Transcrição - Mamilos 95: Retrospectiva 2016 • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição - Mamilos 95: Retrospectiva 2016

Capa - Transcrição - Mamilos 95: Retrospectiva 2016

Jornalismo de peito aberto

Esse programa foi transcrito pela Mamilândia, grupo de transcrição do Mamilos

Início da transcrição:
Ju: Mamileiros e mamiletes, olha que surpresa! Tem Mamilos Edição Extra Super Especial para vocês: Um presente com muito amor de toda a nossa equipe! Eu sou a Ju Wallauer, e comigo está o sotaque mais gostoso da Internet:
Cris: Cris Bartis
Ju: Bora lembrar das polêmicas que marcaram 2016?
Cris: Caio, avisa aí: o que que tem de bom para tocar na vitrolinha do último Mamilos do ano?
Caio: Olá, personas! Corraini aqui novamente para trazer a vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana! Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail: [email protected]
[email protected]. E facilita e muito a minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. Nessa edição nós iremos ouvir o Fillen, uma banda de hardcore alternativo lá do meu querido Recife. Então fiquem aí com Fillen no Som do Mamilos.
[sobe trilha]
No meu cobertor
O teu sangue sobre a minha pele
(Dessa vez eu vou deixar queimar)
Não queria mais ver você fugir, então
Eu cortei as suas asas
Não queria mais, eu não queria mais…

[desce trilha]
Ju: Beijo para Curitiba, no Paraná, pro Tiago;
Cris: Para Jaqueíra, em Pernambuco;
Ju: Para Uberlândia, em Minas;
Cris: para Santo Antônio do Leste, em Mato Grosso;
Ju: Pra Carla Rossi;
Cris: Fátima Pereira;
Ju: Franklin Marcelo;
Cris: Ivana Guimarães;
Ju: Natália Gonçalves;
Cris: Olinto Castelo Branco;
Ju: Felipe Romão;
Cris: Wellington Rodrigues;
Ju: E por que não? Pro Jonas, maravilhoso, lindo, querido, que está fazendo todo o Fala que eu discuto, e a seção de beijos, e deixou tudo mais organizadinho, o nosso trabalho e a nossa vida muito mais fáceis. Beijo, Jonas!
Cris: Beijo estalado! E, claro, bora ouvir, e falar, com o Mamilos! E Juliana, sabia que serviu o seu puxão de orelha semana passada? Um monte de gente escrevendo pianinho, falando: “uhn, tá bom, então vou falar…”.
Ju: (risos) É isso, continuem fazendo a parte de vocês, estamos aqui, véspera de Natal, gravando; vocês, mandem e-mail!
Cris: Muito bom. Falem com o Mamilos no Facebook, no Twitter, na página do B9 e no nosso e-mail: [email protected]. É importante deixá-los cientes de que em dezembro e janeiro a gente está de férias, então as coisas hão de se acumular um pouco. Tem merchan essa semana, Juliana?
Ju: Tem um merchan delicioso…
Cris: Esse merchan não sai, né, menina?
Ju: Nunca mais, para sempre na nossa história, na nossa pele.
Cris: Vixe!
Ju: A linda da Andreia Mine, que é tatuadora no Salão Circus da Pamplona, entrou em contato com a gente quando viu que a festa do B9 foi no Circus da Augusta falando: “Gente, eu não sabia que ia ser lá, eu queria tanto conhecer vocês!” e a gente falou: “Ué, a gente quer fazer uma tatuagem, você é tatuadora, taí uma oportunidade linda!”
Cris: Vamos lá!
Ju: E ela, super fofa, se ofereceu para tatuar a gente. A gente foi lá, eu e a Cris juntas, e o Caio ainda para tietar, e a gente fez o logo do Mamilos, que era um sonho que a gente tinha, há um tempo já que a gente queria fazer.
Cris: Na real, a gente foi sem saber que era um presente, né, e depois – PÁ! – é um presente! Foi um presente dela junto com o Circus, aí ganhou outro sabor, né?
Ju: Foi muito especial!
Cris: Porque já era uma coisa que a gente queria fazer, mas… achamos uma pessoa para fazer, mas de repente virou um presente. Esse dia foi foda!
Ju: Esse dia foi foda! Então aí, ó, tá nas nossas redes sociais, vocês podem ver, eu e a Cris e o Caio, os três Mamilos juntos…
Cris: Yessss!
Ju: …agora tatuados, estamos muito felizes. Muito obrigada, ela foi uma fofa, a gente deixou ela zonza de tanto que a gente falou no ouvido dela.
Cris: Nossa, falou para mais de… Ela falou: “Ai, quase um Mamilos ao vivo, né?”, e ela é muito gentil, né?
Ju: Ela é muito fofa.
Cris: … tipo: “senhora”.
Ju: É, a gente ficou acho que umas três, quatro horas falando ininterruptamente no ouvido dela, tadinha.
Cris: Foi, tipo isso.
Ju: Mas tá lindo, a gente tá muito feliz, muito obrigada, Andreia.
Cris: O Mamilos só é possível graças ao trabalho maravilindo da nossa equipe cheirosa e voluntária:
Edição e Som do Mamilos com Caio Corraini;
Redes sociais com Luanda Gurgel, Guilherme Yano e Luiza;
Apoio a pauta com Taty Araujo, Jaqueline Costa, Aian Cotrim e mais uma galerinha do barulho que tá chegando; e
Transcrição do programa com a diva Lu Machado e equipe.
Ju: Gente: fizemos um convite para que quem quisesse ajudar na pauta mandasse e-mail pra gente. Recebemos muitas pessoas, e agora a Pernetinha tá organizando, botando ordem na casa, fazendo um Manual de Redação do Mamilos, tá bonito, aguardem, em 2017 vamos vir para quebrar!
Cris: E vamos pro Fala que eu discuto? O Highlander diz: “A Cris e a Ju me fizeram sentir culpado de não dar sempre um retorno pra vocês. Já contribuí com alguns comentários, mas só o fazia quando julgava ter algo a acrescentar, mas não vou mais continuar nesse erro. Minha resolução de Ano Novo é comentar em todos os episódios. Mesmo que não tenha nada a acrescentar, vou pelo menos agradecer aos produtores por me disponibilizar esse programa que eu tanto gosto. Então o que eu tenho a dizer nesse episódio é: Muito obrigado!! Eu amo vocês e amo o trabalho que vocês fazem!!”
Ju: Adoro! O melhor retorno!
Cris: E aí, para não deixar barato, o edujakel vem embaixo e diz: “Só espero que a resolução de ano novo delas seja de voltar a dar atenção pra essa área do site. rs”. Valeu o puxão de orelha, Edu, a gente vai aí sim. Segura!
Ju: A Laina disse: “Hoje eu fui a louca do escritório, chorando de rir enquanto trabalhava escutando o Mamilos. Pessoas passando na minha mesa perguntando se eu tava bem e ficando chateados quando dizia que era um podcast em português e aqui todos falam inglês. Me identifiquei muito com o Natal da Ana. Ótimo programa, como sempre =]”
Cris: Não, Ana, unanimidade no último programa, as pessoas escrevendo assim: “Ana para Presidente!”, foi um programa que todo mundo tava precisando, todo mundo se divertiu, a gente se divertiu muito aqui, a gente chorou de rir, na real.
Ju: Chorou literalmente de rir.
Cris: … de rir. Então, todo mundo feliz!
Ju: Situações que eu passei essa semana: minha sogra pedindo para convidar ela pro nosso Natal.
Ju: (risos) Ela adorou a Ana!
Cris: (risos) Tadinha, traz a Ana!
Ju: (risos) Não, ela adorou a Ana, morreu de rir, e a Ju Geve (Beijo, Ju!), que trabalha comigo, pedindo: “Ah, convida ela pra festa de final de ano da empresa, eu quero ser amiga dela, eu quero ser a melhor amiga dela.”
Cris: Ela é maravilhosa! Ana para Presidente! O Rômulo disse: “Minha meta para 2017 é pôr em prática o que eu ouvi o ano todo no Mamilos, e também fazer uma pirâmide para poder conversar sobre o Mamilos no final de semana”. Achei linda essa meta!
Ju: O Paulo Rena falou: “A réveillonização do Natal precisa acabar! Tem gente que até solta foguete!”
Cris: Não dá, né?
[sobe trilha]
[desce trilha]
Cris: Então agora, o que que a gente vai fazer? A gente convidou todos os nossos maravilhosos colaboradores da bancada fixa para nos enviar um áudio contando um pouco sobre o que que marcou para ele o ano de 2016, e como que ele encara essa notícia.
Ju: A gente pediu para cada um escolher um fato só, que achou que era mais relevante, justamente para montar uma retrospectiva diferente, então acho que, uma das coisas que a gente acha mais legal no Mamilos é a diversidade, e agora vocês vão conseguir enxergar isso através de um programa que reúne todos os nossos colaboradores e o olhar deles. Então, é um olhar bem diferente, a gente vai ter Pós-verdade, vai falar sobre Impeachment e o governo , vai falar sobre tecnologia com o bloqueio do WhatsApp, inteligência artificial e a queda de braço das franquias, a gente vai falar sobre envelhecer, vai falar sobre educação, vai falar sobre drogas, vai falar sobre a eleição do Trump, vai falar sobre a Chapecoense, enfim, a gente vai falar sobre muitos assuntos, do tamanho da diversidade do Mamilos.
Cris: E do tamanho do barulho que foi 2016, né? Que a gente teve que fazer uma Parte II, inclusive muito obrigada por esses elogios, tá? Sobre Consciência Negra, muita gente adorou o fato de a gente ter dividido em dois programas, só fazendo aspas nessa conversa, mas fiquem agora com o olhar da diversidade, o que marcou para cada um na mesa, o que aconteceu no ano de 2016.
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Alec Duarte: Alec Duarte falando então de governo , impeachment. Se você é do tipo que adora falar “Acaba, ano!” por qualquer motivo, 2017 vai te dar milhares deles para repetir o mantra, principalmente na política. Se, em 2016, o país passou pelo trauma de remover um presidente eleito legitimamente, a perspectiva de outra mudança de governo no ano que vem é real. E não é só por causa da delação do fim do mundo, como estão sendo chamadas as indiscrições de 77 executivos da Odebrecht que aderiram ao método predileto do juiz Moro. É bem verdade que só isso já seria capaz de fazer derreter o frágil governo de , ele próprio enrolado até o pescoço em doações eleitorais que, para serem consideradas propina, precisam apenas da interpretação de um magistrado. O buraco é muito mais profundo: já sabemos que nada vai acontecer na economia do país pelo menos até o fim do primeiro semestre, e na verdade sabemos que vão acontecer coisas ainda piores: o desemprego vai atingir seu ápice, e os investimentos de que o país precisa para voltar a crescer não virão tão cedo, ou seja, estamos falando de um cenário perfeito para que o descontentamento generalizado com o governo seja, esse sim, o principal motivo, para tornar a trocar o locatário do Palácio da Alvorada.
Não por acaso, já circula no Congresso uma proposta de emenda constitucional para substituir o recurso de eleição indireta em caso de impedimento do presidente nos últimos dois anos de mandato, como reza a Constituição, deixando essa possibilidade apenas pros últimos seis meses de mandato, dando tempo suficiente para que o Congresso avalie os caminhos para defenestrar por crime de responsabilidade. Em 2017 haverá outras opções na mesa, além das delações premiadas. O Tribunal Superior Eleitoral tem avançado na investigação sobre as contas de campanha da chapa – e deve entregar uma decisão, provavelmente péssima pro atual presidente, no segundo semestre. Impeachment, como no filme que a gente assistiu em 2016, é uma decisão meramente política. Uma economia que não anda é sempre o melhor dos argumentos pra trocar de ator principal e começar de novo. Enquanto isso não acontece, aos trancos e barrancos, consegue avançar alguns milímetros com sua agenda no Congresso. Bem ou mal, essa talvez tenha sido a melhor notícia da política nesse ano, praticamente desperdiçado entre a letargia de um governo em fase terminal, o de , e um parlamento que não tinha outro propósito que não o de derrubar o Governo. Agora, o Congresso aprovou a polêmica PEC do teto dos gastos, goste-se ou não dela – algo precisava ser feito – aprovou também a MP do setor elétrico, que tá avançando, e com ela, a segurança jurídica para a retomada de algum tipo de investimento; a Petrobrás deixou de ser obrigada a participar da exploração do pré-sal – mais uma oportunidade de surgir dinheiro novo no país e estamos discutindo uma reforma do Ensino Médio e uma perspectiva da mãe de todas as reformas: a mudança das regras da previdência, esse um vespeiro cheio de polêmica, mas que o Governo , conforme prometido, entregou pra apreciação dos parlamentares. A questão é que a falta de confiança nesse governo já está provocando defecções na base de apoio. Pesquisa CNI/Ibope divulgada recentemente mostrou que quase 50% dos brasileiros acham a gestão ruim ou péssima. Essa é uma história que a gente também já conhece o final. Acaba, 2017? E 2016, quem diria, também foi o ano que vivemos pra ver e ouvir o Mano Brown falar de amor. O irascível líder dos Racionais MCs, pra mim o melhor grupo de hip hop da história – e eu tô falando sério, é o que tem a ver com a gente, é o que me toca – deu à luz, no apagar das luzes desse ano, acabou de sair!, Boogie Naipe, um trabalho solo tão controverso, quanto experimental. Como eu tenho uma pedra no lugar do coração e vocês, mamiletes e mamileiros, sabem bem disso, eu detestei, achei constrangedor até; odiei! Mas como eu defendo o contraditório até a morte, então gostaria que você vá lá e confira. Até porque, se for pra cair o mito, tá valendo. Outra coisa legal de 2016 que apareceu na reta final foi a série Captive da Netflix, que em oito episódios tenta reconstruir alguns dos sequestros mais impactantes dos últimos quarenta anos. É um documentário e o foco é político. A série mostra tomada de reféns na Chechênia, no Iraque, em Israel e na Somália. Incidentes com vasta atuação diplomática, que é mais uma maneira de a gente saber, também, como governos governam entre quatro paredes. Tem um rapto comum, por acaso ocorrido no Brasil, no começo dos anos [19]90. Foi o sequestro de uma executiva da Coca-Cola no Rio de Janeiro; um caso cheio de reviravoltas: diretores da multinacional acabaram sendo capturados também quando estavam tentando pagar o resgate. Enfim, é uma história muito dura, muito interessante. Essa série, Captive, é um produto bem feito, com vídeos de época, depoimentos atuais dos protagonistas e boa edição. É o Making a Murder da Netflix, em 2016. Eu recomendo também pra você.

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Átila: Oi, Ju. Oi, Cris. Oi, Mamilos. Aqui é o Átila, biólogo à frente do Nerdologia, pelo menos às quintas-feiras, participante do Mamilos com muito orgulho, pra dizer pra vocês o que eu acho que teve de mais importante em 2016, falando da parte da ciência. Esse foi um ano que a gente viu, ao mesmo tempo, a importância de ciência e educação no país, de um jeito bastante complicado, preocupante, triste com alguma resolução. Pelo menos da parte que me toca… não que me toca, mas da parte que eu entendo e acho mais relevante, esse ano foi o ano que a gente descobriu que o Zika, que tava circulando no mundo inteiro e caiu no Brasil em 2015, realmente é o causador de microcefalia em fetos em desenvolvimento e nos bebês depois e que tem uma série de complicações que esse vírus pode causar na gestação. A gente já tinha uma desconfiança disso em 2015, já tava se vendo essa relação entre zika e microcefalia acontecendo, mas 2016 foi o ano em que isso realmente se confirmou. Isso foi confirmado aqui no Brasil, por conta dos casos de grávidas no Nordeste, tanto que a pesquisadora da Fiocruz de Pernambuco, a Celina Turchi, foi escolhida como uma das dez cientistas mais importantes do ano de 2016, de todos os cientistas do mundo inteiro; a Nature, que é uma revista muito prestigiosa, elegeu ela como uma das pessoas mais importantes, porque foi a pessoa que fez essa relação entre a vermelhidão, a coceira e os casos estranhos que se achava no começo ser dengue, depois se descobriu que era zika no Brasil, e as complicações que apareceram nove meses depois, alguns meses depois, nessas gestantes. Eu falo que esse é um problema de ciência e de educação porque, uma vez que a gente descobriu que realmente tem uma relação entre zika e microcefalia, não tem como sumir com os mosquitos da noite pro dia, uma vacina vai levar no mínimo ainda mais um par de anos, senão até uma década pra ser desenvolvida, e a solução mais breve que se achou foi recomendar que as mulheres adiassem a gestação, adiassem a gravidez, no caso de uma gravidez planejada. Isso não foi tão dito no Brasil, mas essa é uma recomendação internacional bastante repetida em alguns países; deram prazo de meses até prazo de dois a cinco anos. Eu sei que é muito complicado ter cientistas falando pras mulheres se elas devem engravidar ou não, mas foi a única solução que os agentes de saúde acharam pra passar alguma recomendação, além de “evitem mosquitos”. E aí que entra a importância da gente ter uma educação, inclusive uma educação sexual, pras mulheres saberem como prevenir essa gestação depois e poderem optar se elas querem ou não ter um filho numa hora dessas. Eu falo dessa importância, disso tudo, porque é o mesmo ano em que a gente cortou a torto e a direito a verba pra educação e principalmente verba pra pesquisa e pra ciência; foi uma das coisas que mais faltou no Brasil esse ano. Eu realmente espero que essa verba não faça falta como fez falta a verba pra campanha de prevenção dos mosquitos nesse ano. Essa relação é bastante importante, a gente sabe que os mosquitos estão aqui, tem mais vírus pra vir pela frente, mas pra não soar como o cara que tá sempre falando de desgraça aqui, espero realmente que a gente reconheça a importância disso e invista em mais pesquisa, em mais educação no país e dê mais oportunidades pra gente como a Celina Turchi de fazer o bem, por entender o que tá acontecendo no país e ajudar a gente a se prevenir de doenças, como o Brasil sempre fez muito bem, aliás. É isso, 2016 foi um ano de grandes descobertas na ciência, mas eu acho que a mais importante, mais relevante, a mais preocupante, é essa relação entre o zika e a microcefalia, e eu acho que o que eu tenho de mais importante pra passar pra vocês aqui, pra gente relembrar. E no Farol Aceso, pra dizer uma coisa que eu curti bastante esse ano: ano passado o melhor livro que eu tinha lido tinha sido Sapiens, do Yuval Noah Harari, que é uma mistura muito boa de história, biologia, fisiologia, humanidade… pra contar como que nós viramos o que nós somos hoje. Como que o ser humano virou o que é hoje em dia. E esse ano saiu o novo livro do Yuval Harari, que é o Homo Deus, que é o futuro do ser humano. É um livro que tá traduzido em português, ficou muito legal, tive o prazer de participar até da tradução técnica dele com a Paloma, minha esposa, e ele fala um pouco sobre como a gente chegou até aqui e faz uma projeção sobre qual que é o futuro da humanidade, que é muito legal. Ele examina tudo o que tá acontecendo hoje em dia, como a gente tá se baseando em dados, como que a genética e as outras coisas vão mudar a humanidade daqui pra frente. É uma leitura que eu – posso tá errado – eu acho leve, e é uma leitura que faz a gente pensar em mudar a maneira como a gente vê a vida e as coisas, por bastante tempo. Recomendo demais! O Sapiens pra começar e pra continuar, pra gente saber do futuro, Homo Deus, que saiu esse ano. Parabéns pelo 2016 pro Mamilos, adorei tá com vocês esse ano, e espero tá sempre aí.

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Leandro: Aqui é o Leandro Beguoci e o que eu queria destacar de 2016 é que esse é o ano em que a gente mais discutiu Educação e caminhos pra Educação brasileira, pelo menos dos últimos dez anos. E por que isso importa? Porque educação é aquele assunto que todo mundo se importa, mas vamos ser sinceros, aqui, de coração, eu e você: é um assunto que a gente ainda presta muito pouca atenção. Ninguém acorda de manhã e fala: “Ah, sou contra a educação!”, mas, de fato, o quanto a gente se dedica pra isso, o quanto a gente cobra, o quanto a gente faz? Isso eu tô falando muito além da educação dos nossos filhos, nossos sobrinhos, das pessoas que tão perto da gente, mas como uma agenda que importa pra todo mundo do mesmo jeito, sabe? Então, acho que tem uma evolução muito grande em 2016, é que esse ano a gente não conseguiu não falar de educação. A gente colocou a educação no debate. E uma das razões pelas quais isso aconteceu tem a ver com o protagonismo dos alunos, em primeiro lugar, que ocuparam escolas, fizeram um monte de protestos Brasil afora… a gente nunca pode esquecer da aluna Ana Julia, que fez aquele discurso muito emocionado e emocionante no Paraná, mas a gente também não pode esquecer que uma coisa alimenta a outra, né? Então, também os governos começaram a reagir com mais força aos maus resultados que o Brasil vem tendo em Educação. Tem levado, tem tentado fazer uma série de mudanças. Em alguns casos, a forma como essas mudanças são feitas, o conteúdo dessas mudanças, tem deixado os alunos e outras pessoas de educação muito preocupados, né? Mas tem um fator muito positivo nesse processo: é que a gente tá, aos poucos, conseguindo colocar educação no centro do debate. Eu vejo isso como uma coisa muito muito muito muito importante, assim. Especialmente num ano como foi 2016, em que a gente vai ter… teve a aprovação da PEC dos gastos públicos, dos investimentos públicos também, e ela, a gente não pode se enganar, tem, da forma como tá hoje, um efeito muito complicado e negativo sobre os recursos que vão ser destinados pra Educação brasileira. Então fazer com que a Educação seja uma parte central do debate público, da discussão pública no Brasil é essencial pra que a gente possa garantir que a Educação no Brasil possa avançar. E aí você pode me perguntar: “Pô, mas não colocamos muito dinheiro na Educação e olha os resultados que a gente tem?”. É verdade, o Brasil colocou uma quantidade significativa de dinheiro na Educação nos últimos anos, mas ela ainda é mais baixa que outros países em situação muito parecida, né? E também não é verdade que o Brasil não avançou, né? Enfim… em dezembro fez 20 anos que o Brasil aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB. Naquela época, a quantidade de brasileiros que tinham mais de onze anos de educação era ínfima. Um em cada dez brasileiros tinha mais do que onze anos de educação. Né, o equivalente a “foi educado até o Ensino Médio”. Essa proporção hoje tá em cerca de 40%. Então, avançou. Porque a Educação no Brasil deixou de ser uma coisa pra poucas pessoas nas áreas urbanas e passou a ser uma coisa pra todo mundo. Como de fato tem que ser, né? Mas, pra que a gente possa garantir que ela não só seja pra todo mundo, mas que ela seja de uma forma excelente pra todo mundo, a gente precisa garantir que as pessoas se importem com isso, que as pessoas cobrem isso, e que as pessoas, eu, você e todo mundo que se importa com o futuro do Brasil e com o presente do Brasil, com as pessoas que nos rodeiam, a gente tem que cobrar educação de qualidade pra todo mundo o tempo inteiro. E aí eu deixo o desafio, uma provocação, que é: Qual a escola pública mais perto da sua casa? Qual o nome dessa escola? Qual a idade das crianças que estudam ali? Quem são essas pessoas que frequentam essa escola? Educação não é uma coisa abstrata. Ela é muito concreta quando a gente começa a olhar pras escolas que tão perto da gente. Então eu queria fazer esse pedido: se informe sobre a escola que tá mais perto da sua casa e tente entender por que a escola mais próxima da sua casa é como é. E tente se envolver. A partir da escola em que você tá as coisas às vezes podem melhorar. E o meu Farol Aceso é pro filme ‘A Chegada’, que estreou no Brasil aqui no final de 2016 e que parte de uma premissa muito interessante, né? Doze naves alienígenas chegam no mundo e ficam lá, de boas. E elas abrem a porteira prum grupo de cientistas e de gente de todo mundo subir lá, a cada dezoito horas, pra trocar uma ideia com os ETs. O que é muito doido quando a gente olha pra isso é que ela quebra com uma narrativa tradicional de filmes de ficção científica, ou filmes de OVNIs em geral, que é: vai ter uma invasão, vai ter um monte de explosão, vai ser uma doideira… o filme não faz isso. Ele vai pra discutir linguagem e tempo. De uma forma muito bonita, de uma forma muito concreta, e que me faz lembrar de uma das coisas que eu mais gostei de estudar na universidade, que era: como a língua que nós falamos influencia a forma como nós pensamos. E eu acho que quando eu olho prum filme como ‘A Chegada’, ele conta essa história: como a língua que nós falamos, como a forma como nós estruturamos o pensamento nos faz entender o mundo também. Então acho que essa é minha dica de Farol Aceso pra todo mundo. Beijo e um excelente 2017 pra gente!

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Camila: Olá a todos, aqui quem fala é Camila Appel, colaboradora do podcast Mamilos. E, na minha retrospectiva do ano, eu vou falar com vocês sobre envelhecimento. Ou melhor, o tabu ou pavor de envelhecimento, esse medo que a nossa cultura tanto alimenta, principalmente aqui no Brasil, mas não somente aqui. E uma notícia que ilustra um pouco do que eu vou comentar é o fato da foto que ilustrou a capa da revista Serafina, que é uma revista da Folha de São Paulo, que foi censurada pelo Facebook e pelo Instagram. Foi a primeira vez que eles censuraram uma foto da Folha de São Paulo. E a foto trazia um ensaio com uma atriz chamada Maria Alice Vergueiro, de 82 anos, e ela foi muito popularizada num vídeo chamado “Tapa na Pantera”, no YouTube. Enfim, Maria Alice sofre de mal de Parkinson, tá em cartaz com uma peça de teatro chamada “Why the Horse” onde ela chega a encenar o próprio enterro. E ela trata de temas como a velhice, o tabu da morte, a fragilidade humana, enfim, é uma peça muito bonita. E esse ensaio fotográfico trazia a atriz com os seios nus, naturais, com o peso da gravidade, sem silicone, bem natural mesmo. Enfim, isso gerou um desconforto, segundo o Facebook. Foi uma experiência desconfortável pro público do Facebook, então eles simplesmente vetaram, cancelaram. E eu acho que a repercussão da notícia foi pequena perto do que ela simboliza no meu ponto de vista. Eu acho que a velhice, o envelhecimento, hoje em dia, é considerado uma doença por muitas correntes filosóficas, né? Tem uma, por exemplo, que é a Singularidade, que chega a ser considerada uma corrente, um movimento, e tem como principal porta-voz o Raymond Kursweil e ele e outro, também tem o gerontologista que trabalha com ele também, que é o Aubrey de Grey. Eles afirmam que o envelhecimento é uma doença que deve ser curado. O Aubrey, por exemplo, diz que o primeiro ser humano a viver mil anos já nasceu. Ele tem um livro chamado Ending Aging, cê pode importar, né, que diz “Terminando/Acabando com o Envelhecimento” e essa é uma das correntes, tem vários outros autores que falam sobre como o envelhecimento vai ser combatido. E são pensamentos interessantes, eu acho que tem várias palestras no TED – se você der um Google no TED, você pode enxergar várias correntes ali. Tem uma também que diz sobre o download de mentes, da nossa mente em outros corpos, né, tem o Ian Pearson que tem um livro chamado You Tomorrow, que fala bastante sobre isso. A revista Time esse ano publicou uma matéria de capa falando sobre essa possibilidade. Em 2030, talvez, a gente já consiga reproduzir órgãos vitais em laboratório, em 3D, enfim. E isso é uma revolução gigantesca, né? A nanorobótica, que ainda tá principiante é bem promissora. O Kursweil, por exemplo, ele diz que em 2045 nós teremos nanorobôs conectados no neocórtex do nosso cérebro que vai nos conectar diretamente à nuvem. É como se a gente pudesse entrar em contato com a internet e todas as informações disponíveis com o pensamento, com o cérebro. Eu acho todo esse debate interessante, do ponto de vista em que a gente discute quais implicações tudo isso pode vir a ter, até filosóficas, né? Como, por exemplo, o Existencialismo, que falava sobre a angústia de você ter liberdade de escolha e o que isso gera no ser humano. Imagina você ter um pensamento que se conecta à internet imediatamente. Imagina o tamanho da angústia que o Existencialismo teria. Mas enfim, tem outras implicações. No meu ponto de vista particular, eu acho nocivo ver o envelhecimento como uma doença a ser combatida. Até porque hoje em dia ele é uma realidade, e até Kafka diz que “o sentido da vida é que ela termina”, eu acho essa frase excelente, do Kafka, e eu acho ela muito importante. Então, como é uma realidade, como é que a gente lida com isso, não é? A gente lida mal. A The Economist, por exemplo, uma revista britânica, fez um estudo em que avaliou o Brasil como um dos piores países para morrer no mundo. Por que isso? Porque aqui a gente tem uma institucionalização da morte nos hospitais, né, que é um processo até de esterilização do processo de morrer. Antigamente morria-se dentro de casa, os velórios aconteciam dentro de casa, com a família toda em volta. Hoje em dia, você pega o moribundo, isola no hospital, e ninguém chega perto, ninguém vai, ninguém vê, porque é um ambiente que precisa ser estéril, tem horário de visita, e a gente ainda tem uma medicina bem mercadológica, que opta por exames e procedimentos caros, como alimentação artificial, respiração artificial, entubar, UTI. Esses não são os únicos caminhos, existem outras opções que é morrer em casa, num processo mais natural, e o uso de cuidados paliativos, que é uma área da medicina ainda bem incipiente no Brasil, mas que promete crescer bastante nos próximos anos. Eu acho que aqui no Brasil a nossa cultura por valorizar o jovem, o belo, ela é doente. E um efeito colateral negativo disso é que a gente não tem infraestrutura pra receber um enorme contingente de velhos que tá crescendo, né? Em 2030, segundo o IBGE, já seremos um país de velhos. E não temos a menor condição de lidar com essa realidade, né? No Japão, por exemplo, que é um país que tem outra forma de lidar com isso, os velhos andam nas ruas, eles fazem atividades, eles trabalham, são úteis. Aqui você não vê velhos no seu dia-a-dia, não porque eles não querem sair de casa; porque eles não têm condições de sair de casa, né? Não tem calçada, eles vão pegar um ônibus e o motorista do ônibus dirige feito um maluco, um velhinho cai, quebra a bacia, tem várias coisas ruins em relação a isso. Primeiro eu vou sugerir um documentário do Netflix, que eu já sugeri antes, mas que é fenomenal. Chama ”The Mask You Live In”, “A Máscara que Você Vive”, diz sobre: suicídio entre meninos, porque a gente fala muito das mulheres, né? Dos estereótipos relacionados a mulheres, feminismo, e óbvio, tem que ser falado. Eu acho importante também trazer os estereótipos relacionados aos meninos. O que a sociedade demanda deles, né? O que é aceito como másculo, o que não é aceito como másculo. E a taxa de suicídio entre os meninos é maior do que entre as meninas. Um dos motivos é que os meninos optam por formas mais letais, né? O menino dá um tiro e tudo; a menina toma uma dose de remédio extra ali, que é mais fácil de ser revertida. Mas, além disso, e mais importante do que isso, tem também o fato dos meninos não tarem [estarem] aguentando a pressão e a imagem que é exigida deles em termos de “que significa ser um homem na sociedade”. Eu acho muito importante, então eu recomendo esse documentário.

Recomendo também um talk show do John Oliver. O John Oliver, ele tem um programa que ele faz raras entrevistas, né, a maior parte ele fala direto com a câmera, são discursos excelentes sobre temas atuais. Você pode assistir no HBO, mandar gravar no HBO, olhar no HBO GO, entrar no canal do Youtube do John Oliver. Recomendo muito, eu adoro o texto do John Oliver.

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Cris de Luca: Olá, galera do Mamilos! As meninas me pediram pra fazer um apanhado aí sobre tecnologia de informação e comunicação no ano de 2016, apontando os fatos que eu considero mais relevantes. Então vamos lá?
Bom, eu diria que em 2016 nós fomos engolidos por um tsunami de novidades e tecnologias disruptivas que oferecem novas formas de fazer as coisas a partir de um conhecimento mais aprofundado do comportamento dos usuários e dos consumidores. Quem não ouvir falar em Fintech, em todos esses novos serviços bancários que nasceram justamente a partir desse avanço tecnológico? O problema é que a legislação andou a reboque dessas mudanças de comportamento, como sempre. E o modelo de negócio das operadoras, que nos fornece conexão pra tornar tudo isso possível, também se mostrou atrasado e, no nosso caso aqui no Brasil, também mostrou seu lado mais perverso. Eu diria que nós temos muito que evoluir em termo de infraestrutura pra suportar esse mundo hiperconectado e hiperinteligente que vem pela frente. O mundo da internet das coisas, da inteligência artificial que já se tornou bastante palpável esse ano. Quem não se lembra de um apagão, quem mora em São Paulo, em pleno mês de Novembro? Esse apagão mostrou que todo avanço tecnológico proporcionado pelo conjunto de smartphones, nuvem e inteligência artificial pode ir por água abaixo se não tivermos uma boa infraestrutura de telecom e principalmente de energia. Sem energia as antenas 4G saíram do ar e a população ficou sem telefone e sem internet. Resultado: nada funcionava. Os apps de táxi, as maquininha de cartão mais moderno que depende do celular. Caos absoluto. As pessoas ficaram presas no trabalho sem conseguir se comunicar. Então infraestrutura é algo que nós precisamos reivindicar sempre.

Vamos por parte? Bom, vamos lá. No primeiro semestre foi a justiça que andou nos afligindo. Os juízes voltaram a determinar bloqueios no Whatsapp que vem se mostrando principal canal de comunicação dos brasileiros, substituindo inclusive as conversas por voz usando o próprio canal de voz do smartphone. Agora a gente já pode até conversar por voz no Whastapp, né, todos os mensageiros ganharam esse recurso de comunicações, é, de chamadas por voz. Então o Whatsapp e os mensageiros passaram a ser o principal meio de comunicação dos brasileiros. Os legisladores correram pra tentar impedir que novos bloqueios ocorressem durante a eleição também porque os mensageiros eletrônicos foram aqui a principal arma de propaganda política. Parece ter dado certo, embora não haja garantia de que tenhamos de fato resolvido essa questão, parece que a própria equipe do aplicativo aprendeu a lidar melhor com os nossos juízes e a própria justiça aprendeu a lidar melhor com os aplicativos, a conferir. Realmente não há nenhuma garantia de que a gente não venha a sofrer com novos bloqueios. O primeiro semestre foi marcado também pela tentativa das operadoras de estabelecerem uma franquia de dados pra internet fixa. Assim como elas já fazem hoje pra internet móvel, ameaçando cortar conexão de quem excedesse o limite dessa franquia. Bom, nós descobrimos que a franquia já tá prevista nos contratos de muitos provedores, mas não é praticada de fato. E também descobrimos que os mecanismos de defesa do consumidor ainda funcionam, porque após declarações desastradas do ex-presidente da Anatel em defesa das operadoras, o clamor popular e a ação dos órgãos de defesa do consumidor fizeram com que o Ministério das Comunicações e a própria Anatel suspendessem os planos de franquia. Por quanto tempo, a gente não sabe dizer. No início do segundo semestre, a guerra das operadoras contra os serviços Netflix e Whatsapp, que a gente chama de serviços OTT (Over The Top, acima da camada da internet), também pareceu ter chegado aí a um cessar-fogo e até um acordo de paz. Mas com a proximidade do fim do ano, dois duros golpes passaram quase que despercebidos pra maioria da população. O primeiros deles, o Congresso aprovou um projeto de lei que já seguiu pra sanção do presidente autorizando a troca do regime de concessão da telefonia fixa pelo de autorização, como já é o da telefonia móvel. Quer dizer, na prática a gente vai tratar, a gente pode tratar telefonia fixa, né, e todos os serviços de comunicações fixos (inclusive o provimento aí de acesso a internet) como a gente trata hoje o provimento de acesso a internet na telefonia móvel. O que abre margem pra ideia da franquia voltar. A obrigação delas também, das operadoras, passa a ser ampliar a cobertura de banda larga fixa no país, mesmo em cidades onde não haja viabilidade econômica. Quer dizer, nos pequenos municípios do interior. Na prática, o que que as operadoras fizeram? Ao trocar o regime de concessão pelo de autorização, elas mudaram as obrigações que elas têm por estarem explorando um serviço que, em tese, é um serviço que deveria ser prestado pela própria União, né. Então, da mesma forma que hoje, quando a gente privatiza as estradas que a gente anda no país inteiro pra que elas tenham uma melhor conservação, mas as estradas são um bem da União, hoje se discute se as fibras óticas, por exemplo, são um bem que deve, no fim dessa autorização (no fim do contrato da empresa pra explorar o serviço da operadora), deve voltar pra União e ela passa essa malha de fibra ótica pra outra empresa explorar, ou se as fibras óticas são propriedade das operadoras que as colocaram lá. Então é isso que tá se discutindo agora, não foi batido o martelo, essa questão ficou pro ano que vem. Chama Reversibilidade de Bens, a gente vai ouvir falar muito disso, e significa também que, na prática, as operadoras passaram a ter uma obrigação que passa a ser um investimento pra elas, não só um investimento pro país, se for realmente… se acabar esse regime de reversibilidade de bens pra União. O Congresso também aprovou outro projeto de lei que passa a estabelecer cobrança de impostos pra serviços como o Netflix, o que abre margem… por enquanto o imposto tá sendo cobrado ao ISS, mas isso abre margem pra que venha uma nova rodada aí de mudança tributária e talvez o Netflix sofra com outras cobranças de impostos que devem encarecer o serviço pra gente. Então aos poucos as operadoras vão obtendo pequenas vitórias que a gente não sabe como vai impactar lá no nosso bolso a partir do ano que vem.

Bom, agora vamos falar de coisa boa, né. Acho que o maior avanço de 2016 foi mesmo a chegada da inteligência artificial no nosso convívio, através principalmente dos assistentes pessoais, e do seu domínio aí da linguagem natural. Todos os assistentes pessoais, como a Siri, da Apple, Google Assistant do Google (que tá lá no comunicador Allo) e a Cortana, da Microsoft, eles já estão falando português. E isso é um avanço da inteligência artificial, que também está presente no nosso cotidiano, em diversas coisas, que por muitas vezes a gente nem percebe. Então vamos lá, alguns mecanismos que avaliam padrões de busca, por exemplo, nas redes sociais, o que a gente visualiza, assim como conteúdo exibido na nossa linha do tempo, a timeline, é otimizado pra tornar aquele conteúdo mais relevante pra gente, usando princípios de inteligência artificial aplicada aos algoritmos. Os próprios corretores ortográficos e os editores de texto dos nossos smartphones também são frutos da inteligência artificial. Pra identificar o que há de errado num termo escrito, é preciso que o sistema aponte o problema e apresente a grafia certa. Da mesma forma, a inteligência artificial vai estar cada vez mais presente no reconhecimento de imagens e no reconhecimento da fala. Então quem quiser se manter competitivo no século XXI, não pode ignorar a avalanche de inteligência artificial que já está chegando. O que está claro, por enquanto, é que há muitas perguntas que ainda permanecem sem resposta. Será que nós podemos realmente criar máquinas conscientes, que tenham a capacidade de pensar? O que que nós queremos dizer com a palavra “consciente”? Qual é a definição precisa de inteligência quando a gente fala inteligência artificial? E quais são as implicações de combinar a inteligência artificial com a internet das coisas? As respostas vão vir de empresas como IBM, Google, Microsoft, Apple, Amazon e até do Facebook. Quando se juntar de vez a internet das coisas com a inteligência artificial, a gente não sabe onde tudo isso vai parar.

A internet das coisas hoje é a grande promessa da área de tecnologia da informação e da comunicação. Todos os objetos vão ter sensores, todos os objetos vão se comunicar com a internet. Então, uma coisa é certa: sem conexão decente, a gente não vai chegar a lugar nenhum. Meu desejo pra 2017 é que as operadoras se reinventem, encontrem um modelo de negócio que pare de penalizar os usuários e viabilizem o desenvolvimento econômico e social do país.

Ah, o meu farol aceso? Bom, meu farol aceso tem a ver com a inteligência artificial, que é uma área que a gente ainda tá engatinhando. Muitas vozes de peso, como Steven Hawkins [correto: Stephen Hawking] e Elon Musk alertam contra eventuais riscos da inteligência artificial, principalmente no mercado de trabalho. Nessa linha tem um livro muito instigante, chamado “Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies”, que foi bestseller nos Estados Unidos. Ainda não tem uma versão em português, mas parece que ela já está a caminho. Então assim que chegar, gente, fica ligado porque vale a pena ler. O que a gente costuma dizer, vários pesquisadores estão dizendo, é que a inteligência artificial hoje está num ponto similar ao da computação no início da década de 50, quando os pioneiros estabeleceram ideias básicas dos computadores. Então em menos de 20 anos os computadores tornaram possíveis muitos sistemas aí que a gente utiliza hoje pra facilitar o nosso dia-a-dia, então vamos ver o que a inteligência artificial nos reserva nos próximos anos. O que a gente sabe é que a medida que tecnologias como machine learning, robótica, deep learningMachine learning e deep learning são os subconjuntos da inteligência artificial. Junto com a robótica, eles vão substituir diversas funções ocupadas pelos seres humanos hoje. Principalmente ocupações que dependem aí de padrões definidos de comportamento e atuação. Então já se fala na machine learning e na robótica substituindo, por exemplo, advogados. Já se fala no machine learning, na inteligência artificial, substituindo vendedores, então vamos ver onde que isso tudo aí vai parar. O que de fato tá muito claro é que o processo acelerado de reindustrialização, mesmo em países ricos, como Estados Unidos e Alemanha, é um processo que, em vez de trazer de volta postos de trabalho pra mão-de-obra barata, como na China, começa a substituir essa mão-de-obra por robôs. Os robôs estão entre nós, e vão estar cada vez mais inteligentes. Então é um mundo pro qual nós precisamos nos preparar. É um mundo pro qual a gente precisa aprender a lidar com ele e a torná-lo um mundo menos hostil pra nós, seres humanos. E, pra isso, a gente precisa que tanto os legisladores quanto as empresas de infraestrutura trabalhem direitinho e a nosso favor. É isso aí gente, espero ter dado uma visão de pra onde isso tudo tá caminhando, e os fatos que, pra mim, foram mais relevantes no ano passado, nessa área.

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Diogo Rodriguez: Olá, sou Diogo Antônio Rodriguez, jornalista e criador do Me Explica. No tema de 2016, não poderia deixar de ser a tal da “pós-verdade”, que foi a palavra do ano do dicionário Oxford, que é dos mais tradicionais do idioma inglês. Desde 2004 esse dicionário escolhe uma expressão, ou uma palavra, que tenha chamado muita atenção nos últimos doze meses, e dá o título. Esse ano foi pós-verdade. Mas o que que é isso? É… bom, a pós-verdade é a ideia de que, com tantas fontes de informação e com tantas pessoas falando ao mesmo tempo (pessoas, veículos e outras coisas mais), não existe mais uma maneira de você determinar o que é fato e o que não é. É uma era que vale mais você criar uma narrativa, você instilar emoções nas pessoas do que de fato estar de possessão do que é verdade. Dois dos maiores exemplos dessa, digamos, nova realidade mundial, seriam a eleição do Donald Trump, o Brexit. Por quê? Porque durante esses dois episódios, as propagandas políticas se basearam muito mais em materiais como links e vídeos e textos que não necessariamente transmitiam coisas reais a respeito das questão em debate, mas que mesmo assim conseguiam repercutir com o mesmo nível de influência dos veículos tradicionais (da televisão, dos jornais, das revistas, enfim, da mídia tradicional). Nesse mundo da internet, pós-verdade teria se tornado, digamos assim, inescapável, porque não tem mais como você hierarquizar o que é importante ou o que não é, principalmente pra quem está navegando nas timelines (Facebook, Twitter, enfim, qualquer rede social, até mesmo Whatsapp), as informações vão chegando sem uma clara definição da confiabilidade que aquele veículo, aquela fonte tem. Então as pessoas estarão mais preocupadas em checar a veracidade dos fatos, mas apenas em responder aquele material de maneira emocional e espalhar pra outras pessoas. Esse é o comportamento que a gente sabe, por experiência própria, que a maioria das pessoas têm apresentado nesta nova era de inundação de informações. Outro aspecto importante da pós-verdade é justamente a ascensão das notícias falsas. Veículos são criados especificamente pra esse fim: circular manchetes que criam preconceitos e outros tipos de informações falsas a respeito de pessoas e questões que estão no centro do debate político. Os Estados Unidos, a gente viu que vários sites situados em outros países, como, por exemplo, a Macedônia, se dedicavam apenas a criar factoides a respeito da Hillary Clinton pra tentar influenciar esse debate político, pra criar uma noção nas pessoas de que a Hillary fazia alguma coisa errada, ou que ela estava envolvida em satanismo e coisas afins.

Estou falando de Estados Unidos e Europa, mas esse é um fenômeno que parece ser mundial, que no Brasil a gente viu coisas parecidas nas eleições de 2014 e durante todo o processo de Impeachment. Sites que, por um lado ou por outro, divulgavam (às vezes até só a manchete dizia alguma coisa desfavorável), mas a tentativa era de influenciar o debate público através desses, digamos, factoides. Outro aspecto importante desse problema é o enfraquecimento da legitimidade do jornalismo, além, obviamente, o enfraquecimento do negócio do jornalismo. A gente sabe que no mundo inteiro os veículos jornalísticos vêm sofrendo para se manter. Muitos estão demitindo funcionários todos os anos, muitos estão deixando de ter versões impressas pra estar apenas na internet, e isso enfraqueceu muito as redações, porque tem cada vez menos gente, ou seja, a qualidade das informações cai. Outro problema do jornalismo é a falta de credibilidade com as novas gerações. As pessoas tendem a não acreditar muito na mídia, e isso cria essa deslegitimação que o jornalismo sofre, e por isso acho que as redes sociais acabam tendo esse papel, essa predominância hoje na comunicação entre os cidadãos. A verdade é que a pós-verdade, ela nada mais é que um fenômeno da nossa sociedade, ela mostra como as pessoas estão mais preocupadas em reagir às coisas do que refletir. E só mesmo educando as pessoas para refletir é que a gente pode sair dessa situação. Por isso eu discordo dessa ideia de que estamos vivendo a era da pós-verdade, não acho que é essa a questão. Eu acho que a verdade tem muitos aspectos. Eu acho que, embora seja impossível a gente falar numa só verdade, nós podemos falar em fatos, nós podemos relatar os fatos com transparência, com responsabilidade, com honestidade, mesmo que nós tenhamos os nossos vieses, obviamente, então não acredito nisso. Eu acho que é uma era, nós devemos prestar mais atenção, mas não devemos jogar a toalha, por isso eu não concordo muito com esse termo de pós-verdade.

Bom, pra falar de coisa boa, eu quero indicar duas coisas bacanas, com as quais eu me deparei neste ano de 2016. A primeira é o disco da banda americana Pixies, que se chama Head Carrier. É o segundo disco deles desde a volta da banda, que tinha acabado em 1993, mas resolveram voltar a ativa em 2003 e recentemente eles resolveram gravar discos de novo, apesar do medo de alguns fãs, de que eles estragassem o legado deles. Gostei muito do disco, uma banda envelhecendo bem, com coragem de tentar coisas novas, mas ainda mantendo a essência. Pra quem gosta de rock alternativo, é imperdível. O segundo é o livro Here I Am do escritor americano Jonathan Safran Foer. Safran Foer é autor de vários livros bacanas como Tudo Se Ilumina e Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, e nesse livro ele mistura política internacional, geopolítica, amor, redes sociais e dilemas que os pais vivem ao criar seus filhos. É muito bonito o livro, apesar de um pouco longo, mas eu recomendo quem estiver a procura de um bom romance para ler nessas férias, eu indico com tranquilidade. Obrigado, e um beijo a todos.

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Fernando Duarte: Olá, pessoal! Aqui quem fala é Fernando Duarte, eu sou psiquiatra, trabalho em CAPS e NASF e também sou colaborador do Mamilos, por que não? A notícia que eu queria falar pra vocês nessa retrospectiva é uma notícia recente que dizia que o prefeito eleito João Dória vai acabar com o Programa Braços Abertos, do Haddad. Eu escolhi isso porque representa a troca de visão, de política, de muitas prefeituras, imagino, no Brasil, que não foram reeleitas e agora têm uma visão, às vezes até oposta para os mesmos problemas das cidades. Um bom exemplo é essa questão do crack, que está acontecendo aqui em São Paulo. Pra quem não conhece, o Programa De Braços Abertos é um programa da Prefeitura, que visa contratar usuários de drogas do centro da cidade, para trabalhos como varrer as ruas ou reciclagem, e oferece em troca quinze reais por dia, além de estadia em um dos hotéis do programa. Eles também oferecem tratamento para dependentes de crack, mas apenas para quem quiser, não é uma exigência do programa. Se a pessoa quiser apenas trabalhar, ficar em um dos hotéis, ganhar esses quinze reais por dia e gastar tudo em crack, a princípio, isso não é um problema. Enfim, a filosofia por trás desse programa é a questão da redução de danos, então, que parte do princípio de que as drogas existem, de que não dá pra acabar com elas, que isso já foi tentado muitas vezes e que ninguém consegue extinguir com as drogas. Também parte do princípio que algumas pessoas não querem parar de usar drogas, vão seguir usando, e, por isso, já que essas duas coisas são fato, a ideia seria que as pessoas pudessem usar essa droga causando o menor estrago possível. Talvez até causasse algum bem ao fazer o uso de drogas, como por exemplo, limpar o centro da cidade. Os principais críticos a esse programa, entre eles o próprio prefeito eleito João Dória, dizem que é um absurdo você dar dinheiro na mão da pessoa que é dependente de crack, como esses quinze reais por dia, porque o que acontece é que a pessoa simplesmente pega esse dinheiro e transforma em crack. Eles dizem que era como se a prefeitura estivesse comprando crack pra dar pra população. E eles, inclusive, usam argumentos como… Dizem que aumentou a quantidade de usuários de crack na cidade, eu não sei de onde eles tiraram essa informação, mas enfim, foi uma das falas do Dória; ele também diz que o preço do crack aumentou na cidade por causa do programa, o que eu também acho um pouco arriscado de falar porque o preço de alguma coisa pode aumentar por milhões de motivos, na verdade, o preço de quase tudo aumentou nos últimos anos e é difícil dizer que foi esse programa que aumentou o preço do crack na cidade. De qualquer jeito, quando eu li essa notícia, eu li com uma certa tristeza, um certo pesar, porque eu acredito que…Eu sou bastante defensor do programa, eu acredito que o programa oferecia uma alternativa para os usuários de droga, ele tentava recuperar a dignidade e a cidadania das pessoas dando um trabalho para essas pessoas, coisa que não é fácil para um dependente de crack conseguir um trabalho, e eles também ofereciam uma alternativa para as pessoas que querem continuar o uso do crack e que não querem roubar. A gente acaba sabendo que uma pessoa que é dependente de crack, se ele não tem dinheiro, se ele não tem mais o que vender, ele acaba roubando pra conseguir o dinheiro e eu acredito que esse programa pelo menos oferecia uma alternativa para essas pessoas. Recentemente eu também vi uma outra notícia dizendo que o próprio secretário de saúde da Prefeitura do Dória não descarta manter o programa ou manter várias ações do programa porque ele não é contrário ao programa. Então, apesar de o João Dória ter falado muito mal do Braços Abertos, tanto antes como depois da eleição, a gente ainda está um pouco em dúvida de como vai seguir isso pro ano que vem. Enfim, fica aí a notícia, vou deixando com vocês um Feliz Natal e um excelente 2017 para todos nós, mamileiros. Beijo, pessoal.

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Itali: Olá, mamileiros e mamiletes, aqui é a Itali. Minha parte nessa retrospectiva 2016 vai ser falar sobre a ascensão do conservadorismo no Brasil como uma das respostas para as crises política, econômica e moral que a gente vem acompanhando. A gente tem, hoje, o Congresso mais conservador desde 1964, no que diz respeito aos parlamentares eleitos ligados a segmentos militares, policiais, religiosos e ruralistas, isso, né, no Brasil. Já em São Paulo, a gente tem uma Câmara de Vereadores conservadora também, apesar do número de mulheres ter aumentado esse ano na Câmara, a gente teve bastante destaque para uma pauta mais reacionária, mais conservadora, principalmente com candidatos ligados ao MBL, como, por exemplo, o Holiday, que vem aí com esse discurso contra pautas afirmativas e tudo isso tá dentro de um contexto maior, na verdade. Essa escalada conservadora está acontecendo no mundo, que pode ser observada pela eleição do Trump, pode ser observada pelo Brexit no Reino Unido. Tudo vem com essa ideia de que a gente precisa de soluções locais, a gente precisa se unir, se fechar no nosso país para resolver os nossos problemas. Como uma consequência, esses problemas que vieram como uma consequência da globalização que, por ter acontecido de uma maneira em que os trabalhadores acabaram saindo mais prejudicados do que se esperava, isso acabou afetando o nível de renda nos países ricos, o nível de renda da classe média nos países como os Estados Unidos e os países europeus e, além disso, tem os conflitos regionais, que acabaram dando um “boom” nos imigrantes e nos refugiados também, então, tudo isso contribuiu para um clima de tensão global. E aqui no Brasil a gente está experimentando essa tensão também relacionada à nossa crise institucional. Então, a gente tem uma crise brasileira politica, econômica e, nesse sentido, começam a surgir as respostas que as pessoas consideram melhores e que eu considero mais fáceis, porque é mais fácil você pedir pra todo mundo se unir e resolver um problema do que realmente olhar pra essas nuances. Veio, com isso, o pacotão, que é a PEC, querendo resolver o problema econômico, com uma contenção de gastos. A gente sabe que isso não é o suficiente para reverter a situação, mas no meio de tudo isso, o que eu queria que vocês notassem e refletissem sobre isso, é sobre a invisibilização de algumas pautas, porque num contexto onde a gente tem de buscar resolver as coisas e nos é pedido união, muitas pautas que são de minorias acabam sendo invisibilizadas com essa ideia de que agora a gente precisa tirar o Brasil do buraco e seguir com a nossa vida e depois a gente olha pros pormenores, mas na verdade, os pormenores não são meros detalhes. Se fizer o recorte de classe, gênero e raça, a gente sabe que até nas medidas econômicas, nas medidas que estão sendo usadas para reverter a situação econômica, elas vão impactar mais alguns grupos que outros. Então, é importante que a gente não perca essa noção de que sempre que surgir um discurso de união, ele acaba sendo usado como um cala a boca para diversos setores da nossa sociedade. E é importante que a gente continue fazendo esses recortes de grupos mais impactados por certas políticas, porque assim a gente consegue ter algumas ações, algumas políticas afirmativas ou mesmo empatia, que é o mínimo necessário pra gente entender o que pessoas diferentes de nós passam. Então, nesse sentido, eu queria desejar feliz ano novo pra todos os mamileiros e mamiletes e pedir que vocês refletissem isso no ano que vem: como a gente pode fazer para melhorar o nosso país, sair de uma situação de crise, sem invisibilizar pautas importantes dentro da nossa sociedade. Beijão.

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Joel Pinheiro: Bom, aqui é o Joel Pinheiro e eu vou falar sobre a eleição do Trump, que eu achei que foi a notícia mais inesperada do ano. Grande parte dos formadores de opinião, dos institutos de pesquisa realmente não esperavam essa eleição, davam vitória pra Hillary, que acabou ganhando no voto popular, mas perdendo nos delegados e, realmente, foi um fato inesperado, um fato que chocou muitas pessoas, pelos valores que ele supostamente representa, mas eu acho que a reação menos inteligente para eleição dele é que eu ouvi de grande parte da mídia, dos intelectuais, que: “Oh, meu Deus, esses racistas terríveis que elegeram o Trump!”. E, no fundo, não foi nada disso, né? Óbvio que os Estados Unidos sempre têm um componente do voto racista, que nas últimas décadas vai pro Partido Republicano, na primeira metade do século era dos democratas, mas não foi esse o diferencial que fez ele ser eleito, não. O que fez ele ser eleito foi que, primeiro, uma parte do eleitorado que não reconhecia o voto nele que votou nele e uma parte do eleitorado que tinha votado democratas, estados que tinham votado democratas em eleições passadas, passaram pro lado republicano, votaram no Trump, especialmente um proletariado, uma classe média trabalhadora, em sua larga maioria branca, embora as minorias terem votado mais nos democratas, também não foi uma lavada tão grande quanto se esperava, não, muitas minorias, inclusive de latinos, votaram, sim, no Trump, mas o que mudou mesmo foi esse voto trabalhador, uma classe média tradicional americana que aderiu ao discurso do Trump e o discurso do Trump, no fundo, na minha interpretação, é um posicionamento mais honesto do que o da Hillary, no sentido de se colocar como defensor dessas pessoas. Ele diz: “Olha, o trabalhador americano sai perdendo nas trocas com o resto do mundo, porque a gente perde empregos pros chineses quando uma fábrica vai pra lá, e a gente perde empregos pros mexicanos que entram aqui no nosso país…”, ou seja, o interesse dos norte-americanos é antagônico, é um interesse de chineses e mexicanos e de todo o resto do mundo e, portanto, “…a gente tem que se fechar, não só economicamente, mas também na passagem de pessoas, fechar a imigração mas também se fechar ao comércio, e isso vai beneficiar o que é o nosso bem estar, o nosso interesse econômico”. A Hillary, privadamente, tinha uma visão contrária à essa, ela tem uma visão muito mais liberal, que é uma visão de livre comércio e livre movimento de capitais, pessoas e tudo mais. Mas na campanha dela e do próprio partido democrata de maneira geral, o que prevaleceu também foi esse tom mais antiliberal que disse: “Não, realmente, a gente não pode perder empregos pro resto do mundo, isso é muito ruim para economia americana.”, o que é uma falácia, no fundo, porque os Estados Unidos e vários outros países se integraram mais economicamente nas últimas décadas, você não tem aumento nenhum de desemprego líquido. Você tem a mudança do perfil de emprego que se gera em uma economia. Mas, em suma, ela aderiu à esse discurso, mas ao mesmo tempo, de uma forma um tanto inconsistente, tenta manter o: “Ah, não, mas a gente tem de ter compaixão e ajudar a todos”. No fundo, ela estava pedindo de forma implícita que os americanos se sacrificassem em prol de outros grupos menos favorecidos de imigrantes ou seja lá quem for e, certamente, esse tipo de proposta não desce bem para o eleitorado. Até no campo dos valores também. Quem é esse trabalhador, quais os valores desse trabalhador americano médio? O Trump apelou pra eles e disse: “Você tem valor. Você não precisa mais se pautar pelo que a mídia diz ou pelo que os intelectuais dizem. Eu estou aqui pra representar vocês.” E ao fazer isso, [ele] realmente conquistou as pessoas. Acho que ele não vai ser tão ruim como se pinta. Eu julgava a Hillary melhor, mas acho que o Trump também tem seus méritos aí. Acho que ele não vai ser tudo aquilo que ele se mostrou também na campanha. Sempre tem esse marketing, no Brasil, esse estelionato eleitoral, mas acho que antes de ser um fenômeno que as pessoas reagem com horror “Oh, meu deus, esses racistas”, com horror, e um diagnóstico totalmente equivocado, uma reação moral que cega pra realidade, eu acho que a gente tem que olhar isso pra ver o que a gente pode aprender, que lições a gente pode tirar e quais são essas demandas de grande parte do eleitorado que está se revelando no mundo inteiro, na Europa com o Brexit, com outras votações, nos Estados Unidos, que chega aqui no Brasil também. O que é esse voto digamos mais conservador? Que legitimidade, quais as demandas reais e dignas que lhe traz e pensar um pouco mais nisso.

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Marco Túlio Pires: Marco Túlio Pires, Coordenador Global da School of Data, a Escola de Dados. 2016 foi um ano intenso para abertura e compreensão do mundo dos dados. Aqui no Brasil tivemos um retrocesso preocupante, em relação à Controladoria Geral da União, que é aquele órgão do Governo Federal que era responsável por fortalecer a agenda de abertura de dados e transparência públicas. O órgão foi renomeado para Ministério da Transparência e acabou com o processo de seleção interno para cargos de chefia e trouxe um viés ideológico para um corpo extremamente técnico e importante no nosso país. Isso é preocupante porque a CGU, ela tinha seus problemas, mas ela foi uma conquista importante da sociedade. Foi ela que montou o Portal da Transparência, aliás, foi o Portal da Transparência que viabilizou o Prêmio Esso de Jornalismo do ano passado, que é a maior premiação brasileira. Foi lá que a equipe do Estadão Dados descobriu a farra do FIES, e fez com que o governo reformulasse todo o programa de financiamento estudantil do ensino superior. Era a CGU que dava o exemplo para diversos outros órgãos e já vínhamos acumulando uma cultura e experiência técnicas exemplares. Fica uma sensação estranha, sabe, em relação à perda de transparência que tivemos com a criação desse Ministério da Transparência. Esse ano também vai ficar marcado por causa dos chamados erros das pesquisas políticas, tanto aqui quanto fora do Brasil. Especialmente lá nos Estados Unidos, por causa da eleição presidencial americana. Surgiram diversos grupos com modelos estatísticos para simular o resultado das eleições e, embora nenhum desses grupos desse vitória garantida pra Hillary, afinal estatística trabalha apenas com probabilidades, a gente aprendeu de um jeito amargo que ter mais chance de vencer não significa vitória. Já os cientistas de dados aprenderam que eles precisam se comunicar melhor sobre os seus achados, de modo que eles possam estabelecer um nível de expectativa mais próximo ao que está sendo analisado. Trabalhar com dados é algo delicado e a gente deve sempre evitar partir pra julgamentos precipitados. Fica o desejo pra que em 2017 a gente tenha uma relação mais saudável com esses dados, com a transparência e com as pesquisas. A gente vai precisar deles mais do que nunca. E o meu Farol Aceso vai pra uma série da HBO muito boa chamada The Night Of, que acho que empacota bem tudo o que está acontecendo em relação à preconceitos, à liberdade de expressão, à visão da sociedade, à um clima tenso que a gente está vivendo, à liberdade das pessoas e à individualidade. Ela é a história de um julgamento de um novaiorquino, de ascendência paquistanesa, e são só oito episódios. É baseada em uma série da BBC e a HBO fez uma adaptação pros Estados Unidos, mas é uma série excelente. Recomendo muito, The Night Of.
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Mariana Della Barba: Oi, pessoal! Aqui quem está falando é a Mariana Della Barba, eu sou jornalista, trabalho na BBC e tenho um blog na Vejinha chamado Cidade das Crianças. O que eu quero comentar aqui hoje são notícias boas, olha só que raridade pra esse ano! E notícias boas ligadas a um tema que é muito importante pra mim, que é o tema da infância e da família. Então, eu separei duas notícias: uma que foi uma lei aprovada ainda no governo , que obriga as empresas a darem 20 dias de licença paternidade pros pais, claro; e a segunda, é como um projeto está conseguindo, finalmente, reduzir a taxa de cesáreas no Brasil. Então, vamos lá. A primeira, como eu disse, se chama Marco Legal pela Primeira Infância e foi sancionado ainda no governo e tem vários pontos muito interessantes dessa lei, que exigem um investimento e uma atenção maior, principalmente, a crianças de zero a três anos ou até sete, que é considerada a primeira infância. Mas o destaque dessa lei é esse, que agora os pais têm direito a vinte dias de licença, a partir do momento que o bebê nasce. E isso é um avanço muito grande, é uma coisa muito importante, porque antes, como a maioria das pessoas talvez saiba, eram cinco dias, ridículos cinco dias corridos de licença. E o que que essa licença maior pode trazer de benefício? É um benefício pro pai, pra mãe, pra família como um todo. Aumenta o vínculo dessa família, ajuda a mãe a ter vários…em um período muito muito complicado, que nos primeiros vinte dias do bebê, quem já teve filho, quem já acompanhou de perto uma família sabe o quanto isso pode ser complicado e difícil. Eu fiz uma matéria sobre isso há alguns meses e o que me chamou a atenção foi que vários economistas estão se dedicando a isso, a estudar o quanto o investimento na primeira infância traz de volta pro país, o quanto isso é importante. E eles conseguiram provar e isso foi parte do movimento que conseguiu sancionar esse marco legal, que o impacto econômico causado por essa licença paternidade de 20 dias era mínimo. Por quê? Porque com um pai que fica 20 dias em casa, isso ajuda em várias coisas, por exemplo, aumenta o tempo de amamentação, todo mundo sabe que pode ser um desafio muito grande pra mulher e pro bebê o começo, engatar essa amamentação. Com um pai presente, a chance de isso dar certo é muito maior, e isso, um bebê que amamenta por mais tempo ou mais vezes diminui a chance de ele ficar doente, ou seja, tem um impacto menor na saúde pública do país, o bebê usa menos o SUS, vai menos ao hospital, e isso pode ser muito bom pro país. Então, acho que é uma notícia a ser comemorada e, que se a gente for pensar, até de uma maneira mais ampla, ajuda a diminuir a desigualdade de gênero. A outra boa notícia é que o Brasil, finalmente, está conseguindo, ainda de maneira muito tímida, mas reverter a taxa de cesáreas no país. O Brasil é o país com a maior taxa de cesáreas no mundo, chega a 85% se a gente pegar só a rede privada, as maternidades particulares, então, depois de anos tentando e sem conseguir nada de fato, um projeto chamado Parto Adequado está conseguindo alguns resultados positivos. É um projeto feito em parceria com o Governo, alguns institutos estrangeiros e alguma participação da sociedade civil, que está mudando de fato. Alguns hospitais conseguiram derrubar pela metade o número de cesáreas e são hospitais de várias partes do país. Tem treinamentos dados por alguns especialistas do Einstein, mas tem hospitais públicos e privados de várias partes do país. Finalmente decidiram olhar pra esse problema como um todo, não apontando o dedo pros médicos somente, falando: “Ah, médico só quer ganhar dinheiro.”, nem nada disso, parando de achar vilões e encontrando soluções práticas. Esse projeto tem dois focos principais. O primeiro deles é mudar a maneira como os médicos são remunerados. É claro que o médico não quer ficar horas e horas, às vezes, dez horas esperando a evolução de um trabalho de parto para um parto normal, enquanto ele pode ganhar a mesma coisa, ou até mais, em uma cesárea que pode durar duas, três horas. Então, isso era uma coisa bizarra do sistema brasileiro que, obviamente, sem resolver esse problema, nunca vai se resolver a alta taxa de cesáreas no Brasil. Então, eles mudaram levemente a maneira como os médicos recebem, eles passam a receber mais, a ser mais vantajoso pra eles esperar. Cada hospital está fazendo de maneiras diferentes, que se encaixam melhor à sua realidade, mas estão ganhando mais os médicos. E outro ponto importante é que estão valorizando mais as equipes, principalmente as enfermeiras especializadas nisso, que estão acompanhando o trabalho de parto por mais tempo, liberando um pouco os médicos, os obstetras, como acontece em outros países, por exemplo, na Inglaterra, elas têm muito mais poder, elas de fato acompanham o parto todo, se não é um parto com algum tipo de risco. Então, é claro que esse projeto ainda é pequeno, que está revertendo a situação em alguns hospitais, são mais ou menos 50 hospitais no último ano, mas isso vai ser ampliado, se não me engano para 150, no próximo ano, então, é uma notícia ainda muito localizada, mas que tem um potencial pra, de fato, mudar alguma coisa. Então, acho que esses dois pontos foram bastante positivos para as crianças e para as famílias em 2016. Um beijo para todos.

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Oga Mendonça Olá, eu sou o Oga Mendonça. Bem, 2015 nos cobrou um posicionamento político nas redes sociais; foi o ano da polarização. Dos coxinha versus petralhas, da esquerda versus direita. Já em 2016, a responsa aumentou. Além de uma postura política, fomos convidados a refletir sobre homofobia, racismo, machismo, gordofobia. Esses assuntos polêmicos deixaram o mundo virtual e as rodas de discussão de ativistas e invadiram a tv aberta, almoços de domingo e o happy hour da firma. Minha retrospectiva foca em entender o quanto essas pautas influenciaram os artistas, a mídia e os produtores de conteúdo, e destacar como esse ano, essas questões que focam na diversidade e inclusão foram diferencial, positivo ou não, pra sua obra ter relevância. Licença, meninas, eu separei dois exemplos de como o machismo foi discutido em uma escala gigantesca. No primeiro, o caso do MC Biel, que no meio do ano, deu uma entrevista para Giulia, repórter e estagiária do iG. Nessa entrevista, o Biel disse para a repórter que ela era “gostosinha”, e disse que “a quebraria no meio”. O áudio dessa entrevista vazou, e logo esse episódio ganhou a tv aberta, entrevista da Giulia no Programa do Gugu, justificativa e pedido de desculpa do artista. E também reverberou com debates em outros programas populares da tv. Biel, depois disso, teve shows cancelados, não levou a tocha olímpica e foi obrigado a pausar a sua carreira. Infelizmente, a vítima do assédio também foi prejudicada. Logo depois do ocorrido, foi demitida. Já o artista, lançou recentemente seu novo clipe, Ninguém Segura Ela, cuja letra descreve uma figura feminina empoderada. Bem, pelo menos na cabeça do Biel. Nesse caso, acho que foi um 7 a 1 com o bom senso. Outro caso de machismo sendo discutido em rede nacional ocorreu no Masterchef. A grande pauta foi o tratamento machista que a chef Dayse Paparoto recebeu durante toda a sua trajetória até a vitória. Muita gente achou a comoção nas redes sociais contra o machismo de alguns participantes prejudicou Marcelo, o concorrente que ficou em segundo lugar. Acham que essa comoção fez com que os jurados escolhessem a Dayse como vencedora, como consolação ou forma de agradar o público que torcia majoritariamente por ela. Ana Paula Padrão e a chef Isabela, hãn, em um capítulo extra do programa, uma espécie de debate com todos os participantes pós-premiação, tentavam explicar os conceitos básicos sobre machismo e elas enfrentaram o corporativismo bizarro dos chefs, que relativizavam tudo, como se tudo fosse o comportamento ogro normal da profissão. Teve falsa simetria, teve meritocracia, e mais um monte de falácias, mas mesmo assim, foi interessante ver esse debate na tv, mesmo que curto. Citarei rapidamente esse próximo tópico que fala sobre racismo e orgulho negro, pois fizemos dois Mamilos recentes sobre o tema. Um dos momentos mais emblemáticos dessa questão foi quando a Beyoncé cantou a música Formation em fevereiro deste ano, no intervalo do programa de maior audiência da televisão norte-americana, o SuperBowl. Uma grande parte do público que assistia achou a postura da cantora muito provocativa, pois ela na coreografia, no figurino e nas letras, fez menção ao partido Black Panthers, e ela fala muito de como ela lida com o racismo, de forma bem combativa. Meses depois, a artista lança seu visual album, Lemonade, em que ela se aprofunda nos temas de racismo, empoderamento feminino, negritude, afeto, e mais. O que eu acho mais impressionante, no caso do álbum, do ótimo álbum Lemonade, é pensar como que a Beyoncé, como que a Queen B, transformou o ativismo negro em algo comercialmente viável, em algo pop. É, pra mim esse é o grande marco de 2016. E deu pra sacar que, não exatamente por causa dela, mas tinham uns zeitgeist aí rolando, que esse protagonismo negro também… eu vi, eu vi ele muito presente na Netflix, por exemplo. Tanto no documentário A 13a Emenda, como na série The Get Down, ou no Luke Cage, que aliás todos eles já foram Faróis Acesos do Mamilos, né? Ah, também é legal lembrar de um momento que esse protagonismo negro também apareceu no Brasil, né, no caso na abertura dos Jogos Olímpicos. Teve uma apresentação que mostrou três gerações de mulheres negras cantando, né. A Mc Soffia, a MC Karol Conka e a super diva Elza Soares. Destaque também ainda no campo da música, os discos com protagonismo negro dos seguintes artistas: Baiana System – Duas Cidades; a MC Carol, de funk, com o disco Bandida; a Mahmundi, com o disco Mahmundi; o Sabotage, com o disco póstumo, Sabotage; o Metá Metá, da Juçara Marçal cantando, o disco MM3; o disco da Tássia Reis, Outra Esfera; já já tem disco novo do Aláfia, é a banda da Xênia; fora uma porrada de discos de artistas menos conhecidos, mas com ótimos discos de estreia. Agora no final de ano cacem as listas de sites como Miojo Indie, enfim… tem um monte aí. Ah, 2016 também serviu pra solidificar uma cena de artistas que questionam visões mais conservadoras sobre gênero e sexualidade e que, de quebra, combatem a homofobia. Muitos deles são revelações de 2015 que ainda estavam no underground, mas que em 2016 eles fizeram aquela transição do underground pro mainstream. Ou tão no meio, no meio do processo. Artista como Rico Dalasam, que já citei várias vezes, que lançou o Orgunga. A Liniker e os Caramelows que lançou o primeiro disco dela chamado Remonta. Jaloo, com o disco Vem e mais As Bahias e a Cozinha Mineira, MC Linn da Quebrada, enfim, imagino que já tenham próximos vindo e que eu nem conheça ainda. 2017 vai ter novidades, pelo visto. Obviamente que a publicidade conseguiu mapear e sacar todo esse movimento de ativismo, de luta nas redes sociais e tentou captar um pouco disso. Algumas marcas, mas de cosméticos na sua maioria, conseguiram absorver, conseguiram dividir o protagonismo com mulheres negras, mulheres trans, mulheres gordas e conseguiu levantar alguns questionamentos sobre o padrão de beleza vigente. Óbvio que ainda é pouco, mas eu acho que isso já marca 2016. Falei muito, né gente? Ó, resumindo: 2016 até pra ser isento você precisou ter alguma convicção e uma boa justificativa, não dava pra ficar em cima do muro só observando. Valeu Ju, Cris, toda a equipe de colaboradores dos Mamilos, aos patrões, aos Mamileiros, torçam pra que a gente tenha um ano melhor do que 2016, torçam que a gente tenha mais garra, mais sapiência, mais empatia pra gente fazer com que 2017 seja realmente um ótimo ano novo, né? Beijo pra geral.
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Pedro Menezes: Olá Mamileiros, meu nome é Pedro Menezes, eu sou economista, também sou fundador e editor do Instituto Mercado Popular que vocês podem acessar pelo site mercadopopular.org e também fui um dos participantes do Mamilos nesse ano, num programa que eu acho que ficou muito legal. Se tem uma coisa que ninguém pode reclamar em 2016, é da falta de polêmica, de coisas que podem ser discutidas numa retrospectiva. A PEC do teto foi uma das maiores do ano, foi também o que me levou a participar do Mamilos pela primeira vez e a me tornar um pouco Mamileiro. Ouvi os programas antigos eu fiquei impressionado com o poder de comunicação do Podcast, especialmente com o espaço aberto pra conversa que eu encontrei aqui. Um destaque que acho que não pode faltar é o Judiciário e não só por causa da Lava Jato. Uma coisa que eu citaria como muito importante foi a posse da ministra Carmen Lúcia como presidente do Supremo. Tem o simples fato dela ser mulher, que assumiu logo depois do impeachment, e do governo que iniciou sem ministras, mas acho que sua importância vai muito além da questão de gênero. Nesses primeiros meses algumas atitudes mostram que a Carmen Lúcia não é “mais do mesmo”, que ela se preocupa com temas e adota posturas que são muito diferentes dos seus antecessores. Um deles é o custo do judiciário brasileiro, um dos mais caros do mundo. Logo de início ela foi contra o aumento do próprio salário que tinha sido negociado pelo seu antecessor, o Ricardo Lewandowski, o que geraria um aumento de cascata pra todos os juízes brasileiros, porque o salário do ministro do STF é o teto pra todo funcionalismo público brasileiro. Os juízes são importantes na nossa nossa vida por vários motivos e nos próximos anos e no último ano eles foram importantes por alguns motivos a mais. E têm muitas discussões constitucionais e de reforma de Estado que tão acontecendo no Brasil tanto por causa da crise econômica, mas também por exigência da população, especialmente áreas como reforma política e combate à corrupção. O impeachment, a PEC do teto, a reforma da previdência, a legitimidade de tudo isso foi e voltará a ser discutida pelo STF e a opinião dos ministros vai ser muito importante pro resultado final de cada uma dessas iniciativas teve e terá. Isso pra não falar na recente discussão sobre a legalização do aborto que não foi definitiva, mas serve também como um exemplo da importância que algumas das discussões do STF têm pra gente. Mas claro que a gente não pode deixar de comentar a prisão de políticos importantes que é uma coisa única no mundo, poucos países passaram em tão pouco tempo pela prisão de tanta gente poderosa quanto o Brasil nos últimos anos. A constituição de 1988 mudou muita coisa na estrutura do Estado brasileiro e uma delas foi o judiciário. O sistema de contratação dos juízes mudou os concursos públicos. A última geração de magistrados, felizmente, parece ter um rabo preso muito menor com gente poderosa na política e nos negócios, muita gente importante foi presa e não só pelo juiz Sérgio Moro e acho que isso não vai parar tão cedo. A gente pode citar o presidente da câmara, Eduardo Cunha, ou em 2015 (que fez a delação em 2016) o dono do terceiro maior grupo empresarial do Brasil, Marcelo Odebrecht. Eu não preciso nem falar que isso por uma lado é uma boa notícia, mas também algo que a gente tem que ver com alguma cautela, porque é como no futebol, quando a decisão do árbitro é mais discutida que o jogo é porque tem alguma coisa errada. Meu Farol Aceso é o último disco da Elza Soares, o nome é A Mulher do Fim do Mundo. A voz dela é única, acho que a maioria de vocês deve conhecer. E não era por acaso que o Louis Armstrong, um dos maiores monstros da música mundial, disse que a Elza Soares era uma de suas vozes favoritas, mas acho que acima de tudo o disco combinou a voz dela com um som atual, diferente, envolvente que mistura samba e rock a ponto de ter sido elogiado pela imprensa gringa que não entende as letras em português, que por sinal também são muito boas. Pra terem ideia, por causa desse disco a revista Foreign Policy, que é uma das mais importantes do mundo, elegeu a Elza Soares como um dos cem pensadores globais de 2016 na eleição que eles divulgaram agora. Então, pra uma música brasileira alcançar isso, graças ao conceito e a mensagem que ela quer passar no disco, vocês podem ter ideia que ela não tava pra brincadeira.
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Peu: Boa noite, Ju. Boa noite, Cris. Aqui quem fala é o Peu Araújo. Eu sou jornalista, repórter do R7 e DJ de música brasileira com a festa Rabo de Galo. Eu tenho que falar, na real, nessa retrospectiva sobre uma coisa que me abalou bastante, assim, pessoalmente, que foi o acidente com os jogadores, comissão técnica da Chapecoense e com os jornalistas. Sim, já se foi falado muito sobre números, sobre os erros do piloto, a irresponsabilidade, tudo isso já foi falado e eu acho que não cabe aqui repetir e retomar uma coisa que já foi extremamente comentada. Mas o que eu gostaria de acrescentar é como isso, pessoalmente, bateu, né? Eu trabalhei com esporte, um tempo na Placar e na Vice também, com o Vice Sports, e eventualmente volto pra esse tema, é um assunto que eu gosto muito. Gosto muito de futebol, todo mundo sabe. Tenho, nos últimos anos, acompanhado NBA, muito. Gosto de outros esportes. E, pra quem gosta de esporte, pra quem se identifica de alguma forma com futebol, a queda daquele avião foi muito, muito impactante, assim. Sou santista, muita gente sabe; dois jogadores, o Cléber Santana, que infelizmente morreu, e o Neto, que tá vivo, jogaram no Santos, tem uma história com o meu time. E não só por eles, mas por tantos outros jogadores, outros atletas, por colegas de profissão, foi um momento muito difícil de 2016. Ele é recente, ainda, a ferida ainda não se curou completamente e tem muito o que aprender ainda com o que aconteceu no avião da Chapecoense. Acho que ali morreu um pouquinho do futebol, um pouquinho do meu gosto pessoal por futebol, um pouquinho da minha forma de enxergar o futebol. Poderia ter sido qualquer outro time, é uma rotina comum, poderia ter sido qualquer equipe. Escolheram, né – o acaso, ou seja lá o que as pessoas acreditem – foi escolhida uma equipe em ascensão, uma equipe que era querida, né? Uma equipe que estava começando a alfinetar clubes grandes com sua proposta, com seu projeto, com seu elenco, zero ostentação, com suas conquistas, principalmente. Pra quem gosta de futebol, pra quem gosta de esporte, ali foi como se tivesse caído um avião com familiares. Um avião com gente muito próxima. Uma coisa que me emocionou muito foi ver a narração da defesa do Danilo no jogo anterior contra o San Lorenzo, que é o time do papa. A narração do Deva Pascovicci daquele lance, que ele fala do espírito de Condá, né, que é o estádio da Chapecoense… e você olha pra aquele vídeo, o goleiro que fez a defesa tá morto; o técnico do time tá morto; e o narrador tá morto. Eu não imagino como esteja sendo pra essas famílias passarem esse primeiro natal, esse primeiro réveillon sem, na maioria dos casos, sem a estrutura da família, seja financeira, amorosa, enfim. Sem pessoas queridas. Quero desejar toda sorte, toda força do mundo pra essas famílias. Como eu disse, é uma retrospectiva e esse é um fato tão recente, mas tão devastador, assim. E pensar, pra quem faz esporte, com mais frequência, em como a gente pode melhorar, né? Em como a gente pode ser um pouco melhor no dia-a-dia, assim. Esse avião, repito, podia ter sido com qualquer jornalista esportivo, com qualquer equipe. Enfim, eu acho que foi um dos grandes traumas de 2016, assim, que vai demorar pra passar. Mas ele trouxe pra gente também bons exemplos, assim, coisas que outros clubes fizeram e outras iniciativas que ainda dão pra acreditar um pouco na humanidade. Mas também trouxe coisas muito tristes, desde a marca do site que aumentou o preço da camisa, ou do dirigente do clube que deu uma declaração infeliz, também revelou o pior que tem na gente, assim. Acho que tragédias são inevitáveis e elas expõem o que há de melhor e de pior na gente, mas elas não deixam de ser um aprendizado nunca. Tomara que a CBF, a Fifa, aprendam alguma coisa com isso e tomara que um dia eu volte a ter o mesmo brilho que eu tinha quando criança por ver uma partida de futebol. Porque, desde que aquele avião caiu, eu não tenho mais interesse quase algum de sentar ou ir ao estádio pra acompanhar o jogo. Isso uma hora vai voltar, assim como a Chape vai voltar com força também. Ela precisa continuar, eu preciso continuar. Acho que é um pouco do que fica. Eu tenho uma dica e ela é um pouco egocêntrica, na verdade, me desculpem. Eu fiz uma entrevista com o Guilherme Arantes no dia 21/12 [2016] foi ao ar, pro Noisey, e a gente falou sobre o primeiro disco do Guilherme Arantes, que é de 1976, aquele que tem aquele neon rosa com o nome dele na capa e um piano no meio duma rua meio deserta e só ele andando ali. É o disco que tem Meu Mundo e Nada Mais e mais um monte de sucessos. Na verdade são duas dicas: ouçam o disco de 1976 do Guilherme Arantes e leiam a entrevista. É uma das melhores entrevistas que eu já fiz e uma aula de como explicar música para leigos e, enfim… eu, pelo menos, que gosto muito, sou muito fã do Guilherme Arantes, me senti dentro do disco ali, sabe? Acompanhando a história toda. Então essa é minha dica: Guilherme Arantes, 76, e a entrevista que eu fiz pro Noisey sobre o disco do Guilherme Arantes, 76. Desejo aqui meus votos de boas festas pra todo mundo, até a próxima.

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Terto: Olá, sobreviventes ao ano de 2016! Eu sou Ricardo Terto e estou aqui para falar sobre perdas! É, esse ano não pegou leve, veio nos dar esse choque sobre a finitude das coisas e ao mesmo tempo nos fazer refletir sobre a sua relevância. A gente pode brincar e dizer que 2016 foi um ano em que morreu quem nunca havia morrido antes. Mas a verdade é que conforme o tempo passa, os ídolos de toda uma geração vão partindo, e é isso. A morte também é a vida acontecendo. Há muito o que se refletir sobre o papel da mídia; sobre sensacionalismo; sobre a reação das pessoas quando elas não conhecem a personalidade que morreu; sobre a história; sobre as polêmicas; sobre a ética: obra x artista; toda perda pode unir pessoas, memórias e histórias. E quando sofremos pela morte de algo, é porque reconhecemos a importância daquilo que existiu. Nós somos a soma de todas as interações que tivemos ao longo da vida. Diretamente, ou indiretamente, através da arte. E assim nós chegamos no primeiro nome, que, pra mim, foi uma das experiências mais sofridas de perda de referência de artista na minha vida, que foi a morte do David Bowie. David Bowie foi um artista completo. Foi um artista que soube romper barreiras, paradigmas, experimentou tudo, dentro da sua expressividade. E o que chamou atenção sobre a morte do David Bowie é que ele não anunciou nada, não deu nenhuma pista sobre o que que ele tava passando, mas na obra, principalmente através dos clipes e das letras – das músicas do último álbum, Black Star – você percebe que é um disco de… não de despedida, mas de transição. E a gente ficou com a impressão de que David Bowie não morreu: ele transcendeu para um outro nível, o que seria muito sua cara. Mas era só o começo, né? 2016 ainda tinha muitas surpresas guardadas aí na manga. Alan Rickman, ator muito conhecido no teatro, também bastante conhecido no cinema por seu papel na franquia Harry Potter como o professor Severo Snape. Umberto Eco, escritor, monumental. Escreveu uma das obras mais importantes do último século, O Nome da Rosa. Naná Vasconcelos, oito vezes ganhador do Grammy, o maior brasileiro ganhador de Grammys da história; oito vezes eleito o maior percussionista do mundo. Cauby Peixoto, mito de uma época, de uma música que a gente não conhece, que a gente só ouviu falar; que faz parte da história dos nossos pais, mas que vai deixar muitas saudades. Monstro da vida, gênio da vida, Muhammad Ali, pugilista, fez sua história não só no esporte, mas na luta contra o racismo, contra a segregação, contra o preconceito. Hector Babenco, diretor de obras inesquecíveis, que também deixou um filme em que há uma referência à sua despedida. Outra artista que não tem par no mundo, não tem ninguém parecido e que nos deixou foi a Elke Maravilha; brilhante, completa. Gene Wilder, nosso eterno Willy Wonka, que também participou de várias outras obras, mas que, nesse papel deixou eternizado, através da sua atuação, esse personagem tão icônico, tão nostálgico. Nós também tivemos a trágica e inesperada morte de Domingos Montagner, durante as gravações da novela Velho Chico e ele inclusive morreu no próprio Rio São Francisco. Carlos Alberto Torres, para os fãs do esporte, para os fãs do futebol foi uma perda muito grande, um ano de perdas muito importantes pro futebol. Ele foi técnico e ele também é conhecido, foi principalmente conhecido por ser capitão do tricampeonato. Sharon Jones, cantora de soul, uma voz espetacular. O escritor Ferreira Gullar, um dos maiores poetas da história desse país; que quando morreu, deixou uma obra incomparável, mas também muitas polêmicas e muitas opiniões controversas e muita… levantou novamente o debate sobre a pessoa e a obra que ela deixa. Nada superou, em questão de polêmica e de dualidade de opiniões, a morte de um dos maiores nomes e que muitas pessoas afirmam ser a morte também, o fim do século XX, tardio, foi com a morte do Fidel Castro. E, entre as recentes, uma das, talvez, quando os ídolos envelhecem, você espera que, inevitavelmente eles vão morrer; mas quando a obra é tão magistral, tão potente quanto a obra de Leonard Cohen, uma parte de você não aceita. E tudo isso serve não para olharmos para o futuro com medo da morte ou da perda, mas experimentarmos o presente com tudo aquilo que é possível experimentar neste momento mágico em que ainda estamos por aqui. É isso. Beijos, abraços e um ótimo 2017. Pretendemos sobreviver até lá. Tchau!

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Taís Fabris: Oi, gente. Aqui é a Taís. Venho ser a portadora da palavra da bad aqui nessa retrospectiva de 2016 que… enfim, né, não foi um ano nada fácil, mas, na minha seara particularmente, 2016 veio com um grande tapa na cara pra quem achou que o feminismo tava ganhando o jogo. A gente teve muitos avanços nos últimos dez anos. A renda feminina cresceu cerca de 80%, as mulheres tão com mais acesso à educação formal, tão tendo mais acesso à informação mais diversa, através da internet… mas a gente teve um fato, em maio desse ano, que foi o estupro coletivo de uma menor de idade que nos abriu os olhos pro quanto a gente precisa avançar ainda. No Brasil, a maioria dos estupros acontece dentro de casa. A maior parte das mulheres estupradas são menores de idade. Mais da metade delas tem menos de 13 anos. E aí, esse ano, além dessa notícia, que foi super chocante, a gente foi eleito o pior país da América Latina para ser menino. Menina, opa. Menino não, acho que menino tá tudo bem. O que puxa o Brasil pra baixo nesse ranking são as gravidezes precoces; casamento precoce, gravidez e casamento na adolescência; e o baixo acesso à educação, muito por evasão escolar, porque a menina tá grávida, casou, e ela sai da escola. Então, quando a gente olha, assim, pra ser menina é difícil, ser mulher é muito difícil, especialmente se você é, por exemplo, uma mulher negra. Então, se por um lado a gente teve o homicídio de mulheres brancas caindo dez por cento nos últimos dez anos com a lei Maria da Penha, o de mulheres negras subiu 54%. E se você é uma mulher trans, então, a expectativa de vida de uma mulher trans é de 36 anos no Brasil. 90% das mulheres transsexuais no Brasil tão na prostituição. Não dá pra dizer que foi uma escolha, sabe? Às vezes a prostituição pode ser uma escolha de profissão, mas 90% de uma população estar se prostituindo e estar morrendo violentamente na rua é muita coisa, né? É, galera, não é fácil ser mulher no Brasil. Esse é o país em que uma em cada quatro mulheres já sofreu abuso sexual. Então, o estupro coletivo, ele veio como um enorme gatilho, que deixou a gente muito à flor da pele. A gente conversou mais sobre experiências, a gente dividiu muito mais, tanto na internet, quanto pessoalmente. A gente discutiu, né? O que é estupro, o que não é, é culpa da vítima, não é. Pelo menos eu tive muitas vezes essa conversa; “ah, mas a menina estava no baile funk.” “Ah, mas ela estava drogada.” E tipo, gente, nunca-é-culpa-da-vítima. E quantas vezes eu falei isso esse ano, já perdi a conta. A gente foi pra rua, mas não dá pra parar por aí. A gente tá vivendo uma onda conservadora e todos os dias nós temos os nossos direitos ameaçados, a gente tem muita possibilidade de retrocesso. Que que a gente vai fazer em 2017 pra ter avanços ao invés de retrocessos? Como que nós vamos nos unir, homens, mulheres, todo mundo, pra que a gente tenha uma sociedade mais justa? Então, se eu pudesse fazer um único pedido, assim… passou uma estrelinha aí na noite do dia 31, eu queria que todo mundo entendesse que a gente vive num mundo injusto. A gente vive num mundo em que algumas pessoas tem mais direitos e oportunidades que outras. E que não dá pra ser assim. A gente precisa, como sociedade, a gente precisa se unir para que o mundo seja mais justo e sejam mais iguais as oportunidades pra todo mundo. O meu Farol Aceso vai para dois filmes. Um tá no Netflix e se chama The Mask You Live In, então “A Máscara em que você vive”. É sobre como a gente tá educando os nossos meninos de uma maneira que também é muito opressora pra eles e acaba resultando numa sociedade muito mais violenta pra todo mundo. E aí tem uma espécie de versão brasileira desse filme, que foi feito pelo PapodeHomem com a ONU Mulheres, que é o Precisamos Falar com Homens. E eu inclusive estou nesse filme, mas não é por isso que ele é muito bom. É um ótimo documentário pra gente entender o papel do homem na sociedade brasileira. E queria deixar também aqui uma sugestão de livro que eu acabei de ler, o maravilhoso As Águas-Vivas não Sabem de Si, da Aline Valek. É uma ficção científica que faz a gente refletir assim sobre o nosso tamanhinho no mundo. Muito legal, recomendo demais. Então é isso, um bom fim de ano pra todos, até ano que vem.

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[Sobe trilha]

[Desce trilha]

Ju: Vamos então pro Farol Aceso. Cris, que que cê tem de bom pra indicar, que a galera vai ficar de férias! Vai ter muito tempo pra ver, pra assistir, pra ouvir…

Cris: Eu tenho duas coisas que nunca foi [foram] falada[s] nesse programa… [risos] Mentira, eu acabei fazendo coisas recomendadas e gostaria de reforçar a recomendação. Eu acabei de assistir Westworld, porque a gente vai falar sobre ele no início do próximo ano, então… gente, vai, cola, que cês vão passar de ano! E assisti A Criada, o filme coreano que cê ficou falando loucamente e aí eu fui e pá e pãns. Na real… ou seja, não fiz nada pra contar pra vocês, mas prometo que eu vou fazer, vou tirar um final de ano revigorante e pretendo ler e tipo… curtir a vida, uma coisa muito bizarra esse tal de curtir a vida, mas dizem que é bom. Eu vou lá tentar fazer isso, desejo o mesmo para vocês. Que que cê fez, aí, ô mulher que faz um monte de coisa?

Ju: Gente, eu ouvi alguns podcasts, mas eu vou guardar pra recomendar depois, porque eu tenho dois filmes que eu preciso muito recomendar. Um é um filme independente irlandês. Então é bem fora de circuito, assim. Ele tá disponível no Netflix, chama ‘Sing Street’. Eu diria que ele é um Super 8 de música. [Cris: Ai, que legal!] É. É sobre um grupo de meninos que são meio… vai… não desajustados, mas não são os mais populares da escola, vai, cada um tem as suas dificuldades, e sobre como eles, através da música, conseguem vencer essas coisas. É um filme muito sensível, é um filme fofo, que vai levar todo mundo pra adolescência de novo. As atuações são belíssimas, são ótimas; é todo mundo gente nova, que você nunca viu atuar, e atua, assim, lindamente! É pra sorrir, chorar, se emocionar, lembrar das músicas que marcaram os anos 1980, das roupas, das maquiagens, das melhores bandas, enfim. É um filme muito delícia, é uma viagem retrô muito delícia e fala sobre coisas que eu acho que continuam fazendo muito sentido pra gente, independente da gente ter crescido, sabe?

Cris:Música, música é sempre muito forte…

Ju: Cara, mas tem um negócio nesse filme, eu não vou fazer spoiler pra vocês, mas eu queria que vocês assistissem, principalmente pra conversar com a tia Ju sobre isso, que é aquele básico tabu de friendzone. [Cris: Ah, tá.] Eu acho que esse filme fala lindamente sobre o tabu da friendzone. Sobre, cara, se você foi legal com ela, ela não te deve nada. Ela não te deve absolutamente nada. E sobre como você ser amigo de uma pessoa pode virar alguma coisa mais, mas não tem obrigação nenhuma com isso. Você não precisa ser legal com uma pessoa pra… com um objetivo maior. Assim, ele é muito sensível pra falar sobre esse momento difícil que a gente tá se descobrindo, que é da adolescência, sabe? De como tudo é muito intenso e de como a gente não sabe brincar e a gente quer descer pro play mesmo assim… cara, assistam esse filme, é muito muito bom. E o outro, que eu fui assistir de bobeira, porque eu vi Ricky Gervais e Louis C.K., pronto, né? Não precisa mais ler a sinopse. Chama O Primeiro Mentiroso. É dicazinha da ateia aqui pra vocês passarem bem nas férias. Cara, eu me diverti muito, eu ri muito, eu amei cada detalhe do filme. Adorei a premissa e fiquei pirando nisso, tipo… chega uma hora… porque é um mundo em que não é possível mentir, ninguém sabe mentir.

Cris: [Interrompe] É antigo esse filme.

Ju: Porra, por que que? Podia, né? A gente podia não conseguir mentir. O mundo ia ficar mais barato, tem um monte de coisa que a gente perde tempo, imagina: cartório não existiria mais, porque não precisa, né, verificar firma, nem nada, porque não, as pessoas não mentem. Então a vida ia ficar mais fácil pra todo mundo. Aí eu pensei: cara, mentir é imaginar o que não existe. Então tudo o que foi criado, tudo o que foi inventado, tudo que é imaginação parte da mesma capacidade que é a capacidade de mentir, então não é possível isso, e o filme mostra isso muito bem, enfim. Eu achei muito legal o filme, ele não tem pretensão nenhuma, tá? É um filme de comédia, é um filme pra ser divertido e ele realmente é bem divertido.

Cris: É isso então, temos um programa, agora de verdade, Juliana?

Ju: Temos um programa! Gente, agora nos despedimos, até fevereiro!

Cris: É isso aí, um beijo, boas férias!

[Sobe trilha]