Transcrição: Mamilos 83 - Filhos e Paz Mundial • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição: Mamilos 83 - Filhos e Paz Mundial

Mamilos • Mamilos (Transcrição)

Capa - Transcrição: Mamilos 83 - Filhos e Paz Mundial

Jornalismo de peito aberto

Esse programa foi transcrito pela Mamilândia – o grupo de transcrição do Mamilos

Locutores: Pessoal para agilizar a formatação do texto para a publicação vamos transcrever já usando o nomes dos locutores como segue abaixo.
Ju:
Cris:
Caio:

Mari:

Camila:

Início da transcrição:

Transcrição feita por Jonas Rocha, Tati Criscione, Henrique Tavares, Letícia Paim, Fernanda Cappellesso, Matheus Teixeira, Pri Rigotti, Alan Bastos e Lu Machado.

(Bloco 1 – 0:26)
[Vinheta de introdução]
Este podcast é apresentado por b9.com.br
[sobe trilha]
[desce trilha]
Cris: Mamileiros e mamiletes, bora ouvir esse seu podcast do coração unido na faxina, na academia, no trânsito e mesmo no trabalho. Reflexões gostosas, gritos com o celular, choros e risos. Bora pra mais uma conversa comigo, Cris Bartis, de volta depois de uma semana dos infernos, e a garota da voz aveludada…
Ju: Ju Wallauer. Som do Mamilos. Caio, dono desse mamilos, o muito amado, o cara que edita, é carinhoso e manda bem nas cabines de som, o que temos para hoje?

Caio: Olá personas! Corraini aqui novamente para trazer pra vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana!

Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical desse programa pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail:
[email protected]
[email protected]

E facilita e muito a minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. Nessa edição nós iremos ouvir a Filarmônica de Pasárgada. Um grupo cujo as canções se encontram misturadas aos mais variados gêneros. Desde a música eletrônica até o funk carioca passando pelo axé e por composições românticas. Então fiquem aí com a Filarmônica de Pasárgada no Som do Mamilos.

[sobre trilha]

“Pra você sumir na massa
Rua Augusta, Vinte-e-cinco, São João
Pra você dançar na pista
Lady Gaga, gafieira, batidão”

[desce trilha]

Cris: E tem beijo! Beijo para Dourados, no Mato Grosso, em especial para o Caio Ferri.

Ju: Para Santa Luzia, na Paraíba.

Cris: Para Zurique, na Suíça

Ju: Para Fortaleza, para o Jader

Cris: Para os alunos de jornalismo da Cásper Líbero que estão fazendo uma matéria sobre a representatividade feminina nos podcasts brasileiros. Depois manda pra gente ler!

Ju: Fale com o Mamilos, gente! Nós temos uma equipe muito especial, muito fera. Na Edição e no Som do Mamilos o Caio Corraini. Nas redes sociais o Guilherme Yano e Luanda, seja bem vinda! Beijos carinhosos pra MC que esteve conosco por um tempo e agora vai brilhar muito em Princeton. No apoio a pauta a Taty Araujo. Sempre buscando links pra gente. E na transcrição dos programas a Lu Machado, que eu conheci essa semana. Beijo Lu!

Cris: Fiquei com inveja, viu?

E vamos para o merchand. Um merchand super especial porque na verdade ele é um convite.

O YouPIX CON já se tornou o evento mais relevante sobre conteúdo digital e criadores de conteúdo no país. Partindo de quarto macro-temas, que são Conteúdo, Negócios, Plataformas e Tendências, vão acontecer 30 atividades diferentes que vão discutir as melhores práticas, transformações e visão de negócios sobre conteúdo digital no dia 28 de setembro. E adivinha: o Mamilos estará nessa a partir do convite da querida Bia Granja! Nós vamos participar de um painel digital que será transmitido via streaming por toda a ‘interwebs’ e nós vamos falar um pouquinho sobre produção de conteúdo quente, de notícias, contar um pouco da nossa experiência do Mamilos. É claro que os melhores ouvintes tem desconto para assistir essa transmissão. Então vocês tem que entrar lá no site http://youpixcon.com.br e vão usar o código ‘mamilosyoupix’ pra comprar esse pacotinho com desconto e ouvir esse streaming que não é só do Mamilos, tem várias outras pessoas legais também. Mas a gente precisa muito do apoio dos Melhores Ouvintes, saber que vocês estão do outro lado, estão nos ouvindo aquece o coração.

Ju: E pra quem for lá, saibam que terá muitos selfies sim senhor!

Cris: Vamos então para o fala que eu te escuto?

Ju: Bora.

[sobre trilha]

…também.

[desce trilha]

Ju: Vou começar com o da Tamires

“Pensar em suicídio é querer calar uma dor que não tem nome. É tentar dar fim a um vazio existencial tão grande que nada mais faz sentido. É pensar que não há saída. É a escuridão que te acompanhada dia e noite. Falar sobre suicídio é dar um nome e destino a essa dor; é encontrar esperança mesmo no vazio; é buscar uma saída. As palavras têm um poder muito grande… Elas podem curar, mudar, ensinar e fazer refletir. E isso me salvou. Eu nomeei meus demônios, pedi ajuda e recebi em troca compreensão, empatia e cuidado – isso fez a diferença.”

Cris: A conversa que a Thais teve conosco foi:

“Agradeço pelo programa. Ele foi um abraço sonoro, foi acolhedor, foi lindo! Além da vergonha de contar o que pensamos, existe uma vontade enorme de ser vista, ser aceita e abraçada com ternura. O mais lindo é ver meus amigos compartilhando este abraço (o programa) e pedindo para seus respectivos amigos escutarem. Esta campanha e a sensibilidade com que os comunicadores têm abordado o tema faz com que estes pequenos passos se tornem infinitamente significativos. Muito obrigada de coração!”

Ju: O Rafinha Martinelli que é Palhaço e podcaster do Flores no Asfalto, mandou assim:

“Quando estavam falando sobre a importância de ouvir lembrei-me de uma situação que passei numa intervenção de palhaço. Estava perambulando pelas ruas quando vi um homem sozinho sentado num banco de praça com um aspecto muito triste. Conforme fui me aproximando, vi que ele nem me olhava nos olhos. Num trabalho de palhaço uma troca de olhares é essencial para estabelecer uma relação e isso ajuda muito a pensar o grau de receptividade do espectador. Me sentei ao seu lado, ele me cumprimentou com um “opa” sem desviar o olhar do chão. Fiquei ali. Sentado, quieto, sem gracejos. E por lá fiquei uns cinco ou dez minutos, parado ao lado dele, também olhando para o chão. Até que ele se levanta, eu levanto em seguida. Do nada, ele me abraça, bem forte. Digo, BEEEM forte mesmo. A ponto de prender meus braços ao lado do corpo de modo que nem pude abraçar de volta. Quando me solta, pela primeira vez me olha. Olhos vermelhos e lacrimejantes. Leio “obrigado” saindo de seus lábios, sem ao menos soltar um som. E depois ele vai embora. Foi só isso. Mas aprendi que conversar tem muito pouco a ver com palavras. E, enquanto palhaço, aprendi que animar alguém tem menos ainda a ver com fazer graça.”

Cris: A gente recebeu muito, muito, muito, muito email. A primeira coisa que eu tenho que fazer é parabenizar a Juliana. O programa ficou brilhante! Eu fui audiência dessa vez. Agradecer o Fê Duarte que me substituiu tão bem que eu senti que eu posso sair de férias sossegada. E Agradecer as pessoas que tem tanta confiança e nos contaram tantas coisas ao longo dessa semana. A gente respondeu na medida do possível. E entendeu que muitas vezes nem era uma resposta não, era pra ser ouvido mesmo. Então é um programa muito importante. Que é um orgulho pro Mamilos ter colocado no portfólio um tema tão sério.

Ju: E tudo o que vocês nos mandaram a gente encaminhou para o Fê e para a Silvia. Isso é muito legal porque as pessoas doam seu tempo, a sua experiência, o que elas sabem. E a Silvia mesmo a gente entrou em contato com ela por uma série de fatores. A pessoa que ia vim e não conseguiu vir. Enfim… A gente tentou um monte de gente e a gente contactou ela uma hora antes do programa. Então assim, ela se dispôs…

Cris: Ela tem muito voz de CVV, né? Gente do céu!

Ju: Ela se dispôs, ela veio aqui. Então, assim, tudo o que vocês falam do programa a gente encaminha pra eles porque é uma forma de agradecimento que a gente tem…

Cris: [interrompe] Reconhecimento…

Ju: …De mostrar o quanto valeu esse esforço de vir aqui. Então, assim, quem for ouvir o programa depois, se você não ouviu agora, vai ouvir daqui uma semana, daqui um mês daqui três meses, dêem feedback. Porque isso é o pagamento que a gente dá para as pessoas que vem aqui. Isso é super importante. Sabe? Saibam disso. Eles estão acompanhando, eles tão muito felizes, isso dá um quentinho no coração cada email que vocês mandam dá um quentinho no coração, dá uma alegria, dá uma sensação de que a realmente gente fez uma diferença. Que foi importante aquilo. Então muito obrigada por quem mandou email e continua mandando.

Camila: Eu queria aproveitar pra sugerir, convidar todos os ouvintes a entrarem no blog http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/ e ir na categoria “suicídio”. E lá tem artigos e posts que falam sobre ferramentas para a prevenção do suicídio, posvenção, características, como prevenir, mitos, enfim, tem estatísticas, tem bastante coisa lá que eu acho que pode ser legal.

Cris: Aproveita que você já deu essa palhinha e fala quem é você que veio nos visitar depois de um período de ausência porque estava colocando mais um bebê no mundo.

Camila: Eu sou Camila. Eu escrevo em um blog na Folha chamado “Morte Sem Tabu”. E pari recentemente!

[risos]

Camila: Teve um post que se chamava “Morte Sem Tabu pede Licença Pra Parir”. Pra nascer.

Cris: É, lindo! Com as fotos, né? As fotos maravilhosas.

Camila: É isso, sou eu.

[risos]

Cris: Back!

Camila: E tenho além de… Minha bebê agora tem seis meses e além dela eu tenho um filho de dois anos e oito meses.

Cris: Olha que legal! O Mamilos dá licença maternidade de seis meses!

[risos]

Camila: É! Muito!

Cris: Olha que beleza.

Camila: Muito bom.

Cris: É para usar o “Mamilos” para outro fim!

[risos]

Cris: E quem está do outro lado da mesa, se apresente.

Mari: Oi, eu sou a Mari. Também conhecida como Mariana Della Barba. Eu sou jornalista. Super feliz de estar aqui de novo. E eu sou mãe do Teo e da Liz. Hoje a gente vai falar bastante desse assunto, então, eu sou a mãe deles. Espero que já estejam dormindo.

[risos]

Cris: Vamos passar rapidamente pelo Giro de Notícias, então.

[sobre trilha]

“…sofá ficou vazio.”

[desce trilha]

Ju: A morte de Domingos Montagner e os índios da Bacia do Xingu.

Você já ouviu falar em “tsunamis artificiais”? A comunidade ribeirinha nas proximidades da Usina Hidrelétrica de Xingu, em Sergipe sabe. E muitos já perderam casas, barcos e até filhos para esse movimento provocado pela vazão da água com abertura de comportas da empresa. Não está claro se houve uma alteração do fluxo no dia do acidente, mas a morte do ator global escancarou a polêmica falta de comunicação da empresa com os indígenas Juruna da Volta Grande que vivem às margens do rio e nunca são informados sobre os movimentos. Os Juruna falaram que “não parece mais um rio, parece maré, sobe e desce”. Só que maré tem hora certa de subir e descer, e o rio, agora, não. Ele sobe e desce a qualquer hora” explica o especialista em barragens Brent Millikan.

Cris: Jogos Paralímpicos se encerram com mensagem de igualdade e otimismo.

Os Jogos Paralímpicos Rio 2016 começaram no dia sete e se encerraram no domingo, dia dezessete. Ao longo de onze dias, a capital carioca recebeu os melhores atletas do paradesporto do mundo, que encheram arenas esportivas na cidade com emoção, garra e grandes destaques. O evento que, se inicialmente teve vendas tímidas, acabou consagrado como o segundo maior em público da história. Foram mais de dois milhões de ingressos comercializados que levaram a edição brasileira a passar a frente dos Jogos de Pequim, realizados em 2008, ficando atrás apenas de Londres em número de espectadores. O Brasil almejava ficar entre os cinco maiores países do mundo no paradesporto mas acabou ocupando a oitava colocação no ranking, apesar de ter conquistado o maior número de medalhas na sua história na competição. O encerramento foi emocionante mostrando que se tem uma coisa que combina com o brasileiro é o espírito olímpico.

(Bloco 2 – 11:47)
Ju: É. Eu já vi que mandaram uma petição para ter Copa um ano e as Olimpíadas no outro, Copa um ano e as Olimpíadas no outro. Eu assino. Acho que é uma boa.

[risos]

Cris: Menina, eu acho bom! E outra coisa. Mamileiros ouviram, né? Tipo… “Vá aos Jogos Olímpicos”. Olha isso! Esse pessoal…

Ju: Não… A gente lotou, viu? Velho, eu vou te falar que depois que a gente falou foi sucesso total!

Cris: Total.

Mari: Eu acho.

Ju: A reforma trabalhista proposta por Temer.

O documento, que ainda será encaminhado pelo governo ao Congresso Nacional e pode sofrer mudanças, é alvo de especulações — sobretudo quando o assunto é jornada de trabalho: a proposta prevê um limite de doze horas diárias, com horas extras. O “Aos Fatos” checou dúvidas recorrentes nas redes sociais e publicaram o que é possível saber até o momento e o que ficou sem explicação nessas primeiras diretrizes divulgadas pelo governo. Sugerimos a leitura da matéria e claro, mais para frente, vamos falar desse assunto aqui no mamilos.

http://aosfatos.org/noticias/o-que-sabemos-ate-agora-e-por-enquanto-sobre-reforma-trabalhista-de-temer/

Cris: Vamos então para o “Trending Topics” número um. A gente chegou nas redes sociais, pediu um monte de pauta. Queríamos falar de coisa fofinhas. Gente! Como estamos carentes de coisas fofinhas. Né? Então a gente foi buscar a nossa pauta dentro de casa mesmo. Nós vamos falar um pouquinho sobre filhos e os dias atuais. Então o fato é: são tantas dicas, mudanças. Faça assim, faça assado. Isso não pode, agora pode. Mas isso nem pensar! Vai nessa que funciona. Agora escolhe a linha pedagógica. Essa alimentação não é boa. Não esquece de brincar junto. De hidratar, de empoderar , de dar limite, de dar espaço. De não dar limite porque isso limita, mas precisa de disciplina. Antes nossos pais tinham uma certeza: lugar de criança é com criança. Vai dormir sem jantar pra aprender. Certo ou errado, tanto faz, eles pareciam cheios de razão. Hoje os desafios são outros e muito se fala dos papéis dos criadores. Mas depois de um tempo você percebe que existe uma fórmula mágica uma coisa única, que funciona pra todo e qualquer filho, uma solução quase milagrosa e o nome dela é: conhecer seu filho. O programa de hoje vai falar sobre os filhos. Quem são eles? O que querem afinal? E nós com isso? Como sobreviver algo que você ama e te joga no vortex sugador de energia? Vem com a gente morrer de rir e de chorar!

[entrevista com a Nina, filha da Ju, de três anos]

Ju: Quem desenhou na parede da mamãe?

Nina: A Nina.

Ju: A Nina desenhou?

Nina: É.

Ju: Mas não pode desenhar na parede. Pode?

Nina: Sim!

Ju: Não! Não pode. A mamãe brigou?

Nina: Sim.

Ju: O que a mamãe disse?

Nina: Para nããããão desenhar a parede da mamãe.

Ju: Pra não desenhar na parede da mamãe. Onde que pode desenhar?

Nina: Na parede aqui.

Ju: Na parede do banheiro pode. E onde mais que pode desenhar?

Nina: No papel.

Ju: No papel, muito bem. E aí o que a Nina teve que fazer para limpar a parede?

Nina: A Nina vai limpar.

Ju: A Nina limpou a parede?

Nina: Sim.

Ju: Com o quê?

Nina: Com a vovó.

Ju: Com a vovó e com a esponja, né?

Nina: É

Ju: Você limpou tudinho?

Nina: Sim.

Ju: E agora a Nina não vai mais pintar a parede, né?

Nina: Sim.

Ju: Muito bem! Nina, o quê que você é?

Nina: Eu sou uma maluca!

[risos]

Nina: Uma maluquica!

[risos]

Ju: Você é maluquinha?

Nina: Sim!

Ju: Você é obediente, Nina?

Nina: Sou obediente com a vovó.

Ju: Você é obediente com a vovó? Quem é o amor da mamãe?

Nina: É a Nina!

[risos e balbúcias engraçadas]

[entrevista com o Benjamin, filho da Ju]

Ju: O que deixa o Benjamim muito bravo?

Benjamim: Brigar.

Ju: Brigar te deixa bravo?

Benjamim: Sim.

Ju: O que mais te deixa muito bravo?

Benjamim: Bater.

Ju: Bater?

Benjamim: Sim.

Ju: Você não gosta que batam em você?

Benjamim: Sim.

Ju: Quem que bate no Benjamim?

Benjamim: A Nina.

Ju: A Nina?

Benjamim: É a Nina.

Ju: E quando a Nina bate em você, você fica bravo?

Benjamim: Sim. Bravo! Grrrr…

[balbúcias de bravo]

Ju: Quando que a mamãe fica brava, muito brava?

Benjamim: Quando desobedece.

Ju: Quando desobedece?

Benjamim: Sim.

Ju: E o Benjamim desobedece muito?

Benjamim: Não.

Ju: Não?

Benjamim: Não.

Ju: E o quê a mamãe fala quando o mamãe está muito brava?

Benjamim: Sério.

Ju: Mamãe fala sério?

Benjamim: Sim!

Ju: É?

Benjamim: Sim!

Ju: E a mamãe bate no Benjamim?

Benjamim: Não.

Ju: Não?

Benjamim: Não.

Ju: O que a mamãe faz quando a mamãe fica muito brava?

Benjamim: Briga.

Ju: Briga?

Benjamim: Sim.

Ju: A mamãe conversa com o Benjamim?

Benjamim: Sim!

Ju: O Benjamim é um bom menino?

Benjamim: Sim!

Ju: Quem que é mais bravo o papai ou a mamãe?

Benjamim: A mamãe.

Ju: A mamãe? Por que?

Benjamim: Porque ela fala sério.

Ju: Ela fala sério?

Benjamim: Sim.

Ju: E o papai quando está bravo, como que ele faz?

Benjamim: Ele briga.

[entrevista com a Tamires, filha da Cris]

Cris: Tatá! Qual a maior travessura que você já fez até hoje?

Tatá: Soltei um pum na loja.

Cris: E o quê aconteceu quando você soltou o pum?

Tatá: O pum fedeu.

[risos]

Cris: E aí, o que aconteceu?

Tatá: E aí fedeu.

Cris: A mamãe ficou feliz ou brava?

Tatá: Brava.

[muitos risos da Tatá]

Cris: Tatá! Quando você crescer, qual é o problema do mundo que você quer resolver?

Tatá: A presidência.

[risos]

Ju: Recentemente saiu uma matéria no hypeness falando “pais tiram fotos de seus filhos chorando e contam o motivo”. É de rir de longe, mas de chorar de perto. São muitas fotos de crianças aos prantos, vermelhas, estiradas no chão e explicações de motivos como:


“Eu tentei tirar a cerveja da mão dela.”
“Não deixei ela brincar com um saco de cocô de cachorro.”
“Eu não deixei ele lamber o tapete da porta.”
“Eu falei pra ela que o Darth Vader era do mal.”
“Eu não quis deixar ele fazer uma tatuagem.”
“Ele não queria ir… mesmo a gente falando várias vezes que não estava indo pra lugar nenhum.”

E por aí vai. E aí meninas. Tem pirraça em casa? Como vocês lidam com isso e o que tira vocês do sério?

Mari: Tem muita pirraça, eu acho.

[risos]

Ju: Na minha casa não, sabe? Tipo… não.

Mari: Na minha casa não…

Cris: Eu tenho o controle

Mari: …eles se comportam super bem. Eles nunca brigam. E basta ver o meu Instagram para ver que é tudo lindo, né?

[risos]

Cris: Olha, na verdade no seu Instagram é, amiga. Seus filhos são lindos e tudo parece muito em sintonia.

Mari: Exato! Exatamente. Eu acho que o Instagram serve pra isso, na verdade. Só coisas fofas e não vamos falar de nada ruim, e tal. Tem muita pirraça na minha casa e eu tenho os meus filhos, o Teo tem 7 anos e a Liz tem 4, e eles têm personalidades completamente diferentes. São diferentes em tudo. Eles brigam muito. Então sempre tem um motivo para discussão. Sempre tem uma polemiquinha. Uma disputa de coisas muito relevantes, tipo, quem vai apertar o botão do elevador primeiro. É muito importante.

[risos]

Ju: Mas como que você lida com isso. E qual é a pirraça que mais te tira do sério?

Mari: Como que eu lido eu acho que depende.

Cris: Mal! Muito mal!

[risos]

Mari: Eu choro.

[risos]

Ju: Tem hora que eu choro em posição fetal, é isso.

[risos]

Ju: Tem hora que eu me tranco no quarto, tem hora que eu fujo pra casa da minha mãe.

Mari: Não, sério! Eu estou com uma tática muito boa agora, eu gostaria de sugerir, que é assim. Eu geralmente acordo e tomo um banho. Mas agora eu não faço mais isso. Eu espero e quando os dois começam a brigar eu vou tomar banho.

[risos]

Mari: Porque daí eles podem falar o que eles quiserem que eu vou estar embaixo do chuveiro, eu não vou estar escutando. E é o certo isso, não é? Não bancar o juiz. Não é isso que todo mundo fala? Você não pode ficar de um lado ou do outro. Eu estou ó…

Ju: [interrompe] No chuveiro!

Mari: Saindo da discussão e estou deixando eles resolverem os próprios problemas. Porque irmão está aí pra isso, não é? Para te treinar para o mundo, porque eu acho isso. Mais pra frente você vai ter que lidar com o seu chefe, seu namorado com a galera da vida. Então daí eu uso essa tática, agora. Pode ser um pouco…

Ju: [interrompe] Toma banho cinco vezes ao dia.

[risos]

Mari: Desculpa pessoal, estou tentando. Fico lá, sei lá. As vezes seco até o cabelo depois. E quando eu volto está tudo bem porque uma hora eles tem que se resolver. Funciona hoje, também. Pode ser que semana que vem não funcione mais. Eu acho que esse que é o lance, você ir sempre se adaptando.

[risos]

Mari: Mas o que me tira mais do sério, eu acho, é desculpinha. Sabe desculpinha?

[risos]

Ju: Sei!

Cris: Desculpinha é tenso.

Mari: Eu tenho pavor! Eu tenho pavor nisso em adulto.

Camila: O que é desculpinha?

Mari: “Ah! Eu não guardei o brinquedo porque no meio do caminho eu estava fazendo isso e… não deu!”

Ju: Tinha uma pedra!

[risos]

Mari: “Não deu pra eu colocar o leite sem derramar porque tava muito cheio” e aí não dá mesmo!

[risos]

Camila: Sei! Nossa…

Cris: Existe uma não admissão, né? Nunca é…

[risos]

Cris: Nunca é tipo “sorry”. Nunca!

Mari: Não, Nunca.

Cris: Sempre tem uma justificativa intergalática, uma intervenção e um super-herói que fez isso.

Mari: Sempre, sempre. Total! E eu acho eu acho que é porque isso me irrita muito em adulto, então eu tento ficar louca para não deixar eles ficarem assim, dando desculpinha. Pra falar que derramou todo o leite e “desculpa, eu vou limpar”. Nunca é isso né? é sempre tem um motivo.

Cris: Assume! Né? Eu brigo muito por isso também… assume!

[risos]

Mari: Assume!

Cris: O problema não é o erro o problema é não assumir!

Mari: É. E vai resolver, ao invés de ficar inventando desculpa.

Cris: O tempo que você está inventando você já tinha resolvido essa porcaria.

Mari: Secou, limpou o leite. Mas as vezes eu não aguento e dou risada. Ontem mesmo… A Liz nunca guarda os brinquedos. Nunca mesmo, é um saco. Daí eu fui e eram uns pinguinzinhos, assim. Aí a hora que eu voltei eu falei “mas não é possível que você ainda não guardou esses brinquedos!”. “É porque agora eles estão conversando”.

[risos]

Mari: Ah! Claro, ótimo. Então tudo bem, eu espero eles acabarem de conversar pra você guardar.

[risos]

Mari: Enfim, essa é uma desculpinha engraçada. Mas normalmente é bem irritante.

Ju: Então… isso é uma coisa que eu já tomei pito da pediatra. Porque é isso, sabe? A minha filha mais nova ela é a engraçadalha, sabe? E todo mundo chora de rir com ela, e tudo é engraçado, a vida é uma festa, ela não toma consciência de nenhuma bronca, ela sai andando e rindo e rebolando de qualquer bronca e a gente, sem querer, estava sendo levado nessa, né? Porque você acha engraçado, acha bonitinho.

(Bloco 3 – 21:02)
Mari: Sendo a plateia dela né?
Ju: Exato, sabe? E aí a pediatra deu um super puxão de orelha, ela falou assim “tudo bem, vamos lá, talvez por ela talvez funcionasse ok, porque beleza ela vai se resolver na vida, ela saca as coisas, ok. Mas o irmão dela tá do lado, assistindo tudo isso, e ele como a dinâmica é completamente outra por tudo vocês brigam com ele porque ele briga por tudo entendeu? Então o que que ele vê os pais só rindo da irmã e só brigando com ele, então isso aí nunca vai funcionar, entendeu?” A regra tem que ser a mesma e por mais que, como a Cris falou na introdução ‘você tem é que criar as regras de acordo com o seu filho, respeitando o que funciona pra ele e a linguagem que funciona pra ele quando você tem dois na mesma casa de alguma maneira você tem que criar uma regra comum, vai…
Mari: [interrompe] Mais adaptada. Adaptada a cada um
Ju: Adaptada, é… mas você tem que cuidar com isso né? E eu acho assim é bem desafiador ter mais de um filho por conta disso, porque você tem que ao mesmo tempo adaptar a regra mas fazer alguma coisa que fique justa né?
Cris: Camila, você era uma pirracenta quando você era pequena. Como que você vê a sua infância e agora vê seus filhos?
Camila: Você falou disso e eu lembrei agora de uma consultora de sono que eu consultei que me falou que quando um bebê nasce o choro do bebê remete à nossa infância, às nossas dores, de alguma forma a gente acaba revivendo muito a nossa infância, né, nesses primeiros meses assim que os bebês choram muito então tem pessoas que são muito sensíveis a choro e suportam pouco, que é bem o meu caso (todas riem). Eu tenho muita dificuldade, minha filha agora chora muito pra dormir porque os bebês não sabem dormir, né, precisa aprender é uma dificuldade esse negócio, pra mim é assim botei na cama – ‘durma bem’ – saí. Não! Chora, chora, chora, chora… Agora eu, eu lembro muito dos meus pais falarem que queira sempre entrar no meio dos dois, se eles tavam abraçados eu entrava no meio dos dois…
Cris: [interrompe] A Tatá é assim…
Camila: Se eles tavam conversando eu gritava, ela é assim também? Ela quer separar os pais de qualquer forma?
Cris: Não, ela acha que a função da vida da gente é ela.
Camila: É, eu era assim, filha única ainda eu.
Cris: É, ela ainda é filha única.
Camila: Então queria chamar atenção o tempo todo.
Cris: Como assim vocês têm um assunto que não sou eu?
Camila: É…
Cris: Como assim vocês estão rindo de algo que não diz respeito à minha pessoa? (Risos) A sensação que eu tenho é essa, que ela tem…
Camila: Eu era assim, queria chamar atenção o tempo todo, eu era mimada, (Risos) Espero não ser mais tanto.
Cris: A Tatá não é pirracenta, nunca foi desde pequenininha, ela dá umas empacadas e tal mas ela não é pirracenta, ela não chora ela não briga mas ela… Ela tem uma linha do tempo de negociação infinita, infinita, não acaba nunca sabe? ‘Mas é que’, ‘veja bem’, e ela tá desenvolvendo isso cada vez melhor. Ela fala ‘cá entre nós’, olha as expressões ‘pensa comigo’. Ela repete exatamente tudo o que eu falo, se ela é um espelho meu eu sou muito chata, sou insuportável! (Risos) Porque aí a pirraça dela é assim ela fica mal humorada, ela deu dois xiliques só sabe, mas foi muito assustador porque eu nunca tinha visto ela fazer aquilo. Um foi no supermercado que eu juro que eu tive a ponto de ir embora, deixar ela lá para todo o sempre (Risos) foi muito assustador…
Mari: A troco de quê?
Cris: Então… Foi uma coisa realmente muito séria, então não tiro a razão dela. Foi uma situação limítrofe porque ela pegou uma caixinha e a caixinha não abria e aí a caixinha não abria e aquilo se transformou na terceira guerra mundial porque a hora que ela começou a tentar abrir a caixinha e a caixinha não abria ela começou a ficar nervosa. E eu falei ‘filha, larga isso’, ela devia ter uns três anos, ‘filha, larga isso, cê tá ficando nervosa’, ‘Rrrrrr’ e segurou a caixinha, eu já… Tipo, sabe quando o seu cachorro avança em você (Risos) foi tipo isso, cê toma um puta susto, e aí eu ‘filhinha, dá pra mamãe, cê tá ficando nervosa com isso, larga isso’, ‘Rrrrrrr’, segurou de novo. Aí ela pegou a caixa e jogou dentro do carrinho assim e pegou de novo pra ver se abria e aí eu falei ‘me dá isso’, tirei da mão dela. Hãããããã, meninaaaa…
Camila: [interrompe] Cê interrompeu todo o fluxo dela de tentar se superar, aquelas coisa toda…
Cris: Tudo bem eu pego a caixinha e pago a terapia depois eu não sabia que ia explodir aquilo. Ela gritou, ela chorou, ela tava dentro do carrinho do supermercado ela segurou nas laterais do carrinho e fazia ‘Rrrrrrrrrrrrrrrrrr’ (Todas riem)
Camila: Bicho.
Cris: E aí as pessoas olhavam né, passavam e olhavam…
Mari: É isso que eu ia perguntar, se olharam.
Cris: E aí eu fui e falei assim ‘cadê aquele manual mesmo que fala que cê tem que respirar e que tá tudo bem, que não liga pros outros e tudo mais’? E aí eu olhava pr’aquela criança e não era minha filha, era tipo alguma coisa tinha possuído ela, entendeu?
Camila: E como acalma?
Cris: Então, eu falei no ouvido dela assim ‘para com isso senão a gente vai embora’ bem baixinho e aí ela… É como se eu não tivesse feito nada e aí eu tentei pegar ela no colo e ela agarrou no carrinho e falou ‘ tipo, daqui eu não saio’. Ela entrou numa crise e aí eu falei cara eu não tenho…
Ju: Chama tantrum né isso.
Cris: Eu não tenho o que fazer. E aí o que que eu fiz? Sai empurrando o carrinho, continuei fazendo as compras como se nada tivesse acontecido com todas as pessoas olhando pra mim é falando “ olha que mãe de merda, olha que criança louca”. Isso foi uma vez, e a segunda vez tem mais ou menos um ano tinha uma festa na escola eu sei lá porquê eu coloquei um macacão nela e aí ela fez uma malcriação assim tipo ‘isso é uma porcaria’ alguma coisa assim e eu falei “olha você tem que respeitar…” Sei lá eu dei um esculacho, mas assim uma coisa de leve e ela falou ‘eu quero ir com aquele vestido e ela foi extremamente autoritária e sei lá, foi ruim a situação…
Ju: [interrompe] Mal criada…
Cris: Cara essa menina entrou num looping da loucura igual ao do mercado mas por causa de uma roupa.
Mari: Mas ela ainda tava na sua casa, não na festa?
Cris: Tava em casa. Mas aí entrou num negócio e aí ela foi chorando e aí ela berrava e aí ela ficou louca e eu fui e falei “Agê, toma”. Porque o do mercado eu tava sozinha.
Camila: O meu filho faz isso direto entrar no looping, direto. Eu deixo ele deixo ele chorar.
Cris: Foram duas vezes e eu fiquei tipo “caramba meu que surreal isso”.
Ju: Então, mas tem uma coisa que é um pouco diferente porque não tenho muita certeza e cada um tem a sua linha né, mas eu tinha de criação que você tem que falar e seu filho tem que ouvir, que ele tem que obedecer…
Cris: [interrompe] É que não tinha outra opção não né…
Ju: Ele tem que obedecer né, então eu tinha uma expectativa de maternidade que era muito de domesticar que nem cachorro né você fala, ele escura e tal. É a minha realidade foi completamente diferente. E aí eu acho difícil conciliar com a minha expectativa e com o que a gente sabe hoje né porque por exemplo vai, falando de tantrum assim, o Benjamim já tem 4 anos então ele já passou da fase pior de birras assim de entrar num looping né, mas ele tava saindo da escola com o melhor amigo dele, que ele adora que vivem se abraçando e beijando, literalmente, e aí ele queria o brinquedo do amigo e o amigo não queira emprestar pra ele e ele teve uma crise, começou a gritar, berrar e o Merigo coitado com duas mochilas, com uma filha no colo e tentando intermediar a crise ali e aí o Merigo tirou dele e aí o Benjamim se jogava no chão, batia no Merigo e assim, mas descontrolado absolutamente descontrolado, berrando, assim e nisso, obviamente, o que que a irmã faz, que tá no colo? Começa berrar com o pai também…
Mari: [interrompe] Que ficou assustada de ver o irmão…
Ju: ‘Olha o que você tá fazendo com ele’, porque ‘olha aí’, porque ‘para, dá isso pra ele’, porque ‘ele não quer isso’ então aí é caos completo, coitado do pai ficou completamente louco. Só que essa… A vantagem eu não estava, quando o Merigo foi me buscar depois disso ele me falou o que aconteceu, eu não estava, cê não está emocionalmente envolvida, cê não tá com vergonha, você não tá com raiva, você não tem expectativa nenhuma e tal e ele falou “Ó aconteceu isso, isso é isso” ele falou eu tava no viva-voz do carro e eu falei “é verdade isso Benjamim?” E aí já tinha passado a crise e aí ele fala ”sim, a culpa é deles que não quiseram me dar o brinquedo” , a culpa nunca vai ser minha, a culpa é minha, eu ponho em que eu quiser, definitivamente não é minha! E aí eu falei “ não tudo bem, então a gente vai conversar muito sério” e aí eu tive tempo pra pensar que é uma coisa que como mãe a gente nunca tem. No calor da hora, primeiro você tem que lidar com a suas emoções e você tem que responder na hora e aí é difícil ter a melhor resposta. E aí eu me dei conta que assim, a gente às vezes lida com assim ‘cara é simples, você tem que aprender a dividir brinquedos, você tem que aprender…’ E aí assim de fora você enxerga que cara não é nada simples a questão aí é aprender a lidar com frustração, a maior parte dos adultos que eu conheço não sabe…
Mari: Não sabe.
Ju: Então mano e gente não tá falando de uma coisa simples, cê não pode virar pra criança e achar olha aqui é simples é só fazer tal coisa, entendeu? E gritar e botar de castigo e bater, nada disso vai resolver porque assim a gente tá falando de uma dificuldade real de ser humano que é como você lida com frustração, isso vai ser issue da sua vida inteira entendeu?
Camila: Mas é por isso que é bom deixar chorar pra ele extravasar aquilo, relaxar, pra depois ele começar a raciocinar…
Ju: Sim, mas aí o que eu pensei Camis é… Essa é a diferença de abordagem que eu só consegui ter porque eu não estava na situação, que foi assim, eu entrei no carro e eu falei assim “Benjamim você teve um xilique né, você fez muito errado com seu amigo e com seu pai, certo?”, “Certo” e aí eu falei assim “não se preocupe a mamãe vai te ajudar”. Então não é ‘Ah eu vou te dar um castigo, agora você vai…’ Não. É ‘Eu sei que é difícil, eu vou te ajudar’. É difícil ouvir não mas a gente vai fazer uma coisa, eu conversei com o Merigo eu falei olha eu acho que a gente deveria fazer um quadro pra ele com algumas situações que a gente já sabe, então, assim, ouvir não pra ele é muito difícil ele fica discutindo, discutindo, discutindo ele não aceita quando é o não é final e tal, então é fazer um quadro e nã nã nã. E aí eu só virei pra ele e falei assim “Ó, mamãe entende que é difícil e a mamãe vai te ajudar, em casa a gente conversa”. Quando a gente chegou em casa eu levei ele pro quarto e falei “Ó vamos conversar” e ele já entendeu que era uma coisa completamente diferente e aí eu falei “olha, Benjamim, você é um menino bom, mas você fez uma coisa ruim você gritou com seu pai, você bateu no seu pai, você brigou com seu melhor amigo, você adora o Miguel, você deixou ele triste e isso não foi bom, então eu vou te ajudar pra que isso não aconteça mais. O problema eu vou te falar o que que aconteceu, porque que aconteceu tudo isso porque você não sabe ouvir não”.

(Bloco 4 – 30:59)
Ju: “Às vezes, quando a gente pergunta uma coisa, tem duas respostas: às vezes é sim, e às vezes é não. Você entende muito bem o sim. Mas você não consegue ouvir o não. A mamãe vai te ajudar a ouvir o não, tá bom? Tá bom”. Depois disso, na sequência, minutos depois, teve três vezes que eu tive que falar ‘não’, por nis motivos, e de novo ele ia começar. Aí eu falei, “tá vendo? Lembra do que a mamãe te falou? Eu to falando não”. Na hora ele parou. Então assim, só que é óbvio que ele é uma criança. Amanhã começa tudo de novo, e aí tem que fazer o quadro pra ele enxergar, pra dar estrelinha pra cada vez, pra tirar estrelinha quando ele não souber reagir ou não, porque assim cara, a gente subestima, às vezes, eu acho, o que que você tá pedindo do seu filho, entendeu? Você fala, “ah, é inadmissível eu fazer tal coisa!” Tá, sim, é inadmissível, e o seu papel como mãe ajudar ele a não fazer. E não é nada simples. Controlar emoção não é nada simples. Eu lembro assim, foi uma professora da escola dele que me deu esse insight, de assim, “cara, é uma descarga de emoção gigantesca, eles não tem controle sobre isso, entendeu? Então não dá pra você pensar em termos racionais, do que é aceitável ou não”, sabe? Tipo, porque que você teve um chilique no supermercado? Cara, olha pra adulto, adulto tem isso, entendeu?
Cris: Pessoas, liguem para Juliana, tá? [risos] Ela vai deixar o telefone aqui no final, ela vai aí, faz esse controle da raiva.
Ju: Anger management. Mas é bem isso.
Camila: Não, maravilhoso, maravilhoso.
Ju: Não, mas assim, eu lembrei muito daquela história da tribo, da sua música, sabe? Da tribo da África? Esse conto é super legal, assim, que tem uma tribo na África, que quando a mãe tá grávida, ela cria uma música pro bebê dela. Todo mundo tem a sua própria música.
[Camila ao fundo]: Que lindo.
Ju: E essa música, ela é cantada em três situações: no nascimento, quando ela nasce, a primeira coisa que ela escuta é essa música; quando ela morre, toda a aldeia se reúne e canta essa música; e quando ela faz alguma coisa muito ruim.
Mari: Pra pessoa se ligar.
Ju: Se ela fizer alguma coisa muito ruim, ela vai pro centro da roda e a tribo canta a música dela. Pra que ela saiba que ela tem uma história, que ela tem um potencial, e que as pessoas confiam nela. Então é, eu lembrei muito disso, assim, a gente tem uma vertente que é muito de corrigir e de cobrar, e essa coisa de incentivo e troca, né? E pouco de acolher e de ajudar, sabe, de levar junto seu filho, de inspirar ele, de mostrar…
Camila: Empatia, né?

Ju: É!
Camila: Você tá tendo uma empatia muito forte, de se colocar, tentar se colocar no lugar dele, na mentalidade dele e falar, bom, ‘ele está sofrendo’. Ele não está fazendo isso porque ele quer, e se eu brigar com ele, eu só vou aumentar o sofrimento dele, não vou ajudar em nada.

Ju: É, eu já, assim… eu não sou legal. Não sou uma boa mãe. Eu já muito briguei com ele. Eu muito bati de frente com o Ben porque eu queria que ele fosse de um determinado jeito. E assim, o Ben me ensinou a ser mãe. Ele me ensinou a mudar. Eu mudei tudo, eu refiz toda a rota e eu tive que me questionar. A Cris falava muito, assim, teve uma época quando a gente começou o Mamilos que ela falava “Ju, parece que é horrível ser mãe pra você. Porque você tá sempre se questionando, você tá sempre sofrendo”. Porque assim, o terrible two do Benjamin e os três anos dele foram…
Camila: To nessas [risos].

Ju: … mano, assim, muito difícil, eu errei demais, eu bati muito de frente, eu tentei que ele fizesse as coisas que eu achava certo até entender que, cara, a história do meu filho é outra. O que ele entende é outra coisa, e que acho que a gente… É uma jornada pra mãe, né? Entender o filho e respeitar o filho. E você se reconstruir a partir disso, e ser o que ele precisa, e não o que você é, necessariamente. Isso tá no cerne da introdução que a Cris fez, que os nossos pais não se cobravam fazer tudo certo todo o tempo, tipo, ‘será que eu fiz o melhor?’ Não! Às vezes você vai fazer o que você aguenta.

Cris: Olha, escuta a lógica: vai pra cama sem o jantar pra aprender. [risos] Você não deixa uma criança com fome, ‘sérião’?
Camila: Não deixo, não consigo.

Cris: [risos] Capaz!
Mari: Outra coisa que eu queria falar, que eu acho muito legal disso que você falou, Ju, é que uma coisa que eu valorizo muito também é a capacidade dos meus filhos de se comunicar, entendeu? Eu acho que isso é muito importante, e se eu pensar, mesmo eu sendo jornalista, a maioria das pessoas que eu conheço tem uma capacidade limitada de falar do que tá pensando, né. Falar o que acha do Temer, do impeachment, tá fácil, do que tá sentindo, é muito difícil, então eu acho que é muito importante, cê ouviu, né? “Ben, já entendi que você tá muito chateado, eu sei”. E aí deixa ele falar o que… “porque você ficou tão chateado?”. Não pra ficar debatendo, mas simplesmente pra ele começar a aprender a…

[Cris ao fundo]: [interrompe] Reconhecer. É muito legal isso.
[Camila ao fundo]: Incrível, incrível isso.

Mari: … falar o que você tá sentindo, que isso já é meio caminho andado, né? Isso eu acho que é muito, muito importante. Porque senão vira isso, né, adulto que fica guardando e guardando…

Camila: Tanto meninos quanto meninas, né?

Mari: Sim, claro!

Camila: Porque às vezes a gente espera isso das meninas, mas menos dos meninos, de externalizar a emoção, as emoções, vulnerabilidade.

Cris: Não, eu acho que é conhecer as emoções. Porque a gente fica ali nos principais e não vai pras outras. E eu achei muito engraçado, esses dias Tatá se jogou no sofá e falou “Aí, eu to sofrendo muito de tédio!” [risos] Ela tá conhecendo as emoções e empregando, então assim, eu estou frustrada, eu estou muito triste, eu estou com muito tédio. Aí tem umas coisas que são extremamente complexas e é muito engraçado ouvir ela falando, sabe? Tipo, “eu estou me sentindo com vingança”. [risos] “Porque que você tá falando isso?” “Porque eu queria ter aquilo e não tenho”. “Então, filha, o nome disso é inveja”. O nome disso é outra coisa. E é muito interessante porque aí ela vai entendendo qual que é o sentimento, o que ela tá sentindo. E eu acho legal porque, ela também fala isso com os outros colegas, né? Você tenta fazer as coisas melhores, você tenta fazer as coisas diferente, mas o aspecto [espectro] hoje é muito aberto. Você pode fazer tudo, e aí você pode conversar tudo, e eu acho que tem uma hora que cansa. Então, achei engraçado isso porque o Ricardo Terto escreveu uma crônica no Facebook outro dia, e ele tava falando sobre a experiência dele de ter pegado peixinho, e a mãe dele, mineira, virou e falou “Hum, tá”. Ela sabia o que ia acontecer desde o início, os peixinhos iam morrer, e ele teve que lidar com aquela situação dos peixinhos morrerem, e me remeteu a uma situação muito forte da minha infância, assim. Porque eu sei que parece ter um quê de crueldade nisso, mas eu deixo. Eu deixo se estrumbicar, eu deixo sofrer, eu deixo se frustrar, e falo “Hum”. E falo mesmo, assim, isso vem muito da minha criação, tipo “olha, pode ser que você caia, tudo bem?” “Não, tá, pffff” “Então, falei, né?” Então…
Ju: Então, mas tem um pouco a ver do tipo de filho, porque, por exemplo: tem filho que quer viver o mundo, que quer ir, quer sair, que quer fazer as coisas, que se joga, mesmo que você tentasse falar, não ia te ouvir. A Nina é assim, vai indo, vambora fazendo. O Benjamin não quer, ele quer saber o que tem antes. Então, ele gosta de conversar, ele gosta de saber. Então você fala “Ó, se você for, você vai se machucar”. Ele vai lá, se machuca, vem pro seu colo, e você fala “Eu falei”. Ele é muito cuidadoso nas coisas, então é isso que eu falo, assim, eu não sei se você teve essa sensação, e se você teve também, Mari, enquanto eu tava com bebezinho em casa, eu não sabia o que era ter filho e o que era ter o Benjamin. E aí quando você coloca a primeira vez na escola, que você vê outras mães, com os mesmos dilemas que você, você fala “Nossa, isso não é o meu filho, isso é filho, isso é criança, criança é assim”. E eu acho que o aprendizado fica maior ainda quando você tem o outro filho. Porque, tudo bem, querendo ou não, mesmo que criança seja assim, sempre fica, mesmo num ambiente maior, “ah, isso é porque a minha criação é assim”. Agora quando tem dois, que teoricamente é a mesma criação, você começa a ver como tem coisas que não funcionam.
Cris: [interrompe] Individualidade.
Ju: Né, que assim, eu tinha também um discurso de como eu seria como mãe. E não funciona, e é completamente diferente, não é?
Camila: E vai por água abaixo.
Mari: E aí tudo acontece.
Ju: Você tá falando, assim, todo mundo que eu conheço que tem dois filhos, fala que os filhos têm as personalidades completamente opostas. E eu não sei se é porque todo mundo é oposto, ou se a gente cria diferente primeiro de segundo, de verdade, eu não sei. Mas eu sei que sempre é uma experiência muito transformadora o segundo filho, como mãe, de você ver que não existe “olha, minha maternidade é assim, olha, eu faço, isso, isso e isso”. Porque funciona com um e outro não.
Mari: Não, até nas coisas banais, assim. Primeiro eu lembro de um amigo, Augusto, um beijo, que me falou desde o começo, falou “Meu, essa menina é muito diferente do Téo, [risos] você vai ter que aceitar isso”. E eu falava, claro que não! Eu vou educar igual e vai dar certo. Não, né? É um aprendizado. E tem coisa que funciona pra um que não funciona nada pro outro. Por exemplo, o Téo, uma tática que funciona com ele é “ó, se não fizer nananã, seu brinquedo vai ficar de castigo”. Funciona super bem, ele detesta ver os brinquedos dele de castigo, [risos] e ele obedece. A Liz, pff…
Ju: Exato.
Mari: Fica em cima da geladeira de castigo, pode deixar lá, todos. Ela não tá nem aí.
Cris: [risos] Geladeira lotada de brinquedo.
Mari: Lotada, bombando de brinquedo dela, e ela não tá nem aí. Então, o que que vai fazer? Você tem que pensar um novo jeito que pega ela e é isso, e não tem uma fórmula, não adianta, então, não sei, é um aprendizado.
Ju: Mas e, eu acho, até assim, o oposto também é verdade. Por exemplo, pra mim, o primeiro foi muito difícil. Ele não comia, não dormia, tudo era difícil. E aí você se sente uma mãe de merda. Porque todo mundo consegue, e todo mundo tem uma fórmula ótima, entendeu? “Ah, seu filho não come? Mas é só nananã”. “Ah, mas seu filho não dorme? Mas é só nananã”. Todo mundo tem, entendeu, você é a única idiota que não pensou nisso ainda, que nem pensou em fazer um ritual pra ele dormir, sabe. E aí, de repente, você tem o segundo filho, que dorme desde o dia um. Já vem da maternidade dormindo e dorme pra sempre. Você tem um filho que dorme até as dez e meia da manhã. Daí você fala “Ai, Aleluia, amém, não era eu”, sabe? Não era eu.
Mari: E os livros de maternidade, de manual, tão aí pra destruir a nossa auto estima também.

Ju: Exato.

Mari: Eu acho isso sobre todos os livros de encantadores de bebês, e tudo…

Cris: É, eu acho que os “não podes” e os “podem” tem a ver com a personalidade da criança, eu acho que a gente faz muita pauta e muita conversa centrada na expectativa dos pais, dos criadores, né, que pais aí vai mais pro pai e tudo mais, mas a verdade é esse pouco que você conhece do seu filho é o que você passa a adaptar com ele. Não funciona. Você pode ler um monte de livro que vai te formar como mãe, mas nada forma como filho. Até entrando um pouquinho nisso, entra a segunda parte, que já é uma experimentação diferente também. “Ah, a vó vai colocar esse menino perdido”, “Imagina, vai deixar com babá, vai fazer o que quiser com o seu filho”, “Tadinho, fica na escola o dia inteiro”. E aí, vocês já tentaram modelos diferentes, como que vocês conseguiram se organizar, como que é essa dinâmica pra vocês?

(Bloco 5 – 41:22)

Camila: Eu fico super dividida o tempo todo, sofro o dia inteiro, sofro muito, porque eu tenho babá, e tenho escola, eu tenho tudo, porque eu trabalho bastante. Eu gosto de trabalhar. E eu gosto muito de estar com eles, mas às vezes eu me sinto culpada por… eu opto por estar menos… Eu poderia, talvez não por causa do salário, mas eu poderia não trabalhar em certos momentos pra ficar mais com os meus filhos, mas eu não gostaria disso. E isso acho difícil: “ah, você está delegando a educação de seus filhos pra outra pessoa”. Eu não tô delegando, eu sou presente, mas eu não sou aquela mãe que acha animal ficar 24 horas por dia com filhos, brincando o tempo todo, acompanhando, vendo cada passinho do desenvolvimento. Eu vi aquele filme do… aquele documentário “O Começo da Vida”…
Ju: [interrompe] Sim.
Camila: Do Netflix e tem uma mulher que fala isso, ela fala “ah, dizem que qualidade de tempo não é importante, importante é quantidade”. Eu sempre achei que qualidade era importante, não a quantidade, e eu preciso continuar achando isso porque eu nunca vou dar quantidade. Eu não vou ficar cinco horas por dia com os meus filhos. E eu não posso jogar isso na culpa da sociedade, porque eu preciso trabalhar, porque eu… é porque eu não quero. Eu amo ele mas eu não quero passar o dia inteiro do lado deles.
Cris: Desde que a Tatá chegou, né, eu tirei licença maternidade. Logo na volta ao trabalho ela ficou no integral na escola. Foi uma escolha que eu e o Agê fizemos porque nós não temos pais em São Paulo e o que a gente tinha decidido é: se for pra ela ficar com outra pessoa, que seja na escola porque ela vai ter estímulos, e vai interagir com outras crianças, então a gente preferiu do que babá. Desde então o que ouço é: “fica na escola o dia todo, tadinha!”. Eu ouço “tadinha” pelo menos uma vez por semana. Eu fico imaginando se a pessoa que tá falando “tadinha”, que tipo de sentimento ela espera despertar em mim quando ela vira e fala “tadinha da sua filha”. Gente, tipo, desculpa, mas… primeiro, foi uma escolha super consciente, e segundo tanto eu quanto o Agê buscamos a escola, uma escola que pudesse ser uma extensão da mesma prática pedagógica que a gente tem em casa, que fosse um ambiente acolhedor, que conversasse com o que a gente pensa de sociedade, de futuro, de uma série de coisas, que fosse meio que uma extensão da nossa casa. E é muito difícil arrancar ela da escola, porque a hora que você chega pra buscar ela quer ficar mais um pouquinho, apesar de ter passado o dia inteiro lá. Eu fico pensando que se aquilo é tadinha, que coisa boa, né…
Ju: É.
Cris: …aquilo ser tadinha. Ela gosta daquilo, sabe, ela gosta daquela interação, o lugar faz um bem danado pra ela. E é muito legal, né… nesse semestre o exercício de final de ano dela é sempre um teatro, e aí tudo que é pautado é com base no teatro e eles vão aprendendo e nananá, e esse ano é Os Saltimbancos. E a turma dela vai ser o jumento. E ela é um jumento. Então eu ouço [risos] essa histórias todos os santos dias. E eu fico rindo, tipo, minha filha é um jumento, que engraçado e eu racho de rir disso. E aí ela tá aprendendo sobre o Nordeste, Culinária, tudo… Português, Matemática, tralalá, com base nisso. E hoje, aí com esse negócio muito nordestino, nordestino veio pra São Paulo, muito nordestino é feirante, vamos conhecer a feira! Aí ela virou feirante, então [risos] hoje foi o dia de feira e eu falei “que legal, primeiro ela é um jumento agora ela é uma feirante”. E ela tão feliz com aquilo, e ela parece tão realizada, e aí que que acontece? Chega final de semana, que é “vamos curtir a casa um pouquinho, vamos ficar”: “não, eu quero sair, eu quero a rua, eu quero ir para outros lugares”. Então assim, gente, por favor parem de falar tadinha das crianças porque quem fica mal com isso são os pais.
Mari: Eu tô muito nesse discurso, ver o que que é melhor que os pais também, né, porque… não sei, pra mim foi bem diferente quando eu tive o Teo, eu tava louca pra voltar pro trabalho, assim, insana pra voltar pro trabalho. Eu trabalhava no Estadão na época, aí eu achei também que a melhor opção era colocá-lo num berçário, numa escolinha, foi isso que eu fiz e tal. Mas depois com a Liz, depois de três anos, eu pensava totalmente diferente, eu não queria uma escolinha (até porque eu não gostava dessa escolinha que eu tinha colocado ele), eu queria uma babá, eu conheci uma menina ótima e tal, e foi essa escolha que funcionou pra mim três anos depois, então não tem nenhum problema, né. O que que funciona bem pro seu filho, pra sua família e naquele momento…
Ju: [interrompe] É, e…
Mari: Foi isso que funcionava melhor pra minha família e tava ótimo, tava tudo bem, deu tudo certo.
Ju: E que não existe escolha num ambiente perfeito, né, que aquela coisa velha de necessidades ilimitadas e recursos escassos. Então você tá sempre fazendo troca, né, então assim, “ah, não seria ideal que você pudesse ficar com seu filho e que você fosse a pessoa que forma ele, que em todos os momentos você estivesse lá e que você ajudasse ele?”. Então, por exemplo, se nessa situação de surto, em todas as situações de surto, eu estivesse ali e tal, nananã, até acho que seria legal. Do que que você tá abrindo mão? Ah, então… pra fazer isso cê tá abrindo mão de ter uma profissão, de se realizar como profissional, de ter uma renda, de que ele possa também de ir numa escola melhor, de que ele possa também ter um médico melhor, de que ele possa também ter acesso a isso, isso e isso, de que ele possa ter uma alimentação melhor. Então, quais são todas as coisas que você vai estar abrindo mão pra ter isso? O que eu quero dizer é: tudo são escolhas que implicam em outras escolhas, entendeu. Então assim, cada um vai buscar o equilíbrio ótimo pra si, entendeu. Ah, do que que você não abre mão? Eu não abro mão da minha vida profissional, como você falou. Tem mulher que abre, e abre feliz, ótimo…
Mari: [interrompe] Que abre, ótimo.
Ju: Que bom pra você, de verdade. Porque eu acho que eu vejo um super valor na mãe conseguir – não sem sofrimento, porque eu não vou diminuir o sacrifício, mas conseguir numa boa, se realizando, se dedicar pra, nos primeiros anos, de verdade, ser ela a cuidadora principal, vejo um puta valor. Só que, assim, por exemplo, pra mim, eu não ia ser uma boa mãe, eu não ia, porque o custo pessoal pra mim de abandonar completamente minha carreira e de abandonar o fato de eu gerar renda, isso ia me deixar sem paciência com eles, ia me deixar ressentida. Pra mim não ia funcionar, entendeu. Então o que eu acho é que você faz trocas, eu acho que a gente tem que ser mais transparente em relação a isso. Ah, eu poderia ficar com os meus filhos o dia inteiro? Poderia, aí eu abriria mão disso, disso e disso, e, de verdade, eu não tô disposta abrir mão dessas coisas, sabe.
Camila: É, o que a gente não pode é trocar um paradigma pelo outro e julgar quem quer ser dona de casa e…
Ju: [interrompe] Exato.
Camila: Viver pros filhos.
Cris: E é extremamente trabalhoso, né?
Ju: [interrompe] Nossa, meu Deus.
Cris: Minha nossa.
Mari: Eu falo… espero que meu chefe não esteja ouvindo, mas eu falo, que às vezes eu chego no trabalho, eu falo “ai que bom”…
Cris: [interrompe] Haha, a Juliana fala isso direto.
Mari: Que delícia…
Ju: [interrompe] Eu falo isso di-re-to: “Vou descansar!”
Mari: [interrompe] Tem ar-condicionado, posso sentar…
Cris: [interrompe] Hahaha…
Mari: [interrompe] E não tem ninguém me perguntando…
Camila: [interrompe] “Posso sentar”, é ótimo…
Mari: [interrompe] Nada a cada três minutos.
Ju: Não, cê consegue tomar água, cê consegue fazer xixi, olha que legal.
Mari: [interrompe] Um café, olha só!
Ju: [interrompe] Um café…
Cris: Hahaha.
Mari: [interrompe] Gente…
Ju: Eu tô no estágio que é, assim, você tava falando que você vai pro banheiro tomar banho para as crianças se… sabe que minha filha faz? Ela senta no vaso e fica me esperando tomar banho, entendeu…
Camila: [interrompe] Ah, que fofa.
Ju: Se eu vou fazer xixi ela senta no meu colo pra eu fazer xixi.
Camila: Ah, não!
Ju: [interrompe] Esses dias, sim amor, esses dias ela quis me limpar.
[risos]
Ju: Então assim, não há privacidade alguma quando ‘cê’ é mãe, entendeu? Então assim, eu preciso, Juliana, precisa do seu momento trabalho de adultos, e eu acho que isso tem muito a ver com a diferença que a Cris falou entre como os nossos pais lidavam com criança e como a gente lida. Porque a gente se doa completamente, é tudo em função deles, então é uma coisa muito unilateral, né. Com adultos sempre é troca: eu te dou um pouco, você dá um pouco, então eu falo, você escuta, depois você fala e eu escuto. E com criança não. A gente se dispõe a fazer do jeito deles, a fazer o que é melhor pra eles, a gente fica em função deles e isso é bem cansativo. Eu, egoísta que sou, não aguento isso full-time.
Camila: A minha pediatra me fala: “na hora que nasce o filho sai a…
Cris: [interrompe] A sua pediatra é ótimo. Cê não tem idade pra pediatra, hahaha!
Camila: A pediatra dos meus filhos, que é minha amiga, ela me fala “quando nasce o filho sai a placenta, costura uma culpa no lugar”.
(Risos)
Camila: Sente culpa de tudo o tempo todo…
Cris: [interrompe] É.
Camila: Se faz aí sente culpa, se não faz sente culpa, é muito angustiante isso.
Ju: Eu queria trazer uma coisa que aconteceu essa semana, que eu acho que serve pra gente refletir quantas vezes a gente não problematiza coisa que na cabeça deles não tem esse peso, né. A gente tava voltando do café na padaria, a gente entrou no condomínio, tinha um funcionário do condomínio que tava varrendo, a gente cumprimentou ele, ele cumprimentou a gente. Mas ele chamou pelo nome Benjamin, porque conhecia e tal, falou assim: ”Oi Benjamin, bom dia!”, e o Benjamin passou reto. E aí eu segurei a mão dele, falei, “fala bom dia”, meu filho “já falei”. “Não, você não falou”. Aí ele falou assim: “ah, mas ele tá varrendo”. Menina aquilo ali… mas me subiu, e eu achei que o cara tinha escutado, que ela tava… mas assim, foi um soco no estômago, fiquei, assim, mortificada, sabe. Da onde essa peste, essa praga dessa criança tirou a ideia infeliz que uma pessoa que tá varrendo não merece ser comprimentada? Menina, mas assim eu fui na lua e voltei. Aí eu peguei e levei até o, falei assim “Benjamin, fala bom dia”, aí ele falou “Bom dia”, bem baixinho assim, e ele riu e a gente subiu. E eu fiquei com aquilo na minha cabeça, né, gente, da onde que essa criança tira isso, né, e falando que ele “olha, a gente fala bom dia pra todos as pessoas” e tal, e tem uma menina, que todo dia que a gente sai, se a gente sai no horário, a gente encontra com ela e ela brinca com ele, e mexe, nanã, e aí eu fui comentar com uma mãe de um colega do Benjamin e, isso, ela falou assim: “Ju, presta atenção se isso não tem muito mais significado pra você do que tem pra ele”. O Benjamin é um menino super tímido, ele não dá oi pra ninguém. É um sacrifício pra ele. Pessoas que ele vê todos os dias, ele pensa… é uma dificuldade pra ele dar “oi”. Ele não é uma criança super simpática e tal. Ela falou assim… De repente ele respondeu, tipo: “ele está varrendo o chão”, “ele está sentado”, “ele está mascando chiclete”.
Camila: [interrompe] Ocupado.

(Bloco 6 – 51:09)

Ju: “Ele está teclando no celular”. “Tudo bem, mãe, ele tá fazendo outra coisa, ele não tá prestando atenção nisso”. Não era porque isso era especial, ou porque isso não o tornava digno de. Era uma desculpa, assim como ele falou “já falei”, e não tinha falado. Era só uma desculpa. Não tem o peso. Você que tá dando o peso, e aí você criou pra ele uma situação constrangedora e tal. Você sublinhou uma coisa que não existia, existiu na sua cabeça, entendeu.
Cris: É eu acho que tem um jeito bem simples, mais fácil de não sofrer isso, que é perguntar: “por que você quer saber isso?” Né?
Camila: [interrompe] Qual o significado daquilo pra você? Não é?
Cris: É, outro dia uma amiga comentou comigo que a filha chegou e falou assim “o que é virgem?” E aí ela tipo fez uma explicação ultra filosófica, a menina dela tem oito anos, e aí “não mamãe, é porque esse azeite aqui é extra virgem e esse não é virgem” [risos]. Tem muito, assim, é o peso que tem pra você. É o que a Juliana tá falando. Então assim, “o que tem a ver o homem estar varrendo com você não ter dado bom dia? Não entendi”. Aí ele “não, mamãe! Ele tá ocupado. Não quero atrapalhar” Que provavelmente seria isso, né? Então muitas vezes…
Ju: [interrompe] dá os grilos da sua cabeça, né? São as coisas que são importantes pra você. E eu acho assim, eu vejo muitas das coisas que a Cris fala e tal, eu sou uma mãe muito desligada pra coisas do dia a dia, assim “ah, você não pegou seu prato… não isso, não aquilo” , eu não consigo me tirar do sério com essas coisas, sabe? Riscou todas as paredes da minha casa. Eu acho graça, mas me força a fazer limpar, beleza. Mas eu acho assim, tudo uma graça. Agora essas coisas que são princípios, são coisas que, tipo, eu sublinho, eu presto a atenção, que pra mim são importantes, sabe? Como você trata as pessoas, como você ajuda, como você… Sabe? Essas coisas pra mim são importantes. E aí às vezes você vê que, assim, gente, ele ainda tem só quatro anos, tipo, calma, não tá na hora ainda.
Cris: [interrompe] eu acho muito legal o jeito que eles interpretam as coisas. Outro dia eu estava ensinando as partes do corpo pra Tatá, né? Porque a gente põe apelido em parte íntima, né? É pipi, é pepeca, é pipiu, aí eu tava ensinando pra ela “olha, o nome de verdade da pepeca é vagina, pepeca é só um apelido. O nome de verdade do furico, é ânus”, aí passa, contei isso, né? Aí ela virou pro pai dela, aí eu falei assim né “ah, conta pro seu pai os nomes das partes do corpo” aí ela falou e falou assim “o furico, papai, é um negócio de muito tempo atrás”.[risos] Cara, eu chorei de rir, de lágrima escorrer, eu não conseguia parar de rir “é um negócio que passou tem muito tempo” [risos].
Camila: Muito bom!
Cris: Então, a interpretação, o jeito que eles tem de encarar o mundo, eu acho assim, eu tenho um grande keep I de criação, que é…
Camila: [interrompe] O que é keep I?
Cris: É uma meta que você quer atingir, né? Tem uma grande meta, e essa meta, o retorno que eu espero é: eu não quero ter um filho babaca. Só isso. Só. É só ele não ser um babaca. O que é um babaca? É uma pessoa que não sabe tratar bem os outros, uma pessoa que não tem educação, que não tem respeito…
Ju: [interrompe] Isso é muito importante pra mim
Cris: Então, quando tem umas mentirinhas, quando tem umas desculpinhas, cara, é difícil. Você fala, esse tom de “eu vou cortar essa bosta agora porque eu não quero que cresça assim”, né?
Camila: Meu filho começou a mentir pensando que ele fala poucas coisas, eu falo “você fez coco?” ele “não”, e fez. Aí eu penso: aonde aprendeu isso? Como é que aprendeu a mentir?
Cris: [interrompe] É porque não é mentira, né?
Camila: É! Ele fez o cocô! Na fralda, tá lá o cocô na fralda. Eu tenho provas.
[risos]
Cris: Não, mas a mentira, a consciência…
Camila: [interrompe] Olha lá o cocô na fralda, eu tenho provas [risos]
Cris: Você tem convicção ou tem provas? [risos]
Ju: É uma realidade matéria [risos]
Camila: O cocô na na fralda, eu falo “você fez cocô”, “não”, ele tá mentindo!
Cris: O que acontece é que a nossa percepção de mentira é muito diferente da criança, então eu tava aprendendo isso recentemente que a criança só tem consciência que ela está faltando com a verdade a partir dos sete anos. Até então, pra ela, ela não sabe o que é mentira no conceito em que nós adultos sabemos o que é mentira…
Ju: [interrompe] É muito louco isso, não é?
Cris: Então ela tá te enganando, e aquilo te leva ao extremo, você fica assim, querendo se matar, mas pra ela aquilo não é uma mentira. E eu, poxa, eu fico mal com isso e aí eu mega corrijo a Tatá, tipo, “você tem que assumir o que você fez, o problema não é errar, o problema é não assumir o que você faz” e tal, altos esculachos, e aí a professora estava falando sobre isso né, é só a partir dos sete anos que você tem essa consciência e aí você esconde propositalmente. E agora eles começam a entrar na fase de mentir pra ver se funciona, se não funciona e usam muito a arma que tem. Então, quando você começa a ver por essa perspectiva, mas ainda assim é muito difícil, né? Tem hora que eu falo assim, “você fez isso?” “não”, “Meu, eu estou vendo que você fez, por favor, fala que foi você. Não cresça sendo uma mentirosa, por favor”
Mari: Outro dia eu li uma pesquisa sobre isso que era assim, o resumo da pesquisa era: “Crianças que mentem são inteligentes” porque crianças bem pequenas, né? Não vamos falar crianças de nove anos que aí já é…
Cris: De dezenove, né?
Mari: Dezenove… Mas é, pensa o grau de raciocínio e sofisticação que a criança tem que ter pra distinguir o que é verdade, o que eu queria que fosse verdade e que tipo de “mentira” eu tenho que fazer pra convencer a minha mãe de alguma coisa.
Cris: É isso que a professora estava me explicando. Ela usa a arma que ela tem pra conseguir o que ela quer. Então, por exemplo, outro dia, São Paulo, praticamente nevando, chega a Tatá de meia calça em casa. Meia calça e uma blusa. Aí eu falo “cadê sua calça?” aí o pai dela, “ela estava com calor” aí eu já olhei pra ela e falei, “ô Tamires, deixa eu te contar um negócio, quando você está indo com o milho, olha aqui o fubá, aqui o angu pronto. Sabe o que você fez? Essa blusa é comprida, você só gosta de usar vestido, você tirou a calça, usou a meia calça e está usando a blusa como vestido. Você não me engana não!”. Aí ela já olhou pro chão assim, sabe?…
Ju: [interrompe] engana só o pai, né? [risos]
Cris: Tipo.. “você não me engana não, vai me falar que você não tá com frio? Olha o frio que tá fazendo! Você está maluca, você vai ficar gripada, tal não sei o quê”. Aí, o que a professora estava falando, então, ela gosta de vestido, um instrumento que ela tem para usar o vestido é tirar a calça e como ela vai justificar que ela está sem calça? Ela vai falar que estava com calor, então na cabeça dela ela estava com calor, porque o que ela queria era estar daquele jeito. Aí você fala, “mano, você não me engana. Isso é mentira”. Não, não é. É a fantasia…
Mari: [interrompe] É que às vezes eles querem muito, né?
Cris: É a fantasia, é o jeito de atingir…
Mari: [interrompe] Um dia a professora do Theo, faz uns dois anos isso, talvez três, falou assim “nossa, Mari, que legal essa viagem que vocês fizeram pra essa aldeia indígena, não é?” e eu assim ”aii”, “O Theo contou que vocês foram, dançaram com os índios, não sei o quê…” [risos] e eu assim ”não tô lembrando…”, “imagina, ele contou detalhes e tal…” aí eu falei “olha, não teve essa viagem”, aí ela falou “beleza, deixa pra próxima aula” aí na próxima aula puxou o assunto e daí ele perdeu a medida. Até então todos os amigos estavam adorando, achando o máximo e ele continuou aí ele vi que estava dando resultado…
Cris: [interrompe] Aí começa a elaborar mais.
Mari: E aí chegou um leão, alguma coisa assim e ele ajudou a salvar a irmã bebê dele, até alguém falar “não velho, aí tem alguma coisa errada, aí você exagerou”, é?
[risos]
Cris: [interrompe] Aí nascem as…
Mari: Aí enfim, né? É pra dar bronca? Mentiu? Não! Ele queria muito que a gente tivesse ido para uma aldeia indígena e tal, só queria tanto que…
Cris: [interrompe] Então, cheguei na…
Ju: Mas isso é a imaginação, não é?
Camila: Ah, mas ele foi… Ele foi com a cabeça dele…
Cris: [interrompe] Então, cheguei na escola…
Mari: A diferença é que a professora acreditou e queria fotos do passeio [risos]
Cris: Não, eu cheguei na escola, já tem um tempo, aí todo mundo “parabéns!” aí sabe quando você não presta muita atenção? Aí continuei andando… “Cris, parabéns!”, aí eu já achei estranho, aí chega a professora dela “nossa, a gente tá muito feliz, parabéns!” aí eu “parabéns?” aí ela “a gravidez, o bebê!”
Ju: Aff…
Cris: aí eu falei “eu não tô grávida, eu acho. Eu acho que não, que eu saiba”…
Ju: [interrompe] Ninguém me avisou pelo menos
Cris: Aí ela falou “nossa. É que a Tatá tá tão animada e ele falou tanto dessa gravidez e do irmãozinho que ela vai ter” aí eu falei “meu, olha o naipe da viagem da garota! Olha isso” O fato é, ela quer ter um irmão, então vamo lá contar essa história, né?
Mari: Já vou pavimentando…
Cris: Não, eu acho que é assim, um vai que, né?
Mari: Vai que rola, né?
[risos]
Ju: Não, ela leu o segredo, e ela tá fortemente trabalhando né, que o que a mente pensa acontece.
Camila: É…
Cris: Vamos lá, gente. Celular pra criança no restaurante e os pais conversando. “Coitado desse menino”, “Ó, os vídeo games ativam as sinapses”, “TV não deixa a criança pensar, não pode não!”, do quê que seu filho não abre mão que você fica negociando lá loucamente pra minimamente colocar limite naquilo?
Mari: iPad. É uma briga na minha casa, eterna. Principalmente porque eu e meu marido a gente não concorda 100% nisso, então é sempre uma briga. Eu acho que em restaurante tudo bem, que acho que as pessoas que falam isso é porque ou não tem filho, ou porque não vão a restaurantes vezes o suficiente pra isso [risos]. Eu em restaurante, quando lembro, levo giz, papel, hoje muitos restaurantes também estão ligados nisso e tal. Dura um tempo e quando não tá rendendo mais, você quer ficar mais no restaurante a criança já tá de saco cheio tudo bem dar o celular um iPad, o que tiver. Tranquilo, não sou radical nesse ponto, Mas acho super que tem que limitar mais e meu marido acha que tudo bem. Então já tentamos criar regras, um dia sim um dia não, só nos fins de semana, nada dá muito certo, acho que especialmente porque a gente não concorda super. Mas eu acho que é ruim esse exagero assim, eu acho que, pelo menos na minha casa eu acho que se não tivesse um iPad, abre espaço pra criança fazer outra coisa, entendeu? Porque o iPad é mais fácil, não sei o quê… TV em casa não é muito problema, mas enfim, eu acho que isso é um problema na minha casa. Quer dizer, TV é um problema também, né? Netflix outro dia descobri que Theo assistiu três capítulos de Stranger Things [risos]

(Bloco 7 – 1:01:11)

Cris: [rindo] Ai desculpa não era pra rir!

Camila: Que medo.

Mari: Não, mas ela achou super que ‘Nooossa como ele consegue colocar’, achou ótimo! Eu fiquei P da vida e o Téo falou [imita a voz dele] ‘ Mãe, mas na hora que eles tavam se beijando eu não olhei mãe!’

[ risos ]

Ju: Aiii que judieira…

Mari: Não sei, eu acho que eles exageram um pouco, e é um problema, e tem que limitar mesmo.

Cris: Eu acho um super dilema. Lá em casa o problema é a televisão, porque eu não gosto, só que ela passa o dia inteiro na escola, a hora que ela chega ela tá cansada, eaí exigir que ela procure uma nova atividade pra fazer, então mais ou menos que eu tento fazer é apresentar uma coisa boa o suficiente pra ela trocar a tv por aquilo, entendeu? Eu tenho uma mega dificuldade de brincar, eu vou ser muito sincera, DETESTO brincar, detesto. Esse negócio de: senta no chão…[ voz fininha ] ‘nhénhénhé nhénhénhé Amiiga, vamos naa..’ Gente do céu!! Isso pra mim é uma tortura!
Mari: E jogo? Jogo eu acho mais legal.

Cris: Eu odeio jogo!

[ risos ]

Cris: Com todas as minhas forças! E o que que eu gosto de fazer? Eu gosto de colorir e de fazer comida. Gosto de arrumar a casa, e aí ela me acompanha em tudo. Então assim, se eu vou pra cozinha, ela vai comigo, põe um banquinho, a gente fica lá, aí ela fica brincando com a louça, com um monte de coisa enquanto…
Mari: [interrompe] Ah isso é ótimo.
Cris: Fica lavando. Mas sabe ela senta no chão e fala ‘Vem brincar comigo.’Aí eu viro pra ela e falo ‘Eu não gosto.’
[ risos ]

Ju: Eu vou ter dar um irmão pra ele brincar com você, e conversar.

Cris: Eu falo assim, ‘filha numa boa, eu não gosto’. Aí ela ‘Mamãe, mas é muito legal.’ Aí eu falei ‘Sabe azeitona? Eu acho super legal e você não gosta.’

[ risos ]

Cris: É mais ou menos assim que funciona a minha cabeça, eu acho chato. Ela ‘Um pouquinho!’ ‘Tá bom um pouquinho.’ Um minuto que eu fico sentada já tô quase querendo me matar! Aí eu já levanto. De vez em quando eu tento umas coisas novas, esses dias a gente brincou de AquaPlay e foi bem legal, foi divertido, mas assim, não muito tá.

[ risos ]

Ju: Mas sabe o que que eu acho de tv, tem um pouco do que a gente tava conversando antes, de que você falou que tem que ser bom pros pais e do que eu falei de que as escolhas não acontecem no vácuo. Então se você me perguntar na teoria, na teoria eu acho que criança não deveria ver tv, assim, deveria ser exposto ao mínimo possível. Porque eu acho que o tédio ajuda a exercitar a criatividade, porque eu acho que é um excesso de estímulo, porque eu acho que tem uma série de outras coisas que é muito passivo. Enfim, concordo com todas as críticas à tv, ok? Só que de novo, do mesmo jeito que a discussão de ficar o tempo inteiro com filhos ou trabalhar. A questão de tv ou não tv, esbarra numa realidade material, que é, tem horas que você tem que fazer comida, estender a roupa, terminar um job, e a criança tá lá te demandando e a única coisa que vai fazer ela ficar entretida e que vai te dar tempo pra fazer as tarefas que você tem que fazer é ligar a tv. Então a questão é, e eu acho que isso que a gente ser maduro pra ter essa discussão e hoje eu não vejo essa maturidade. As nossas escolhas não acontecem no vácuo, gente. Não dá pra cobrar que você seja o ideal em todos os momentos. Então assim, ah, eu levo meus filhos no parque no fim de semana, todos os fins de semana. Sábado E domingo eles vão no parque pra passar tempo ao ar livre, se exercitando com colegas, brinquedos e nãnãnãnãnã, eu leio histórias pra ele dormir todos os dias. Independente se eu tô cansada..

Cris: [interrompe] Ai isso aí eu também gosto também…eu deixo…

Ju: Ou não.

Mari: Que parque você vai?

Ju: No Água Branca, muito no Água Branca, e num…numas pracinhas, tem uma pracinha do lado do Vila Lobos e ali na região também. Então assim, tem uma série de coisas que eu consigo fazer legal, tem coisas que não dá. E fiim. E é sem sofrer entendeu? E aí é pensar nisso, na nossa geração a galera tava fumando dentro do carro de vidro fechado, sabe. Então assim, ah, eu vou dar orgânico quando der e quando não der não vai ser orgânico. E aí assim, frente a cigarro com o carro fechado tá tudo ok, sabe. Então assim, é saber que você vai fazer o melhor dentro da sua possibilidade e não ficar louca com isso. Nem por isso você vai defender o que você tá fazendo,né. Então não eu não acho certo a quantidade de tv que meus filhos assistem, mas eu acho que é o que cabe na minha vida hoje. Então, por exemplo, que vocês tavam falando, os meus filhos ficam com as avós a tarde, e aí cara eu não tô lá, então se elas vão botar tv a tarde toda ou se tem dia que elas vão desligar a tv, ou se eles tão enchendo muito saco eles vão ligar tv, é o poder delas de decidir, deixa elas decidirem o que é melhor, o que elas conseguem, e na boa, eu não consigo microgerenciar isso, sabe. E durante o fim de semana, ah, passou o dia no parque, a gente chegou, eu tenho que fazer o almoço, se tiver que ligar a tv vai ligar a tv cara, sem sofrimento sabe, sem querer ter um ideal que existe no vácuo, acho que principalmente isso.

Mari: Aham [ murmúrio de concordância ]

Cris: Indo aqui pra última reflexão a respeito disso. E aí ‘Tem que dormir cedo,isso é lei.’ ‘ Esse garoto não dorme nem a pau, não adianta, nem amarrado na cama ele dorme.’ ‘Deixa dormir a hora que quiser, isso aí tanto faz, eu não ligo.’ A hora de dormir é uma delícia e funciona ou ela é terrível?

Camila: Eu sou um pouco chata com rotina. Pra mim hora de dormir é hora de dormir é fixo. Mas eu sou, não sei porque eu tenho isso…

Cris: Funciona?

Camila: Funciona. Aliás, funciona porque com o meu filho eu fiz o treinamento de sono com ele quando ele tinha seis meses. Chamei uma consultora de sono, em três dias ele aprendeu a dormir. Mas deixei chorar, foi… é aquele treinamento de sono mesmo, você deixa chorar e vai aprendendo, e não é um “deixar chorar”, você, tem toda uma teoria por trás, você ampara. Mas depois que eu fiz o treinamento do sono ele nunca mais acordou a noite. A minha filha desde os dois meses dorme doze horas, desde dos dois meses, dorme das sete às sete, porque eu sou bem rígida com ritual de sono, hora de dormir, mas nem é porque eu quero, é assim, eu não consigo ser de outro jeito.

Cris: Eu também valorizo muito rotina. Também tem hora pra dormir, e hora pra acordar. No final de semana eu sou um pouco mais flexível com isso, mas sei lá eu acho que vou muito daquele negócio: ‘Olha pra criança crescer direito, [Ju rindo abafado ao fundo] pra absorver os nutrientes, pra aprender na escola, ela tem que dormir.’ Então eu sou meio neurada com isso, eu fico bem preocupada quando passa do horário, ela tem horário certinho pra dormir, horário certinho pra acordar. Claro que também não é aquele negócio que quinze ou trinta minutos vai cair o mundo…

Camila: [interrompe] Ah sim.

Cris: Ela tá ficando maiorzinha aí o que a gente faz, a cada aniversário ela ganha trinta minutos a mais, então agora passou pras 21:15 o horário de dormir.

[ risos ]

Cris: Né, então tipo, ela falou que ela agora já é uma criança adulta…

[ risos ]

Cris: Então as coisas, a vida dela tá ficando mais fácil, né, porque agora ela já pode fazer mais coisas, tipo dormir às 21:15. Então, e a partir dos sete anos ela já vai poder dormir na casa de algumas amigas de vez em quando, e isso aí, aí pronto! Aí é liberdade!

[ risos ]

Camila: Liberou geral.

Cris: Liberou geral. Mas eu entendo que isso não funciona pra todas as crianças, né…

Mari: É…não funciona.

Cris: Eu tenho muitas amigas que falam assim: ‘Não dorme. Não adianta.’ Tem rotina, não tem…[ri enquanto fala] não tem nada que faz, como é que é lá Mari?

Mari: Na minha casa, de novo né, eu tô me repetindo, [ri enquanto fala] eu tenho dois filhos bem diferentes.

[ risos ]

Mari: O Téo sempre dormiu razoavelmente bem, desde bebê e ele tem horário, oito e meia, é o horário que a gente criou, ir dormir oito horas, mas é horário dele. Chega oito e meia, já fica assim, já cansado, até já dormiu no sofá da casa de um amigo, assim, no meio da brincadeira, porque realmente acaba a energia dele. E a contrapartida é que ele acorda muito cedo, muito cedo…

Ju: [interrompe] Aham [ murmúrio de concordância ]

Mari: E a Liz não. A Liz anima a noite, anima.

[ risos ]

Mari: Tudo já tentei. Deixa sem luz… vai apagando a luz da casa… não come isso, não come aquilo…Mas ela é isso…

[ risos ]

Cris: [interrompe] Vai ver a menina tá com fome…olha isso.. [ ri ]

Mari: Eu falo vai todo mundo dormir, todo mundo já dormiu, passarinho já dormiu, todos os seus amigos já dormiram. Vai citando todos os nomes dos amigos da classe, não adianta. Ela tem pedidos bem específicos, tipo quero comer castanha…

[ risos ]

Mari: Posso, por favor, comer isso. Mas eu to vendo…Uma época a gente deu uma desencanada, vamo lá, ah quer saber, quer ficar acordada fica também. Porque vai cansando.

Cris: [interrompe] É…

Mari: Não é todos os dias que eu tô em casa a noite, eu às vezes trabalho até mais tarde e meu marido que põe pra dormir. E meo, chega, tá bom, quer ficar fica então também, porque já enjoei. Já contei história, já fiz massagem, já prometi…

[ risos ]

Mari: Já tudo! Porque ela tem uma lista demandas também…Só que agora também ela tá querendo acordar mais cedo, e tá sendo do interesse dela, dormir mais cedo. Então ela tá indo dormir mais cedo e tá ficando bem mais simples, porque é uma coisa dela, e ela tá querendo, ela gosta de acordar cedo, porque tem isso, tem aquilo, tem não sei o quê. Então tá mais fácil, mas porque foi uma decisão dela e aí…

[ risos]

Mari: E aí se ela tem uma agenda, então…a gente obedece, sei lá.

Ju: Então, aí você repetiu e eu vou me repetir também, eu acho que também essa escolha não é no vácuo. Eu colocaria meus filhos pra dormir mais cedo, eu…assim, o horário que pra eles é melhor seria umas sete e meia dormir, esse é o horário deles, porque a Nina precisa de doze horas e eles acordam às sete pra ir pra escola, e porque o Benjamin, independente da hora que ele for dormir, se é às sete, se é às onze se é meia noite, ele vai acordar quando o sol acordar. Exatamente dez minutos antes ele acorda.

[ risos ]

Ju: E ele se orgulha disso, ele fala ‘Mamãe, acordei quando o sol acordou.’ Pra ele isso é uma COISA.

Mari: Muito fofo.

Ju: Ele é muito literal nas coisas, e aí na escola eles fazem a roda do sol que é quando o sol acorda a natureza acorda, aí ele botou isso na cabeça dele e ninguém vai tirar nunca. JAMAIS. Então tudo bem. Então, assim, pela Nina, porque ela precisa de doze horas e por ele porque quanto mais cedo ele ir dormir, mais horas ele vai dormir, porque ele não vai acordar mais tarde. Então eu acho que seria o ideal eles dormirem umas sete e meia e tal. Tem uma coisa até de organismo né, que quando o sol baixa, baixa a serotonina, então tem uma coisa de que é importante a criança tipo ‘Ah, o pôr do sol, ela comeu e já vai dormir.’ Isso é importante. Só que tem outra coisa que também é importante, voltando pra aquela coisa que a gente não faz as escolhas num mundo ideal, a gente faz no mundo real. Que é ver mamãe! Ver mamãe é importante, ver a mamãe é legal, né? E mamãe chega em casa sete e meia, porque ela é muito abençoada no seu trabalho que permite que ela saia às sete e chegue sete e meia em casa que nenhuma mamãe consegue, a maior parte. Então já é legal que mamãe chegue às sete e meia que era a hora que eles já deveriam tá dormindo, aí eles vão despertar porque mamãe chegou. Então assim, minha mãe já me dá o adianto deles já estarem jantados e de banho tomado porque antes eu começava o processo de janta e de banho às sete e meia, aí ficava tarde pra eles. Mas então eles já tão de banho tomado, mas aí eles querem brincar um pouco. Mamãe senta no chão e brinca um pouco, daí mamãe brinca um pouco e aí vamo contar história, e aí vamo começar o processo de dormir e tal, escovar dente, remédio, nãnãnãnã. Então enfim, eles vão dormir nove horas, porque começam o processo às oito né, das sete e meia às oito brinca e entre oito e nove eles vão dormir. Todos os dias é no mesmo horário, eu acho tarde, pra eles, pra rotina deles, para o que eles precisam é tarde. Mas tem uma outra coisa que é mais importante, que é ficar com a mãe, então é isso que eu falo assim gente, a gente… As decisões que a gente toma, não são num mundo ideal, são na realidade, e aí tudo bem, é uma troca. Ah eu acho que ficar com a mãe é mais importante do que dormir na hora certa e vamo que vamo, sabe. E aí, acho que essa nem é a minha escolha mais polêmica, a escolha mais polêmica, bem mais polêmica, é o que a gente faz no fim de semana. Porque conforme dito, o Benjamin acorda seis e meia. Durante a semana ok,né, a gente vai ter que acordar às sete pra ir pra escola, ok. Mas assim, no fim de semana ele vai acordar seis e meia, no máximo, e a Nina vai acordar às dez e meia. Bons pais acordariam com ele, dariam café, essa coisa toda né, [ ri enquanto fala ] a gente liga a tv ou ele fica brincando. Ele brinca em silêncio pra não acordar ninguém e a gente dorme até às nove e meia no fim de semana.

(Bloco 8 – 1:12:37)

Mari: Gente fala pra ele ligar pro Teo, o Teo é assim: uma das primeiras coisas que a gente já ensinou pra ele era ligar a TV. Então, quando a gente ia dormir, já deixava num canal de desenho e ele só tinha que ligar, não tinha.. não acordo cedo, acho que tá super certo.
Ju: Ele me acorda pra ligar, e aí o Netflix tem aquela coisa que depois de, sei lá, meia hora, ele pergunta se você ainda está assistindo. Ai ele me acorda pra ligar o desenho de novo. Mas de igual maneira a gente fica dormindo um pouco mais. Mas tem uma coisa que eu queria falar pras mães de bebê que não dorme. Que eu acho que, assim, eu vejo muito essa diferença. Foi uma angústia pra mim. Porque eu escutava isso “cara eu fiz o treinamento do sono no meu filho e aí meu filho dorme a noite inteira” e se o seu filho não dorme, cê fala assim “gente, pera, eu só não fiz o treinamento certo” e aí cê começa a fazer todos os treinamentos possíveis, sabe? Eu tive um pediatra, o primeiro pediatra do Benjamin, ele foi demitido porque ele me falou quando o Benjamin tinha uns seis… Quatro meses, eu falava assim “cara, alguma coisa acontece com o Benjamin que ele, assim, ele acorda irritado no meio da noite” porque ele queria estar dormindo, mas ele acorda. E aí ele me falou assim…
Mari:[interrompe] Não, mas eles acordam a noite inteira
Ju: “ele ta te manipulando” não não, mas daí ele começava a chorar e tal
Mari: Chora porque acordou e ta com sono
Ju: Aí ele falou assim “ele ta te manipulando, pra você pegar ele e tal nanana” e aí eu fui falar com meu pai, que é médico né, pô, ele tá nessa né de que ele ta me manipulando e tal. E aí meu pai falou assim “olha, ele é teu médico. Ele não tem que te ensinar como criar seu filho, ele tem que falar das questões físicas dele. Ele não tem que ficar te explicando o que que é pra tu fazer, se é pra deixar dormir, se não é isso.. é uma escolha tua. Tu que é mãe.”.
Camila: [interrompe] Não, eu acho que os pediatras podem orientar.
Ju: Aí, eu demiti ele e eu fui ler na internet que existe uma coisa chamada salto de desenvolvimento e que tem bebê que tem alteração de sono e tem bebê que não. A Nina eu nunca vi um salto de desenvolvimento dela, o Benjamin tinha direitinho. Cada um dos saltos dava alteração do sono dele. E aí você pode escolher se você vai deixar o seu filho se resolver sozinho, e ele vai se resolver sozinho, ou se você vai ajudar ele a se resolver nessas questões. Ele sempre teve coisas de sono, então “ah no início era salto de desenvolvimento” beleza, ai depois era nos dentes, ai depois era porque tinha medo a noite, depois era..
Mari: [interrompe] Depois pesadelo, sempre tem motivo..
Ju: Depois era porque tava tirando a fralda, e aí depois era porque tirou a fralda, mas não conseguia ir no banheiro sozinho. Então assim, hoje ele tem quatro anos e agora ele dorme uma noite inteira. Hoje ele dorme uma noite inteira. Durante quatro anos ele nunca dormiu uma noite inteira. Passei quatro anos acordando a noite com o Benjamin.
Camila: [interrompe] Você é zumbi, hein?
Ju: E a Nina dormiu direto sempre. Então, assim, o meu chefe, o Léo que já veio aqui até no programa de pais, ele também o filho dele tem altos problemas de sono e ele já gastou uma grana com galera de treinamento de sono. Já fez, tentou várias coisas, já chamou… trouxe alguém na casa dele, já tentou todas as coisas, já tentou tudo! E o que que acontece? Eu não acho que essas coisas não funcionam, eu acho que funcionam. O seu filho quando você fizer isso ele vai melhorar do que ele tava, mas cê não pode comparar ele com uma criança que não tem problema de sono, entende? É isso que eu quero dizer. Tá, tudo bem, ele vai melhorar, mas ele não vai ficar uma criança que vai dormir, porque qualquer coisa interfere no sono dele, entendeu? E eu acho que, assim, essa é uma coisa importante pra gente ter em mente, sabe?
Cris: Outro dia foi dormir uma amiga da Tatá lá em casa, a Tatá não dorme no claro, ela tem muito problema de ficar no claro, pra ela tem que tá o quarto bem escuro. Foi dormir uma amiguinha dela, ai dormiu uma pra cima uma pra baixo, “boa noite. boa noite.” E de madrugada a menina acorda, não era de madrugada, isso era meia noite, a menina acorda, (eu) ainda tava acordada ai… “eu quero a minha mãe” eu falei “caraca, eu to ferrada!”
Camila: Da um MM.
[todos riem]
Ju: Solução da vida MM, sim.
Cris: Eu falei “filha, sua mãe não ta aqui e tal” a Tatá já acordou e falou “porque você ta chamando ela de filha?”
[risos]
Cris: Aí [rindo] eu “Fica quieta”. E daí viro “querida, não fica assim. O que que foi?” “eu acho que.. eu acho que a luz tava balançando”, aí eu abaixei pra pegar a menina, na hora que eu baixei e levantei a menina era mais pesada que a Tatá, eu senti a minha coluna distendendo, peguei a criança no colo, levei a criança pra cama, coloquei a criança na minha beirada, eu e o Agê, abracei a criança e a criança dormiu, abraçada comigo, como se eu fosse a mãe dela. Se eu descubro que a Tatá dormiu assim com uma outra mãe, eu sei lá, eu teria um infarto [todos riem] pois a menina tava ótima ali. Então eu e Maria Rosa abraçadinhas dormindo, daí a pouco, mano, a Tatá aparece na porta “que bosta é essa aí que essa mãe é minha” [pausa com risos] pulou e agarrou nas minhas costas. O Agê, coitado, foi dormir na sala e eu virei um sanduíche com duas criança. Na hora que eu acordei de manhã, eu não conseguia me mexer de dor nas costas. Não mudei de posição, entendeu? Eu fiquei completamente esmagada. A hora que eu levantei eu falei “leva as meninas na escola que eu acho que preciso que ir no hospital” eu tive que tomar uma injeção porque eu fique na mesma posição desconfortável a noite inteira esmagada pelas crianças. Depois eu fiquei rindo disso e rindo da situação de eu lá, super fofa com a menina, e a menina é uma querida, adoro ela, abraçadinha tipo “meu, se minha filha fazer isso com alguém, eu mato!!” [risos] não, tipo, será de onde que ela tira isso né? esse ciume, tipo, da mãe. Foi muito engraçada a reação dela “Opaaaa!! Essa mãe é minha!! Tira a mão das minhas gavetas!!”
Ju: Amigas amigas, mas também não dá pra dividir a mãe, né?
Cris:[entre risos] Pô, vai dormir com a minha mãe? Ta de palhaçada com a minha cara? Bom gente, é um papinho sobre filhos, sobre como esse universo é conturbado na mente delicioso, né, boas vindas. Como é o nome da sua filha? Você não falou pra gente.
Camila: Meu filho chama Oto, minha filha chama Ana.
Cris: A Ana que é a novinha.
Camila: Dois palíndromos.
Cris: Bem vinda a Ana, obrigada por liberar a mamãe pra vir conversar com a gente.
[sobe trilha]

[trilha instrumental]
[desce trilha]

Cris: Vamos falar um pouquinho rápido aqui sobre um segundo tema que a gente levantou. O Dia Internacional da Paz foi ontem, dia 21, e o fato é o seguinte: 21 de setembro de 2006, por ocasião do Dia Internacional da Paz, o Kofi Annan firmou “A 25 anos assembleia geral da ONU proclamou o Dia Internacional da Paz como um dia de cessar fogo e de não violência em todo o mundo” e desde então a ONU vem celebrando esse dia cuja finalidade não é apenas que as pessoas pensem na paz, mas sim que façam algo a favor dela. Seguindo essa premissa, começa nessa quinta-feira, dia 22, e vai até domingo, dia 25, em Florianópolis, a décima edição do fórum mundial da paz. Pela primeira vez realizada na américa, o evento sem fins lucrativos deve reunir mais de dois mil participantes, com o objetivo de partilhar conhecimento e iniciativas e ações voltadas para promoção da paz. No total esse encontro deve reunir, aí, cerca de 60 pessoas.
Ju: Nos dias atuais o que mais falamos é os comentários enraivecidos e, por vezes, criminosos postados na internet. A comunicação também é uma forma de violência. Como podemos neutralizar essa arma que está na nossa boca? Vamos falar um pouco sobre comunicação não violenta com o psicólogo Frederico Matos.

(Bloco 9 – 1:20:00)

Frederico: É um prazer tá falando aqui no mamilos, meu nome é Frederico Mattos, sou psicólogo clínico e atendo adultos e casais e adolescentes. Então, a gente vai falar sobre comunicação não violenta.

Ju: Quais os objetivos da comunicação não violenta?

Frederico: Bom, a comunicação não violenta, ela a princípio pode parecer uma ferramenta de comunicação. Como se você tivesse simplesmente ensinando uma pessoa se comunicar de uma maneira não briguenta ou não cheia de ruídos na comunicação mas na verdade a comunicação não violenta, ela surge de uma visão filosófica a respeito da vida de uma forma diferenciada então ela tem um efeito interno e um efeito externo efetivamente na comunicação e sem o efeito interno o efeito externo ele surge só como se fosse uma ferramenta mesmo e pode soar artificial e muito didática, até um pouco chata, um pouco artificial mesmo. Então o objetivo da comunicação não violenta é estabelecer uma comunicação interna e externa com mais equilíbrio e sem os ruídos da violência ou da agressividade que transformam a comunicação numa ferramenta de dominação, numa ferramenta de soberba, numa ferramenta de criação de problema, de discórdia. Então a comunicação não violenta é uma ferramenta de reconciliação com a verdadeira natureza humana, com os valores que você tem, se comunicando com outro a partir dos valores do outro também então, uma ferramenta de olhar pra si mesmo e olhar pro outro sem reatividade na comunicação. Então esses seriam alguns objetivos mais básicos da comunicação não violenta a comunicação não violenta não

Ju: A comunicação não violenta não pode passar uma noção de falta de força ou de falta de opinião?

Frederico: Na verdade, a gente confunde o oposto de não violência com paz e a gente tende achar que a paz ela tem uma aparência frágil ou ela tem uma aparência passiva ou uma aparência de pouca vitalidade. E na verdade a comunicação não violenta ela é uma comunicação com muita força, com muita intensidade e que ela pode ser usada nos momentos mais intensos da vida cotidiana ou de qualquer tipo de interação social presencialmente ou, ou virtualmente então você pode falar coisas muito difíceis, muito duras, muito dolorosas, de uma maneira não violenta. A não violência não tem a ver com vocês e docinho ou falar baixinho, cochichando, a não violência tem a ver com você respeitar os seus valores, respeitar o valor do outro e acima de tudo não colocar a raiva como um intermediário da comunicação. Então, longe de ser uma falta de força, a comunicação não violenta ela ajuda você a colocar com muita força com muita vitalidade a sua opinião inclusive as opiniões mais difíceis de uma maneira onde realmente o seu interlocutor, aquela pessoa que vai te ouvir, consiga entender com clareza e você não é aquela sensação de que você perdeu tempo ou que você não atingiu de fato o seu objetivo na hora de se relacionar com outra pessoa.

Ju: Qual os efeitos nocivos da comunicação violenta em quem a pratica?

Frederico: Bom, existem tantos efeitos nocivos em uma comunicação violenta que é difícil enumerar, mas eu diria que uma comunicação violenta, metaforicamente, como se você tivesse colocando fogo nas situações, é como se eu tivesse colocando fogo nas relações que você tem com as pessoas. Então a comunicação violenta ela não vai atingir o objetivo que ela tem porque quando agente tá com raiva de alguma coisa normalmente a gente não se dá conta que nós estamos lutando por algo, nós estamos nos sentindo ofendidos ou não ouvidos ou machucados por alguma coisa. Então ninguém se mostra raivoso porque tá alegre com alguma situação. O problema, que como a gente está se sentindo machucado na tentativa de reivindicar algum tipo de respeito, a gente acaba desrespeitando outra pessoa, ainda que a gente se sinta com razão. Aliás, pessoas que mais se sentem com razão só as mais inclinadas a ter em uma comunicação violenta que é uma comunicação impositiva. Então quando você tem uma comunicação violenta um dos efeitos nocivos também além de você colocar fogo na relação é você perder a conexão com quem você tá falando, porque no momento que você ataca alguém por mais que você tem uma opinião válida, um posicionamento importante você acaba perdendo a conexão com aquela pessoa e não atingindo ou não chegando no lugar que você gostaria. Seus pedidos não vão ser atendidos, e acho que é efeito tóxico de longo prazo é que você próprio começa a se tornar violento com você mesmo, então você começa a se tornar intransigente com suas próprias fragilidades, você não acolhe as suas contradições, você não lida bem com falhas, com erros com enganos e isso acaba fazendo com que você empobreça a sua experiência psicológica. Você se torna uma pessoa mais triste e a tristeza acaba fazendo com que muitas pessoas crie um escudo de força e aí em cima da tristeza a pessoa cria um escudo de mais raiva, ou seja, você vai se transformando numa pessoa descontrolada, numa pessoa que não tem mais equilíbrio, não sabe mais exatamente o que que você realmente está sentindo em relação às situações e o pior você também perde credibilidade no meio em que você vive. As pessoas às vezes não confrontam você porque elas têm medo, mas não porque ela se respeitam e valorizam efetivamente, fora que isso acaba querendo ressentimento, distanciamento, desconexão e aí as pessoas que a gente mais ama são aquelas que vão se afastando, entristecendo e com tempo acabam se afastando efetivamente, as vezes não de fato mas ela se afastam emocionalmente. Então são vários os efeitos nocivos de uma comunicação violenta.

Ju: Como podemos nos expressar com mais honestidade?

Frederico: A gente tem uma dificuldade de entender a palavra honestidade porque a gente tende achar que a honestidade ou a sinceridade ela necessariamente vem acompanhada de dureza. As verdades difíceis ela já são duras em si, agora a embalagem que você vai colocar na hora de você transmitir isso, ela não precisa ser dura. Então quando você vai se expressar de uma maneira honesta, acho que a primeira coisa que você precisa pensar “como o outro vai receber aquilo?”. Então pra você poder se expressar com honestidade sem agressividade, é você pensar “como essa pessoa estaria recebendo o que eu estou falando?”, “como eu receberia isso?”, “como é que eu posso facilitar o entendimento do que eu tô falando, sem necessariamente apelar por algum tipo de grosseria?”. Então de repente se uma pessoa te convida pra fazer uma coisa que você não quer, ou não pode, ou não tá disposto ao invés de falar “não, não vou”, supostamente sendo honesto, porque aquilo seria verdadeiro, você pode falar assim “olha, eu não tô nas melhores condições eu não tô nos meus melhores dias” ou “talvez eu sair com você eu acho que não vou ser uma boa companhia”, “não tô confortável pra fazer determinado tipo de coisa”. Existem maneiras mais tranquilas, mais gentis, onde você realmente considera a sensibilidade da outra pessoa pra poder falar as coisas com honestidade mas sem agressividade.

Ju: Como podemos ajudar os outros e ouvir com verdadeira empatia?

Frederico: A primeira coisa que a gente precisa pensar como vai ajudar uma pessoa é entender que nós não somos senhores da situação, nós somos uma pessoa adulta ajudando uma outra pessoa adulta a lidar com uma questão com problema. Outra coisa que a gente tem que tomar cuidado é de não tentar salvar ninguém de alguma coisa a qual ela precise passar pela jornada de resolução. Então por exemplo, no consultório é muito comum as pessoas virem, imaginando que eu, como o psicólogo, daria uma resposta mágica que ajudaria ela a resolver algum tipo de problema, mas o X da questão é que eu não tenho uma resposta mágica, eu tenho perguntas e esclarecimentos a respeito da própria história dela. Então mais do que salvar a pessoa, ou tirar a dor daquela pessoa quando a gente quer ajudar alguém a gente pode ir, na pior das hipóteses, a gente pode estar ao lado dessa pessoa, a gente pode servir de apoio, de ombro amigo, oferecer o nosso silêncio carinhoso. Quando a gente se posiciona e oferece esse silêncio carinhoso a gente tá ajudando, porque a nossa noção de ajuda ela parece que tem uma coisa meio salvacionista, meio socorrista, como se eu não pudesse deixar a pessoa sofrer em situação nenhuma e o sofrimento ele faz parte de um processo de transformação interior. A pessoa fez alguma coisa que de alguma maneira afetou outra, aquilo gerou um retorno e ela tá sofrendo por aquilo, por alguma perda. Então ela tem um período de luto, ela tem um período de elaboração daquele problema. Então quando você se imagina querendo arrancar dela agora o problema você não tá efetivamente ajudando. Então frases imperativas do tipo, “você tem que”, soa uma arrogância, “você deveria fazer tal coisa”, parece que eu sei a verdade, “nossa, eu já passei por isso e eu fiz desse jeito então faz isso também”, ou falas, que vamos dizer assim, que não respeitem, não ajudam, de fato porque você não ouviu a pessoa, você não se colocou ao lado dela, você não se colocou no lugar dela, às vezes até você no lugar dela gostaria de ser salvo, mas isso não é realmente boa de ajudar alguém. Então toda vez que você tenta corrigir a experiência da outra pessoa, do tipo, “eu tenho uma versão certa do que você deveria ter feito”, isso costuma ser uma maneira, pouco, realmente ajudadora, oferecer consolações vazias, então ao invés de falar vai ficar tudo bem, você pode falar, eu vou tá do seu lado, seja lá o que acontecer, ou seja, você não sabe se vai ficar tudo bem, mas você sabe que pode tá do lado dessa pessoa no momento difícil. Então pra ajudar de verdade você também pode usar uma comunicação não violenta, uma comunicação onde você não seja o rei e a outra pessoa o súdito que vai ouvir a sua voz de sabedoria, então é se colocar um pouco mais como humano falando com humano, um adulto falando com outro adulto.

Ju: Existe um passo a passo ou exercício a ser feito para conseguirmos praticar mais e melhor a comunicação não violenta?

(Bloco 10 – 1:31:29)

Frederico: Bom, antes de praticar a comunicação não violenta, tem um livro falando sobre isso chamado “Comunicação Não Violenta” que dá um passo a passo mais bem explicado, mais prolongado, fundamento daquilo tudo. Mas, antes de mais nada, é importante você pensar em algumas pessoas que você possa treinar. Pessoas em que você tenha confiança, bem querência, pessoas que você sabe que você pode treinar melhor, um amigo ou algum colega que você possa treinar. Acho que o primeiro ponto é você respirar, aprender a dar um passo atrás antes de se expressar. E acho que isso pode ajudar na hora da prática da comunicação não violenta, porque não adianta você ser uma pessoa reativa, uma pessoa que acha que sempre tem que dar sua opinião em tudo, que não sabe esperar o momento certo de falar. Então se você é uma pessoa que engole os outros na sua maneira de se expressar, vai ser muito mais difícil pra você a comunicação não violenta. Então você precisa aprender a respirar, ou seja, dar uma pausa entre o que a pessoa falou e o que você vai responder. Então essa é uma… Passos anteriores. O autoconhecimento também é uma coisa superimportante porque a dificuldade das pessoas na hora de se comunicar é não saberem, por incrível que pareça, o que elas são, o que elas querem e o que elas querem da outra pessoa. Isso são perguntas tão básicas que uma criança de seis anos pode fazer e que a gente não faz pra si mesmo. Então a gente às vezes tem que agir como uma criança de seis anos e se fazer perguntas básicas. Bom: ‘que que eu sou?’, ‘O que que eu quero da vida?’, ‘E o que que eu quero dessa pessoa nessa conversa?’. Então isso é uma coisa anterior. Então existem, vamos assim, quatro passos básicos. O primeiro deles é você falar em primeira pessoa, ou seja, você assumir que é você quem está falando. Normalmente a gente tem uma tendência na hora de se expressar a se expressar como assim ‘Ah, porque as pessoas querem tal coisa’, ‘É, porque ninguém me entende’. A gente fala de uma maneira genérica ou a gente se coloca quase como uma terceira pessoa. E quando eu digo assim ‘Eu estou’, ‘Eu me sinto’, parece eu, eu. Eu estou assumindo a responsabilidade por aquilo que estou falando, eu sou um adulto que assume a responsabilidade. É diferente falar assim ‘Você é um preguiçoso’, ‘Você é um canalha’, ‘Você não me ama’. Toda vez que a gente usa essas frases onde a gente começa com ‘Você alguma coisa’ a pessoa imediatamente vai responder de uma maneira contra-atacando, se defendendo ou silenciando, se afastando. Então a primeira coisa é falando em primeira pessoa: eu. Segundo ponto: você falar sobre o que você está sentindo. Você falar o que você está sentindo ajuda você a se conectar com o que está acontecendo. E a gente tem um vocabulário emocional bem pobre. A gente tem uma tendência a transformar pensamento em sentimento. Então, alguma pessoa fala ‘O que você está sentindo?’, ‘Ah, eu to sentindo que aquela pessoa não presta’. Não, isso daí é um pensamento, você está pensando que aquela pessoa não presta. Mas ‘O que que você está sentindo?’, ‘Ah, eu estou sentindo um troço no peito’. Um troço no peito é uma sensação física. ‘Eu estou sentindo tristeza’. Aaahh, bom. Tristeza é uma emoção. ‘Estou sentindo angústia’. Aaahhh, angústia é emoção. ‘Estou me sentindo culpado’, ‘Estou me sentindo com medo’, ‘Estou me sentindo com raiva’. Se a gente conseguir saber dessas emoções básicas (tristeza, medo, raiva, alegria), a gente já saiu do analfabetismo emocional básico que todo mundo tem. A gente não sabe dar nome ao que a gente está sentindo. Então, nesse segundo passo é ‘Eu sinto’. O terceiro passo, o que ajuda, é você falar sobre fatos e a gente acha que a gente é muito factual, que a gente é muito jornalista da realidade. E na realidade, quando a gente vai se comunicar com as pessoas, a gente às vezes fala em termos de opiniões, em termos de achismo. E às vezes a gente usa muitas hipérboles: ‘Você sempre…’, ‘Eu nunca…’. Essas falas, assim, muito maximizadas, vamos dizer assim, que ganham uma magnitude definitiva, absoluta, elas normalmente não são factuais. Então às vezes você diz ‘Você nunca vem me ver’ e é mais fácil dizer assim ‘Olha, faz umas duas semanas que não te vejo’. Esse é um fato. O fato, para ajudar a gente a entender, se tivesse uma câmera gravando, o que essa câmera estaria gravando? Se tivesse um áudio gravando, esse áudio estaria gravando o quê? Então, quando a gente pensa num fato, a gente tem que saber ver esse fato. Não pode ter tanto adjetivo: ‘Aquela pessoa horrorosa, não tem caráter’. Bom, isso é um fato ou uma opinião. A pessoa vai dizer ‘É um fato!’, bom, mas não é um fato, é uma opinião. Talvez essa pessoa tenha falado uma mentira duas vezes, então não sei se ela é uma mal caráter, se ela é uma pilantra, sei lá, coisas desse tipo. Então falar em primeira pessoa é uma coisa; falar sobre sentimento, segunda coisa; falar sobre fato, terceira coisa. Então a gente já conseguiria falar ‘Eu me sinto triste, com medo, com raiva ou desconfortável quando você fala mais alto comigo como você fez agora há pouco’. Veja: estou falando da primeira pessoa, do que eu sinto, diante de um fato. Um quarto passo é você identificar quais são as suas necessidades em relação àquela conversa, ou seja, quais são as coisas que você estima, que você busca, que você quer. Então ‘Puxa, eu necessito de respeito’. Legal, então você já sabe qual é o pedido que você vai fazer. Então ‘Eu me sinto triste quando você fala comigo alto desse jeito porque eu sinto uma necessidade de respeito’. E aí o último passo: o pedido claro. Nós achamos que a gente faz pedidos claros para as pessoas, mas normalmente os pedidos que a gente faz são pedidos meio absurdos, meio que não tem conexão com a realidade. Quando eu vou fazer um pedido claro, eu estou fazendo um pedido factual. Então, se a pessoa está falando alto, eu peço para ela falar mais baixo; se eu estou achando que a pessoa não me ama, eu vou pedir pra que ela me demonstre amor me abraçando porque pedir que ela te ame de volta pode ser uma coisa meio abstrata pra ela. A gente acha que a gente sempre está na mesma página das outras pessoas, mas, na maior parte das vezes, a gente está falando de uma coisa e a pessoa está entendendo outra, principalmente quando o assunto é delicado. Quando o assunto é delicado, a pessoa normalmente está na defensiva e como ela está na defensiva, ela tem uma tendência a não ouvir com clareza. Então quando eu faço um pedido claro, quando eu faço um pedido onde eu digo claramente o que eu estou pedindo pra ela, ela vai poder ter a chance de atender e falar ‘Isso é possível de eu atender’ ou não, porque quando o pedido não é claro eu vou deixar a imaginação dela adivinhar o que que seria isso, porque eu posso pedir para que ela me ame, mas ela acha que ela já está me amando. E ela vai dizer ‘Mas eu te amo’ e aí você pode dizer ‘É, mas você não demonstra. Eu queria que você demonstrasse amor me abraçando, vindo falar comigo, abrindo sobre os seus problemas, suas dificuldades, do mesmo jeito que venho fazendo’ e pronto, o pedido é claro. Então quando você pensa nessa estrutura ‘Eu me sinto triste quando você fala alto comigo como você acabou de falar porque eu sinto uma necessidade de respeito e eu gostaria que você falasse mais baixo quando a gente conversasse sobre esses assunto delicados’, isso é uma mensagem clara. Quando você fala isso, sem que você perceba e sem que a pessoa perceba, ela vai ter que ouvir isso de uma maneira mais tranquila e mais relaxada. Ela entende melhor o recado. Lógico que em uma conversa a gente não vai falar dessa maneira ‘robozinha’ ou estereotipada. Pode ser que no começo a gente precise falar desse jeito, mas, com o tempo, a gente vai falando ‘Puxa, eu me sinto desconfortável com essa situação, quando você fala alto comigo desse jeito. Eu fico acuado, me sinto com medo. Eu sinto vontade de me afastar de você e eu realmente queria me manter conectado. Eu gosto de você, a nossa amizade, o nosso relacionamento amoroso é importante pra mim. Então, pensa um pouco comigo, se coloca no meu lugar’. Então veja como isso aí produz um efeito diferente. Acho que essas são algumas dicas que a gente pode dar a respeito da comunicação não violenta. Eu espero de coração ter ajudado e contribuído com essa discussão.

Cris: Temos então um programa e vamos para o Farol Aceso.

(Bloco 11 – 1:40:25)

[Sobe trilha]

Eu sou facim, sim, sim, sim, sim
Eu sou facim

[Sobe trilha]

De repente um pé na porta
Pé de cabra cadabra
Me tirou da cama, me tirou da barriga
Do nada: despertador

[Desce trilha]

Cris:Vamos então para o Farol Aceso, rapidinho. Vamos lá Mari o que que você tem de de bom?

Mari: hoje como o tema foi maternidade , dilemas e muitas e muitas dúvidas eu tenho um site super legal pra indicar que chama Mães de Peito de uma jornalista muito séria chamada Giovana que sempre pesquisa, vê os muitos lados da questão e também tem dois dois filhos sabe do que tá falando, eu acho uma ótima fonte pra gente tirar as migas dúvidas que rondam a nossa cabeça sempre.

Cris: Boa! Camis que que têm aí?

Camila: Eu vou indicar um documentário que tá disponível no Netflix ele chama The mask you live in a tradução seria ‘A máscara em que você vive’. Ele fala sobre a questão da masculinidade, dos preconceitos em relação ao que é esperado dos meninos ele fala muito sobre um… Uma frase que é ”BE A MAN”, “SEJA HOMEM”, que os meninos deveriam desde pequenininhos já logo no playground da escola, no playground da praça, começar a competir uns com os outros e não poderem expressar angústias, tristezas ou qualquer vulnerabilidade. Se um menino começa a chorar o outro já aponta o dedo e fala “ah ele é o bichinha, ele é o bichinha, tá chorando”. Enfim, toda essa questão contribuiria para os problemas da nossa sociedade, eu acho super válido esse documentário.

Cris: Boa! Ju o que que cê manda?

Ju: Eu quero indicar duas coisas. A primeira é uma série do Netflix Original que é inspirada nos Beatles a animação chama Beat Bugs. Cada episódio é inspirado numa música dos Beatles então, assim, é muito muito legal. Assim as referências são muito legais, as músicas foram regravadas por Pink, Ed Vedder e pela Sia. Então assim a qualidade é muito boa e eu vou falar que eu me peguei invejando aquela frase da Xuxa lá do Twitter “Pô, que droga que os meus filhos não foram alfabetizados em inglês, que ele não pensam em inglês” porque claro que a série faz muito mais sentido pra quem entende a música em inglês. Quem assistir a série em inglês vai fazer muito mais sentido, pros nossos filhos é bonitinho, é coloridinho, são insetos num jardim aprendendo lições super úteis para a vida, pra ela tá OK mas daí não faz tanta relação com a música, porque o episódio vai contando a história da música e tem a trilha da música no fundo, né? Então assim se as duas coisas conversassem seria muito mais explodidor de cabeça pra eles, então acaba sendo mais legal pros pais mesmo. Mas é muito legal que a trilha que seu filho goste seja uma música que você também gosta. Pra não ser tão ‘cult’ assim eu vou dar uma outra dica que é uma coisa que é hit parade em casa que é o Mundo Bita. Eles lançaram agora o quarto episódio então eles têm o Bita e o dia a dia, Bita e as brincadeiras…

Cris: [interrompe] Bita e os animais…

Ju: Bita e os animais e agora eles lançaram Bita e o corpo humano. E aí eu até comentei com o Merigo pela quantidade de coisa que eles lançam eu falei “gente eles tão no auto tuning né?” Eles pegam… Ah o job é música de brincadeira então escolhe uma brincadeira pra cada trilha e põe no auto tuning e seja orquestra Deus quiser que criança também não é muito exigente, mas as músicas são muito chiclete então a gente passa o dia depois cantando as músicas no trabalho. Você vê que agradável né se antes você tava cantando Beatles agora você tá cantando aquelas músicas do auto tuning do Bita, do Mundo Bita mas é muito chiclete e as crianças adoram. E tudo isso tem animação no Netflix também então é fofinho, é bonitinho é legal que eles diversificam bastante os ritmos. Então tem bastante ritmo brasileiro. Então, ah, eles vão fazer sei lá sertanejo, rock, pagode assim forró eles fazem bem diversificado cada faixa é um ritmo musical diferente então acho que também dá pras crianças um repertório maior e aquela coisa de pô tudo é trilha original, tudo tem uma riqueza de instrumentos bacana então acho que assim, pras crianças é uma vivência bem legal. Vale a pena recomendo Mundo Bita e é bem brasileiro. E você Cris?

Cris: Vou indicar o livro da Ana Cardoso que é uma querida que inclusive mandou o livro pra gente ‘Mamãe é Rock’. É uma gracinha, é uma delícia o livro, você lê numa sentada, é um livro que eu queria dar muito pra todas as meninas que tão com seus bebês pequenininhos agora porque ele é um livro bem libertador, ele mostra o que passa, ele mostra que tudo bem às vezes ser difícil. Na verdade não é um livro que ela tá dando nenhuma dica…

Ju: [interrompe] Aleluia!

Cris: Ela tá só contando situações da vida dela e é divertido. Você se identifica com várias coisas desde tomar banho pra ver a coisa se resolve sozinha até a filha que corta o próprio cabelo e ela descobre como cortar cabelo em casa. Então assim são contos de umas, duas páginas e é muito gostoso de ler com um riso na cara. A Ana tá de parabéns ficou muito legal o livro e eu recomendo pra todo mundo mundo. É bem divertido e deem de presente pras mamães rocks. Temos um programa?

Ju: Temos super. Obrigada meninas foi muito bom receber vocês.

Mari: Obrigada vocês.

Cris: Muito bom. Fica a gostosa sensação de ter feito um programa light.

Ju: Sim, precisamos.

Cris: Beijo.

[sobe trilha]

Música
Onde era agora
ou quando era aqui

[Desce trilha]