Jornalismo de peito aberto
Esse programa foi transcrito pela Mamilândia, grupo de transcrição do Mamilos
Esse podcast é apresentado por b9.com.br
[Sobe trilha]
Tatá: Mamileiros e mamiletes, bem vindo ao novo Mamilos.
Cris: Como vocês repararam, esse Mamilos começa muito especial. Por que, Ju Wallauer?
Ju: Porque é nosso aniversário. Dois anos de Mamilos.
Cris: Parabéns pro Mamilos!
Ju: E foi um dia especial, que fomos recebidos pela Lu Machado, que
coordena a equipe de transcrição, não apenas só com um bolo, mas com champagne, com petiscos , com muito amor. E a gente, que sabia que era nosso aniversário, mas não tinha energia nem pra comemorar… [Todos riem] De repente recebeu uma surpresa incrível! E a surpresa não para por aí, porque a Lu trouxe ainda um áudio preparado com muito carinho pela equipe de transcrição. A gente vai escutar junto com vocês pela primeira vez.
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Cris de Luca: Parabéns, musas dos mamileiros e das mamiletes! Dois anos de Mamilos! Primeiro eu gostaria de agradecer vocês de me deixarem fazer parte dessa jornada. Cris, parece que foi ontem que ‘cê chegou com a ideia de criar um podcast pra tratar aqueles temas que tanto te inquietavam. Da inquietação de vocês nasceu o jeito Mamilos de ser, nasceu esse compromisso com o jornalismo de peito aberto. Acho que à essa altura do campeonato vocês já descobriram que fazer jornalismo é uma tarefa bastante árdua, mas também é uma tarefa fascinante. O exercício do jornalismo traz em dose quase que equivalente objetividade e subjetividade, um tema até que a gente já tratou em várias edições do Mamilos. Se há uma história pra ser contada, cabe ao jornalista ouvir versões diferentes, colher depoimentos conflitantes, analisar dados, relatar fatos, desnudar preconceitos e buscar aquela tal da imparcialidade. Meninas, vocês fazem tudo isso com maestria, posso dizer de cadeira. Então, a minha mensagem pra vocês é: persistam, persistam na tarefa de transformar a curiosidade de vocês na nossa inquietação. É a curiosidade de vocês que nos tira do lugar comum, é a curiosidade de vocês que nos ajuda a questionar as nossas próprias certezas. O Mamilos se tornou algo imprescindível na vida de muita gente. Então, persistam, tá bom? Vamos transformar 2 anos em 4, em 8, em 1000! Parabéns mais uma vez e muito obrigada por ‘tar junto com vocês nessa empreitada.
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[Depoimento do pessoal do “Um Milk-shake Chamado Wanda”: Phelipe Cruz, Marina Santa Helena e Samir Duarte]
Phelipe: Alô. Testando. Som.
Marina: Alô. [imita som de tosse]
Phelipe: Alô. [imita som de tosse]
Samir: [fala com voz fina] Oi!
Marina: Alô? Som?
Phelipe: Je… sus…
Samir: Je, je, sus, sus.
Phelipe, Marina e Samir: [em uníssono] Parabéns!
Phelipe: Pra você!
Marina: [cantando] Nesta data querida…
Samir: Parabéns…
Phelipe: Mamilos, o melhor podcast da África Setentrional e das Guianas Francesas, todas as Guianas Francesas.
Marina: Também do Canadá do Sul também, e das Maldivas.
Samir: O Milkshake Chamado Wanda está invadindo esse momentinho porque olha, a gente ficou um pouco puto porque na Tunísia a gente era número 1, mas o Mamilos chegou e tomou o nosso lugar.
Marina: [risos]
Samir: Mas só porque eles tão de aniversário a gente vai deixar passar essa bola.
Phelipe: Dois anos de podcast, um exemplo a ser seguido nessa blogosfera – aquele velho que fala “blogosfera” ainda.
Marina: A gente gosta do Mamilos, a gente aprende…
Phelipe: [interrompe] A gente enaltece.
Marina: A gente divulga e enaltece.
Phelipe: E protege.
Samir: Quando a gente crescer a gente vai ser que nem elas, né gente. Porque assim, ó… Ô, pessoas sabidas…
Phelipe: [interrompe] A gente ainda tem 1 minuto pra falar, porque me deram 2 minutos pra esse espaço maravilhoso, esse espaço prime que é: desejar um feliz aniversário de Mamilos pra Ju e pra Cris, essas duas meninas maravilhosas.
Marina: Queria dizer que a Ju é muito chique, ela vem aqui, ela traz vinhos, ela traz queijos, ela…
Phelipe: Sabe o que eu acho, Marina? Chique é ser inteligente…
Marina: [risada alta]
Phelipe: As duas são inteligentes…
Samir: [interrompe] São inteligentes, querida…
Phelipe: Elas fazem um programa de dar inveja, né?
Samir: Que não é essa zona aqui nossa, é um programa estruturado, é um programa sério…
Marina: [interrompe] Equilibrado…
Samir: Equilibrado…
Phelipe: Chama a gente pra festa que a gente quer causar nessa festa, a gente quer destruir tudo nesse programa…
Samir: Sim, mas agora sério, gente, olha. Márcia, eu queria dizer que é muito fácil você vim [vir] aqui falar que vai dar parabéns e não dar o parabéns pra pessoa, falar mandando muitos beijos, então é isso mesmo.
Marina: É, muitos beijos. Tem encosto no Mamilos?
Phelipe: Ah, tem, tem. A Sense Márcia falou que o podcast com mais encosto é o Mamilos.
Marina: [risos]
Samir: Migas, depois desses 2 anos mais 2 anos e depois mais muitos 2 anos e muita energia…
Phelipe: Faltam 15 segundos!
Samir: Ai, meu Deus, tá acabando!
Phelipe: Nossos 15 minutos vai acabar! Gente, olha, Ju, Cris, um beijo, parabéns pelo sucesso do Mamilos.
Marina: Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida.
Phelipe: Vocês merecem muito mais que isso, muito mais que ‘cês tão conquistando. Beijo, beijo, beijo.
Samir: A gente ama vocês real oficial…
Phelipe: [risos] Beijo!
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Fê Duarte: Aqui é o Fê Duarte, psiquiatra que participou do programa de depressão, entre outros. Eu queria deixar aqui os meus parabéns aos Mamilos, por esses 2 anos de história. Queria que você, Cris, e você, Ju, recebessem agora o meu abraço imaginário que eu to mandando agora em pensamento pra vocês. É um daqueles abraços longos… apertados… com os braços quase dando a volta na pessoa e com direito de prender a respiração o maior tempo que der. Eu admiro muito vocês duas, acredito que o mundo fica melhor a cada podcast que vocês fazem. Vocês tão já há 2 anos fazendo um trabalho lindo, maravilhoso de ampliar a consciência das pessoas, aproximar os opostos e multiplicar o amor. Podem continuar que ainda tem muito bem a se fazer nesse mundo, vocês não estão sozinhas. Assim que eu encontrar vocês eu entrego o abraço pessoalmente. Beijo!
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Gica Yabu: O que eu acho mais incrível nessa história de dois anos de Mamilos é o fato de vocês terem começado isso meio que pra ver qual que era, e vocês, logo depois já se transformaram num grande serviço de utilidade pública, é o que eu sempre digo pra vocês. E por mais que o Mamilos não dê dinheiro… por mais malucas que estejam as vidas de vocês e as agendas e tudo mais, vocês entenderam a importância do Mamilos e continuam botando um programa no ar à cada semana. Como eu acompanho a vida de vocês de pertinho, eu sei o quão difícil é ter essa disciplina e montar essas pautas em tempo recorde e tudo mais. E tudo que eu tenho a dizer pra vocês é… nossa, infinitos parabéns. Obrigada pela excelente qualidade do conteúdo que vocês provêm semanalmente pra gente e tenho um baita orgulho de vocês por isso. Mega. E fico super feliz quando vocês me chamam pra gravar também. Então é isso, que venham aí pelo menos mais 2 anos… e patrocinadores… e tudo de bom. Um beijo da Gica.
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Itali Collini: Cris, Ju, queria dar muito parabéns pra vocês e pro Mamilos, esse programa maravilhoso que vem fazer ainda muita gente refletir. Dois anos que vocês existem e já têm uma legião de fãs que entendem o que é discutir assuntos com empatia e respeito. Então eu queria que essa jornada não acabasse e que vocês continuassem esse trabalho maravilhoso que vocês fazem e que eu tenho um super orgulho de participar. Parabéns, gente!
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Mari Della Barba: Oi, Ju, oi, Cris. Aqui é a Mari Della Barba, eu queria dar parabéns pra vocês e falar que é um orgulho imenso ver esse jornalismo que vocês fazem. Tão caprichado, tão dedicado. É muito importante isso num momento que o jornalismo, entre aspas, tradicional anda tão preguiçoso, desinteressado e… qualquer nota. Então, o jeito que vocês vão à fundo em assuntos, sejam eles mais leves ou bem espinhentos, é muito, muito lindo, dá muito orgulho de vocês. E eu fico muito feliz cada vez que vocês me chamam pra participar do programa, é um orgulho pra mim também. Então continuem, meninas, continuem, por favor, todos agradecem. Um beijo imenso pra vocês duas.
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Michelle Sopper: Ju e Cris, me pediram pra gravar uma mensagem em função do segundo aniversário do Mamilos e a primeira palavra que me veio à cabeça foi orgulho. Orgulho do que vocês começaram e do que vocês estão continuando a fazer. E na etimologia da palavra, ela remete à bravura, à coragem, e coragem tem a ver com cor, com coração, e eu achei super a ver com vocês. Porque vocês dão um colorido pra vida das pessoas trazendo esses temas tão difíceis e às vezes leves e gostosos, mas muito complexos que é a nossa vida hoje, mas ao mesmo tempo com o coração. Isso é muito incrível de vocês, vocês duas dão o máximo pra fazer esse programa ir adiante. Então eu queria deixar meus parabéns e o meu orgulho por vocês, por estarem fazendo a diferença no mundo com empatia, com compreensão, com entendimento e com conhecimento. Parabéns pra vocês. Beijos, meninas.
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Oga Mendonça: Olá meninas, olá mamileiros, quem tá falando é o Oga. Quando me fizeram esse convite pra gravar essa mensagem eu pensei “ótimo, vou pegar um desses funks que tem no Youtube de Parabéns Pra Você com um batidão, vou botar ali e vou falar umas gracinhas. Não, melhor, posso pegar a versão da Marilyn cantando Happy Birthday To You e saindo do bolo, tal”. Mas aí eu falei “puts, pra quê que eu vou avacalhar esse momento tão solene?”. Então, meninas, é sério agora, eu me sinto muito honrado e muito feliz de ter entrado na vida de vocês dessa maneira. Primeiro como ouvinte, ali, de ter me identificado com a linguagem de vocês, de ter uma discussão empática. Depois colaborando com as pautas ali, depois até participando de alguns episódios. Mas no final eu fico pensando que o mais legal foi que a gente conseguiu transformar toda essa questão, essa participação no programa, em uma amizade sólida. Então eu espero muito que o Mamilos dure por muito, muito, muitos anos… Mas eu sei que a nossa amizade vai durar pra sempre, e isso me deixa extremamente honrado e feliz, tá bom? Beijão pra vocês. Parabéns, Mamilos.
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[Depoimento da equipe do Xoxomidia]
Guilherme Yano: Quem não chora, não mama. Se tem uma frase que define bem o Mamilos é essa, e já vamos explicar o porquê. Antes, para e pensa: pensa num bebê, cara, deve ser muito foda ser um bebê, se tá com fome, a única forma que você tem pra conseguir algo é chorando. Se está com sede, também. Se está incomodado, idem, e ainda fica com fama de chato.
(Bloco 2) 11’ – 20’59”
Luiza O mesmo acontece com o Mamilos.
Num mundo onde o incômodo vem do respeito e da sede do conhecimento, o Mamilos usa das armas que tem para criar um lugar cheio de inteligência e empatia.
Luanda O Mamilos bate no peito e assume a responsabilidade de fazer o que pode por aquilo que acredita. O Mamilos acredita que quem não chora, não mama, e que o choro é livre. Acredita que ou encontramos uma solução pro nosso incômodo ou vamos ficar apenas chupando dedo. E assim, como uma mãe que amamenta o filho, tudo que Mamilos pode nos oferecer é amor. E como os bebês, com Mamilos estamos no nosso porto seguro.
Taty Nesse dia tão especial, fica a gostosa sensação de amor e carinho. Obrigado por estarem sempre de peito aberto. Oi aqui é a Taty, Luanda Gurgel, Luiza Soares e Guilherme Yano.
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Ricardo Terto: Jú Wallauer e Cris Bartis, parabéns! Parabéns por esse marco no Mamilos. O Mamilos que tem um público, têm muitos podcasts bons mas o Mamilos ele é único, tem uma coisa muito afetuosa, muito interessante, dentro da troca mesmo, né?! …que existe entre os ouvintes. Eu que era um ouvinte, aí tive a honra de participar de dois programas. Eu só tenho que agradecer pelo trabalho que vocês fazem, que é muito importante, que é muito relevante, que tem que atingir mais pessoas, cada vez mais. O Mamilos não é só um podcast ele é um espaço mesmo de aspiração. É um espaço de idéias novas, de ideias renovadas de pensamento crítico. O Mamilos tem papel, acho que muito importante, hoje no momento que a gente vive, não só político, social, cultural. Ele tem um momento de você parar e tentar entender, tentando investigar com mais ética as coisas. Sou muito fã do Mamilos, e espero que tenha longa vida e próspera. Um forte abraço aí para vocês, e para todo mundo que ajuda o Mamilos a existir: o pessoal da equipe técnica, o editor, e tudo mais. Parabéns aí para você, por fazerem parte da vida da história de tanta gente, nesses últimos meses, espero vê-las novamente em breve. Um abraço.
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Átila: Ju e Cris, donas dos Mamilos, aqui é o Átila, biólogo e pesquisador e ouvinte compulsivo. Parabéns pelos dois anos dos Mamilos, parabéns pela responsa e parabéns ao senhor Corraini e para todo mundo que apoia vocês para fazerem um podcast que discute o que tem que ser discutido. Redes sociais é o que mais me importa hoje em dia, e eu sei que é aqui que as pessoas vêm se informar. E parabéns por vocês ajudarem tão bem com isso. Eu sabia que o Mamilos era o lugar para discutir Zica e qualquer questão complexa, que precise de gente inteligente e disposta a pensar. Que venha muitos Mamilos pela frente, muita polêmica pensada e explicada, e muita gente informada. E se precisarem de um biólogo falante, já sabem.
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Thais Fabris: Lindas, eu lembro da minha alegria quando vocês me convidaram para falar sobre a cerveja feminista no Mamilos, na primeira vez. E ali a gente nem eram amigas ainda, mas já tinha uma admiração tão grande pelo trabalho que vocês estavam fazendo ali, que eu nem conhecia tanto, mas eu já sabia que era muito importante. E no último ano e meio, a partir daí, a admiração só cresceu, sobre o trabalho de vocês. E a amizade, nossa essa explodiu e virou fundamental na minha vida. Muito obrigado por vocês existirem, muito obrigado pelo trabalho vocês fazem …e chorei um pouquinho. Muito obrigado por quem vocês são na minha vida, amo vocês um beijo.
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[Depoimento da equipe de transcrição – Mamilândia]
Criança fofa 1 – Cabela (filha da Leticia Daquer): Mamileiros e Mamiletes, sejam bem vindos a mais uma edição desse exercício semanal de empatia e respeito. Eu sou a Cris Bartis e essa é a…
Criança fofa 2 – Laís Machado (Sobrinha da Lu Machado): Jú Wallauer
Bruna Defert: Abraçamos a causa de tornar as vozes da Jú e da Cris disponíveis para mais pessoas.
Leticia Daquer: E aceitamos esse job cheiroso, que toda semana faz a gente doar um tempinho, para transformar essas lindas vozes em letras.
Samuel Freire: Fazemos isso pois acreditamos que informação e empatia levam pessoas à argumentar sobre coisas que acreditam.
Carina Santiago: Dividimos os episódios em trechinhos de dez minutos, em que cada um faz o que pode, do jeito que pode.
Jaqueline Chaves: Não vamos dizer que é fácil, temos um monte de dúvidas. Tem trechos difíceis de entender e sempre surge um “salamala”, que até hoje ninguém sabe o que significa.
Leticia Daquer: Mas é muito gostoso saber que o nosso trabalho ajuda mais pessoas a terem acesso ao lindo Mundo da Mamilândia.
Alan Bastos: Nosso grupo está enorme, cada dia mais lindo, cada dia mais plural.
Tatiana Criscione: Falamos de tudo, de dúvidas com a transcrição a desabafos pessoais.
Samuel Freire: Agradecemos e parabenizamos vocês por espalharem conhecimento e empatia toda semana.
Carina Santiago: E por tornar os nossos dias e conversas cada vez melhores.
Jaqueline Chaves: Um abraço bem apertado da equipe de transcrição.
Leticia Daquer: E bora botar esse Mamilos para fora, sempre!
Criança fofa 2: Fica a gostosa sensação de dar feliz aniversário para o Mamilos.
Criança fofa 1: Feliz aniversário, Mamilos!
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Agê Poxa vida em meninas?! Quer dizer que são dois anos …passa rápido, né? Mas nem tanto, né? Eu que tenho o privilégio de acompanhar um pouquinho mais de perto, sei do trabalhão do envolvimento emocional e intelectual de vocês duas para fazer esse programa do jeito que ele é… para acontecer. E acredito, que para vocês dois anos pareçam muito mais né? Para a gente que ouve é uma delícia. Assim é difícil falar, fico muito emocionado mesmo assim. Eu tenho um baita de um orgulho, uma felicidade enorme de ver vocês fazendo um trabalho tão incrível, tão autêntico e tão importante nos dias de hoje, e acho que sempre. É bom ter empatia, é bom estar preparado para ouvir o outro lado, eu aprendi demais nesses últimos dois anos. Seja ouvindo os programas, seja trocando ideias com a Cris em casa, a gente falando sobre assuntos que seriam ou foram pauta, e minha cabeça mudou muito, muito, muito… graças aos Mamilos, graças a vocês duas. E se eu posso arriscar a dizer que hoje eu sou uma pessoa melhor, eu devo muito aos Mamilos. Ou seja, eu devo muito a vocês duas meninas, vocês são foda, parabéns. Parabéns mesmo, do fundo do meu coração, um beijo grande. E Cris eu te amo pra caramba!
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Merigo: E aí Mamileiros, aqui é o Carlos Merigo e parece que foi ontem que eu vi a Ju e a Cris criando projeto, todas preocupadas com conteúdo, com qualidade do programa, fazendo planilhas, PPTs, madrugadas discutindo como ia ser, gravando programas testes. E assim, dois anos depois nem posso dizer que isso mudou, porque as duas continuam estudando com afinco e correndo atrás de cada detalhe todas as semanas, para entregar o melhor para vocês. Elas choram dão risadas, se amam se odeiam, se descabelam para produzir cada episódio, e o resultado disso é que as pessoas também amam. Mandam milhares de mensagens, pedem fotos, autógrafos, correm atrás na rua, rasgam a camiseta e se descabelam por elas. Para mim é um orgulho ter visto o Mamilos nascer e ter se tornado o podcast mais importante do Brasil, e também o privilégio de poder acompanhar de perto tamanha dedicação. Eu sei que não é fácil, cada programa é suado, tem temas que sugam as nossas energias até os maridos ficam reclamando em casa. Mas a gente engole o choro, porque a gente sabe que vocês duas não vieram ao mundo à passeio. E estão tornando o mundo um lugar melhor para os nossos filhos cada vez que apertam REC. Tá bom? Parabéns pelos dois anos, continuem assim, vocês vão longe.
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Caio Corraini Amores, hoje infelizmente não tem áudio perfeito, microfone bom, né? Porque eu tô gravando no meu quarto, por estar com um pouco de vergonha, de sei lá, ficar muito emocional lá na sala na frente das pessoas que moram comigo. [risos] Homem é um bicho muito tonto né, mas… Mas mesmo tonto, hoje eu posso dizer que eu sou uma pessoa muito melhor por causa dos Mamilos. Foram centenas de horas ouvindo vocês, dezenas de madrugadas viradas, e alguns fios de cabelo branco é verdade, que aparecerem aqui e alí. Quando eu fico bravo, porque o convidado fala baixo, ou o fio do microfone está fazendo barulho, mas foram facilmente, as horas mais gratificantes de toda minha carreira. Eu queria estar aí, para entregar esse abraço apertado, enquanto vocês ouvem essas mensagens (essas merecidas mensagens). Mas, infelizmente eu não posso, porque provavelmente eu tô gravando ou editando alguma coisa. E isso só foi possível, porque no momento mais baixo da minha vida vocês me abriram as portas. Vocês me aceitaram, acreditaram em mim e confiaram no meu trabalho. Então, graças também a vocês, hoje eu tenho uma carreira, graças também a vocês eu tenho muito sucesso no que eu faço. Graças também as vocês eu olho para o futuro não mais com medo e incerteza, mas com esperança e alegria. Eu já disse várias vezes, mas sempre vale repetir: é um prazer e um privilégio de fazer parte desse projeto. É um prazer e um privilégio pegar esse diamante, que vocês produzem toda semana e só passar um paninho em cima, para que ele possa brilhar o tanto que ele merece. Vocês fazem o mundo melhor, nunca, nunca, por favor nunca esqueçam disso. Eu amo muito, muito vocês, obrigado.
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Cris: Queridos amigos, eu não sei como gravar o programa a partir daqui. Juliana me ajuda! O que que a gente faz agora?
Ju: A gente segue, porque é isso que a gente faz, um dia depois do outro com a ajuda de gente maravilhosa que está composta, não chorou até o final do dia. [risadas]
Está aqui, firme e forte para conduzir o programa, quando só há o pó que ficou aqui…
Cris: Estamos aqui que nem prego no angu. Duas choronas de nariz inchado é isso que vocês vão ouvir, uma voz anasalada todo esse programa, é isso que vocês merecem depois de derramar tanto amor sobre a gente. Droga! Caio querido, seu traidooor… Conta aí pra a gente o que que tem de som do Mamilos?
(Bloco 3) 21’ – 30’59”
Caio: Olá, personas, Corraini aqui novamente para trazer a vocês os responsáveis por dar mais cor ao mamilos desta semana. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa, pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no email: [email protected], [email protected] . E facilita, e muito, muito, vocês não tem noção, muito, a minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. Nessa edição nós iremos ouvir a banda “El Efecto”, que é uma banda de rock lá do Rio de Janeiro. Já que o Segundo assunto do trending topics é sobre o Rio, é sempre bom lembrar das coisas bacanas que nós temos de lá, então fiquem aí com “El Efecto” no som do mamilos.
[Sobe trilha]
Ciclo onde o dinheiro é nada
Lá quem manda é o mistério
Voz de fora mercenária
Inventa a semente estéril
[desce trilha]
Ju: E o beijo para: beijo para os brasileiros que vivem nos Estados Unidos e nos escreveram em peso.
Cris: Pro Rio de Janeiro, em especial pro bairro de Botafogo, que sempre me recebe com tanto amor.
Ju: Pra Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Cris: Belém.
Ju: E pra Fortaleza, gente, o que falar de Fortaleza. Preciso mandar um beijo muito especial para a galera da Caramelo, uma agência de Fortaleza que fez um esforço sobre-humano para levar o workshop para lá, que fez o workshop acontecer e que fez tudo ser muito mágico, muito lindo e muito significativo. Era um momento da minha vida em que eu não poderia, de maneira nenhuma, sair de São Paulo, que eu não tinha força nenhuma para dar um workshop, e eu fui porque eles convidaram, porque aquela turma precisava existir, e foi o workshop com a turma menor que eu já tive. E cada uma daquelas pessoas sabe que precisava estar lá, que a gente precisava ter se encontrado, e foi tudo muito lindo! Então eu sou uma ateia ortodoxa, mas eu acredito que tudo o que aconteceu lá contribuiu muito para a nossa vida, então obrigada pelo carinho de todo mundo, todo mundo que participou do workshop, todo mundo que de alguma maneira se envolveu com esse momento, por todos os carinhos, pela rede que estará na minha casa no fim de semana que vem, se Deus quiser.
Cris: Quero ver isso, hein!
Ju: Até eu, eu falei isso! [risos] E pelo retrato lindo, pelas homenagens que todo mundo deu. Então, gente, muito obrigada, vocês me reabasteceram de amor e de propósito pra mais um ano.
Cris: Eu queria agradecer à Tata, que veio hoje gravar o programa comigo, porque o pai dela ainda tá viajando. E ela tá aqui pacientemente. De vez em quando se vocês ouvirem um riso é porque ela tá assistindo um desenho no computador ao lado. É muita contribuição para isso aqui acontecer! Não deixe de falar com o Mamilos, tá aqui a nossa ouvidoria, fale com a gente no facebook, no twitter, na página do b9, nosso email cheiroso: [email protected]. e mais uma vez obrigada a essa equipe maravilhosa, cheirosa e traidora que gravou esse tanto de coisa maravilhosa sem falar com a gente. Edição e som do mamilos com Caio Corraini.
Ju: [interrompe] Traidor.
Cris: Redes sociais com Luanda Gurgel, Guilherme Yano e Luiza Soares
Ju: Traidores.
Cris: Apoio à pauta com Taty Araújo e a estreia super especial de Jaqueline Costa.
Ju: Pernetinha do meu coração, como você fez a nossa vida linda essa semana, obrigada, obrigada, obrigada, eu prevejo Mamilos maravilhosos com a sua presença, obrigada.
Cris: E transcrição dos programas com a diva que eu conheci pessoalmente hoje, Lu Machado, que tá no formol.
Ju: [interrompe] Linda, maravilhosa!
Cris: Uma pessoa maravilhosa por dentro e por fora, e que trouxe esse bolo…
Ju: [interrompe] E champagne.
Cris: Que eu nunca vou comer! Ele é tão lindo que eu vou ficar olhando pra sempre.
Ju: E queijo, e salame..
Cris: E damasco! Se você ama esse projeto, assim como todas essas pessoas que falaram e que fizeram a gente chorar, contribui lá no Patreon, a gente precisa pingar um bocadinho pra cada um. Entra lá: patreon.com/mamilos
[Sobe trilha]
[Desce trilha]
Ju: E no fala que eu discuto, Daniel Creão: “Engenheiro de dados de Belém, mas morando no Rio. O programa foi belíssimo, discussões em altíssimo nível e com convidados preparadíssimos. Como de costume, meninas, parabéns. Não concordo muito com a análise de vocês sobre o boca de urna – dizendo que o Trump foi um voto da classe trabalhadora -, já que, nos números da CNN, o que mostra é que justamente o grupo economicamente mais fraco (‘até 50 mil dólares anuais’) que deu de lavada pra Hillary (margem de 9 pontos).”
Ju: Então vamos lá, aos fatos, como diriam: “Na classe média, Trump ganhou por 4 pontos. Nas classes altas, Trump ganhou por 1-2 pontos. Nessa hora a Cris perguntaria ‘mas como a Hillary perdeu então se ela ganhou na classe mais baixa, que é maioria da população?’…
Cris: [interrompe] Amei ‘a Cris perguntaria’.
Ju: Deu muito crédito. “…E eu respondo: analisando a demografia da população americana dá pra ver que a categoria ‘até 50 mil’ (classe trabalhadora) são 55% da população, porém, foram apenas 36% dos votos, então…”
Ju: E aí é importante hein, pra gente definir democracia. “…foram sub representados nas urnas. Me parece que a eleição ser uma terça-feira é algo extremamente complicado pra classe trabalhadora – e mais simples pras pessoas com cargos mais altos. Se o pobre do padeiro não foi liberado pelo patrão num fds pra fazer o ENEM, imagine um patrão americano liberar funcionário pra algo optativo. Além disso, já foi demonstrado como os ‘estados vermelhos’ (republicanos) estão dificultando ao máximo o voto das minorias e pobres…”
Ju: A gente até ficou chateado de não ter falado isso no ar, né!
Cris: Isso. “… com leis estaduais exigindo documentos com foto (o ‘RG’ americano não tem foto, então é basicamente carteira de motorista, coisa de classe média) para votar (como Wiscosin)…”
Ju: Onde, alô, ele ganhou. “… ou que retiram os direitos de voto pra sempre de quem já foi preso (como a Flórida – e quem é mais preso? negros e latinos)…”
Ju: Isso ai tá no documentário “décima terceira emenda”. “Bom, fico por aqui. Fica o parabéns pelo belíssimo trabalho!”
Ju: A gente realmente ficou pensando depois que não tinha falado disso, né?
Cris: Sim.
Ju: Porque, assim, a gente não conseguiu nem cumprir a pauta. Uma coisa que eu falei, assim, que eu ia sofrer, porque a gente ia gravar na quarta à noite, eu ia sofrer até sexta à noite, que é a hora que sai o programa, com todos os links que eu lesse e que não tivessem no programa….
Cris: [interrompe] Mas não se preocupa…
Ju: Então pensem que as coisas que eu li depois e que não tavam no programa. Mas porém nem o que tava na pauta a gente conseguiu falar então, assim…
Cris: Não se preocupe, esse programa vai se autodestruir, mas antes disso, a Cibelle Santos, que mora em Oakland, comentou, que mora lá na Califórnia há treze anos…
Ju: [interrompe] Sua voz tá ótima, viu, miga.
[risos e fungadas]
Ju: Tá muito boa!
Cris: Uma coisa que ela sentiu falta é, como imigrante brasileira, e para imigrantes especialmente, que eles estão vivendo um estado de medo. Ataques racistas e de ódio, já ocorreram duzentos depois do resultado da eleição. Ela está na Califórnia, a tal bolha, e mesmo assim, ela conhece muitas crianças de 6 anos chorando porque falam na escola que o Trump não gosta de crianças marrons, e todos vão pro México. Detalhe: são crianças, e crianças brasileiras também. O nível de medo e de trauma que vem à tona com essa eleição é maior que o Trump, mas ao mesmo tempo ele afeta a nós, imigrantes, lgbt, etc de uma forma muito real e isso não foi falado no programa. “Enfim, obrigada por fazer um podcast super nutritivo, mas estou aqui um pouco magoada. sei também que quem está aqui, vivendo isso na pele, não tem capacidade de ter conversas de opinião ainda, está todo mundo meio em estado de choque.” E a gente, eu comentei isso com você né, eu falei “cara, que arrependimento”. É sempre assim, mas esse foi bem fatal, que foi não ter falado, na minha opinião, que o problema não foi só o Trump ter sido eleito, foi o armário de louco que ele validou. E aí louco eu digo não socialmente responsável, e muito menos inclusivo. Eu coloquei esse comentário aqui por isso porque ele vem reforçar isso, que faltou mesmo no programa, que foi falar assim: “não é só o cara agora fazer ou não o que ele prometeu é o tanto de gente que vai agir em nome de ‘ah, mas o presidente disse’”
Ju: É, eu acho que quando a gente terminou de gravar eu falei pra Cris “puts, eu tenho medo de ter passado pano”, o que que acontece quando a sua bolha trata aquilo como uma tragédia, uma desgraça, você como jornalista vai pesquisar fatos e dados, você vai vendo “calma não é desse tamanho e tal” então é o esforço de trazer pro meio, né, de falar “gente, calma” só que fica o medo de realmente não reconhecer um problema do tamanho que ele é, né, de não dar nome aos bois. E o Marco Túlio Tava muito com esse sentimento, ele tava muito magoado na mesa e muito puxando para o lado de falar assim “não, gente, vocês estão minimizando o problema, sabe, é uma tragédia sim”
Esther: É uma tragédia sim, você precisa entender a tragédia.
Ju: Exato, eu fiquei muito chateada principalmente porque assim, toda vez que o mamilos falou sobre política brasileira a gente sempre fazia o disclaimer de que, assim, “cara, a política não acaba quando você vota, o voto é uma instância, o que você precisa é se envolver sempre, você acompanhar e tal”, e isso ficou faltando muito nesse programa, de falar assim “cara, ok, você perdeu uma eleição, entre aspas , né, perdemos uma eleição, mas não perdemos o jogo”, entendeu, “perdemos uma batalha e não a guerra, você tem que continuar se posicionando” Então assim o que o Trump vai colocar em prática? o que se espera? o que que ele coloca? o que que a gente pode responder quanto a isso, como se mobilizar, o que fazer, entendeu?…
Cris: [interrompe] É, eu acho…
Ju: [interrompe] Não é uma batalha nossa brasileira, mas é questão de dar uma perspectiva de que o fato de que ele é o presidente, não coloca ele como poder supremo de que consegue fazer todas as coisas que ele quiser, entendeu?
Cris: É, mas eu acho que é o ônus e o bônus de falar de um assunto que acabou de acontecer, e eu acho que a gente ainda conseguiu fazer isso de uma maneira relativamente responsável. Eu só queria ressaltar o Igor Alcantara, porque ele trouxe um comentário bastante interessante sobre a vitória de Trump, ele mora nos ditos “estados azuis”, que são altamente liberais democrata, e ele ta dentro ali, atualmente, da universidade de Harvard, e no dia após a eleição o clima, ele diz, era de velório, havia até algumas pessoas chorando. Muita gente inclusive dizia que pensava em se mudar para um estado pêndulo antes das próximas eleições para evitar que esse “Hitler moderno” conseguisse mais quatro anos. Ele tem, óbvio, uma preocupação como imigrante, que ele não pode ser deportado, porque ele se encontra ali de uma maneira legal, mas ele fica com medo do processo de renovação de visto de trabalho, ele acredita que pode ser mais complicado no futuro. Muitos incríveis cientistas e professores compartilham o mesmo medo, a palavra da vez é incerteza.
E isso é muito interessante porque os Estados Unidos, ele é um grande pólo aglutinador de cientistas e grandes filósofos também, que acabam se reunindo em grandes instituições de ensino pra produzir, porque o Estados Unidos dá esse subsídio, então é um questão importante aí pra ficar de olho. Ele ainda complementa: Sobre o fato de muitos latinos votarem nos republicanos, é verdade que desde os anos 1980 eles preferem candidatos democratas, mas os republicanos sempre conseguiram muitos votos latinos. E aí, ele acredita que tenha um motivo principal, que não tá relacionado à imigração, e sim ao conservadorismo religioso. Esses são normalmente os latinos mais velhos que se preocupam em barrar os progressos com leis como anti-aborto e direitos LGBT, de que eles tão mais preocupados com isso do que a imigração em si, até por saberem que mesmo vivendo ilegalmente nos Estados Unidos, a deportação é improvável caso você não cometa nenhum crime, é claro.
(Bloco 4) 31’ – 40’59”
[Sobe trilha]
a memória de tanta dor.
[Desce trilha]
Cris: Vamo pro Trending Topics, e hoje a gente tem gente bonita na casa hoje. Ricardo Terto tá voltando porque.. eu nem vou [comentar]… né, que vergonha!
Terto: [risos]
Ju: [interrompe] Que vergonha, Merigo só não brigou porque não ouviu o último episódio, cês não uma tem ideia – por colocar um microfone que não dá para ESCUTAR a pessoa!!
Cris:Mas [dava] não pra saber que.. Bom, tudo bem, superamos, trouxemos Ricardo de novo, com o melhor microfone da mesa!
Terto: Nossa, que esforço enorme o meu estar aqui de novo, duas vezes, ainda mais cair hoje nesse dia, tomando champanhe..
Ju: Cê acha que o universo preparou essa pegadinha pra você voltar aqui hoje?
Terto: Com certeza! No primeiro dia eu falei que eu tinha um ticket de mentalizar e as coisas acontecerem , tem três já!
Cris: Empresta aí, empresta aí!
Terto: [risos]
Cris: E aí a gente tem uma outra convidada aqui que ela tá achando tudo tão estranho, mas a gente também tá, então a gente tá dividindo essa experiência junto aqui. Esther querida, por favor, se apresente, diga quem é você na fila do pão!
Esther: [a Esther tem um forte sotaque português de Portugal] Tudo bem, queridas? Eu só sei que eu tou viajando [?] [Está] tão surreal que [voltarei?] certamente daqui um ano nesta mesma data, comer queijo, champanhe, e o bolo. [risos] Bem, eu sou Esther Solano, sou professora da Unifesp. Faço pesquisa, é, com movimentos sociais, protestos. E vamos que vamos. Depois do choro aí.
Cris: Vamo direto pro Trending Topics, Juliana?
Ju: Bora gente, porque né, o tempo é curto e a sapucaia é longa.
Cris: Vamo nessa, então.
Ju: Movimentos de ocupação pra protestar contra propostas do governo são ações antigas na forma, mas parece que agora elas tem novas no conteúdo. No caso, falando de ocupações das escolas, as ações partiram de São Paulo, no ano passado, mas se espalharam neste ano pra outras instituições e pra outros Estados. Em outubro, o levante maior aconteceu no Paraná, que chegou a ter mais de 800 escolas estaduais ocupadas. O movimento se espalhou a ponto do MEC (Ministério da Educação) ter que adiar o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, pra mais de 270 mil estudantes. São mais de mil escolas e universidades ocupadas no país. De um lado, estudantes e corpo docente protestam contra a PEC 241 e a reforma do ensino médio, que seria a seu ver um golpe no já sucateado ensino público. Do outro, governo garantindo que não haverá qualquer prejuízo para a Educação e estudantes reclamando que estão sendo ainda mais prejudicados pela paralisação das aulas. Não é preciso concordar com nenhum dos lados para reconhecer o óbvio: esse movimento precisa ser ouvido pra então ser compreendido. Menosprezar e ignorar, como tem sido a estratégia majoritária, não vai fazê-los nem sumir, nem se calar. Bora então fazer a nossa parte, e nos esforçar pra entender um pouco sobre tudo isso? E aí a primeira pergunta é: Que que tá acontecendo?
Cris: Esther, conta pra gente. Quê.. que tá acontecendo?!
Esther: É.. Política! Eu acho que o que tá acontecendo é política, né, mas aquela política com letras grandes, com maiúsculas, e escritas pelo povo, né. Acho que o que tá acontecendo é que as pessoas tão se empoderando cada vez mais, estão criando a fazer política, né, e o mais interessante de tudo isso é que tem uma galera aí muito nova, porque são meninos muito novos, né, que estão nos ensinando que existem formas diversas de fazer política, que não é só de depositar o voto a cada quatro anos e pronto, mas existe muitas outras formas, mais horizontais, mais autonomistas, organizadas de uma forma muito mais flexível, mais dinâmica, né? Para mim, o que está acontecendo é uma lição de democracia que os meninos tão dando.
Cris: Tem um viés que eu queria entrar um pouquinho agora nesse momento. O que eles estão fazendo, que eu andei lendo um pouco sobre isso, e, seja em invasão ou ocupação, acho que a ressignificação do ambiente escolar tem sido uma pauta até pouco explorada, né? Essa busca por uma ressignificação de um espaço onde teoricamente, você está ali pra aprender. Você como professora, como que cê enxerga quê que esses alunos estão fazendo ali dentro, nesse momento que a escola não está aberta, para as ditas “aulas tradicionais”?
Esther: É, acho que eles tão fazendo, como já falei, política e educação. Mas assim como Política, letras grandes e maiúsculas, a Educação também, com letras grandes e maiúsculas, né. Que estamos acostumados com aquela linha de produção Fordista na educação, basicamente você forma operadores, né? você forma consumidores e trabalhadores em…
Ju: [interrompe] Repetidores.
Esther: … você não forma cidadãos críticos. E é isso que eles tão fazendo. É, você, é, literalmente, uma linha Fordista de produção em massa, e nós estamos falando na Universidade e na Escola, e o que eles tão pedindo é uma educação cidadã, crítica, aulas de feminismo, aulas sobre cidadania, aulas sobre o movimento negro, na periferia. Eu já vi várias aulas em ocupações em escolas e basicamente isso. Então um punto muito importante, acho que a linguagem é muito importante, porque a linguagem não é neutra, a linguagem tem um projeto de poder sempre por trás. Quando você [diz] “estão invadindo”, não ocupando, isso não é por acaso, não é inocente. Cê não invade um espaço público, espaço público é da população, é do povo, né. Então você não invade escola, você não invade a assembléia legislativa do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a polícia invade, mas você como cidadão você não invade, você tá tomando posse de uma coisa que é sua, né, escola pública é nossa, né, então, eu acho que nós temos então que nos reapropriar da linguagem, a gente não está invadindo, estamos ocupando o que é nosso, o que é do povo.
Cris: Tá, mas vamo lá, eu entendo a gente, esse espaço é público, mas mesmo o espaço público ele tem um uso pré determinado, até porque se cada um quiser fazer o uso dele da maneira como bem entender, a gente tem um problema de utilização de espaço. Então acho que, simplesmente encarar, não reduzir, mas encarar isso como “é meu de direito, e eu pego!”, na verdade eu tou transgredindo o uso funcional que aquilo teria…
Esther: Sim, mas…
Ju: Sim, na verdade…
Esther: Sim, porque “tou invadindo” tem um significado criminalização importantíssimo, né. Quando você invade, você tá criminalizando o movimento. Uma coisa é você ocupar, é óbvio que vai ter um incômodo porque evidentemente, quando você ocupa, você tá transmitindo um transtorno (e essa é a ideia), você tem que transtornar o poder público pra você ser ouvido. Mas “invadir” tem um componente, uma conotação negativa, pejorativa de criminalização muito grande. Então o estudante de 14 anos não tá invadindo uma a escola, tá usufruindo de seu direito de se manifestar ocupando o espaço público…
Cris: É, mas isso…
Ju: É, eu não sei, eu vejo como complicado porque eu estudei em escola pública na… Federal do Rio Grande do Sul e o ano que eu entrei foi o ano que teve uma greve longuíssima que durou 6 meses. Como a federal não pode cancelar um vestibular porque prejudicaria todo um universo de pessoas que tão estudando há um ano, tem que ter vestibular. Só que não pode entrar gente, porque a gente não andou um semestre, entendeu? Então toda a minha faculdade (os 5 anos que eu fiquei na faculdade) eu nunca tive um semestre normal por causa daquela greve; porque eu sempre tive (durante cinco anos) férias mais curtas, e sempre num calendário que não existia, então né, sei lá, o calendário normal começa em março e vai à julho, e vai de agosto a dezembro, eu sei lá como é, porque eu nunca tive. Porque a gente tinha férias, uma férias era em sei lá, outubro, outra férias era em abril, a minha faculdade inteira por conta de uma greve. Então compreendido o direito a manifestar-se, tem o direito de outros alunos – que podem errados ou certo – falarem “cara, manifesta de outro jeito! Mas eu quero ter minha aula, porque eu quero terminar – sabe por quê?! Porque se eu só terminar esse semestre, falta só esse mês pra eu ser efetivado, e se eu não for efetivado, eu vou pra rua!”. Então, obviamente que escola secundarista não é a mesma coisa coisa que na faculdade.
Esther: Mas se acontece que a faculdade tá sendo ocupada já…
Ju: [interrompe] Então, o que eu quero dizer é o seguinte: independente de certo ou errado, o movimento de qualquer movimento, isso não infere qualidade do movimento, ou retidão do movimento, nada disso, mas ele geralmente [atinge] a menor parte da massa crítica, você não consegue atingir mais do que 50% da massa crítica, ok? Isso não quer dizer que você não tem legitimidade, só quer dizer é difícil organizar as pessoas. Mas aí, acontece um problema em termos democráticos, até. Quando você não representa a maioria e você impede o direito da maioria de ter acesso ao estudo, então se a maioria quer continuar, e você tá impedindo, eu vejo um problema. Eu vejo um problema de forma, eu vejo um problema de origem…
Esther: É, mas para isso que se faz assembléias estudantis, né, uma escola é ocupada (uma universidade, uma faculdade) quando na assembleia é decidido por maioria que se ocupe; então acho que aí tem uma questão importante. A minha faculdade por exemplo, foi decidido ontem ser ocupada, e foi decidido porque a maioria dos estudantes, os discentes decidiu pra ocupação. [Ju: Perfeito.] Então aí é um processo democrático.
(Bloco 5) 40’59 – 51’27’
‘
Cris: E tem uma outra questão, Terto…
Ricardo Terto: Uhum.
Cris: [interrompe] Você já estudou em escola que teve greve?
Ricardo Terto: Já estudei em escola que teve greve, e estudei o tempo todo em escola pública também, né.
Cris: Eu também estudei em escola pública o tempo todo e escola óbvio que teve greve, óbvio que eu não tive, é… férias. Óbvio porque eu ficava em casa e minha mãe ficava desesperada porque ela tinha que fazer um monte de coisa e eu não tinha escola. O que que acontece? A minha opinião: não existe protesto sem incômodo. Eu acho que hoje muito aqui no Brasil a gente fala assim “ai, protesta, mas não pára o trânsito”, “ai, protesta, mas fala baixo que eu quero dormir”, “ai, protesta, mas eu quero ir e vir e usar a escola e ‘cê fica só ali do lado protestando”. Eu acho que o princípio do protesto é o incômodo, é a transgressão, é o ir do lado oposto pra chamar a atenção. Porque se você se você faz com dia e horário marcado, sem incomodar ninguém, com aval de todos, com todo mundo ali presente e cantando uma bonita canção, eu acho que não é protesto. É a percepção que eu…
Ricardo Terto: [interrompe] Sim.
Cris: Tenho. Eu não sei vocês, eu queria ver, saber de vocês aqui na mesa, qual a percepção que vocês tem de protesto. Protesto tem que agradar todo mundo ou ele precisa cumprir uma agenda de não-intrusão do espaço do outro pra existir?
Ricardo Terto: Esses dias eu vi uma… uma notícia até bastante engraçada, que foi uma reportagem que mostrava um desses noticiários da manhã assim, né, que ele mostrava um protesto de uns universitários, que eles tavam fazendo protesto que assim, “Dança Contra PEC”, e aí eles tavam com um fone de ouvido pra não atrapalhar o ruído da cidade, porque a gente não pode atrapalhar, entendeu?
[Risada da Ju]
Cris: Uma crítica.
Ricardo Terto: Eles tavam dançando ali…
Ju: [interrompe] Que isso…
Ricardo Terto: E quem passava via umas pessoas dançando sozinha, e era, sei lá, vinte-quatro horas contra a PEC.
Ju: É tipo uma intervenção artística e não um protesto.
Ricardo Terto: É! E… e teve o aval do apresentador, ele falou “nossa, que ótimo, belo protesto que chamará atenção dos… dos motoristas”. Então, se já foi aprovado pelo apresentador do telejornal, não tá incomodando…
Esther: [interrompe] Um protesto que já tá errado!
Ricardo Terto: Já tá… já tá errado!
[Risos]
Cris: Protesto que a mídia bate palma, né…
Ricardo Terto: Que a mídia bate palma! Quando eu estudava no ensino… na escola pública, no ensino médio a gente chamou os professores, eu era vice-presidente do grêmio, eu tinha, né, essa super…
Ju: [interrompe] Olha aí!
Cris: [interrompe] Treteiro!
Ricardo Terto: Essa super…
Ju: [interrompe] Comunazi já na essência!
[Risada do Terto]
Esther: Esquerdopata já!
Ju: [interrompe] Partido Vermelho!
Ricardo Terto: Nós chamamos os professores porque a gente falou assim, a gente…
Esther: [interrompe] Petralha.
Ricardo Terto: Pois é… [Risos]
Ju: Petralhaaaa…
Ricardo Terto: Tá descoberto, gente. E aí…. nós chamamos os professores, que nós não queríamos mais o sistema decoreba, né. A gente falou… isso era bem antes….
Ju: [interrompe] Petralha.
[Risada do Terto]
Cris: É, não podemos negar.
Ju: Você tá questionando, né, Terto. Aí é que tá.
Ricardo Terto: Pois é, então. E a gente veio, é… nós chamamos os professores pra sala, na sala deles, invadimos, né, a… invadimos não, desculpa, ocupamos a sala.
[Risos]
Ju: Olha, você colonizado aí com ideia errada na cabeça…
Esther: [interrompe] Petralha não, então. Petralha não. Coxinha.
[Risada do Terto]
Ju: Não, ele foi… coitado.
Ricardo Terto: E aí nós… nós explicamos pra eles, qual era a posição que a gente queria e tal, e enfim, os professores deram risada. A gente não tinha muito plano além disso, a gente falou “bom, ok, então… não querem mesmo, o sistema?”, “Não”, “Então ok!”.
[Risos]
Ju: É o que tem!
Ricardo Terto: É o que tem, né. E eu acho fantástico a forma como essa geração de secundaristas está trabalhando, e é o seguinte, o lance do incômodo eu acho que pode ter incômodo, mas também não pode fechar a comunicação. Porque eu tô falando, a disp… já falei, acho, em um outro programa…
Cris: [interrompe] Como assim, outro programa, que palhaçada é essa?
Ricardo Terto: É… não, aqui mesmo…
Cris: [interrompe] Hã…
Ricardo Terto: No Mamilos…
[Risada do Terto]
Cris: [interrompe] Hã… sei, hã…
Ricardo Terto: Em outro episódio. Que a disputa sobre o domínio da narrativa, veja bem. No Paraná, a gente teve um caso de um estudante que morreu, certo?
Ju: [interrompe] Boa.
Ricardo Terto: Ele é a exceção à regra.
Ju: Mas a narrativa tá feita, né.
Ricardo Terto: Mas a narrativa tá feita, então “nossa, eles tão se matando lá dentro”.
Esther: E morreu mas não tem nada a ver com a ocupação…
Ricardo Terto: [interrompe] Exatamente.
Esther: O problema é totalmente paralelo, nada a ver.
Ricardo Terto: [interrompe] Às vezes é uma vírgula numa machete, você
domina a narrativa e acabou, você já tem um motivo pra você jogar.
Cris: Então, mas olha…
Ju: [interrompe] Falando um dos nossos colunistas preferidos do cotidiano, né, que é isso, sobre o poder da narrativa, que é a história que você conta, porque a gente não entende o mundo através de fatos e dados, a gente entende o mundo através de histórias. Então que histórias tão nos contando sobre essas ocupações? O que que tá acontecendo ali? E é isso que a gente tá tentando no Mamilos, por isso que eu perguntei: o que que tá acontecendo? Porque como não tá sendo passado pra gente, assim, pra quem tá à mercê dos noticiários: bando de baderneiros. Haja visto: fecharam a escola por quê? Porque não querem ter aula, a galera que mata aula, a gente conhece essa galera. Porque querem o quê? Fumar maconha, os maconhistas…
Cris: [Interrompe] A turma do fundão dominou.
Ju: Né? E o quê? Sexo. É o que eles tão fazendo ali. Sexo, drogas…
Esther: E rock and roll.
Ju: Não teve rock and roll
Cris: Que delícia.
Ju: porque no Brasil acabou, tá?
Esther: Entendi.
Ju: E falarei disso. Falarei disso.
Ricardo Terto: Doutrinados.
Ju: Então assim, é uma galera que tá a serviço de um partido pra enfraquecer um modelo de negócio muito bom que nos ofereceram.
Cris: [interrompe] Então, mas eu acho que é muito simples colocar isso quando você realmente não entende, e aí a pergunta que eu levanto é: o que nós estamos aprendendo com essas ocupações?
Esther: Olha…
Cris: É nada. Sabe por quê? Porque quando, porque…
Esther: Porque não queremos aprender. Basicamente.
Cris: Nada. Porque a gente não tá entendendo. Porque a gente olha praquilo ali e não consegue compreender como um movimento pode ser horizontalizado, porque a gente tem que dar um dono pra ele. Não faz sentido, como assim esses meninos se organizaram? Como a gente não viu isso aqui nas nossas barbas?
Ricardo Terto: Quem é o líder?
Cris: Então quando a gente… tipo quando os alienígenas invadem a terra e falam “chamem o seu líder”. Não tem. Não tem. E eles estão ali, e aí quando, por exemplo, eu vi o secretário de Educação de Minas Gerais, secretário de Educação Federal da pasta de Educação falando: “eles não tem uma pauta clara, nem eles mesmos sabem o que querem”. Não, não sabem. Eles sabem o que eles não querem. E o que eles não querem é o que eles estão lá dentro protestando. E aí eu acho que a gente tá perdendo uma oportunidade de ouvir gigantesca, que é quando… e aí tem um livro do Saramago muito bom, que é sobre isso, né, que é o pessoal… tem uma votação e ninguém vai votar, e aí ninguém é eleito porque ninguém foi votar e aí eles fazem uma segunda votação, e simplesmente ninguém vai votar de novo.
Ricardo Terto: Acho que é “Ensaio Sobre a Lucidez”.
Cris: Ensaio Sobre a Lucidez, obrigada. E aí a galera começa a falar “mas que mensagem é essa?”. E… cara, eu só lembro de Ensaio Sobre a Lucidez quando eu vejo esse movimento, que é: as pessoas que deveriam estar buscando o diálogo com esse movimento simplesmente não está compreendendo. Ignorou o quanto pôde, relativizou e minimizou o quanto pôde, e agora não sabe dialogar. Agora que viu que não vai parar ele fala assim “precisamos ir lá conversar”. “Mas vou conversar com quem? Qual que é a linguagem de conversar com esse pessoal?”. Porque…
Ju: É que não tem proposta, né.
Cris: Não tem, e eu acho isso muito interessante…
Ju: Eu acho que é isso.
Cris: porque a secretária de Educação de Maringá…
Ju: Não tem proposta.
Cris: virou e falou assim ”se eles são contra a PEC, porque eles não apresentam uma opção?” Gente, não, eles não vão apresentar. Eles tem 16, 17,
Ju: [Interrompe] Não é isso…
Cris: 18…
Ju: [interrompe] Não é porque eles tem 16. É porque eu com a minha idade não preciso. Por quê? A questão é (e isso o NBW falou uma vez eu nunca esqueci), que é a função social da classe política prover respostas, e aí você vai votar se você quer mais essa resposta ou aquela resposta. Só que a classe política no Brasil não tá provendo respostas pro momento que a gente tem, satisfatórias, que a gente queira, entendeu. Então é isso. Tipo, se eles tão falando que, [Ricardo Terto: Uhum.] cara, a educação não é o que a gente quer nesse momento, a gente queria outras coisas, falta uma proposta de tipo, ok, como tem em São Paulo aqui, a gente fez um programa sobre educação. Hoje a educação é feita na base do heroísmo, de uma diretora muito visionária que bate no peito e fala “vem comigo, e eu vou fazer isso, essa é a proposta”, aprova com a Secretaria de Educação, e compra pra briga com todos os pais e briga cada semestre com o pai pra conseguir fazer uma proposta diferente. Então, por exemplo, o modelo de educação que eu vejo os alunos pedirem em ocupação, é o modelo que já tem em São Paulo aqui instalado em escola pública, na Mauri Lima, mas que é mérito jamais da Secretaria de Educação, e total de uma diretora e de um grupo de professores
[Esther: É.] que compram o projeto e falam “cara, pra comunidade onde eu atuo, esse modelo de educação não funciona, a gente vai tentar um modelo diferente”, e tentar pressupõe não saber. Pressupõe erros que a gente vai corrigir no caminho. Pressupõe um salto de fé. Pressupõe “eu não sei muito bem pra onde tô indo, mas tenho certeza que de onde vim as respostas não estão, então tô tentando coisas novas porque pelo menos tenho que tentar”. Então acho que as saídas da zona de conforto e que eu vejo em modelos como, por exemplo, pra gente falar no programa da PEC, justamente o Pedro falou de uma cidade que ai …é exemplo no país, de educação e tal. Não é exemplo porque a Secretaria de Educação pensou num modelo educacional diferente, é exemplo porque os professores pensaram num modelo diferente, compraram a briga e foram lá atrás dos alunos…
Cris: [interrompe] Eu acho muito interessante…
Ju: [interrompe] Então não tem uma resposta da classe política de falar “tá, estudantes, esse modelo (como você falou, Terto) de decoreba não funciona mais, não dá conta de preparar vocês pro mercado produtivo que a gente tem hoje, que não é mais mercado de reprodução (como você falou, Esther), é um mercado criativo. Então formar reprodutores não forma bons trabalhadores. Então tenho que formar questionadores e tenho que formar criativos, e a escola hoje não forma isso, então alunos vocês tem razão, temos A, B e C modelos de mudar a nossa escola pra acomodar isso”. Não tem. Não tem proposta, entendeu?
Esther: É, tem proposta sim. O poder público sempre responde. A resposta o poder público é “Não queremos uma educação crítica. Nós queremos continuar com a linha fordista de produção, e ainda mais nós vamos trazer a PEC 241, que vai acabar com as possibilidades de uma educação mais digna”, né? Então tem resposta do Poder Público né. O continuismo é uma resposta, a manutenção do status quo é uma resposta, né. E eu acho que tem uma coisa muito importante quando vários secretários já falaram, o próprio secretário da Educação falou que não tem propostas do movimento, isso é basicamente uma puta ignorância do movimento, porque tem várias propostas, né? Tem uma proposta muito clara que é barrar a PEC 241, então a proposta…outra proposta muito clara que é dignificar a tarefa do professor, aumentar salário, diminuir carga horária, diminuir o número de alunos na salas… tem mais propostas que são a modernização do currículo, né, das estruturas curriculares, das diretrizes da educação básica. Tem várias propostas que tão sendo discutidas pelas assembleias de estudantes, né…
(Bloco 6) 51’28 – 1:00’59”
Cris: [interrompe] Eu quero aproveitar essa fala sua sobre o que os estudantes querem, né? O que afinal eles querem e trazer o áudio aqui em voz própria, ali dos alunos, da instituição, contar o que afinal querem os alunos.
–//–
Iara: Oi, gente, aqui é a Iara, eu tenho 21 anos e sou estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFMG e a nossa ocupação, ela começou no início para incomodar as pessoas, chamar atenção das pessoas a respeito dessa proposta de emenda constitucional, né, a PEC, agora PEC 55 e com a paralisação das aulas, na realidade, a gente conseguiu criar um espaço e tempo pra discussão não só sobre a PEC mas como está a situação política e econômica do país como um todo. Sobre questões relativas também ao meu curso – arquitetura – que geralmente a gente não tem tempo de discutir dentro da grade, né? E com a paralisação das aulas possibilitou um espaço maior pra essas discussões e os nossos objetivos acho que, em consenso, que a PEC não seja aprovada, né? Isso significa que direitos básicos como a saúde, educação, investimentos sociais, esses direitos possam ser assegurados e, num segundo momento, também pra gente criar esse sentimento, né? Pra gente abrir um canal efetivo de democracia. Porque a gente acredita que a democracia, ela não pode ser só um voto que você participa de quatro em quatro anos. A gente acredita muito que essas questões, que afetam diretamente a população, elas precisam ser discutidas com a população. A gente acha que democracia é muito mais do que o que a gente tem hoje e eu acho que a ocupação, ela representa um pouco disso mesmo, a nossa reivindicação. A gente quer que a população tenha participação efetiva discutindo, ponderando, deliberando as decisões que o governo tem feito, né, sem o nosso conhecimento e a longo prazo eu acho que a gente quer essa criação mesmo de uma consciência crítica da população. E o nosso objetivo é expandir esse movimento, que ele não fique só aqui dentro da universidade, mas que a gente consiga aos poucos ir envolvendo a população também pra que a gente fique mais forte, né? E a nossa rotina, ela é muito pesada. Então o que a gente conseguiu fazer foi se organizar em grupos de trabalho pra tentar não sobrecarregar ninguém, né, que tem ficado aqui. Então a gente tem grupos de trabalho na programação, que é o pessoal que convida gente pra vir falar; que organiza as palestras e tudo mais; tem gente na segurança; tem gente responsável pela alimentação de todo mundo; tem gente responsável por articular com os outros movimentos e a ideia eu acho que é um pouco essa, assim, é todo mundo fazendo junto pra que o movimento não perca força e que a gente continue forte e que a gente leve essa luta nossa, todo esse aprendizado, pra além dessa votação do senado.
–//–
Cris: Vamo ouvir agora então um pouquinho o Peu, que esteve acompanhando ocupações aqui em São Paulo e traz um pouco da visão do que acontece lá dentro, como esses alunos se organizam e, de fato, o que eles querem e que aprendizagem é essa que eles tanto clamam. Diz aí, Peu!
–//–
Peu: Oi, Cris. Oi, Ju. Aqui é o Peu Araújo. Sou repórter agora do R7. Minha maior experiência nas ocupações foi no Brigadeiro Gavião Peixoto, que é a maior escola de São Paulo, fica em Perus e a gente, numa reportagem pra Vice, com o Felipe Larozza , a gente ocupou junto com os alunos a escola. O que eu posso dizer, de dentro, é que tem uma organização muito, muito, muito eficiente. Os alunos assim que invadiam, né, assim que entravam – não vou nem usar o termo invadir, vou usar o termo entrar – colocavam a faixa de ocupado, mobilizavam as equipes pra ver quem ia fazer a comida, quem ia preparar os lanches, quem ia organizar os dormitórios, quem ia ficar na frente pra fazer guarda, monitoramento, vigia, quem ia fazer comunicação e, ao mesmo tempo, confeccionando os cartazes e uma série de coisas assim. A gente passou a madrugada inteira com eles e eu tive uma experiência de acompanhar a ocupação da FUNARTE, por exemplo, que a classe artística fez, e eu confesso que não tinha 5% da organização que os estudantes, em grande maioria menores de idade, apresentaram no Gavião Peixoto e em muitas outras escolas ocupadas em São Paulo e em todo o Brasil. Eu acho que, de dentro, quem nunca entrou numa escola pode ter uma impressão ruim duma ocupação e achar que, enfim, a molecada que não quer estudar, que não quer nada com nada, que quer atrapalhar quem vai pra aula e tal. Mas você vê do lado de dentro que tem um sentimento genuíno de melhorar o espaço que se tem. E quem entrou numa escola pública nos últimos anos sabe do que eu tô falando: é um lugar sucateado, é um lugar com uma infra-estrutura péssima, equipamentos antigos e um modo de ensino arcaico, né? Então, enfim, tem uma molecada disposta a tentar mudar isso e a visão que eu tenho de dentro é essa.
–//–
Ju: Eu tava comentando com uma pessoa associada à pauta do Mamilos sobre esse movimento. E eu falei assim: “cara, mas também tem muito professor que é desmoralizado, porque eu estudei em escola estadual e eu tinha professores que eram muito bons, que amavam o que faziam e faziam acontecer e tal”. E a pessoa me deu um exemplo que eu acho que é muito útil, tá? Ela falou do exemplo do que todo expatriado vive quando vai trabalhar no Congo. E ele falou que são quatro fases. A primeira fase é de choque de ver a realidade, de ver um monte de coisa errada com a certeza de que é fácil mudar, de que é bem fácil mesmo, que você já sabe como mudar porque trabalhou em outros países onde tudo funcionava. Então você fala “vamo lá! Vamo fazer! Tá todo mundo errado! Eu que vou fazer certo”. O segundo momento que é de raiva. Porque você sabe como fazer pra mudar aquilo mas ninguém dá trela, ninguém quer saber. Você tá com a energia, com a energia da raiva. Então você começa a fazer o que? Tudo sozinho. É impossível, você sabe que você não tem como mudar o sistema sozinho, mas você faz mesmo assim. A terceira fase que é a da resignação, de aceitar que você não consegue fazer tudo, que o que você faz, alguém vai lá e desfaz, então você desiste de mudar a realidade, você só faz o seu trabalho e reza pra ser transferido. E o quarto estágio em que você muda. Você se torna mais um que não faz, faz errado, que não quer sair e simplesmente vaza. Vai embora.
Esther: [interrompe] É terrível, não me sinto nada sensibilizada com esses estágios. Acho dramático isso.
Ju: [interrompe] Eu acho, eu acho muito dramático, mas eu acho…
Esther: [interrompe] Tem um estágio lá no meio que é você entender a realidade e compreender e mudar onde você pode mudar, né?
Ju: [interrompe] Não, eu acho muito bom que é o de você enxergar que assim, a gente não pode exigir heróis [Esther: Não, que é isso!] pra mudar o sistema, entendeu?
Esther: Pra mudar esse cotidiano, né?
Ju: Então assim, quando você falar que o sistema não funciona mas você culpabilizar as pessoas que tão no sistema e falar “cara, se o sistema não funciona, por que você não faz o sistema funcionar?”, entendeu? Você culpabilizar o professor e falar “cara, se não tá funcionando, por que que você não grita? Por que que você não reclama? Por que que você não faz funcionar?” eu achei o exemplo dessa pessoa tão perfeito pra eu entender o que que acontece, como a máquina mói o indivíduo, como a máquina é mais forte do que o indivíduo.
Cris: E é aí que eu acho que tá a beleza da juventude. É por isso que esses meninos tão ocupando e há tanto tempo. Porque o sistema não consegue capturar uma alma que ainda não tem o peso da consequência. Então eles tão lá por isso, porque eles são imortais, porque a vida é longa, porque eles precisam brigar por mudança. É por isso que começou com secundarista. E aí eu me coloco num papel duplo. Eu como estudante, o desejo de participar, de fazer parte, de tentar mudar o sistema, de simplesmente não ter ainda carcaça o suficiente pra ser incorporado ao sistema. De falar “não, eu vou mudar isso!”. Não tem a fase da resignação. E eu, enquanto mãe, porque aí já tô dentro do sistema, tô preocupada com segurança, tô preocupada com legalidade. Ou seja, eu já fui parcialmente engolida pelo sistema. Tem toda uma preocupação de caráter emocional. Então hoje eu acabo me vendo mais no papel de mãe.
Ju: Não, cara, como mãe você pensa “ele não vai ter o diploma na hora que ele precisa”.
Cris: [interrompe] Não, a minha preocupação é [Ju: Cara, magina…] entre o orgulho de ver o desejo de mudança e a preocupação com a segurança daquela pessoa que tá ali brigando por um futuro que, sinceramente, eu não tive capacidade de fazer. Então assim, sinceramente, hoje eu não tô mais tão preocupada com esse diploma, eu já não tô mais tão preocupada com essa formação tradicional. Porque eu acredito que, a partir de agora, a gente tem – eu digo agora com a entrada definitiva do sistema de acesso à informação – a gente tem uma informação não hierarquizada mais. É, o professor não entra mais em sala de aula para ensinar o aluno. E eu acho que é isso que esses alunos tão lá falando. A gente entra para trocar conhecimento, pra que a gente possa aprender junto e que você respeite a minha vivência e a minha vivência seja também um saber respeitável. Esse modelo tradicional de escola de tipo “corre atrás de diploma, faz…” nem o mercado mais aceita isso, porque você pega uma pessoa totalmente doutrinada, uma pessoa que não tem espaço pro lúdico, não tem espaço pro criativo, não tem espaço pra transgressão, ela também não produz bem o suficiente. E é muito engraçado isso, o choque entre o mercado e a educação. Educação doutrina, põe dentro da forminha e fala que ‘cê tem que caber aqui. Aí você entra no mercado e o mercado fala “como assim você não ousa?” [Ju: Uhum…] “Como assim você não pensa fora da…?” [Ju: Como assim você não pensa fora da caixa?] “Pense fora da caixa!”. Então, eu acho que esse…
Esther: [interrompe] É, ouse, mas não ouse demais, também, né?
Cris: Isso! (risadas)
Ju: É, eu não sei, mas…
Esther: [interrompe] Cuidado com ousar tanto, né? O mercado também não quer.
Ju: Eu também acho, eu também acho…Eu acho, diferente da Cris, eu, como mãe (eu sou muito mãe classe média) que assim “cara, se você não preencher o requisito A, B e C, você tá fora”. E assim, ouvir de um presidente de um grupo grande que ele não fazia nem seleção, a seleção dele era só de duas faculdades… Então o seu filho, que fez um esforço desgramento pra passar o segundo grau, que você tá desfazendo, que pagou com dinheiro sofrido, que eu sei como foi pra pagar a faculdade, não vai ser considerado num processo…
(Bloco 7) 1:01’00” – 1:10’59”
Cris: [interrompe] Não… Eu acho que…
Ju: De decisão da primeira liga, sabe?
Cris: [interrompe] Vocês… Mas aí…
Ju: Então eu acho que, assim, o pai que pensa “cara, a regra do jogo”, põe um regulamento embaixo do braço e fala “se ele não tiver na primeira liga, ele tá fora, ele é considerado outcaster“… Então, eu quero dar a melhor chance pro meu filho e aí ele na escola pública fala “cara, tem que jogar a regra do jogo”. Eu entendo isso…
Cris: [interrompe] Então, mas o que eu acho é que o filho não quer trabalhar nesse lugar.
Ju: [interrompe] Cara… Mas se ele não quiser, beleza…
Cris: Não é só a empresa que não considera ele, é ele que não considera a empresa também…
Ju: [interrompe] Não é, Cris. Isso é muito romântico. Eu acho isso mega romântico.
Cris: Eu acho assim… Eu acho assim as mudanças estão acontecendo num processo que a gente não está conseguindo acompanhar. Em cinco, dez anos, o acesso que você tem à informação, curso à distância… Eu posso estudar em Harvard do meu banheiro. E aí a gente começa a desconstruir esse processo de onde vem o seu saber…
Ju: [interrompe] Mas onde? Onde?
Cris: Eu acho que quando a gente vai para esses cursos mais técnicos como medicina ou mesmo direito…
Ju: [interrompe] Eu estou falando de publicidade que não precisa nem ter diploma e a galera pede as faculdades mais tops, entendeu?
Cris: Então. Mas aí a gente está falando de um mercado que já está agonizando, ne?
Ju: [interrompe] Não… Então… Mas…
Cris: Vamos falar de mercados novos, que são… Principalmente mercado da tecnologia, que exige um saber que vai além do que você aprende em sala de aula. Eu fico perguntando, Esther, quando você entra em uma sala de aula, a troca de conhecimento que você tem com esses alunos que tem muito acesso à meios de comunicação e à formas… Porque eu estava conversando com meu amigo que é professor na federal do Rio e ele falou que estava falando de um texto de um filósofo e um aluno falou “Não, não se preocupe, professor. Eu traduzi do russo para você”.
Ju: [interrompe] É.
[Concordância da Esther]
Cris: Eu quero saber isso. A troca de informação, de saberes, porque antes era um caminho único e agora é um caminho de mão…
Ju: [interrompe] Dupla.
Cris: Dupla e mortal, assim. Como que é isso?
Esther: É. Eu acho que as duas tem razão, por que? Porque estamos em um momento de transitoriedade, de uma coisa nova… De uma coisa velha, de um modelo já estabelecido, por uma coisa nova, né? Então, como todo momento de transitoriedade na vida, tem o novo que está surgindo mas o velho não morreu ainda, né? Então nós temos…
Ju: [interrompe] É o parto, né? Dor, né?
Esther: É isso mesmo. Então você tem um novo modelo surgindo, uma pressão dos jovens por um novo modelo, mas o modelo ortodoxo velho está aí, está vigorando ainda…
Ju: [interrompe] Sim, sim…
Esther: E é um modelo nos quais, infelizmente, enfim, o mercado se encaixa, né? Então…
Ju: [interrompe] Sim.
Esther: Eu acho que estamos nesse momento, né? Esse momento é uma acho que coisa muito importante, né? Você falou, os alunos, os jovens, tem todos, enfim, aquela vivência, aquela energia da juventude, né, mas nós como adultos também não podemos cair no erro de fazer deles heróis, mártires da causa…
Ju: [interrompe] Perfeito.
Ricardo Terto: [interrompe] Isso.
Esther: A gente tem que estar junto com eles porque não é banal, não é trivial pelo que eles estão lutando. Eles estão lutando simplesmente pelo direito a uma educação digna. Isso aí define a o futuro de um país. Não é uma brincadeira. Isso aí define literalmente o futuro de um país. Então a gente tem que estar junto com eles, né, porque não é simplesmente uma geração, não são eles, o futuro inteiro, é o conjunto dos cidadãos…
Cris: [interrompe] Eu acho muito interessante lembrar de 68, quando foi a revolução cultural na França, que foi, salvo as devidas proporções e até de tamanho, um levante de estudantes secundaristas. A gente não vai partir de um ponto de mudança “meu”, que já estou tão presa dentro desse processo de sistema. Precisa do novo, precisa de quem ainda não está, não passou por esse espaço que a Ju falou que é tão pertinente.
Esther: Mas a gente tem que estar do lado também, dando força. Não podemos deixá-los sozinhos.
Ju: [interrompe] Eu acho muito…
Cris: [interrompe] É por isso que eu falo do papel de mãe e de filho, sabe? Se nesse momento, se meu filho estivesse numa escola ocupada, se eu seria a mãe do “Vai lá, se joga!”…
Ju: [interrompe] É.
Cris: Ou da mãe “Ai, meu filho… Não, volta pra casa.”.
Esther: As duas, né? Talvez as duas. As duas são compatíveis.
Ju: [interrompe] Tem uma frase que eu acho ótima que é “A febre da juventude mantém o mundo na temperatura normal”.
Esther: [interrompe] Literalmente.
Ju: E acho muito bom porque é uma frase muito equilibrada, que ao mesmo tempo não valida tudo o que a juventude faz, tipo “É normal? Não, isso é febre. Isso está fora”, só que a gente está dormente, a gente também está fora.
Esther: [interrompe] Sim. Eles têm um cadáver, literalmente.
Ju: Exato! Então é essa febre que mantém o nosso equilíbrio que mantém a gente saudável. Então, eu acho importante escutar, eu acho importante sentar, eu acho importante entender, mas não por isso eu acho que tudo faz sentido. Não por isso eu acho que tudo tem relação com a realidade porque obviamente, eu já fui jovem, obviamente nem noção de realidade, de consequência, de recurso, não é o forte, né? Eles estão aí pra pedir e a gente está aí pra ter propostas e eu acho que nisso a gente não foi feliz. E é nisso que eu falo que a classe política propor soluções que esse é o papel deles, de falar assim “ó, temos: solução esquerda, essa aqui; solução direita, essa aqui; solução centro, essa aqui; solução moderada, essa aqui; solução essa, essa aqui. Que que vocês querem? A gente organizou as possibilidades, a gente organizou as demandas populares e a gente trouxe caminhos”. E a gente não tem, assim, é errado a gente pedir para essa galera que tem as soluções quando isso é um job da elite política.
[Concordância da Esther e Cris]
Ju: Propor soluções um job deles, é um job da elite política: eles propõem soluções e a gente vota em que a gente quer. E assim, juro que não tinha pensado nisso, foi o NBW que organizou isso na minha cabeça de tipo “Não! Eles estão jogando para você um job que não é seu!”.
Cris: Porque quando a gente parte desse pressuposto parece que nos foram [foi] dada a escolha e ela foi acertada, a gente acolheu e agora não está concordando mais. E aí, eu acho que tem um erro político acontecendo. Eu vou ler em aspas o que é que o presidente Temer disse sobre isso: “Nós não damos importância a elas (as ocupações). A pior coisa é quando isso acontece e você dá muita importância. Sou contra, mas tomo um cuidado extraordinário para não dizerem que, pelo menos do âmbito federal, haja alguma espécie de violência. Nossa pauta é o diálogo e a do convencimento”. Ao invés de um argumento oral, verbal e intelectual, se tem um argumento físico. Se for perguntar exatamente o que estão combatendo, os dispositivos do texto legal, não sei se todo mundo conhece, não… Na avaliação do presidente, uma alternativa seria chamar especialistas para o debate mas, de novo, aspas “é uma ocupação de natureza física. Eles não estão abertos ao diálogo. Poderíamos chamar um especialista para debater mas não há mais discussão”.
Esther: Poderia chamar um especialista para debater, coisa que ele não fez…
Cris: [interrompe] Mas não há mais discussão…
Ju: [interrompe] Exato!
Esther: A reforma foi literalmente uma canetada, assim como a reforma do ensino médio do Alckmin, também não teve nenhum tipo de debate, né? É…
Cris: [interrompe] É esse que eu acho que é o problema: ele fala que a ocupação é mandatória, é física, até que também foi…
Ju: [interrompe] Isso eu acho… Então, aí que tá… Aí que tá… Eu acho isso bom. Quando ele fala “se impor fisicamente”, eu acho bom. Então beleza, “Você não se impôs fisicamente… Você não se impôs porque você tem o poder e você deu a canetada? Se você tivesse feito isso, aí eu respeitaria o seu argumento. Ele é bom, ele não é ruim, o argumento”, entendeu?
Esther: Não mas… É…
Ju: [interrompe] Mas não, você impôs todo o poder de presidente para falar “Vai ser assim e quero que se calem” e aí quando alguém impôs o único direito que ele tinha que era o físico, você fala “Não, que absurdo! Violência física…”. Então assim, de uma maneira geral, uma coisa que a gente fala em vários Mamilos e eu acho que isso é uma coisa importante para a gente internalizar: nós somo autoritários. Eu, o Terto, a Cris, a Esther, nós somos, brasileiros, somos autoritários, a gente quer resolver o problema na base da canetada: “Então é o seguinte: eu sei o que é melhor, toma o que é melhor e cala a boca”, entendeu? Então o Temer está desacorçoado que ele resolveu o que era melhor e você não aceitou, mano…
Esther: [interrompe] E olha o jogo…
Ju: [interrompe] Eu já resolvi por você e você não aceitou…
Esther: [interrompe] É…
Ju: [interrompe] Então a questão não é que você foi autoritário que, na minha opinião, Juliana Wallauer, você foi. Quando você ocupou a escola você foi autoritário mas não é a questão essa, a questão é que eu fui autoritário antes e você não aceitou o meu autoritarismo… O que que é isso? Você quis ser autoritário também? Então assim, nada na essência é democrático e quando você fala que a ocupação da escola é feita primeiro em uma assembleia, já me deixa mais tranquila falando assim “Não! Existe uma democracia na essência…”
Cris: [interrompe] Existe um diálogo, né?
Ju: Mesmo que a gente não se faça representativo, mas aí o erro é nosso, porque na essência você abriu o canal para que eu me manifestasse…
[Concordância da Cris]
Esther: [interrompe] Isso.
Ju: O que o Temer não fez e que o Alckmin, longe de fazer… Então, é uma dificuldade que a gente tem como brasileiro, toda a nossa política, em escutar, em ouvir o diferente, em aceitar e acolher o diferente…
Cris: [interrompe] Na verdade, a gente tem uma dificuldade enorme de negociação, né?
Esther: Ele faz aí, para mim, um jogo com a linguagem, que de novo não é nada inocente, né? mas que me parece muito perigoso vindo da máxima figura política do país. Ele diz “A violência não parte da nossa parte, não virá da nossa parte”. Indiretamente ele está falando que a violência vem dos jovens, né? Dos estudantes, né? E veja bem, eu acho que isso é muito importante, nós temos que resignificar o termo violência também, o termo vandalismo, etc, né? Para mim uma violência, extremamente maior só que muito mais simbólica e talvez menos perceptível, o fato de que o Estado, que o estado maiúsculo, justamente o Estado seja absolutamente indigno com a educação pública, por exemplo, né? Que o Estado não cuida da educação pública. Isso é violento. O fato de escolas públicas estarem sucateadas, o salário dos professores ser tão baixo, das indignidade de muitas escolas, o nível da educação pública… Isso é violência, isso é violência brutal, porque você está fazendo o futuro do país totalmente refém, né? Então o que que é essa violência? Um Estado que está destratando os seus jovens? Os jovens que estão ocupando uma escola é uma resposta à violência do Estado, né? Isso é muito importante.
Cris: O que é que nasce primeiro, né?
Ju: [interrompe] Mas aí eu pergunto, Esther, é o Estado que está cometendo essa violência ou é a sociedade que está cometendo?
Esther: Não, quando eu falo “Estado”, eu falo todos nós, né? Estado não como máquinas, Estado como cada um de nós, né?
Ju: [interrompe] É, porque eu acho isso…
Esther: Não é culpabilizar o ‘intraestado’ do estado, cada um de nós formamos o estado e cada um de nós aqui é responsável…
Ju: [interrompe] Porque eu acho isso…
Esther: Cada um de nós é cidadão, partícipe, protagonista.
(Bloco 8) 1:11’00” – 1:20’59”
Ju: É. Se você fala que, ah, qual é a prioridade? Todo mundo fala que é educação. [Esther: Sim.] Mas qual é a atenção que essa ocupação têm tido, entendeu? Eu falo isso com muita consciência assim, de tipo, pô, se eu já entendi que a nossa estratégia é vamos na educação porque senão nada mais vai melhorar e eu voto sempre com candidatos que tem propostas coerentes pra educação e tal. E tipo, é isso que eu falei na… no programa de eleição dos Estados Unidos. Tipo, não é que você passa pano pro resto, mas você nunca tem um candidato que é exatamente como você quer, [Esther: É o perfeito.] então você escolhe uma pauta, e se ele vai defender essa pauta, o resto você meio que fecha o olho. Então assim, eu voto pela educação já a duas eleições, botei essa pauta como prioritária, mas mesmo assim, o quanto a gente tá como sociedade também cruzando os braços e falando assim: cara, todo o nosso investimento é pra isso! Porque assim, a gente vê países que mudaram de patamar tipo a Coreia, por exemplo, porque eles falaram assim: ó, é o seguinte, sabe a previdência? Fica pra próxima. Sabe a saúde? Fica pra próxima. Sabe habitação? Na próxima. Porque agora, tudo que a gente tem vai pra educação. Porque a gente tem que fazer escolhas, isso acho que no programa do PEC, a gente falou bem. Quais são as escolhas difíceis que a gente vai fazer? E as escolhas difíceis que países já fizeram e tomaram nossa dianteira no mercado global foram assim, tipo, a gente muda a história do país se a gente investir em educação. E, de verdade, o Brasil fala que vai fazer essa escolha, mas não é o Temer. A gente, cada um de nós, [Esther: Não, a gente como sociedade, totalmente] na hora de fazer essa escolha, não escolhe educação! Tipo, eu vou tirar da previdência, eu vou tirar da saúde, eu vou tirar de tudo pra educação, porque daí, é o que o programa da PEC falou. A PEC não tira da educação, a gente tira da educação. Porque a questão é, a PEC controla gastos. Se você quiser gastar mais em educação, você vai ter que tirar dos outros, e a gente, brasileiros, cada um de nós, não quer tirar dos outros, cara! A gente não quer priorizar. Então, isso é a loucura de assumir, de olhar no espelho e falar assim: se a gente acha que educação é realmente importante, a gente vai ter que priorizar.
Ricardo Terto: Eu acredito que a visão que a gente tem sobre educação é o seguinte: ‘cê primeiro precisa ter um desprendimento porque nós somos egoístas. Então você pensar em educação, você tá pensando em outras pessoas, você tá pensando no futuro, e não nas suas demandas imediatas. Outra coisa: todo mundo acha que o próprio filho é o esperma premiado. [risos] O vitorioso, que vai chegar lá num lugar onde nenhum outro chegou, só que ele não vai estar sozinho numa sociedade. Ele é um indivíduo composto. Ele vai ser levado pelo motorista pra algum lugar, ele vai ser atendido por um médico, ele não tá sozinho. E ai quando você simplesmente chega e fala assim “ah, ok, eu não vou nem me importar com educação”, e não é só questão de investimento não. Tem gente que fala assim, esse pessoal do Desocupa, por exemplo, onde eles estão quando… eles atuam? Tá bom, beleza. A gente não vai, a gente não é a favor da ocupação. Mas a escola do bairro tá com problema, eles atuam lá? Ou a gente simplesmente deixa como está, e agora que alguém resolveu fazer alguma coisa, eles resolveram reagir? Sabe, eu to falando até de pais que acompanham os filhos verem…. Sabe, agora todo mundo começou a falar em Escola sem Partido. Então, de repente, todo mundo começou a ficar preocupado com o que os professores aplicam em sala em décadas que ninguém sequer sabe as notas do filho!
Cris: Levanta uma questão, né: existe com partido? Que a partir do momento que fala “Escola sem Partido”, ué? Por que, ela tinha?
Ricardo Terto: Pois é!
Cris: Né? Levanta é, essa luz. Eu acho muito importante voltar pra falar um pouquinho, que existe um movimento que chama “Desocupa Já”, que ele acontece em várias cidades e são orquestradas pela união da família, de professores e alguns alunos que são contra a ocupação, e a grande parte a preocupação ocorre no fato do calendário escolar sair prejudicado com a ocupação.
Ju: Super solidária com isso. [risos] Super solidária, entendo.
Cris: Entendo, mas não concordo.
Ju: Eu entendo. Eu, que fui super prejudicada com isso, entendo.
Esther: Na verdade, não é isso. Existem movimentos de desocupação, que está tendo muitos integrantes do MBL, o Movimento Brasil Livre, já estamos monitorando faz um tempo. Eles estão no Paraná, aqui em São Paulo, e não é pelo calendário. Tem questões políticas sim e tem questões partidárias sim. Então, não é um movimento de pais… não. Tem outros grupos diferentes, o MBL foi um dos protagonistas fundamentais para desocupar as escolas no Paraná, inclusive, tem uma briga muito dura, muito trágica com o crime do menino, com o menino que foi assassinado. O MBL esteve envolvido em bate-boca, etc. Todo mundo quis partidarizar muito esse caso. Então, tem outros assuntos que estão acontecendo que não tem só a ver com os pais, né.
Cris: Aconteceu… aconteceu sim, uma situação, o Desocupa Paraná. Entre apoiadores do MBL e simpatizantes do MBL que acabou provocando uma tensão aí na porta da escola ocupada a tentar tirar estudantes. Então a polícia foi chamada pra acalmar lá os ânimos. O que acontece, é que eu entendo hoje que existe uma necessidade nossa de rotular o que tá acontecendo. Como é tudo muito novo e a gente não consegue entender, taca rótulo aí que eu conheço que aí a gente passa pra conversar. Então existe um desejo, e aí eu tô partindo de uma livre interpretação minha sobre os acontecimentos, minha, Cris Bartis. Que é: um desejo de, o que tá da porta pra dentro, quem ocupou, é esquerda. E sinto um desejo da esquerda de cooptar esse movimento embora não, eu não entendo que ele seja nascido daí. Mas existe um desejo de ir lá e falar “Fala que é nosso?”. Enquanto, quem não ocupou [Ju: Não só, mas de empoderar e aumentar, né?] continua do lado de fora, automaticamente passa a ser de direita. E eu vejo um movimento de direita de ir lá e cooptar essas pessoas, que não necessariamente apoiam o movimento, com o desejo de, de novo, reforçar o esquerda contra a direita. Eu, realmente, eu não acredito que quem tá dentro é esquerda e quem tá fora é direita. Eu acredito que as pessoas não se organizaram dentro desses movimentos políticos rasos, que a gente tá colocando hoje em pauta, de timeline e tudo mais, mas existe sim um desejo de falar que eles são. Não acredito que seja só o MBL, embora tenha entendido [Ju: Concordo.] que existiu uma iniciativa do movimento de ir lá tentar desocupar, mas acho, acho eu, e aí tem muito achismo, porque mistura muito dado com percepção, que foi uma coisa isolada [Ju: Perfeito, muito bom.], porque quando a gente vê ali a Ana Julia na câmera e falar sobre o que eles realmente na escola dela e ela tava ali como representante temporária, eu acho muito legal ela falar sobre isso depois que na última hora decidiram que seria ela, vai lá e fala. E simplesmente, quando a gente vê uma boa oralidade e um bom discurso, a gente pensa: alguém mandou ela falar isso, não é possível que essa menina pensa. Então como a gente desfaz do outro, né?
Ricardo Terto: Não é à toa que o dicionário Oxford, ele escolheu a expressão, a palavra “pós-verdade” como a palavra do ano de 2016.
Cris: É verdade.
Ju: Gente, sensacional, isso era a discussão no meu grupo essa semana.
Ricardo Terto: É fantástico isso.
Esther: Pós-verdade. Eu acho que nós estamos numa dinâmica de desumanização do outro, nós queremos deslegitimalizar o outro o tempo todo, né? E é um empobrecimento, eu acho que tem uma infantilização do debate tão grande, nós queremos ver o mundo na polarização esquerda/direita, petralha/coxinha, e tem tanta gente que… a grande maioria não nos encaixamos pra nada nessa definição.
Ju: Então, mas se Pedro Calabrez estivesse aqui, e nos ajudasse com a neurociência, ele diria que a gente precisa conformar o mundo em coisas que cabem, entendeu? Em forminhas.
Cris: Em webparts.
Ju: A gente precisa disso. Não é que o mundo precise disso, mas a gente precisa de coisas que façam sentido, entendeu? Então assim, se essa galera que tá defendendo ocupar escola, então eles estão desse lado. E se essa galera tá defendendo não ocupar escola, eles estão desse lado. Eu acho brilhante o que a Cris falou, de trazer pro debate, de que assim, nem quem tá falando “cara, sai da minha escola, porque eu quero completar os meus estudos” é coxinha, porque o cara tá simplesmente querendo, alô, sobreviver? Tá? Ele só quer sobreviver. Ele não… e ele fala… e cara, respeita. Porque sim, tipo, pô, a luta política é maior do que tudo isso, do que você tá pensando no almoço de amanhã e tal. E mano, o mano que tá pensando no almoço de amanhã respeita o cara, tá?
Esther: É que tem muita gente que precisa pensar no almoço de amanhã.
Ju: Ele tá precisando pensar no almoço de amanhã, então respeita o cara, cala a boca. [Cris: Acho legal essa divisão.] E do cara que tá do outro lado, erguendo a bandeira de luta falando, ah, ele não pensou no amanhã, ele não sabe de nada, ele é só um esquerdopata. Ele foi instrumentalizado porque interessa levantar uma bandeira contra o governo e tal. Entender que, cara, antes de qualquer bandeira existir, ele já estava lá. Ele já vivia essa realidade na pele, tá? Então não desrespeita o moleque que tava lá vivendo a realidade, sendo massacrado pelo sistema e resolveu gritar. Só porque outras bandeiras políticas tentaram cooptar um movimento, não fala que ele não existia antes e não fala que ele não tenha verdade, e não fala que ele não tenha consistência e espinha sem essa parte instrumentalizadora de poder, né? Eu acho que isso, essa análise é muito rica. Não diminui ambos os lados da discussão em dicotomias que não dão conta mais de explicar a nossa realidade.
Esther: Isso, só que para fazer isso, você precisa de um esforço, né? É muito mais simples, muito mais fácil e muito mais confortável você ficar nas verdades absolutas, nas certezas, né? Isso dá muito mais segurança. Você ter uma autocrítica, uma crítica, você desconstruir, desmistificar, exige um esforço, e isso aí deixa você na dúvida. A dúvida pode ser muito agônica, né?
Ju: Não é natural.
Esther: Então é muito mais fácil você ler jornal, colocar o Jornal Nacional e ver a TV Globo falar “os meninos tão invadindo, escolas são de esquerda, o PT tá por trás disso”, como o colega falou, já incutindo…
Ju: Silencia, silencia porque não tem razão, por partida.
Esther: do que você sair do sofá, talvez só falar com o seu filho que está ocupando, talvez ir para uma escola ocupada, que tem muitas, tem muitas, talvez perto do seu bairro tenha uma escola ocupada, né? Então eu acho que nós temos uma tendência natural à burrice, à burrice como forma de imobilismo, uma forma de ficar quietos, fixos num ponto. Porque sair dessa burrice, que algumas vezes se transforma em crônico, é difícil, né? É muito complicado. É um gesto de ousadia mesmo.
(Bloco 9) 1:21’00” – 1:30’59”
Cris: É porque eu não sei pra onde eu estou indo, né?
Esther: [interrompe] Mas essa ousadia toda vai pro ralo, né? Nós precisamos de nos mexermos, porque essa fixação, esse ponto fixo, nos leva para o buraco, gente. Educação é justamente o contrário do ponto fixo, né? Educação é fluidez, dinamismo e o medo. O medo forma parte, o medo ao diferente, temos que ousar…
Cris: E só pegando um pouquinho nesse ponto, porque a gente simplesmente assume que as escolas estão ocupadas e que não está acontecendo aula. E aí gente já ouviu aqui um pouquinho o Peu falando, um pouquinho a Fernanda falando, e eu acho que tem muito disso. O que é aprender? O que é aula? O que é aprendizado?
Esther: [interrompe] O que é educação, né?
Cris: … O que que é… eu acho que ‘educação’ já é uma palavra ultrapassada. E aí [Ju ri ao fundo] — me chamem de romântica — mas quando eu falo que eu estou te educando eu estou pressupondo que você não sabe, e na verdade todo mundo sabe. O saber ele é intrínseco do ser humano, se eu engatinhava e se hoje ando eu tenho um saber. Então é troca de aprendizagem gente, é troca. E esse currículo, e eu entendo a dificuldade disso, eu não acho que seja fácil… tá aí o Mauri Lima que mostra que a escola está ocupada há mais de dez anos, né? E tá todo mundo ali…
Ju: [interrompe] Fudido.
Cris: … vivendo nessa ocupação, a comunidade, os pais, os alunos, os professores. Lidando e debatendo diferente. Eu tive a oportunidade de conversar recentemente com a diretora e ela falou assim: “É incrível né, porque é um organismo vivo e a gente perde o controle. Eles tem grupos de facebook, e grupos de whatsapp que no início eu tentava responder tudo, e agora eu já entendi que a comunidade anda [Ju faz som de aprovação] mesmo se eu não existir mais, ou se a escola não existir mais.” A gente tem uma pequena amostra disso com o Mamilos e um pouco do que vocês ouviram aqui no início. Quando você está aberto a receber as pessoas com o que elas tem pra dar, a comunidade se cria e ela é um organismo vivo, ela está linkada a um ideal maior, mas ela anda com as próprias pernas [Ricardo Terto faz som de aprovação]. Então, tá na hora da gente esquecer o termo educação — que parte do pressuposto que eu sei e você não sabe, então eu estou indo aí te ensinar pra que você seja alguém — para, “Eu entendo que você sabe, eu também tenho um entendimento, vamos trocar?”.
Esther: É. E valorizar múltiplas formas de conhecimento. Uma menina de uma escola ocupada me falou, “Professora…”, é uma escola eu estou até lembrando é no Capão Redondo, ela me falava “…pela primeira vez na minha escola os menino estão cozinhando para as meninas, por exemplo. Olha a puta educação que eles estão tendo, conhecimento: os meninos que nunca tinham entrado numa cozinha estão cozinhando. E pela primeira vez na minha vida, eu que sou menina”, ela falava, “estou fazendo a segurança da escola, né?”. E eles estão tendo isso, é um aprendizado para a vida, é cidadania, né? Você se formar como indivíduo, como cidadão. Quer mais conhecimento do que isso? Além do mais, eles tem muitas aulas continuamente. Nas escolas ocupadas tem aula pública continuamente, temos várias professores que estamos indo para as escolas. Tem aula de todo tipo, né?
Ricardo Terto: É, eles cuidam, eles fazem um trabalho de cuidar do próprio espaço, né? Então horta, o lugar que suja… limpeza do local…
Esther: Isso.
Ricardo Terto: Quem visita uma ocupação, dificilmente — se tem algum tipo de preconceito — dificilmente não sai admirando. É uma coisa de você experimentar mesmo…
Cris: [interrompe] Tá. Eu vou longe agora na viagem, tá? Mas eu entendo que com a ditadura, a gente perdeu muitos seres pensantes [Ricardo Terto ri e concorda], e sabe-se lá o que teria acontecido se essas pessoas não tivessem morrido. Que tipo de política e sociedade a gente teria hoje, com expoentes pensantes, se estivessem vivos. Eu tendo a acreditar que qualquer menino saia dessa ocupação, ou dessa experiência — vamos falar da experiência como um todo — que todos nós, não só eles, saímos como uma sociedade melhor. Uma sociedade que reflete mais, uma sociedade mais preparada pra esse novo. A gente está vendo uma diluição das instituições, um ressignificado das instituições. Mais do que na hora da educação passar por esse questionamento. Eu tendo a acreditar que as Anas Julias — e aí tem um ressentimento por quem vai lá e pressiona esses meninos por resposta, porque quem de nós, jovem, não já aderiu a algumas coisas não entendendo muito bem, mas tendo fítico aquilo, se sentido atraído por aquilo, se inspirando naquilo, que não tem a resposta agora aos 15, mas aos 25 tenha ela muito plena. Então eu acho, como a Ju tava falando, a resposta não tem que vir dali, mas a reflexão sim. Então eu acho que a gente não pode perder a oportunidade…
Ju: [interrompe] O questionamento, né?
Cris: Exato. A gente não pode perder a oportunidade enquanto sociedade de refletir pra esse momento, de alimentar esses pensadores que vão continuar questionadores, que podem se tornar representantes num futuro. Seja num mercado público ou privado, pra levar um levante, ou pelo menos uma discussão, fora dos padrões que a gente está acostumado.
Esther: [interrompe] É.
Cris: Essa coisa horizontal é difícil de fazer.
Ju: E que é um absurdo você exigir respostas. Que você ter boas perguntas, já é…
Esther: [interrompe] Isso já é muito. Já é uma vitória.
Ju: … é muito. Já é uma vitória.
Esther: Mas eu acho que para nós sairmos melhores do processo a gente, como sociedade, precisa criar uma sensibilidade, uma empatia política também, né? Porque nós corremos o risco de ter uma reação conservadora, punitiva, muito grande, né? É… a gente faz…
Ju: [interrompe] Corremos o risco não, nós já vivemos né.
Esther: Não, mas assim ter uma reação a tudo o que está acontecendo. Que é um pouco do que a gente vê com os movimentos de ultradireita na Europa, nos Estados Unidos. Aquela idéia de que você tem uma vanguarda do novo, que está querendo chegar, e você tem uma reação punitiva conservadora daqueles que tem medo, pavor e fazem basicamente uma resposta autoritária a isso, né? Então a gente só vai sair melhor se a gente tem a capacidade de construir realmente uma sensibilidade, uma empatia política a isso, né? E acho que uma coisa, falando um pouco de resposta a pergunta, né? O poder não muda se a gente não pressiona, né?
Ju: [interrompe] Exato.
Esther: O poder por definição ele é imóvel, né.? Os caciques do poder nunca vão mudar, né? É óbvio.
Ju: [ri] Muito bom.
Esther: Então o que os meninos estão fazendo é basicamente uma pressão, né. Eles estão querendo pressionar para que alguma coisa mude. Mas por exemplo, nós chegamos a ter mil escolas ocupadas. A gente não vê a grande imprensa falando sobre isso…
Ju: [interrompe] Não.
Esther: … tem um bloqueio informativo muito grande, né?
Ju: Sim.
Esther: A gente tem um bloqueio informativo, e nós temos que furar esse bloqueio. Vocês estão furando esse bloqueio informativo. Porque o momento, eu não vi nunca… a gente estava vendo uma pesquisa sobre isso… a gente, alguns colegas… a gente não ouviu nunca na história recente um país com tantas escolas ocupadas ao mesmo tempo. O que está acontecendo no Brasil é algo absolutamente excepcional e histórico, né?
Cris: A gente é muito grande, né, Esther? É bizarro isso.
Esther: [interrompe] É histórico, e a gente não dá a mínima bola pra isso…
Ju: [interrompe] Então, mas… O que eu acho interessante…
Esther: …extraordinário, né. Em números simplesmente quantitativos já é extraordinário, né?
Ju: Então, mas o quanto esse movimento que é extraordinário conseguiu pautar discussões na sociedade. E claro…
Esther: [interrompe] Mas como eles vão pautar num bloqueio da imprensa hegemônica, é impossível pautar…
Ju: … Calma… Claro, claro.
Esther: .. quando a imprensa silencia.
Ju: O Mamilos várias vezes fala sobre o quarto poder. Fala sobre quanto a democracia, ela é tão boa quanto os dados que você tem pra decidir.
Esther: Isso.
Ju: Se democracia é a escolha da maioria, a democracia pressupõe que a maioria tenha…
Esther: [interrompe] Informação.
Ju: … informação pra decidir. A gente sempre fala isso. Dado isso, ok que a gente não tá tendo uma cobertura de imprensa boa, mas quando a gente está falando de escola, a gente está falando muito… um nível muito próximo. Mesmo que a imprensa queira bloquear, num nível muito pessoal a gente está sendo impactado como povo. Então, ainda assim, quando a gente está sendo impactado, como a gente está discutindo isso? Como povo e aí que tá: o jovem vai na dianteira falando — e eles não tem nada pra perder — “Quero questionar tudo que tá aí?”. O quanto os pais estão indo atrás? e o quanto os professores estão indo atrás? e o quanto a sociedade está indo atrás? independente da mídia que não está cumprindo seu papel. Isso é fato, não está nem sendo discutido aqui. Mas o quanto a gente diz que “Não, a nossa escolha é por educação!” e o quanto a gente de fato está sendo pautado por isso, entendeu?
Esther: É.
Ju: Porque eu não vejo, na minha bolhinha ridícula, a gente sendo pautado pelas discussões que essa mulecada está trazendo, entendeu?
Esther: É. E eu acho que tem uma coisa importante muito típica do Brasil que a classe média brasileira, a classe média que historicamente por definição, pauta a política. Aquela que se mobiliza, é a que faz protesto, é a que tem a capacidade de pautar política. A classe média brasileira é por definição privatizante, né? Ela compra escola, ela compra plano de saúde. Então nós estamos falando aqui de escolas ocupadas fundamentalmente não pela classe média, e sim daquelas pessoas que não tem dinheiro para comprar uma escola privada e particular.
Ju: Mas que são maioria.
Esther: Então, mas não é o debate da classe média. Isso não pauta o debate. Esse que é o problema.
Cris: Não é um debate.
Ju: Que num debate democrático tem voz.
Esther: A classe média não está envolvida. Então aqueles que são a maioria quantitativa, são a minoria política. Esse que é o problema, né? Então a classe média está fora desse debate, não é protagonista. Então mudaria um pouco.
Cris: [interrompe] Mas sabe uma questão que eu tenho levantado esse ponto é: até que ponto a gente precisa da grande mídia pautando isso. Por que? Porque eu vejo que muitos alunos acabaram organizando as suas ocupações nos rincões do Brasil. Porque Uberlândia, Uberaba, Piracicaba têm escolas ocupadas…
Esther: [interrompe] Nos rincões das cidades, né? Das grandes cidades.
Cris: … Sabe por que? Porque essa galera tá se informando via redes sociais, não está se informando via grande mídia.
Esther: Isso. É.
Cris: Então, a inspiração não surgiu porque ele assistiu o William Bonner no Jornal Nacional falando disso, e aí…
Esther: [ri] É, e não vai aparecer [inaudível].
Cris: Não vai! E eu fico me questionando até que ponto precisa aparecer.
Ju: E eu vou te falar que assim…
Esther: [interrompe] Mas 50% da população brasileira não tem acesso a internet. Só te responder isso, então… Ainda precisamos muito da grande mídia para debate público.
Ju: [interrompe] Então, mas olha só. A gente tinha essa noção de que “Pô, a escola pública vai mudar quando a classe médica realmente usar serviço público, e tal”. E a gente recebeu aqui o João Goto, que a gente gostaria muito de estar nesse programa também…
Cris: [interrompe] Beijo, João!
Ju: … Beijo, João. Mas não conseguiu, porque ele administra um CEI, por exemplo, e falar pra ele “Não, a gente acredita que tudo vai mudar quando a classe média estiver na escola pública, porque daí vai exigir serviço” E exatamente tudo que você falou, e ele falou “Mano… palavrão que eu não posso falar… quero a classe média longe da minha escola, cara! Porque o que essa galera quer está muito longe do que a galera que realmente usa a escola realmente precisa.”
(Bloco 10) 1:31’06” – 1:40’59”
Esther: É.
Ju: Então, saca? O debate é complicado mesmo, [Esther: Muito.] e é difícil chegar, então eu acho assim… quem tá ocupando a escola, por mais que não tenha, entre aspas, voz na mídia tradicional, no jogo político, é maioria. Então…
Esther: É a maioria quantitativa, mas não a maioria política, esse que é o problema.
Ju: É! Mas se a galera forçar a mão, o zap tá na mão deles, e é difícil assumir o zap, sabe?
Esther: Mas tá forçando, mil escolas ocupadas, uma forçação de barra total, e governo tá totalmente opaco, né?
Ju: Então, mas aí, é exatamente isso.
Esther: É muita ocupação, gente. Mil escolas ocupadas, tá quase duzentas universidades ocupadas ao longo do país, é uma coisa extraordinária. E o governo tá falando que, enfim, que tá indo e pronto, é uma passividade total…
Ju: São uns arruaceiros, uns baderneiros… Falta, unidade crítica, né, [Cris: Não, do mesmo jeito… levar a sério. Falta levar a sério.] massa crítica, o que a gente chama na publicidade.
Cris: O que a gente acabou de falar, né, quando o Trump vai lá e legitima um discurso, é a mesma coisa que o Temer faz quando ele legitima tipo “Não vamos dar atenção que eles vão parar.”
Esther: Isso, isso.
Cris: É meio como tratar criança birrenta.
Esther: É coisa de quatro meninos…
Cris: E aí eu entendo o que você fala, tipo, a gente precisa da grande mídia vim pra se tornar uma verdade.
Esther: Infelizmente a gente precisa ainda de um debate público.
Ricardo Terto: Eu não sei no Paraná como é, sei que em São Paulo, existe uma coisa, um detalhe assim, bastante sutil, as escolas em si, apesar de ser o mesmo movimento, eles não tinham uniformidade até de ação, na forma como eles agiam. Então, por exemplo, eu ouvi reclamações de secundaristas da periferia, que eles diziam que as aulas ou as pessoas, as visitas, o Duvivier, não sei o que, ele ia só em escola [Esther: É verdade, é.] de classe média, escola de periferia não tinha, não tinham visão, e não ia ninguém lá…
Esther: Invisíveis para o próprio movimento.
Ricardo Terto: Exatamente. Então criando uma subcategoria dentro do movimento. E lá na periferia é onde você tem os pais que assistem Jornal Nacional. Pronto.
Esther: Falou. Não tenho nada a acrescentar a isso.
Cris: Então, pessoal, o que que a gente entende aqui? Que a gente tem prós e contras de uma ocupação, que a gente tem discursos elaborados e discursos não elaborados [risos], que a gente tem uma necessidade, e é o que, a gente volta lá no início que é, você pode até não concordar, mas você vai precisar entender, não dá pra ignorar uma massa desse tamanho, então vamos nos unir, não contra, mas com, para entender que conversa é essa que tá sendo proposta. A Ju colocou muito bem, sentir, manter essa temperatura corporal nos 37 graus, faz parte ter gente puxando pro “é isso aí mesmo, vamos nos conformar”, e a galera falando “mas nem a pau, vamo quebrar tudo!” A gente só chega na temperatura normal quando a gente senta e fala, beleza, vamos atender partes de ambos os discursos. Não dá pra ignorar, e eu acho que essa é a grande conclusão que a gente chega aqui. Existem pessoas que precisam estudar, existem pais que desejam que as aulas voltem, que estão preocupados com o que a Ju colocou muito bem que é ‘meu, precisa si. Existem os alunos que estão ali, os super lúcidos, os que tão indo na onda, e tudo faz parte de um processo de amadurecimento, e existe a gente aqui tentando entender e aprender, porque eu acho que tem muito pra se aprender, e acho que seria uma grande.. o Mamilos acredita que seria uma grande pena desperdiçar o diálogo que tá sendo colocado nessa oportunidade.
[sobe trilha]
[desce trilha]
Cris: Vamos então para o Trending Topics número dois. E aí, cara, é o seguinte. O tema é: Prisões e o caos no Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro não anda tão lindo esses dias. Servidores públicos em polvorosa com a possibilidade de terem seus salários parcelados em até 7 vezes. Alguns policiais até desistiram de conter as manifestações em frente a Alerj e se juntaram aos manifestantes. Enquanto isso, o estado tem atualmente dois ex governadores presos: primeiro, Garotinho e hoje, agora, né, quarta-feira, Sérgio Cabral. O que que isso significa? A carioca mais amada de São Paulo veio ao nosso encontro nos ajudar a responder um pouquinho essa questão: diz ai, Cris de Luca, o que que tá pegando?
Cris de Luca: Então, vamo lá. Na mesma semana, o Rio de Janeiro tem a sua Assembleia Legislativa praticamente em convulsão, votando um pacote de austeridade proposto pelo governador Cabral, com dois ex-governadores presos. Como aliados, o ex-governador Anthony Garotinho e Sérgio Cabral dividiram o mesmo palanque até a eleição de 2006. A partir dessa sexta-feira, já desafetos políticos, eles vão compartilhar o mesmo complexo prisional, de Gericinó, em Bangu, tal Complexo de Bangu. Após determinação da justiça, Garotinho foi levado, esperneando e aos berros, pro presídio José Frederico Marques, no Complexo de Bangu. Garotinho foi preso pela compra de votos, usando de programas de transferência de renda, como o Cheque Cidadão. Cabral, preso por corrupção, por cobrar e receber propina, foi encaminhado para Bangu 8, onde ficam os presos com Ensino Superior. Por lá, por exemplo, já passou o empreiteiro Fernando Cavendish, amigo do Sérgio Cabral, e hoje em prisão domiciliar, preso na operação Lava-Jato. As duas prisões, num momento tão duro para o estado do Rio de Janeiro, são simbólicas, muito simbólicas. Os motivos representam práticas inaceitáveis hoje, mas que durante anos foram comuns aos políticos brasileiros. Lembro que no programa que a gente falou sobre o socorro do governo federal ao Rio de Janeiro, às vésperas dos Jogos Olímpicos, quando o Rio decretou estado de calamidade pública, eu cheguei a perguntar aqui porque que ninguém fazia menção ao Sérgio Cabral, que àquela altura, já tinha tido seu sigilo bancário quebrado pela Lava-Jato, junto com o sigilo bancário do atual governador Pezão. A operação que prendeu Cabral é apenas uma das muitas na qual o nome do ex-governador tá envolvido. Naquela ocasião, chegamos à conclusão de que o Rio de Janeiro ficou na situação de quase insolvência por má gestão administrativa. Hoje a gente tá descobrindo que o ex-governador Cabral não só geriu mal a máquina pública e as contas do Estado, como as suas próprias contas, porque parece que tá sendo muito fácil pro Ministério Público seguir o rastro do dinheiro desviado, e talvez fique muito difícil pro governador Sérgio Cabral provar sua inocência, como chegou a afirmar o atual presidente da Assembleia Legislativa do Rio, a Alerj, e homem forte do PMDB do Rio, deputado Jorge Picciani. O debate entre corrupção e crise financeira do estado fatalmente vai ocorrer com as pessoas relacionando as duas coisas; a grave crise econômica do estado foi agravada pelo aumento das despesas quando se sabia que haveria queda na receita. Agora o pacote em negociação na Assembleia tenta fazer o funcionalismo público do estado pagar parte da conta para continuar recebendo seus vencimentos, seus salários, em 2017 e 2018. Deputados de oposição e da base aliada temem que essas denúncias de corrupção associadas ao PMDB, ao governador Sérgio Cabral e até mesmo ao governador Luiz Pezão, que ainda não foi arrolado pela Lava-Jato diretamente, mas é aliado e antigo vice e secretário de obras do ex-governador Sérgio Cabral, acabem dificultando a aprovação do pacote de austeridade. Os deputados sabem que essa tentativa de relacionar o desperdício de dinheiro público com a corrupção ao sacrifício dos servidores públicos é um barril de pólvora. As insatisfações vão se acumulando, o clima vai esquentando, como a gente tá vendo, e como vocês mesmo já mencionaram. Em pauta lá na Alerj, no tal pacote, tá o aumento da contribuição previdenciária dos servidores de 11% pra 14%. Esse aumento de contribuição teria o impacto de 300 milhões de reais nos cofres públicos. O Cabral acaba de ser preso por um desvio de 230 milhões, não diretamente relacionados ao que o governo arrecadaria, mas ainda assim, é um volume de dinheiro que vai pesar aí na balança de quem vai relacionar as duas coisas. É realmente difícil imaginar que o servidor terá paciência e compreensão com a redução do seu salário líquido real vendo o governo absolutamente envolvido em corrupção. É da natureza humana, né, que as pessoas relacionem as duas coisas, até mesmo que elas não tenham relação direta; a relação indireta é muito forte. A forte reação popular ao pacote fez o governador Luiz Fernando Pezão buscar alternativas para equilibrar as finanças do estado. Ele afirmou na quinta-feira de manhã que abriu mão da contribuição de 30% sobre os salários dos servidores e que tá aberto a outras propostas. Negou que o estado cogite impor o teto de 15 mil reais a novas aposentadorias. Mas ao dizer que está aberto a novas alternativas… propostas alternativas, acabou jogando de volta para a população a tarefa de sugerir ideias. O pacote de 22 propostas que foi enviado há duas semanas para a Assembleia já teve algumas questões rejeitadas, entre elas a própria cobrança temporária aí dos 30% de vencimentos pra cobrir o déficit previdenciário. Mas ainda tá sendo analisado esse aumento da alíquota fixa de 11% pra 14%. É realmente preciso equilibrar as contas, porque é a população que tá sofrendo.
(Bloco 11) 1:41’00” – 1:50’59”
Cris de Luca: Em cidades do interior, as UPAs tão fechando porque os médicos, com salários atrasados há meses, tão em greve. Na capital, o policiamento diminuiu. Os serviços públicos todos pioraram. Há hospitais sem oxigênio. Ironia das ironias porque “oxigênio” era como o pessoal do Cabral se referia à propina. Diante disso tudo, o governador Pezão tenta executar dívidas ativas do Estado em grandes empresas devedoras, mais ou menos como ele fez quando foi prefeito lá de Piraí. Mas recuperar a economia de uma cidade é relativamente mais fácil do que recuperar as economias de um estado inteiro. Sem mudanças como a alteração nos cálculos dos royalties cobrados do petróleo, o aumento da arrecadação do ICMS e até o corte da própria folha salarial do funcionalismo vai ser muito difícil equilibrar as contas. Então, até agora já foram analisados dois projetos considerados menos polêmicos dos 22 apresentados lá, das medidas, né? Um deles corta em 30% o salário do alto escalão do governo. O outro reduz de 40 pra 15 salários mínimos o piso pra pagamento de dívidas judiciais do Rio de Janeiro. Foram apresentadas 40 emendas ao primeiro projeto e 56 ao segundo, o que mostra que a gente ainda vai ter dias duros pela frente até que esse pacote seja votado e a gente, de fato, consiga ter um estado com contas mais ou menos saneadas. Coitado do meu Rio de Janeiro, viu? Só rindo de tanta desgraça pra aguentar. E foi o que muita gente fez diante da prisão dos dois governadores – que realmente seria cômica, se não fosse trágica, por tudo o que eles representam. O que não faltam são piadinhas bem no espírito carioca. Vou contar a mais leve que eu achei circulando pela internet. “Atenção, povo do Rio de Janeiro! Hoje teremos debate entre Garotinho e Cabral em cadeia nacional”. Talvez a crise econômica do Rio seja um bom tema pra começar (risos). Quer dizer, vai ser realmente muito difícil não relacionar uma coisa com a outra e é um soco no estômago da população carioca ter dois dos seus governadores mais populares e mais votados presos, o que mostra que a gente precisa cada vez mais ter muita consciência na hora de votar.
[sobe trilha]
Cris: [fundo musical] Vamos então para o Farol Aceso. O Farol Aceso é aquele quadro maravilhoso, Esther, está aqui nossa convidada pela primeira vez, espero que de muitas, apesar da confusão…
Esther: Eu venho no próximo ano, na mesma data.
Cris [muitos risos]
Cris: Esther, nesse quadro a gente indica [Esther ri], cada um aqui na mesa, o que que tem de bom acontecendo no mundo. Um livro, um filme, um lugar pra ir. Que que cê tem pra indicar pra gente no Farol Aceso?
Esther: Ai, no mundo de forma geral? Gente, agora que chegaram as férias, é daqui a pouco, que eu tô tão louca pelas férias…
Cris: [interrompe] Que que cê quer indicar?
Esther: Eu queria muito indicar… Teve, acho que tá tendo ainda agora um balé, o Balé da Companhia de São Paulo, que eu tô adorando. Se tá tendo agora, acho que tá acabando já esse final-de-semana, a Companhia de Balé de São Paulo, Romeu e Julieta. Muito bonito!
Ju: [interrompe] Ai, que maravilhosidade!
Esther: Eu vi no final de semana passado. Maravilhoso! Momento sensibilidade, que falta tanta sensibilidade, gente!
Cris: Opa!
Esther: Sensibilidade, né?
Cris: Brigada, Esther. Terto, querido! Que que cê tem pra gente essa semana?
Ricardo Terto: Bom, então, como eu estou aqui na segunda presença e na sequência, então eu vou falar – pode ser dois, né?
Cris: Uai?
Ju: Pooooode!
Ricardo Terto: Ópa! Então, o primeiro é o DECO, que é um chatbot criado… o primeiro chatbot brasileiro criado pelo terceiro setor. Esse chatbot é o seguinte, ele quer falar sobre empreendedorismo com o jovem de periferia mas sem [ser] daquele jeito empreendedorismo de palco, enfim, ele quer aproximar, ser um conteúdo inspiracional. Ele ele traz conteúdos de pessoas que são da periferia e que, enfim, tiveram uma ideia na cabeça e resolveram, é, tocar essa ideia pra frente, às vezes sem muito entender como. Mas essas experiências servem pra agregar a experiência de uma pessoa que, de repente acha que empreendedorismo não é pra ela. Esse chatbot foi escrito por uma pessoa muito legal, que tá aqui presente [Ju: inteligente]. É, não vou dizer quem é…
Ju: [interrompe] Eu diria um cronista da vida [: Ricardo Terto ri] urbana… atual…
Ricardo Terto: Aí vocês vão lá no messenger, né, do facebook e digita DECO pense grande, aí ele vai começar a conversar com vocês já e mandar conteúdos legais. Essa é a primeira dica. A segunda é uma série da HBO, é, eu assisti só dois episódios, mas eu achei fantástica. Se chama Young Pope, é o Jovem Papa. É uma série que foi…
Ju: [cantarola] “o Papa é pop, o papa é pop…”
Ricardo Terto: [risadas]
Cris: Corta a Juliana!
Ju: [continua a cantoria] …”o pop não poupa ninguéeeeeeem”
Ricardo Terto: [risadas] É uma série que ela tem como protagonista o Jude Law e ela é dirigida pelo Paolo Sorrentino, que é um diretor que ele, acho que ele concorreu, não sei se ele ganhou, o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado com o filme “A Grande Beleza”. Essa série é fantástica porque ela traz… aí você fala assim: “pô, por que que eu vou assistir uma série sobre o papa?” É porque é um papa…
Ju: [interrompe rindo] é porque é um papa e ele não poupa ninguém!
Ricardo Terto: [risos] É porque é um papa… exatamente, ele é um papa pop. Ele é um papa que ele é uma mistura daquele protagonista do Mad Man com o, sei lá, com O Poderoso Chefão. Ele é muito sarcástico, ele é muito inteligente, charmoso.
Ju: [interrompe] E ele não poupa ninguém!
Ricardo Terto: E ele é meio ateu [ri da Ju]. Ele é meio ateu. E outra coisa, a filmografia da série é fantástica, meio surreal. Assim, o primeiro episódio de cara…
Cris: [interrompe] E é o Jude Law, né, amigo?
Ricardo Terto: E é o Jude Law. Nos primeiros dez minutos você já vende a série toda. Young Pope.
Cris: Eu quero ouvir… Que droga! Odeio quando cês fazem isso! Juliana, fala logo!
Ju: Eu indico um documentário que eu assisti de orelhada, na verdade, o Merigo assistiu pra gravar um braincast e eu estava trabalhando do lado porque germânica, é só isso o que eu faço, trabalho. Mas cara, o documentário é tão bom que ele me roubou do meu trabalho, que chama “Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94”. Cara, assim, o Merigo disse que teve duas horas mas eu não acredito nele porque não teve duas horas. Eu fiquei ouvindo, eu fiquei prestando atenção. A premissa do documentário é: se o rock morreu no Brasil, quem é o responsável? A última geração, evidente. Então eles sentam os Titãs e o Skank no banco dos réus e falam “que caralhos vocês fizeram que vocês mataram o rock, cara”? E é sensacional porque eles falam de um momento de um rock muito independente, de criar selo independente e de criar uma energia criativa ferrada de “vamo lá fazer o que a gente quiser. E azar dessas gravadoras, a gente não quer mais depender disso” e do surgimento do Raimundos, por exemplo, no meio disso e de como dessa efervescência tão grande, de onde surgiram bandas muito legais, como é que a gente pode ter desvirtuado a tal ponto em que nos dez mais tocados tem só sertanejo, sabe? Desvirtuado assim, considerando-se que você gosta de rock, né?
Ricardo Terto: ri
Ju: Não necessariamente o sertanejo é ruim, mas considerando isso.
Cris: A gente entendeu, amiga.
Ju: E aí, cara, é muito bom! Por que que é muito bom o documentário? Primeiro porque ele tem momentos, cara, muito raros e muito singelos…
Cris: [interrompe] É divertido, é isso?
Ju: …da galera assumindo a culpa. Então no final você vai ver o Samuel Rosa e… uma galerinha do… do Titãs ajoelhada no milho e falando “em algum momento a gente falhou [risadas] com a próxima geração” [mais risadas]. Caaaara, [Cris ri como se não houvesse amanhã] eu achei isso… depois de 90 minutos de construção, isso é até emocionante, assim, o cara falando assim “Porra, a gente falhou com a próxima geração”. E principalmente assistam esse documentário por causa do Miranda, cara. Pelo amor de Deus, eu amei esse cara, eu quero ele como meu melhor amigo! Miranda, se você está me escutando, se alguém conhece o Miranda, venha na minha casa, eu cozinho pra você PELAMOR DE DEUS! Eu ouvi as coisas, tipo, eu tava trabalhando, cara. E eu parava assim: “esse cara sabe que tão gravando ele”? Não é possível que ele falou isso, sabe?
Cris: É bem bom…
Ju: É sen-sa-cio-nal as coisas que ele fala, assim, a sensação de que você tá presenciando um momento histórico e você tá tipo… entrando nos bastidores de um momento histórico. É muito legal! Assim, assiste esse documentário! Eu juro que parece que tem 15 minutos.
Cris: ri
Ju: Cara, é muito louco! Ele é muito inconsequente, ele é muito… estragado das droga e… amigo, minha casa tem um sofá, vem aí!
Ricardo Terto e Cris: [muitas risadas]
Cris: Não sei o que dizer…
Ricardo Terto: …só sentir!
Cris: Cris, que que cê tem?
Cris: Nada! [risada geral] Bom, eu vou fazer uma indicação tão cartesiana que é bizarro, mas é que eu realmente gostei desse livro e queria dividir ele com vocês. O nome é “A Mágica da Arrumação” da Marie Kondo. Apesar de parecer inicialmente chato, eu, Cris Bartis, acredito que jogar coisa fora é um processo de descoisificação da vida. Acho que a gente leva coisa demais, coisa que não precisa, coisa que a gente jura que tem memória afetiva mas nem lembra mais de quê. E acho que a Marie Kondo tem uma técnica japonesa que ela desenvolveu, de uma maneira de arrumar coisas, arrumar a casa, preservar o arejamento, preservar o novo e jogar fora aquilo que no final das contas pesa muito e carrega pouco em termos de significado, que é um aprendizado muito interessante. É um livro muito fácil de ler, pequeninim, ele custa bem baratim. Coloquei o link aqui pra vocês porque eu acho que vale a pena mergulhar um pouco nessa experiência, principalmente agora com a chegada da Black Friday, pra entender um pouquinho de onde pode vir esse consumo e o que que ele pode gerar de acúmulo. Eu costumo pensar um pouco sobre mudança, né? Eu e a Juliana fazemos sempre uma brincadeira que, tipo, depois dessa última mudança eu quero morrer nessa casa, mas é o quanto de coisa você carrega que não necessariamente é essencial. E acho que ela traz essa reflexão, reflexão boa pros dias de hoje. Mas depois de Cris Bartis… Ai, meu deus, estou tão emocionada…
(Bloco 12) 1:51’00” -2:00’59”
Ju: [interrompe] UUUuuuhhh!!!
Cris: Tem uma maravilhosa aqui. Ela é tão bonita que eu queria que vocês estivessem aqui para ver. Além de ser a chefe, a diva-mor, a mandatória [mandatária] do grupo de transcrição, ela é bailarina, ela é mãe, ela é uma profissional e ela ainda traz um bolo maravilhoso aqui pra comemorar os dois anos de Mamilos. Lu Machado, minha querida, que bom te receber, te conhecer pessoalmente e me diga, que que você conta para o Mamilos dessa semana?
Lu Machado: Bom, primeiro, eu queria agradecer vocês por terem me recebido com tanto carinho aqui, eu que me joguei hoje nesse programa, tipo: ‘Cris, posso passar e dar um beijo?’…
[Risadas da Ju]
Cris: Nossa, é um….
Ju: [interrompe] Trouxe um beijo e um queijo, né?
Lu Machado: [interrompe] E um bolo.
Cris: Não… Pelo amor de Deus…Eu nunca vou te perdoar por essas lágrimas, nunca…
[Risadas da Lu e Cris]
Lu Machado: E, bom, o que eu tenho pra indicar foi o que eu fiz no feriado inteiro que foi assistir uma série, que eu sou viciadinha, que chama ‘Broadchurch’. É um série com David Tennant, que só isso já é o suficiente para qualquer um passar dez horas no sofá. É uma série, um drama policial no qual dois investigadores tem que descobrir o assassino de uma criança numa cidade super pacata na Inglaterra e essa busca deles começa a revelar mais sobre a personalidade de alguns moradores dessa cidadezinha. É uma série que, além de ser gostosa de assistir, ela tem uma fotografia bonita, diferente do bêabá de séries, uns ângulos de câmera bem legais, bonitos, então acho que vale a pena.
Ju: Gostei, adorei.
Cris: Muito bom. Temos um programa?
Ju: Poxa vida! Aí sim, fomos surpreendidas!
[Risadas da Cris]
Ju: Não é mesmo, Terto?
Cris: [interrompe] Não é mesmo, amigo?
Ju: Aí sim fomos surpreendidas!
Cris: Aí sim, né, amiga…
Lu Machado: Tatá, vamos partir o bolo!
Ju: Obrigado, gente! Vamos cortar esse bolo!
Ricardo Terto: Tim tim!
[Risada do Ricardo Terto]
Cris: Fica a gostosa sensação de mais um Mamilos no ar. Muito obrigada, gente!
Ju: [interrompe] De dois anos de Mamilos no ar, não é mesmo?
Cris: É isso aí!
[Sobe Trilha]
Deixa que assim se faça
O que é que a gente faz com ela
A revolução não será televisionada
Que assim seja, que assim se faça
–//–
[Transcrição do cotidiano do grupo de transcritores – Áudio feito pelos próprios transcritores e editado pelo transcritor Jonas Rocha]
Marcelitcha (Marcelli Ribeiro): Ai, gente, estou precisando desabafar… Eu juro que eu tento ser mamileira mas tem horas que fica difícil, viu… Tem gente que vou te contar, vai ser reaça assim lá no Texas!
Fer (Fernanda Cappellesso): Mas, assim, ‘cê’ tá falando do pedaço que ‘cê’ tá transcrevendo ou de gente da vida real?
Marcelitcha: [Risos] Não, Fernanda, estou falando da vida real mesmo. Se todo mundo fosse mamileiro a vida ia ser tão mais fácil.
Samu / 192 (Samuel Freire): Relaxa, coma paçoca! Tudo se resolve com paçoca!
Tática (Tatiana Criscione): Gente, eu acabei meu trecho mas tá meio esquisito, eu confundo as vozes… Dá pra alguém ir lá dar uma olhada?
Fer: Beleza! Acabei de entregar o meu aqui, peraí que eu vou rever lá o seu trecho.
Lu Machado: Gente, olha o André no grupo e já veio meio que com apelido pronto porque o nome dele é ‘Do Valle’.
Xaque (Jaqueline Chaves): Seja bem ‘viado’ à família mamileira, Do Valle.
Carina Santiago: Seja bem viadoooooo!
Nacarú (Ana Carolina): Seja bem viado!
Carlita (Carla Rossi): Seja bem viado, André!
Do Valle / MDVB (André do Valle): Oi, gente. Prazer!
Lu: Isso é uma piada interna, André, vai se acostumando… Então, galera, temos o aniversário do Mamilos chegando, eu tô recolhendo áudios de todo mundo e nosso grupo tá incluído, hein?
Carina Santiago: É pra fazer o que nesse áudio, Lu?
Lu: Vamos dar os parabéns no melhor estilo Grupo dos Transcritores.
Tática: A gente precisa de uma voz forte, pode ser um menino novo, aí, que a voz tá de parabéns.
Do Valle / MDVB: Ah, muito obrigado. Eu adoro elogios à minha voz, mas ‘cês’ não acham que como eu cheguei agora, eu ainda não represento vocês?
Carina Santiago: Para com isso, menino, esse é o grupo da inclusão! Aqui todo mundo representa alguma coisa, tem ‘ômi’ hétero, tem ‘ômi’ gay, tem mulher hétera, tem mulher lésbica, tem bi, tem poligâmico, tem pansexual, tem negro, tem branco, tem ateu, tem tudo… Todo mundo nu só na Mamilância.
Carla: E tem representante paulista, gaúcho, carioca, nordestino… Tem até gente transcrevendo lá de Toronto.
Bashtosh (Alan Bastos): Por falar nisso, cadê a Lets? Ela ficou de transcrever um pedaço, aqui, do último episódio mas não terminou ainda. Ah, a planilha tá atualizada, tá bom, gente.
Tática: Eu já terminei o meu… Ainda bem que era um trecho com a Cris De Luca falando. É tão bom transcrever quando ela tá falando! Melhor dicção do universo!
Fer: Ai, gente, transcrever realmente é o melhor job, né? O sotaque ‘mineirim’ da Cris, gente… É de matar.
Bashtosh: Com toda minha imparcialidade mineira, o sotaque da Cris é ‘bão’ demais de ouvir.
Fer: Só é meio estressante quando todo mundo fala junto, tudo ao mesmo tempo. Aí ferra tudo…
Nacarú: Ai, é verdade. Mas aí a gente reduz a velocidade e fica parecendo que tá todo mundo bêbado. E a Gika falando devagar estilo bebum é sensacional.
Gika [Áudio em meia velocidade] Eu fiquei triste agora…
Sam / 192 Falando em pessoas que falam rápido, o que é a Ju, minha gente?
Essa mulher parece uma metralhadora!
Lu E vocês viram que legais os e-mails que as meninas recebem de gente que se deu bem no ENEM graças ao programa! De chorar de emoção, né?
Lê / Lets (Leticia Dáquer): Caraca! É só eu não poder participar da conversa… Vocês não param de falar… Vô te contar, hein! Caraca!
Bashtosh: Rachei demais, Lets!
Lu E, Lets, aquela amiga sua que tá se separando ouviu o episódio de divórcio?
Lê / Lets: Cara, ouviu. E não só ouviu como amou e pediu indicação de outros podcasts para baixar, entendeu? Evangelizei! Gente! É pra glorificar de pé, senhores!
Bashtosh: Por que que vocês gostam tanto de transcrever o Mamilos e de ouvir o podcast?
Marcelitcha: Ah… O Mamilos me fez entender os meus parentes malucos… Fez também eu parar de chamar eles de malucos, pelo menos na frente deles… [Risos]
Carina Santiago: Gente, eu amo o Mamilos por um simples motivo que resume tudo: ele te transforma como pessoa! E é isso que eu falo pra todos que eu indico, mas é uma pena que nem todos dão bola pra quando eu falo isso. Não sabem eles o que perdem! Se todos ouvissem o Mamilos, o mundo seria bem melhor!
Lê / Lets: Com o Mamilos eu entendi mais do que eu já intuía, a necessidade de ouvir o coleguinha que tem a opinião radicalmente diferente da sua e usar essas informações até pra fundamentar minha opinião depois… Ou não, né?
Carlita: Eu amo Mamilos porque são polêêêmicos!
Sam / 192: Mamilos pra mim é um jeito gostoso de aprender sobre coisas que eu não conheço escutando os dois, três, quatro, todos os lados da história.
Fer: Com o Mamilos a gente aprende a ser mais tolerante, e fica mais inteligente também, né?
Bruna Defert: A palavra-chave pra mim é empatia, sem dúvida. Às vezes parece que quanto mais você pratica isso, mais difícil fica conviver com quem não tem nenhuma. Mas é um exercício constante que vale muito a pena.
Tática: Olha, o Mamilos me ensinou empatia, comunicação não-violenta e que o sotaque mineiro pega muito mais do que o gaúcho, ‘minina’?
Toronto (Alan Alexsander): Seiscentas mensagens! Alguém resume, aí?
Nicki (Diego Almeida): Pessoal, vou ter que concordar com o Toronto. Alguém pode fazer um resumo aí por favor?
Dani: To perdidinha, Toronto. Eu não conseguir ver o dia inteiro as mensagens. Gente, vou responder um monte de coisa antiga, tá? E como que participa do niver do Mamilos? Amo demais o programa. Desde que eu comecei a ouvir eu me sinto uma pessoa melhor, sabe? E eu tento ser mais empática todos os dias, assim… Sem contar que o programa junto com o sotaque delícia da Cris é de acalmar qualquer coraçãozinho angustiado. Vira e mexe estou me sentindo mal e o programa super me anima, mesmo quando é pesado. E eu adoro ser transcritora porque a gente consegue ficar ouvindo todos os programas de novo, com as vozes de bêbadas do pessoal [entre risos] quando a gente coloca na meia velocidade. Adoro! [Risos]
Xaque: Toronto, a gente só vai resumir sob condições de: Manda Nudes!
Lê / Lets: Oh, resumo, hein: paçoca, empatia é uma parada difícil, transcrever dá trabalho mas é uma ‘diliça’, geral ama sotaque, Cris De Luca pra vice-presidente da Michelle Obama em 2020, Mamilos melhores ouvintes. Gente, eu amo muito vocês todos.
Lu Somos uma Família de Amigos mesmo!