em outros momentos da carreira dela. Queria que você falasse rapidamente, Vivi, pra gente, um pouquinho sobre essa experiência de empreendedorismo versus dinheiro ou junto com o dinheiro.
Vivi: Junto com o dinheiro, sempre. Eu adoro ganhar dinheiro. E eu gosto de falar isso porque quando eu saí da empresa que eu trabalhava para abrir o Plano Feminino e já uma empresa com causa definida, uma empresa para falar de consultoria, que trabalha com publicidade de gênero, que trata sobre o feminismo… Eu ia em algumas reuniões ou em palestras e as pessoas levantavam e falavam: “Nossa! Você está ganhando dinheiro com feminismo”! Eu falava: “Uau! Você acertou! Parabéns! Estou mesmo”! Porque o modelo de negócio da minha empresa é exatamente promover diversidade, equidade de gênero, dentro da… E quebrar estereótipos na publicidade, e pensar, e cuidar de dentro pra fora e tal. Mas é ganhar dinheiro! Então, logo que eu comecei me empreender, eu tive muita dificuldade em me posicionar como uma mulher de negócios porque, como era tão bonito eu falar de causa e de propósito, parecia que: “Nossa! Mas você quer ganhar dinheiro também? [risos] Pensei que você queria falar só de causa e propósito, não ganhar dinheiro”. Não, eu quero transformar o mundo, sim. Mas eu quero ganhar dinheiro também, eu quero ter os meus espaços. Então, construir isso, essa autonomia financeira, foi muito importante para mim, como empreendedora. E aprender a negociar, a participar de concorrência e não abaixar meu preço, né? Quando eu estou ali, numa roda de concorrência, com agências e caras estão há anos dentro desse “Clube do Bolinha” que a gente sabe que ainda é a publicidade. E você não baixar o teu preço, acreditar em quem você é, no trabalho que você faz, na tua equipe… Então, lidar com o dinheiro, para mim, tem sido muito importante nessa questão de disciplina, de valorização do meu trabalho, de quem eu sou, do que eu estou construindo… E de falar que gosta de ganhar dinheiro, né? E desmistificar… Eu tava esses dias na Cásper Líbero, tinha umas três mil pessoas, alunos, e falando de gênero, falando de publicidade… E quando uma menina levantou e me falou isso, né: “Você não acha que você ganha dinheiro, tá ganhando dinheiro com causa”? Eu falei: “Eu acho. Você tem toda razão. E é esse o negócio, é essa a ideia. É ganhar dinheiro mas promovendo uma coisa legal”. Porque eu podia ganhar dinheiro mostrando e objetificando mulheres, e fazendo uma diversidade de outras coisas…
Ju: Mas isso você não questiona, né, meu bem? Você não acha que você está ganhando dinheiro objetificando o corpo da mulher?
Vivi: É, isso ninguém questiona. Então, a mulher, ela precisa aprender a falar “Eu gosto de ganhar dinheiro, eu quero ganhar dinheiro, eu quero mais, eu quero construir”. Eu gosto muito da ideia de que empreendedoras, de mulheres no geral, a gente ganha dinheiro mas não é só pra gente. A gente está sempre transformando a nossa volta, as pessoas estão do nosso lado, ajudando, contribuindo para as coisas se tornarem melhores… E eu sempre vejo minhas amigas executivas, a própria Denise, promovendo cursos para mulheres, abrindo vagas gratuitas, fazendo, sabe? Transformando a vida das pessoas à sua volta, né? E a mulher ela tem muito disso, né, de… transformar.
Cynthia: Mas você só consegue fazer isso se você tiver… [Vivi: Essa autonomia financeira!] Se você tiver autonomia. Porque se você não tiver como sobreviver, você não faz nem a sua causa sobreviver, você não faz nada. E aí se você tem o suficiente pra dividir, essa.. Esse é um orgulho, né? É uma delícia, falar: “Pô, eu ganhei o suficiente pra, de repente, retribuir com uma parte disso”… Mas você tem que começar por aí.
(Bloco 16) 1:15’00” – 1:19’59”
Vivi: É incrível, é perfeito, e toda vez que a gente consegue fazer essa transformação com o Planos de Menina que é um projeto social do Plano [Feminino], que está fazendo assim, tá gerando frutos enormes. A gente também está ensinando as meninas em relação a dinheiro. Quero vocês um dia lá para conversar com as meninas sobre finanças.
Cynthia: Eu vou adorar! Eu vou adorar!
Cris: Olha o networking, gente. Vocês não tem vergonha?
[Todas falam juntas]
Vivi: Porque é isso, a gente tem que falar de dinheiro, tem que gostar e dinheiro não é sujo, né, a forma como a gente…
Cris: [interrompe] Onde entra o amor, entra o dinheiro também?
Vivi: Onde entra o amor entra o dinheiro. Gente, eu já tive problemas de amor, inclusive, de relacionamento em que eu comecei a ganhar mais que o marido, sabe? E naquela situação a gente começar a ter problemas. Primeiro comigo, que não me achava machista e comecei a pensar “Ué, como assim? Quero que você ganhe mais que eu”. Aí depois eu fiquei pensando “Uai, por que será que estou pensando isso?”. Gente, olha só o bichinho do machismo me picando, né? [Cris: Né?]. E até alinhar as coisas então tem muito dessa questão também do relacionamento, né, estar alicerçado e ser maior do que, também, o próprio dinheiro porque o dinheiro também pode desestruturar muita coisa. Eu vi muito isso. Quando o dinheiro começou a entrar muito lá e eu achar: “Pô, agora eu que sou a ‘ban ban ban’”. “Agora eu que sou a provedora? Como assim? Não, eu quero que você ganhe mais.”. Eu vejo muito relacionamento se perder quando entra ou sai dinheiro…
Cris: [interrompe] O excesso ou a ausência.
Vivi: Tem um assunto [ditado] que fala assim: quando o dinheiro sai, o amor sai pela janela… Não lembro…
Ju: [interrompe] O dinheiro entra pela porta, o amor sai pela janela.
Vivi: É,né. Todas as coisas da minha “avózinha”…
Cynthia: Essa faz parte dos bloqueadores mentais que eu digo assim…
Vivi: E também quando o dinheiro está ali e é o inverso, que foi por muito tempo ali, depois que eu comecei a empreender, a situação dentro de casa com meu marido, meu parceirão, aí que tamo casado quase desde que a gente nasceu, né, 20 anos de casados… [Cris: Meu deus!] [Todas riem]. A gente casou… Nasceu e casou, né? [Cynthia: Desde bebê.] É, a gente teve esse conflito da mulher também ganhar mais e aí, ou pensar “Pô, sou a maioral. Quero que você ganhe mais. Quero que homem ganhe mais que eu mesmo [mesma]”, quanto o cara também se sentir inferior. Ele às vezes ficava “Pô, eu não sei se é o que eu faço…”
Cynthia: Porque ele faz parte dessa cultura, né, da Cultura do Poder [Vivi: É muito louco isso. Por mais que a gente trabalhe isso, olha só!]. O poder está associado a isso. Então, o poder e quem está com dinheiro… De uma certa forma, quem tá com o dinheiro, mais ou menos, é que tem o poder [Cris: Tem poder.]
Vivi: Esse poder aí para quebrar a relação, mas equilibramos, estamos bem.
[Cris faz som de emocionada]
Cynthia: Vocês estão muito evoluídos.
Ju: Vamos falar um pouquinho sobre um dos maiores estereótipos da mulher: “Eu gasto demais”, “Ai, eu não sei porque as contas não fecham”, “Ah, não quero fazer conta, é muito chato”, “Ai, tá tudo muito caro, eu não sei o que fazer”. Mulheres gastam demais, isso é um fato. A gente tem todo um mercado publicitário com quilos de maquiagem e intermináveis modelos de sapatos e bolsas, uma coleção de moda lançada a cada 15 dias. Tudo para nos fazer felizes, certo? Bem, não tão certo assim. Tem sim todo um mercado de overconsumo, mas as mulheres também são aquelas que alimentam as famílias, ajudam filhos adultos, parentes e amigos, até porque o “Complexo da Boazinha” não ajuda muito a dizer “Não”. E para completar, tem também o “Ah, eu mereço, né? Trabalho tanto. Eu faço tudo por todo mundo, mas eu mereço pelo menos isso” [Cynthia: Um sapatinho.] Né? Mas dá para mudar isso: nossa relação com gastar dinheiro.
Cris: E não tem como falar sobre gastar muito e não falar sobre controle de gastos. E aí a nossa Diva Mor, a Denise, que está em Miami, que fez a ponte para a Cynthia vir, mandou um áudio sobre a tão temida planilha. Será que ela é tão complexa assim?
(Bloco 17) 1:19’00” – 1:24’59”
–//–
Denise: Olá meninas. Aqui é Denise Damiani, muito obrigada pelo convite. [É] ótimo estar aqui falando com vocês nesse podcast. Queria tocar num assunto, que é um assunto bastante temido pelas mulheres, que é: “Como é que vou controlar os meus gastos”, “Como é que vou fazer planilhas”, “Eu não entendo direito de matemática”, “Como é que vou fazer para controlar isso” ou “É muito chato”. Então eu queria falar um pouquinho desse assunto hoje. Realmente a idéia não é que vocês fiquem fazendo planilhas. Planilha realmente é muito chato, leva muito tempo e se você não for fazer nada com esse dado que você fica anotando, ela é inútil. As pessoas novamente me dizem assim “Ah, eu gasto muito.” ou “Eu ganho pouco.” ou “Eu não sei investir”. Na verdade não são [é] uma dessas três coisas, mas é sempre um conjunto das três. Então se você não sabe quanto você ganha, ou não sabe quanto você gasta ou não sabe investir, você nunca vai conseguir ter uma vida plena, em termos financeiros. A chave está em você ganhar mais do que o que você gasta e investir a diferença melhor. Agora, como é que eu vou fazer para ganhar mais do que eu gasto se eu não sei o que eu gasto? Então saber o que você gasta é uma coisa imprescindível. Não é para ficar controlando planilha para o resto da vida. Mas a minha sugestão é o seguinte: faça um orçamento. O que é que é um orçamento? É uma previsão daquilo que você acha que vai gastar, quer gastar ou pode gastar. Esse orçamento pode ser feito mês a mês mas a gente tem que ter uma visão anual porque os meses variam. Dezembro normalmente é um mês onde se gasta muito, durante as férias também, outros meses menos. Então a gente sempre deve olhar a nossa vida de uma maneira anual. Minha sugestão é que vocês possam também ir no site do denisedamiane.com “DeniseDamini”, existem lá dois exemplos, um chamado Planilha de Orçamentos e outro chamado Visão Futuro, baixem esses aplicativos, eles são gratuitos. E o que é que a Planilha de Orçamentos vai te dar? Uma idéia do que é que você deveria estar gastando. Certo? Por tipo de categoria. Então você dia “Na minha casa eu deveria gastar entre comida, ajudante, água, luz, aluguel, com limpeza, etc, vamos supor R$ 2.000,00 ou R$ 3.000,00 com os estudos eu deveria gastar R$ 1.000,00 com os meus filhos eu deveria gastar R$ 3.000,00. Se você somar tudo isso você vai ver um orçamento de que o seu gasto deveria ser, por exemplo, R$ 10.000,00. O que é que você vai fazer para saber se você está dentro deste gasto? Você precisa controlar o que você gastou de verdade por uns dois meses e se você estiver 10% abaixo ou acima daquele que você planejou, tá tudo ótimo. Vai viver a vida, não precisa ficar anotando nada. Como você faz para saber se você gastou mais ou menos aquilo que você planejou? Então primeiro, repetindo, você precisa planejar, você precisa ter um orçamento. Se você não planejou, como é que você vai saber? Como é que eu sei se eu gastei nesse mês aquilo que eu tinha planejado? Se eu estou dentro dos meus R$ 10.000,00, por exemplo, dos meus R$ 5.000,00 ou dos meus R$ 2.000,000? Seja lá o que eu planejei. Pega a minha conta- estou supondo aqui que você tenha uma conta corrente só no banco. Se tiver mais que uma você tem que fazer isso para as várias contas. Pega o saldo que você tinha no início do mês e pega o saldo que você tinha no final do mês. Subtrai um do outro. Então, por exemplo, no início do mês eu tinha R$ 10.000,00, no final do mês eu tinha R$ 5.000,00. A diferença é R$ 5.000,00, só que nisso você tem que somar tudo aquilo que entro de depósito. Então vamos dizer que entrou de depósito R$ 2.000,00. Então se eu tinha 10 [mil] no início do mês, 5 [mil] no final do mês e entraram R$ 2.000,00 de depósito, quer dizer que eu gastei R$ 7.000,00. Em cinco minutos você consegue fazer essa conta e se você tinha planejado gastar 10 [mil] e gastou R$ 7.000,00, está tudo ótimo. Se você tinha planejado gastar 10 [mil] e gastou 11 [mil], está tudo bem. Se você tinha planejado gastar 10 [mil] e gastou 15 [mil], você vai ter que gastar um tempo para entender para onde é que essa diferença foi e com o tempo vocês vão ver que o fato de saber quanto você tem para gastar no mês e saber que no final do mês você vou fazer uma continha aqui que vai durar cinco minutos, mas que vai te contar como é que foi o teu mês, você vai ver que você começa a gastar menos, você começa a prestar mais atenção aonde é que esse dinheiro vai. Então, não é uma questão de ficar fazendo planilha, não é uma questão de ficar gastando um montão de tempo anotando coisas que depois vocês não vão tomar nenhuma atitude em cima, mas é uma questão de você ter um planejamento… Eu, por exemplo, faço o meu orçamento do mês a mês pro ano inteiro em janeiro. Eu já penso em janeiro tudo o que eu acho que vou gastar mês a mês e depois, em cada mês, eu gasto dez minutos nessa conta e se a conta passou do que eu tinha planejado, aí sim, eu sento e monto uma estratégia de como é que vou fazer para diminuir aquilo ou para compensar aquilo nos próximos meses. Então, não tenha medo da planilha. Ela é a única maneira de você, dessa maneira simples, conseguir controlar aquilo que você quer gastar e está gastando, porque sem isso você não vai conseguir ter uma vida financeira tranquila. Então é isso, meninas. Um abração para vocês.
–//–
Cris: Complementando isso que a Denise fala, tem também o se controlar ainda no vermelho, né, que um erro comum entre as mulheres é só controlar gasto quando tem dinheiro. Quando começa a ficar no vermelho passa a não conferir mais o extrato bancário, logo agora que ela mais precisa de controle porque ela Começa a falar: “Não quero nem ver!”
Ju: É igual não subir na balança quando a gente já sabe que o resultado não vai ser bom. Não é igualzinho?
Cynthia: É idêntico.
Ju: Para mim é muito igual. [Risos]
Cynthia: Hoje eu pensei nisso porque eu não subi na balança [Ju: Lógico que você não vai subir.]… Eu pensei no programa e falei assim “É igual a conta!”.
Cris: É igual.
Cynthia: Ou então agora, né, que deu essa pipocada aí no mercado e eu falo assim “Ai, não quero nem ver o que que aconteceu com os meus investimentos”. E é engraçado, não é que eu seja milionária e tenha tanto mas…
Cris: [interrompe] Olha aí a vergonha de falar que está milionária.
Cynthia: Olha aí a vergonha!
[Risos de todas]
Cynthia: Também não quero dar falsa impressão, mas tenho dinheiro investido e eu sei, a queda do mercado provocou obviamente a queda dos investimentos e enquanto o meu marido fica no celular e fica assim: “Ai, eu perdi não sei quanto essa semana” [Risada da Ju], Eu vou: “Eu não sei quanto, eu não quero nem saber”. Eu só quero ver, eu tenho ações da Vale, aí eu soube que trocou o presidente e falei: “Ah, vai subir, vai subir… Subiu”. [Cris: Oba!] Mas aí eu acho que aí é um pouco de humano…
(Bloco 18) 1:25’00” – 1:29’59”
Cris: [interrompe] É. O problema é saber que não está no controle. E aí por que? Porque… você não vai ver, você não vai sentar com o seu gerente para negociar, você não negocia [Cynthia: Exato.], então vira uma bola de neve e a pergunta que a gente mais se faz nessa hora… ou a desculpa que a gente dá para a gente mesma sobre gastar muito é que você não entende nada de matemática. Eu vou chamar aqui o quote da Carol Sandler, do Finanças Femininas, que ela vai explicar para a gente que, na verdade, quem tem que ser bom de matemática é a calculadora [Risos]. Fala aí, Carol.
Vivi: Boa!
–//–
Carol: Muita gente, em especial as mulheres, tem essa ideia que precisa ser boa de matemática para lidar com dinheiro, que precisa entender de Excel, que precisa ficar fazendo mil planilhas e a verdade não é essa, até porque… Gente, calculadora está aí para isso. Se você quiser, você coloca a conta que o Google faz para você. O problema não é fazer conta. A questão é algo mais simples e ao mesmo tempo acaba sendo mais complexa porque para lidar bem com dinheiro a gente tem que olhar para os nossos comportamentos, sabe? Está muito mais ligado com as nossas prioridades, com a nossa capacidade de esperar, de ter planos, de construir isso, de saber abrir mão de certas coisas, sabe, de fazer renúncias mesmo porque cada escolha é uma renúncia e se eu escolho não fazer conta, sabe, se eu escolho comprar tudo o que quero, eu estou abrindo mão de muitas coisas lá na frente que eu não consigo olhar agora. O ser humano é muito, muito, muito maximizador do instante, sabe?. A gente quer tudo para agora ainda mais nessa fase que a gente está superconsumista, tudo pra agora. Qualquer música que eu quiser eu ouço na hora no Spotfy, o vídeo que eu quiser no Youtube ou no Netflix tem, sabe, então a gente quer tudo para o instante. E a questão é a seguinte com nossa vida financeira não dá para ser isso e isso pode parecer mais complexo do que ser boa fazer conta ou ser boa de planilha mas a verdade é o seguinte a gente nasce com isso, sabe? É nossa capacidade de ter disciplina, de saber esperar, de abrir mão de certas coisas agora para poder construir algo muito mais bacana para o futuro. Então, tem aquele estudo lá, famoso, lá do Teste do Marshmallow. Colocaram várias crianças numa sala, uma de cada vez… Colocaram crianças numa sala, crianças de 3, 4, 5 anos, e chegava um pesquisador e falava para elas “Olha só, tenho um marshmallow para você. Você pode comer esse marshmallow agora ou então, se você esperar um pouco, você vai ganhar um segundo marshmallow quando eu voltar para a sala, está bom?”. E o pesquisador sai da sala e fica a criança ali lidando com aquele marshmallow. Tem que esperar, a grande maioria não consegue. Isso é a nossa vida financeira. Você coloca o vídeo no YouTube e é hilário você ver as crianças tentando se segurar do impulso de comer o marshmellow na hora. Isso é lidar com dinheiro: é saber lidar com impulso. O resto, o mais difícil, o Excel faz para você, senão você coloca no Guia Bolso, calculadora está aí. Não tem desculpa, sabe? Se essa é a desculpa de não saber lidar com dinheiro, passa para a próxima porque essa não funciona. A nossa capacidade de fazer escolhas é o principal talento que a gente tem para lidar bem com dinheiro. Matemática? Esquece. Matemática é uma ferramenta. O que a gente precisa mesmo é saber esperar, ter disciplina e priorizar o que a gente realmente quer para a nossa vida.
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Cris: Fechando um pouquinho essa questão sobre gastos, eu acho que é bem legal a gente falar que o cartão de crédito [Concordância da Cynthia] que a gente chama de vilão, que, na verdade, o vilão não é o cartão, é quem usa o cartão [Risada da Cynthia]… O cartão não é um gasto, ele é um meio de pagamento então as pessoas tem aquela: “Não, põe no cartão”. Gente, a fatura chega, né? Então assim, com os juros absurdos que você tem no cartão, com essa coisa de “Ah não, mas paga só o mínimo”, esse mínimo vira uma bola de neve [Vivi: Nossa, um inferno.]. A Denise falou aqui sobre controlar, a Carol falou um pouquinho sobre o que [é] que você precisa basicamente ter em mente, no momento em que você está entendendo a lógica das suas contas… E aí a gente está falando sobre gastar. É abolir essa “Eu gasto muito”. Então, a gente falou aqui sobre como ganhar mais, né, como gastar com inteligência e passando rapidamente sobre “eu não sei investir”. Enquanto a maioria entende, mesmo sem conseguir praticar, o que significa ganhar e guardar, quase ninguém se sente a vontade no terreno do investimento. Investir não é simplesmente guardar. Guardar é passivo. Investir é tomar uma atitude para formar um patrimônio seja através de aplicações ou comprando bens e outros ativos. Investir bem é fazer com que o dinheiro que você ganhou e não gastou renda o máximo possível. Nosso parâmetro para poupar deve ser quanto gastamos e não quanto ganhamos. Por isso só se deve falar em sobrar algo se refletirmos sobre nossas prioridades a respeito dos gastos. Vamos então falar rapidamente aqui, porque eu acho incrível a maneira lógica de investir, que a primeira coisa que o livro traz para você investir melhor, investir bem, é ter um sonho. Porque se você não tem um sonho, se você não sabe onde que você quer chegar, se você não tem o que a Juliana fala muito que é a cenoura, se você não sabe onde você vai chegar, pra que cê vai ficar nesse caminho? Por que você tá guardando?
(Bloco 19) 1:30’00” – 1:34’59”
Cynthia: Por que você tá guardando? Principalmente quando você faz essa pergunta pra uma pessoa jovem, ela dizer ‘Eu tô guardando pra minha velhice’, ela não tá pensando na velhice. E deveria, né? Mas, enfim, todos deveríamos. Mas não é. Isso não é um sonho. “Ah, qual o seu sonho?”, “É que quando eu for velhinha, eu não vou…”
Ju: [Interrompe] Não fala isso que eu tô cheia de job de previdência.
Cynthia: “Quando eu for velhinha, eu vou poder gastar esse dinheirinho que eu tô guardando”. Isso não é um sonho.
Cris: O livro fala isso de uma maneira muito interessante. Que primeiro é guardar pros gastos emergenciais que é um carro quebrado, um dentista de última hora, coisas desse tipo. Depois, é guardar pra sonhos, pra metas. E por fim é guardar pra velhice. Por que como é que você vai guardar pra velhice, se você ainda não realizou nada?
Cynthia: Não fez nada. Exato. Porque você pode até guardar. Você pode ser uma pessoa super previdente. Não sei se você é. E tem uma previdência pensando quando você tiver com seus…
Cris: [Interrompe] Os filhos já têm.
Ju: Não, não. Eu tenho que fazer as pessoas guardarem pra previdência. Meu trabalho é convencer as pessoas que a previdência é importante.
Cynthia: A previdência é importante. Agora ela tem uma idade ideal pra ela. E ela nunca é um sonho. Então você… É difícil mesmo de você fazer esse…
Ju: Esse job não é fácil.
Cynthia: Não.
Cris: Quando a gente tá falando em sonho mesmo é comprar uma casa, é comprar um carro, é fazer uma viagem, é tirar um sabático, é fazer uma cirurgia plástica que você quer fazer, [Cynthia: É, é, é abrir a sua empresa] é reformar seu guarda-roupa, é abrir a sua empresa. Então não são sonhos tangíveis. A partir do momento que você tem um sonho, como investir de fato? Aí a ideia é: cê pega esse objetivo, aí cê pesquisa quanto ele custa. Feito isso, aí você calcula, de acordo com quanto você ganha e quanto você gasta, quanto que você vai conseguir guardar por ano para essa finalidade. E aí você já tem o que investir. Então se você… Tem um exemplo muito prático no livro sobre uma casa. Quero comprar uma casa de tanto, eu tenho tanto para dar de entrada. Quanto que eu preciso guardar por ano para que no final de quanto tempo eu possa comprar a casa? Aí você tem tudo mapeado. Fica muito mais fácil guardar. Aí é vencer mesmo a resistência. Por que aí a gente fica: “Ai, mas rende tão pouco. Pra quê que eu vou investir? Eu sei que eu preciso, mas eu não tenho tempo. Eu não entendo. Tenho medo. Eu não quero correr risco. Investir é muito arriscado”. E aí, tem um negócio que é: de novo, colocar de lado a “Síndrome da Impostora”. Você é capaz de entender! Pergunta! Com posse do plano, você pode chamar o seu agente financeiro, seja um corretor, seja um gerente, sentar na frente dele e fala: “Eu tenho esse plano. Onde que eu invisto?”. Você chega lá e pergunta. A pessoa vai te explicar. Se você não entendeu, cê pergunta. Se você não entendeu, pergunta de novo. [Cynthia: Exato]Se você não entendeu, pode ser que a pessoa esteja querendo te enrolar. Porque você é capaz de entender.
Cynthia: Porque são conceitos simples. Porque são conceitos. É como a Carol falou, são conceitos lógicos. “Qual é o investimento que você quer?”, “Eu quero o investimento que tenha a maior liquidez com maior rentabilidade e a maior segurança”, “Desculpa, querido. Não existe esse’. Esse investimento não existe.
Cris: Não existe máquina de fazer dinheiro.
Cynthia: O risco tá embutido na chance de ganhar mais. [Ju: Sim.] Mas se você quiser o investimento que possa te render um pouquinho mais, você então vai ter que ter capacidade, dispor de uma liberdade financeira que te permita colocar um dinheiro para ganhar ou para perder. E você tem que saber aonde que mora o seu rico dinheirinho. [Cris: Exato.] Se você quer uma coisa muito segura, eterna e constante, cê não vai ter a rentabilidade. Mas você pode optar por isso. É uma opção sem o risco. Se você quiser liquidez, quanto maior a liquidez, né? Que pra quem é… Acho que todo mundo entende, mas é assim, a rapidez com que eu resgato esse dinheiro. Eu coloquei cem reais hoje no banco, eu preciso dele amanhã, eu posso retirar. Isso significa liquidez. Quanto maior a liquidez no investimento, menor a sua rentabilidade. Então, são três variáveis. [Cris: São três conceitos básicos.] Muito básicos e muito simples. Para você chegar pro seu gerente e falar assim: “Mas o que? Cê tá me oferecendo esse investimento? Mas qual é a liquidez dele?”, “Ah, a liquidez dele é imediata”. Desconfie que a rentabilidade é baixa. “Ah, mas qual é a rentabilidade?”. E aí, você entra numa série de coisas que, de novo, são chatas, mas são simples. Que é entender o que que significa taxa básica de juros, entender o que que significa a taxa SELIC e o que que eu tenho que ver com isso, porque que a gente tá ouvindo o tempo inteiro do Banco Central: abaixou, subiu, baixou? E que que o meu dinheiro tem que ver com isso? E isso você aprende lá no Google. Tá no livro. Mas cê não precisa nem ler o livro. Porque é muito simples entender que é a taxa que domina, que vai gerenciar [Ju: Pautar, né? Pautar todos os outros…] , pautar o seu investimento.
Cris: Eu acho que a última barreira é falar que não tem dinheiro. “Ai, não tenho dinheiro pra investir”. Então só uma conta rápida para você. Cem reais durante 20 anos é quarenta e cinco mil.
(Bloco 20) 1:35’00” – 1:39’59”
Cris: [Continua] Então se você fala “Ah, mas eu não tenho dinheiro. Eu não tenho 1000 reais para colocar agora”. Cem reais é dinheiro para investir. Porque um dinheiro parado na sua conta corrente, ele é comido pela inflação. Ele diminui. Um dinheiro investido, não só não diminui como aumenta. [Ju: Deixar o dinheiro trabalhar.] Então, assim, não tem desculpa para não investir. Não faz sentido você ganhar mais, gastar menos e não saber trabalhar com aquele dinheiro que fica ali. Que é justamente a diferença entre o que você ganha e gasta. Se você não investir, não faz sentido ganhar mais e gastar menos. Você tá correndo atrás do rabo.
Cynthia: E a partir do momento em que você começa a investir e você vê isso… Você enxerga…
Cris: [Interrompe] Nossa, mas aí você fica poderosa demais da conta. Nó, na hora que você vê o dinheiro aumentar, cê fala: “Nossasinhora!”
Cynthia: [continua] Aí, é bárbaro. Aí, você abre mão do sapato. Daquele que você não precisava. [Cris: Porque você tem um sonho. Você tem um objetivo.] Ou do impulso: “Ah, mas eu não preciso trocar essa geladeira. A minha tá boinha ainda, tá bacana”. Então aí você vai diminuindo, porque aí você entende que aquele…
Vivi: [Interrompe] Faz ter gosto, né? Por fazer e ver o dinheiro render.
Cris: Você fica amigo dele. Angela Ro Ro fala, né? “Diga ao menos uma vez, pro dinheiro, quem é o dono de quem”.
Cynthia: Verdade. Você tem que saber que você é a dona. Não é ele que é dono de você.
Cris: Eu queria concluir essa conversa incrível com vocês com uma passagem que tem em um livro que eu gosto muito. Vamô lá. “Quando é que a gente passa para o bem-estar, ou aquilo que chamamos de viver na confiança? Quando temos mais dinheiro? Não. É quando temos menos exigência. Viver de uma tradição de opressão e submissão e assumimos um novo papel na sociedade sem nos desfazermos dos códigos do passado. Achamos que alguém vai cuidar de nós, porque foi isso que o mundo nos contou. Não gostamos de falar dinheiro, nem de negociar, porque nos disseram que isso não é coisa de mulher. E que mulher não precisava prover. Não sabemos investir porque ninguém nos ensinou a decifrar o idioma desse universo, porém nada disso deve nos tirar do controle das nossas vidas financeiras”. Vamos, então, para o Farol Aceso?
Ju: Bora.
Cris:Bora.
[Sobe trilha]
[Desce trilha]
Ju: Vamos, então, pro Farol Aceso. Vivi, o que que cê indica pra gente?
Vivi: Eu indico um livro que eu acabei de ler, assim, ontem. ‘O Propósito’ de Prem Baba “Livro O Propósito”. E gostei muito, porque tem muito a ver com o que a gente trabalha. Essa questão do propósito, as pessoas tão falando cada vez mais. Entender o que é, né? Se encontrar. E entender o que você tá fazendo nesse mundo. As conexões. Tudo o que a gente falou aqui. Networking. Fazer diferença na vida do outro, né? Não ter medo de ganhar, de ascender na sua vida, na sua jornada por aqui. Mas, também, não esquecendo de quem tá do teu lado, né? Fazer a diferença onde você tá. Eu acredito muito nisso. Vim, né, de comunidade. Então eu sempre estive muito ligada ao coletivo, a fazer junto. E onde a gente tá, se a gente estiver sozinho, a gente vai ser mais um. Mas, coletivamente a gente consegue alcançar mais lugares. A gente tá vendo aí as mulheres voltando com tudo na questão do feminismo, empoderamento feminino. A gente reacendendo discussões que vinham sendo faladas, mas que agora juntas a gente tá entendendo que pode ir mais longe. Então, ele traz muito isso. Essas relações, essa nossa percepção em todos os ambientes que a gente transita no dia a dia. Então, é uma reflexão excelente para o momento que a gente tá vivendo.
Ju: Cris?
Cris: Bom, eu vou indicar o livro, né, da Denise e da Cynthia, que foi o que pautou todo aqui o programa. Eu recomendo fortemente que todos vocês comprem e leiam, homens e mulheres. O livro é muito gostoso. Por que a gente falou aqui sobre a síntese dele, mas ele é permeado de cases reais. Então, invariavelmente, você vai se identificar com história das mulheres que contam ali. Desde aquela que achou que o marido ia [lhe] sustentar, a outra que achou que já tava pronta para aposentar porque ela gastava pouco, foi descobrir e não gastava pouco porcaria nenhuma, ou a outra que tinha um emprego, mas não conseguia ganhar dinheiro nem a pau com o consultório dela. Então, o “Ganhar mais, gastar menos e investir melhor” “Livro Ganhar mais, gastar menos e investir melhor” é um livro de cabeceira. Tirando que ele tem a planilha maravilhosa. Eu amo planilha. Sei que eu sou uma pessoa que tem um problema de caráter. Mas a forma como a planilha tá proposta, eu substituí a minha planilha original pela do livro, porque onde que ela me ajuda? Ela tá dividida por áreas da vida. Né? Tem áreas lá “quanto você gasta com o seu cachorro? quanto você gasta com seu filho? quanto você gasta com seu carro?”. O que que isso me permite? Perceber que ao longo dos meses o carro tava bebendo demais. Não fazia sentido o quanto aquele carro tava gastando de gasolina. Eu só descobri isso pelo acompanhamento. Descobri coisas, por exemplo, que a conta de luz tava tendo um aumento muito esquisito. O negócio não parava de aumentar mês a mês.
(Bloco 21) 1:40’00” – 1:44’59”
Cris: [Continua] Fui descobrir, tinha um problema na rede elétrica de casa, arrumou e abaixou a conta de novo. Então assim, acompanhar os gastos, eu vejo beleza em números, né, em Excel. E eu gosto disso, porque eu gosto de ver o dinheiro trabalhando pra mim, já que eu trabalho tanto pra ele. Então eu recomendo fortemente o livro, e pra dar uma descontraída depois de mexer tanto em dinheiro, tem um filme novo no Netflix com o Brad Pitt, chamado War Machine “War Machine”, não é um filme brilhante, mas ele tem uma crítica muito interessante sobre a guerra, os personagens, eles oscilam entre um delírio de grandeza e uma ingenuidade de quem entra numa sala, quebra tudo e não percebe que tá quebrando, sabe, vira pra um lado, quebra, vira pro outro e quebra… E uma sátira muito forte à guerra, sabe. Como quando chega num ponto que ninguém nem mais sabe o quê que tá fazendo ali. Então é um filme que eu acho que vale a pena ser visto, ele é bem legal.
Ju: Cynthia, quê que cê recomenda?
Cynthia: Bom, primeiro eu… Endosso totalmente a recomendação [risos] do livro nosso, meu e da Denise [Livro Ganhar mais, gastar menos e investir melhor], realmente é um livro que pode ser transformador, mas já que a gente tá falando de transformação e de livros, né, que são, né, essa mídia que permanece, né, e que prevalece sobre qualquer outra, é eterno, esperamos que seja, não briga com as outras, tem um outro livro, que eu acabei de ler, chama-se Originais, é do Eden Grant “Os Originais”, que é um neurocientista, um superguru, trabalha como consultor no Vale do Silício, ele é considerado um dos top ten professores de Wharton, então ele tem um trabalho bastante original. E o quê que ele fala, o livro, ele fala sobre como os originais, como os inconformistas, na verdade, que é a definição que ele dá pra essa palavra, de originalidade, transformam o mundo. Então ele tá falando basicamente da cabeça dos empreendedores, das pessoas que estão transformando o mundo com as suas ideias. E ele derruba diversos conceitos que são muito interessantes e que a gente vinha aplicando quase que por automaticamente, só por um vício. Um dos capítulos que eu achei um dos mais interessantes, eu falo sobre isso na minha próxima coluna da Claudia, é sobre procrastinação, essa palavra horrenda. O mundo inteiro aprendeu que procrastinar é um pecado, e ele defende a procrastinação, e ele mostra o mérito da procrastinação, com cases, com grandes criadores, grandes criativos que vão de Leonardo da Vinci a Steve Jobs, mostrando que o que é esse tempo que as pessoas precisam e que hoje o mundo não tá dando pra nós. Os tempos estão cada vez menores, e aparentemente aquilo que você termina logo é o melhor. Nem sempre é assim. E a gente tem que aprender a trabalhar as coisas e dar o seu devido tempo a elas, e que ao procrastinar, você de alguma forma matura qualquer projeto que esteja sendo cultivado na sua mente. Quando você acaba uma tarefa, ela sai do seu horizonte. Cê considera ela feita, boa ou má. Terminei, é aquilo, “Eu tirei da frente”, aliás é uma expressão muito comum, né, no meio do trabalho, “Eu faço logo e tiro da frente”. Quando “cê tira da frente” cê também tá tirando da frente a oportunidade de tornar aquilo muito melhor. Então eu acho que esse conceito, que é um conceito um pouco avesso, né, ao nosso tempo e ao nosso tempo digital de hoje, eu acho bem interessante, vale uma reflexão. O livro todo é muito poderoso, né, que tem ideias muito boas.
Cris: Ju, o quê que cê manda?
Ju: Primeiro eu queria indicar um podcast, é… O podcast O Nome Disso é África, vocês já ouviram a gente falar bastante de “O Nome Disso é Mundo” “ONDF”, eles começaram um spin-off falando especificamente sobre, é, uma africana que conta história de africanos pelo mundo, e de construção de identidade, e de falar sobre como eles vêem o mundo, e qual é a história que eles têm, e o quê que eles têm pra contribuir, enfim. O episódio número 2, que chama “Em Busca da Africanidade”, é uma entrevista com a Carla Fernandes, que é uma portuguesa que tem origem angolana, e que ela fundou o podcast e a associação Afrolis pra conhecer e aproximar afrodescendentes em Lisboa. Assim, além do podcast ser feito com o sotaque português de Portugal, né, que já é um charme à parte, como é interessante você ver outras perspectivas, né. Eu lembro bastante da Chimamanda, quando ela fala do perigo da história única, e a gente tem uma história única em todos os sentidos, né. Então assim, eu queria agradecer muito, muito, muito, o tempo inteiro que eu ouvi esse podcast, explodindo a minha cabeça, eu pensei isso assim “muito obrigado, Felipe Teixeira, por trazer isso pra gente, por nos dar essa oportunidade, por nos dar acesso a essas histórias, por expandir o nosso horizonte com isso, e queria oferecer isso pra vocês. Escutem, acompanhem, assinem… Assim…
(Bloco 22) 1:45’00” – 1:49’27”
Ju: [continua] É muito legal. É muito legal. Cada coisa que ela fala já muda o teu jeito, porque o teu jeito era limitado, cê só conhecia as histórias daqui, o jeito de ver daqui, o jeito de pensar daqui, então quando ela fala, ela como portuguesa que na verdade tem raízes angolanas, quando ela veio procurar a africanidade dela no Brasil, na Bahia, o quê que ela achou? o quê que a gente acha que a África é? o quê que a gente acha, né? o quê que é África pra gente? Cara, é sensacional, assim, e a minha família tem raízes com a África, eu tenho uma prima africana, né, meus tios moraram em 3 países da África, então assim, a minha família já foi bastante pra lá, meus tios já foram pra lá, minha avó já foi pra lá, e mesmo com tudo isso, mesmo não conhecendo só o óbvio, né, só o cartão-postal e tal, mesmo conhecendo um pouco mais, é brutalmente diferente. As histórias que elas contam, o jeito que elas contam, a primeira pessoa dali, é muito sensacional, eu recomendo. Ouçam, acompanhem, prestigiem. E a outra coisa, assim, de tanto vocês falarem, de tanto vocês pedirem, de tanto vocês pedirem um podcast sobre isso, eu fui assistir Handmaid’s Tale “Série The handmaid’s tale” . Gente do céu, que porrada isso, né! então assim, cês têm que ter um pouco de paciência comigo porque faz pouco tempo que… Faz pouco tempo que eu aprendi que ficção científica não era imaginação, que ficção científica era um artifício de escrita pra se fazer crítica social. Então que você pegava um aspecto da sua vida de hoje, você exagerava ela num futuro distópico, pra fazer as pessoas pensarem num outro contexto como aquela situação fica ridícula, fica absurda, num outro contexto. E aqui, dentro das regras que a gente aceitou, a gente não percebe mais. Então, a sinopse é que no futuro as mulheres começaram a ficar inférteis. Ninguém mais consegue engravidar, ou quem consegue aborta durante a gravidez, ou se a gravidez por ventura chegar a ter o bebê, morre pouco após o parto. Então nesse cenário que eles constroem de distopia, a fertilidade é um bem precioso demais pra ser distribuído pela loteria genética. Então as mulheres férteis passam a ser propriedade do Estado, com a sagrada incumbência de produzir filhos pra quem? Pros líderes. Essa é a premissa do seriado. E gente do céu… Tem tanta coisa que na teoria a gente fala e que ali tá exposto de uma maneira crua, e que se você conseguir ter um mínimo de abstração, de não enxergar aquilo só como uma ficção, mas de enxergar sobre qual é a crítica que aquilo traz, como que “Meu corpo, minhas regras”, essa frase “Meu corpo, minhas regras”, ela grita em cada segundo desse seriado. E assim, é um seriado pra não ver de binge watch, assim, não ver na sequência. Pra ver um episódio e passar uma semana pensando nele, discutindo com as amigas e lendo texto sobre ele, ouvindo podcast sobre ele, não é de fato pra engolir. É pra ver com calma e digerir, assim, sensacional. Aguardem, provavelmente a gente vai fazer alguma coisa sobre isso também.
Cris: Assim que a Cris assistir, né.
Ju: Exato. É… A gente teve essa semana o cancelamento das próximas séries do The Get Down, né, ele foi cancelado, a série não vai ter outra temporada.
Cris: Sense8 também.
Ju: É, eu queria falar do The Get Down porque semana passada eu falei do…
Cynthia: Mas teve a segunda temporada…
Ju: Teve.
Cynthia: Ia ter uma terceira?
Ju: Isso, daí eles cancelaram. e eu queria falar porque semana passada eu falei do Dear White People, e assim, que eu fiquei absolutamente apaixonada, e assim, gente, se cês não viram The Get Down ainda, aproveitem a notícia, aproveitem que voltou pro noticiário e assistam The Get Down, eu achei que não era pra mim, eu achei que não tinha as referências, e é muito legal que o merigo sempre fala pra mim, que é assim, eu não me importo muito com o roteiro, com o enredo, se eu gostar muito dos personagens. Se o roteiro tem falha mas o personagem me encantou, eu topo. Se os personagens tão mal construídos e o roteiro é incrível, eu não compro a história. E o The Get Down… Aquele menino, ele fala tudo com o olhar, tudo! Ele te leva pra todos os lugares, ele é muito sensível, então assim… Assistam The Get Down, aproveitem, só tem duas temporadas, e isso é maravilhoso.
Cris: É isso então… Fica a gostosa sensação de mais um programão no ar. Brigada, gente. Beijo!
Ju: Beijo!
Esse podcast foi editado por Caio Corraini.