Transcrição: Mamilos 67 - Profissão de fé • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição: Mamilos 67 - Profissão de fé

Capa - Transcrição: Mamilos 67 - Profissão de fé

Jornalismo de peito aberto

Essa transcrição é resultado do trabalho colaborativo de Lu Machado, Jonas Rocha, Gisele Prado, Matheus Teixeira, Dennis Guilherme e Jefferson Deroza, um time que só fica mais lindo com o tempo.

Se você utiliza essa transcrição e ainda tem qualquer dificuldade de acessibilidade, por favor, entre em contato conosco no [email protected].

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Vem fazer o Mamilos <3

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Ju: Bem-vindo ao seu espaço semanal de encontro, ao podcast que tá mais preocupado em construir pontes que do que em provar pontos. Eu sou a Ju Wallauer e essa é a…

Cris: Cris Bartis.

Ju: estamos aqui pra matar essa saudade doída.

Cris: vamos começar pelo Som do Mamilos. Caio coisa linda, artesão do áudio. Acredita que a gente levou uma bronquinha do chefe porque a gente andou fazendo uns pedidos na edição do Mamilos. “Que sentido tem? Vocês fazem um quadro aí mó legal pra indicar gente e aí quando indicam vocês vão lá e pedem vocês mesmas?” Bom, rabinho entre as pernas caprichem na curadoria pra Teta desse mês.

Caio: Olá Personas! Corraíne aqui novamente para trazer pra vocês os responsáveis por dar mais cor e ritmo ao Mamilos dessa semana! Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical desse programa pode recomendar bandas ou artistas independentes
no e-mail: [email protected] . E facilita e muito a minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. Nessa edição nós iremos ouvir o rock alternativo do Comodo Marfim uma banda de Juazeiro do Norte no Ceará que teve seu primeiro álbum A cabeça estendida na viga do braço lançado no ano passado, então fiquem aí com Comodo Marfim no Som do Mamilos.

[sobe trilha]

Eu conseguiria me desvencilhar
SDesse veludo tingido pelos espinhos
Por acreditar me entreguei a você
Como a flor ao azul
E você me arrancou de si
Sem tirar pedaço…

[desce trilha]

Ju: e o beijo para:

Cris: Os Mamileiros de Juiz de Fora, MG

Ju: pra Belém do Pará

Cris: Mamileiros de Nova Zelândia

Ju: E pra Brumado na Bahia.

Cris: e o Fale com o Mamilos?

Ju: falem com a gente que a gente sente muita falta quando vocês não nos enchem de e-mails, quando não tem um monte de Mention, quando não tem mensagem no Facebook. Falem, deem sua opinião, continuem com a conversa porque vocês sabem o que a gente faz aqui em cada programa é dar um ponto de partida o legal é o que vocês fazem a partir do que a gente faz.

Cris: e no quadro do Merchand vamos falar Juliana brilhando, estampando esfregando sabedoria na cara da sociedade. Como é que foi no fim de semana?

Ju: gente foi tão legal. Queria agradecer muito muito a terceira turma do Workshop de LoveBrands. Veio gente de Porto Alegre, do Rio, de BH e de Fortaleza só pro curso e foi lindo demais. Espero muito que a galera que não era mamileira esteja ouvindo esse programa para escutar esse obrigada foi assim uma super experiência a gente sempre aprende cada turma é diferente da outra eu sempre vou mudando a apresentação vou incluindo slides, foi super legal, muito muito obrigada.

Cris: e para por aí?

Ju: não para por aí porque eu estarei no Talking Heads, que é um evento do grupo de planejamento no dia 16/05 segunda-feira à noite.
Serão 20 palestras, todas presenciais, no estilo pechakucha — isso que é o mais legal, eu adorei esse formato. O que que quer dizer isso? São apresentações de 20 slides, cada uma com transição automática de 20segundo, então cada slide tem 20 segundos ou seja as apresentações vão sempre ter 6 minutos e 40 segundos. É um super exercício de síntese é um super exercício de ensaio, tem que ser super ensaiado, eu adorei o desafio é eu vou lá justamente pra falar o que que eu aprendi fazendo podcasts então eu gastaria muito muito muito de ter Mamileiros lá porque assim, se vocês forem lá dar uma olhado no convite do evento só tem head de planejamento, VP de planejamento, Picas da Galáxias, cargos que eu nem sei fala e eu no meio!

Cris: Poderosa!

Ju: então eu adoraria ter pessoas que me apoiassem lá na plateia, então assim, Mamileiros por favor vão lá no Talking Heads.

Cris: e levem plaquinhas JU EU TE AMO!

Ju: Isso! Risos… Quando eu terminar de falar alguém pra aplaudir, alguém pra dizer nossa que bom, essa menina fala tão bem né?

Cris: menina boa! E no próximo final de semana tem o festival Path. É um evento anual que acontece em SP desde de 2013. É um grande, o maior, festival de inovação e criatividade no Brasil e durante o próximo final de semana vão oferecer mais de 300 horas de conteúdo. Tem pra todo gosto tem palestra, tem filme, tem show, tem a Gica que vais estar no festival podem ir lá dar beijinho nela.

Ju: isso é uma atração à parte né?

Cris: tá previsto 10mil pessoas, vai ser fácil achar a Gica e o B9 estará lá fazendo a cobertura. A gente vai divulgar durante semana as palestras que o B9 estará cobrindo vai estar ali no site e vocês encontrar com o B9 lá.

Ju: é isso aí! Corram.

Cris: e hoje é dia de agradecer Patreon, certo?

Ju: certo! A Teta é o momento de a gente agradecer todos os patronos que doam qualquer quantia pra demonstrar o quanto amam o Mamilos. Tem gente que ajuda o Mamilos fazendo a arte da capa, tem gente que ajuda fazendo a transcrição o/ tem gente que ajuda fazendo a pauta e tem gente que ajuda doando centavinhos e dinheirinhos lá no Patreon pra tornar o programa possível. É legal a gente prestar contas. Hoje toda a grana do Patreon vai pra edição do programa é pro nosso adorado Dantas que tá tornando esse programa viável ainda. Então salve Dantas! Vale a gente fazer o agradecimento de praxe então destacamos o agradecimento a:

Cris: obrigada Alex Vila Verde;

Ju: André Dorte;

Cris: Beto Patux;

Ju: Claudia Matsukuma;

Cris: Danilo Shindi Yamakishi;

Ju: Erik Égon;

Cris: Luyza Pereira;

Ju: Guilherme Honorato;

Cris: Jaqueline Costa;

Ju: Ken Fujioka;

Cris: Lucas Sales;

Ju: Mariana Ruggeri;

Cris: Marina Feltran;

Ju: Silvia Gurgel;

Cris: Tiago Rezende;

Ju: Fernando;

Cris: Rodrigo Cruz

Ju: muito obrigada gente!

[trilha da banda Comodo Marfim]

Cris: e vamos pro fala que eu te escuto. Vamos ler aqui o e-mail recebido pela Moana Simas
“Olá, meninas! Me dou a intimidade de chamá-las assim pois nos últimos meses tenho tido vocês como minhas companheiras de praticamente todos os dias. Em algum momento durante janeiro, de volta à Noruega após uma visita de Natal à terrinha (São Paulo), ouvi falar do Mamilos por um amigo – norueguês – que escuta bastante podcasts e com quem treino meu norueguês (e ele, “carioquês”). Na hora pensei “Mamilos? Eu heim! Considerando o último podcast que ele me indicou, provavelmente vai ser alguma coisa estranha!” Mais ou menos um mês depois, lendo sobre as ondas gravitacionais e morrendo de saudades do Brasil , eu decidi procurar algum podcast pra escutar, e eis que eu lembrei do Mamilos. E olha só que coincidência: era justamente o Mamilos sobre ondas gravitacionais, o #57. Então, resolvi dar uma de tratar o Mamilos como minha mais nova série preferida no Netflix: comecei a escutar desde o episódio 1, e não pulei nenhum episódio! Sim, tenho escutado o Mamilos praticamente todos os dias, desde o fim de fevereiro. Andando na neve; esquiando; numa cabana sem água, luz ou internet no meio da floresta; numa barraca num camping na Turquia depois de um dia de escalada; até no banho vocês já me fizeram companhia. Aos poucos fui conhecendo vocês e os demais colaboradores, e adorando cada episódio que eu ouvia. Me peguei muitas vezes rindo sozinha com pequenos trejeitos de cada uma de vocês. Por exemplo, dá vontade de abraçar a Cris cada vez que, no meio de alguma discussão – importante ou não – ela quer fazer um ponto e acaba misturando letras nas palavras, geralmente colocando algum “r” a mais, ou quando a Ju tenta colocar algum argumento como contraponto – e que muitas vezes dá pra escutar pela voz dela que o tal do contraponto nem ela mesmo concorda com ele, mas tem que discutir! E tiro o chapéu para a quantidade de vezes que eu percebi a Ju mudar de opinião entre episódios, após pesquisar, conversar com pessoas de opiniões diferentes, e até mesmo entre o começo e o fim de um programa (acho que o que ficou mais gravado para mim foi o de cotas raciais, onde o tom de voz e os argumentos da Ju se modificaram tanto entre o começo e o fim do programa). E adoro o modo como a Cris é passional sobre muitos assuntos, o que me enche de emoção. Meninas, se eu estivesse no Brasil, ia dar um jeito de encontrá-las para dar um abraço! O Mamilos me enche de esperança ao escutar pessoas – com as quais eu nem sempre concordo! – debatendo de maneira racional e respeitosa. Vejo grandes amigos bradarem contra pessoas que pensam diferente, dizendo que não se pode ter amizade, amar, ou compreender que é contra ou a favor de X, Y ou Z. E no meio disso tudo, eu achei vocês, que me fizeram abrir a cabeça e tentar escutar as opiniões diferentes – quando elas não vêm em forma de intolerância, pelo menos.Muito obrigada pelo exercício quase diário de tolerância e respeito. Fica a gostosa sensação de, finalmente, escrever-lhes um e-mail e parabenizar vocês duas por tudo! Abraços apertados desdeTrondheim, Noruega”

Ju: muito fofa né?

Cris: muito bom! Peraí, o que isso que faço que ela falou?
RISOS

Cris: eu não sei do que ela tá falando, eu juro!

Ju: escuta o programa agora com isso que você vai ouvir!

Cris: que nervoso…

Ju: sabe o que que eu acho legal desse e-mail? Tem uma galera que tá fazendo maratona, a gente percebe pelos números de ouvintes de programa velho crescendo. Então é muito legal obrigada gente eu acho que eu já falei isso aqui, tem várias coisas que a gente, não tem como, a gente constrói né? A gente fala na discussão não como se a gente tivesse sentada na mesa agora mas como se a gente tivesse continuando uma conversa que a gente começou a 60 programas atrás, então ajuda muito quem conhece esse background né, conhece esses conceitos que a gente foi aprendendo ao longo do caminho ne?

Cris: isso.

Ju: Vou ler o e-mail da Luciana Hamaguchi:

Olá Ju e Cris,
Estou passando aqui para agradecer. Como me faz bem ouvir vocês. Esses dias percebi que colocar o podcast de vocês pra dormir é muito bom.

Ju: Ai, gente! Acho que a gente é um pouco tediosa!

Cris: É a segunda pessoa que fala que dorme com a gente.

Ju: [risos]

Não estou de sacanagem, não quer dizer que não ouço com atenção, eu ouço mais de uma vez e coloco antes de dormir para dar uma refletida no assunto.
E foi numa dessas que ao ouvir o Mamilos sobre Acessibilidade me identifiquei. Vi que não fui a única pessoa e assim como ela também não sou portadora de nenhuma deficiência, porém há quase 2 meses tive o diagnóstico de câncer de mama e percebi como as pessoas são despreparadas para uma situação como essa. De repente você vê sua alimentação, fé religião, estilo de vida, tudo sendo questionado as vezes de maneira cruel e por pessoas queridas.

Você ouve por exemplo:
-Esse é teu fardo. (isso pra mim soa como antigamente que achavam q era castigo de Deus);
-Só depende de você. (Claro, não depende de operação e tratamento, só pensamentos positivos, simples assim);
-Só Deus nessas horas. (Eu não acredito que Deus deixou acontecer isso comigo só pra depois ver se eu bato a meta de pai nossos e aves marias, e alcançando a meta me concede a graça da cura);

De algumas pessoas ouço que a medicina avançou, que tenho grandes chances de cura. E por isso acham que é exagero eu ter medo ou ficar triste. Como se o medo da morte, de perder uma mama, perder o cabelos fossem bobagem. E tem aqueles que você percebe o olhar de dó, que a pessoa acredita que eu estou morrendo de câncer e não vivendo com câncer.

Já me operei, estou com uma recuperação boa, e em maio começa a quimio. E estou levando da forma mais Mamileira possível, numa boa. Afinal o diagnóstico não me define, apenas faz parte de um capítulo da minha jornada.

E aí fica a dica para quem sabe um Mamilos futuro, falar sobre câncer de mama, mas não sobre prevenção, que claro é muito importante, mas já temos várias campanhas a respeito. Sinto falta da conversa sobre o depois. Tenho câncer, e agora? É o fim do mundo? Gostaria de ver o tema ser tratado com mais leveza e menos estigma.

Ju: Sensacional!

Cris: Muito bom, né?

Ju: Esse e-mail, achei muito bom! É muito interessante ver como as pessoas resignificam o que a gente falou, né? Sensacional.

[sobe trilha]

[desce trilha]

Ju: Vamos então para a Teta do Mês? E a gente vai falar esse mês sobre “Profissão de Fé”.

Todo mundo conhece o ditado de que futebol, política e religião não se discute. Mas aqui é o espaço justamente para quebrar tabus e falar sobre assuntos polêmicos com empatia, inteligência e respeito.

Já falamos sobre futebol, no programa especial sobre corrupção na FIFA. Política vocês sabem que monopolizou nossas discussões nos últimos meses. Chegou a hora e a vez de enfrentar o território do místico, do sagrado, da iluminação, da filosofia, da religião. Um programa sobre profissão de fé, onde nove pessoas compartilham suas visões de mundo e como essas crenças impactam no seu comportamento, suas escolhas e a sociedade.

Todos diferentes em muitos pontos. Todos semelhantes em algum ponto. Antes de escutar vale repetir a máxima de que “Nossas semelhanças nos aproximam e nossas diferenças nos afastam. E que somos nós que definidos o que é mais importante”. O objetivo desse programa é abalar os rótulos que nos distanciam. Terrorista. Ignorante. Atrasado. Homofóbico. Machista. Imoral. Fantoche. Manipulado. Preconceituoso. Bitolado. Macumbeiro.

Abra o coração e a mente para ouvir. Saboreie com calma. Pense nas respostas. Escute de novo. Compare. As respostas umas com as outras. As respostas com as tuas expectativas. As respostas com a realidade agora vista com outra perspectiva.

Antes de começar nosso profundo agradecimento a todos os que nos ajudaram de alguma maneira a chegar até os convidados. Em especial ao Lucas, Ryozan, Giulliane e ao Heribert, e aos melhores ouvintes do coração que já fazem um trabalho lindo para transcrever o Mamilos semanalmente e possibilitar que ele chegue a não ouvintes e essa semana transcreveram os áudios brutos das entrevistas para que pudéssemos roteirizar o programa a tempo.

Vamos então ao nosso primeiro entrevistado.

Ju: O que é uma vida boa?

Cris: Uma vida boa é uma vida justa, uma vida digna, uma vida em que a pessoa tem assegurado seus direitos biológicos, culturais e espirituais.

Ju: O que que é ser bom?

Cris: Ser bom é ser generoso, saber partilhar, ser solidário, manter relações de austeridade, de profundo respeito as diferenças sem transformá-las em divergências.

Ju: O que é família?

Cris: Família é a institucionalização de uma relação amorosa. Existem relações amorosas que não se constituem família como existem famílias que infelizmente já não tem conteúdo amoroso.

Ju: Qual é o princípio que norteia sua vida? O princípio primordial?

Cris: A vida.

Ju: Pensa um pouquinho… Quem que você imagina que responderia assim?

Cris: Vamos então pedir ao nosso convidado que se revele e conte um pouco sobre quem ele é e quais são as suas outras visões.

Se apresenta, fala seu nome e qual é sua religião:

Frei Betto: Eu sou Frei Betto, frade dominicano, sou católico que todos os dias pede a Deus pra me tornar um cristão. Sou escritor, autor de 60 livros.

Ju: Da onde viemos, Frei Beto?

Frei Betto: Bem! Viemos do amor de Deus e a ele voltaremos. Esse é o trajeto. Daí a busca incessante de felicidade, que é a saudade do futuro, saudade da plenitude amorosa que experimentaremos ao “transvivenciarmos”. Eu não gosto da palavra “morte”. Eu falo sempre “transvivenciar”.

Ju: Então você já está respondendo a próxima pergunta que é para onde vamos?

Frei Betto: Vamos para a plenitude do amor de Deus. Inevitavelmente.

Ju: Qual é o sentido da vida?

Frei Betto: É dar à vida um sentido. Ai daqueles que vivem sem imprimir a sua vida um sentido solidário e altruísta. Esses são infelizes e fazem as pessoas infelizes.

Ju: Por que que coisas ruins acontecem a pessoas boas? Por que que que existe sofrimento no mundo?

Frei Betto: Porque a vida, como a natureza, ela é marcada pela conflitividade. A gente precisa saber lidar com a conflitividade sem se deixar abater por ela, ou seja, feliz é quem enfrenta a conflitividade com esperança, com utopia, com coragem de saber que pode contribuir, deve contribuir para tornar o mundo melhor.

Ju: De que maneira acreditar que a gente veio do amor de Deus e volta pro amor de Deus? De que maneira acreditar que o objetivo da vida é você fazer bem para as pessoas… É você buscar fazer o mundo um lugar melhor moldam tua visão de mundo? Como que isso molda tuas atitudes e tuas escolhas?

Frei Betto: As escolhas devem ser feitas, a meu ver, no profundo respeito à dignidade de cada ser humano. Nós somos seres diferentes, há diferenças que são resultado da injustiça como a pobreza, miséria, outras são efeitos da segregação, do preconceito, da discriminação e na hora que nós conseguirmos superar tudo isso, todos esses males, essas barreiras altamente negativas, poderemos construir o que o Papa Paulo VI chamou de “civilização do amor” e o Papa João Paulo II chamou de “globalização da solidariedade”.

Ju: O quê que seria diferente nessa visão se você simplesmente não fosse católico?

Frei Betto: Nada seria diferente porque o fato de eu ser católico apenas me dá uma luz de fé para as realidades das quais vivemos, mas eu conheço muitas pessoas que não tem fé e são mais evangélicas, são mais fiéis aos preceitos de Jesus do que até muitos padres e bispos que eu conheço, ou seja, o critério de salvação não é a fé, é o amor. E muitos tem fé em Jesus, isso não importa… O que importa é ter a fé de Jesus.

Ju: Como que a tua fé interfere para que a gente viva numa sociedade melhor?

Frei Betto: Interfere me motivando. É uma luz, um dom de Deus que me motiva a lutar em todas as adversidades, sofrimentos, períodos que enfrentei sob as duas prisões que sofri na ditadura militar. De modo que sempre mantenho comigo um princípio: Guardemos o pessimismo para dias melhores.

Cris: Vamos agora para o entrevistado número dois. O que é uma vida boa?

Ju: Uma vida boa é ter liberdade. Então, a vida boa é aquela onde o indivíduo é capaz de ser o protagonista da própria história. Onde as escolhas e consequências são reconhecidas e ele se sente o responsável por aquilo.

Cris: E o que é ser bom?

Ju: Ser bom é aquele que tem caráter. A pessoa que busca o equilíbrio entre aquilo que pensa, fala e faz.

Cris: O que que é família?

Ju: Família é uma estrutura que pode ser considerada uma estrutura biológica e ancestral. A partir dessas estruturas, nós reconhecemos as informações que são importantes para nosso conhecimento ou reconhecimento. Mas família TAMBÉM é um agrupamento de pessoas, capazes de nos acolher e apoiar nas mais diversas situações da vida.

Cris: Qual é o princípio que norteia a sua vida?

Ju: Na minha vida o princípio primordial é o respeito. Amar ao próximo como a si mesmo é um princípio muito importante.

Quem será que respondeu assim o questionário? Agora o entrevistado irá se revelar e falar um pouco mais sobre as coisas que ele acredita.

Giovania: Meu nome é Giovania N. Cruz, eu tenho 34 anos, eu sou casada, eu tenho um filho, eu sou sacerdotisa de umbanda. Eu auxilio os meus pais na condução do terreiro de umbanda Minha Mãe Caridade* que está aberto há 32 anos. Eu nasci na umbanda, eu participo das atividades religiosas desde os 12 anos, eu me batizei na umbanda, casei na umbanda, batizei meu filho, desenvolvi mediunidade de incorporação. Eu canto, toco, eu benzo, dou conselhos, oriento os estudos. Eu vivo a minha religião diariamente, não vivo da minha religião. Porque eu tenho uma vida profissional comum, com todos os desafios cotidianos.

Ju: De onde viemos?

Giovania: Todos nós somos seres espirituais, em uma experiência terrena. Nós fomos criados por uma força maior, onipotente, a qual denominamos Olorum, Zambi, Deus, Deusa, Pai, Mãe, Criador, Criadora. Na Umbanda não existe um nome específico. Todos os nomes sagrados são aceitos. Esta força que nos cria é onisciente e onipresente, porque ela está em todos os seres. Ela está em toda criação. E é ela que nos conecta.

Ju: Para onde vamos?

Giovania: Nós estamos em um caminho de evolução, que nos conduz à esta força maior criadora. Mas acreditamos que não se trata de uma corrida, pois fazemos parte de uma mesma malha. Precisamos caminhar juntos para progredir. Então todos os seres, sejam encarnados ou não, estão conectados e são interdependentes. Cada qual responde individualmente por seus atos, mas todos somos impactados pelas ações.

Ju: E depois que a gente morre, o que vai acontecer?

Giovania: A umbanda por ser uma religião espiritualista, acredita que a vida não se encerra com a morte física. Então após a morte, cada qual vai encontrar aquilo que é afim da sua evolução espiritual. Então existem diversos níveis vibratórios para que cada espírito encontre o seu ponto de evolução.

Ju: Então vocês acreditam que a gente vai voltar a viver aqui de novo? A gente volta?

Giovania: Sim, a umbanda acredita na reencarnação.

Ju: Qual é o sentido da vida?

Giovania: O sentido da vida é aprimorar as nossas relações com todos os seres. Purificando os nossos sentimentos e fortalecendo as conexões.

Ju: A gente vê todos os dias coisas ruins acontecendo para pessoas boas. A gente vê que, independente de qualquer questão social e de construção humana, a gente tem sorte, chances, diferentes. Então eu posso nascer com alguma doença, eu posso perder minha mãe muito cedo, eu posso… Sei lá, batalhar muito na vida e em um tornado perder tudo, enfim… A aleatoriedade nas coisas boas e ruins que acontecem no mundo.

Você acredita que exista uma justiça? Que no meio de tudo isso existe uma causa, um objetivo, um ponto final, e que no final a conta vai fechar?

Giovania: Sim. A umbanda por ser uma religião espiritualista e reencarnacionista, ela acredita que a gente não possa fazer nenhum julgamento baseado na existência atual. Porque esse julgamento seria parcial. O espírito, ele é milenar. Então ele tem toda uma história pregressa, que muitas vezes é desconhecida. Então as situações que ocorrem, que muitas vezes parecem ser situações de um mal infinito, na verdade trata-se de uma recuperação. Trata-se de uma situação de aprendizado, onde é necessário que haja resignação, onde é necessário que haja perdão, que haja gratidão, que haja uma experiência de superação daquilo. Para que aquilo possa servir de alguma maneira para o aprimoramento e aperfeiçoamento desse espírito.

Ju: De que maneira acreditar que a gente veio de uma divindade, de que a gente vai continuar evoluindo depois, então… Que a gente volta volta a viver aqui, que a gente tem experiências depois que a gente morre, que a vida continua, que é um um ciclo. De que a gente vai encontrar justiça e que as coisas têm explicação. De que maneira acreditar nisso molda a sua visão de mundo, as suas escolhas e as suas atitudes?

Giovania: Então… A percepção prática de que existe essa conexão entre todos os eventos, que eles não são aleatórios, que na verdade existe uma sincronicidade sobre eles, as coisas estão acontecendo dentro de um movimento… Ela acaba sendo comprovada na prática da religião. A umbanda é uma religião de manifestação espiritual. Então a gente tem as entidades espirituais que se manifestam sob os arquétipos dos Caboclos, que são os índios; os negros, os Pretos-Velhos, e eles trazem uma carga de sabedoria e de ensinamentos que nos ajudam a compreender melhor essas dificuldades todas. Tudo isso me faz mais consciente, do quanto, da minha estabilidade individual e também coletiva para essa evolução do mundo. E de alguma maneira eu também acabo aprendendo a julgar menos, respeitar e ter mais compaixão por todos os seres. Porque eu entendo que fazemos parte de uma mesma família, de uma mesma força. Existe um aspecto importante também, que eu aprendo dentro da umbanda, que é o quanto ela me ensina a respeitar o meio ambiente, as estruturas naturais. Porque eu dependo muito dessas estruturas para que eu possa fazer a minha religião acontecer, existir. Então quando eu não estou próximo da natureza, seja uma praia, uma cachoeira, uma mata, mesmo no meio urbano, eu consigo identificar que naquele meio ambiente é importante o respeito aos recursos naturais. E isso me transforma, isso traz uma renovação no meu íntimo, na minha sensação física, na minha estrutura mental, no meu emocional. Isso reverbera em mim, então isso me dá certeza de que existe, sim, algo que torna muito maior a nossa existência.

Ju: Você falou, por exemplo, que o exercício da umbanda te torna mais tolerante com as pessoas. O que você acha que seria diferente na sua experiência de vida e no seu jeito de ver o mundo se você não fosse umbandista?

Giovania: Eu nasci umbandista, então pensar fora da umbanda, para mim é um pouco difícil. Mas eu consigo enxergar que a umbanda traz ela um fortalecimento dos valores que estruturam a cultura brasileira. Então a questão da identidade, ela é muito forte para mim. Então essa identificação, ela faz com que eu perceba o quanto essa diversidade de povos, de culturas, é importante. Então talvez eu não fosse tão tolerante, não fosse tão compreensiva com o diferente. Talvez eu tivesse uma preferência, pelos meus iguais.

Ju: Como a sua fé pode interferir para a gente viver numa sociedade melhor? Qual é a contribuição que a umbanda tem para uma sociedade melhor?

Giovania: A umbanda, ela é formada justamente por essa diversidade de culturas. Então ela contribui principalmente nesses aspectos da gente respeitar todos da mesma maneira. Não existe diferença entre o homem e a mulher na umbanda, todos podem ter um cargo de liderança num terreiro. Todos podem tocar, todos podem cantar, todos podem participar. As crianças participam, os velhos também. Não há também nenhuma distinção de gênero ou de opção sexual, as pessoas são bem-vindas. E também não existe um julgamento sobre uma história pregressa que a pessoa esteja trazendo. Então eu acredito que a aceitação, a tolerância, o respeito ao próximo. E também, principalmente, a questão da gente respeitar nossa cultura, os nossos valores, a nossa arte, a nossa música. Então tudo isso pode contribuir sim, para a nossa sociedade.

Ju: Vamos para a entrevistada três, então? O quê que é uma boa vida?

Cris: É a vida vivida em pleno conhecimento, sabendo quem é você e fluindo com ela, sendo consequente com a vida que você tem, as circunstâncias que te rodeiam, conhecendo essas circunstâncias, fluindo com elas, aceitando e acolhendo cada momento da sua vida.

Ju: O que é ser bom?
Cris: Bom é a coisa certa, o pensamento certo, correto. Bom é o que é correto no momento, de acordo com o que está acontecendo com a pessoa. É o resultado de um profundo conhecimento da onde você está, das circunstâncias que te rodeiam e você fluindo com isso. Quem é bom está em harmonia com o momento.

Ju: O que é família?

Cris: Família é quem está perto de você, quem te acolhe, quem te aceita, e como tudo nessa vida pode ser até ser temporária ou para sempre. Família é uma pequena tribo que se faz e desfaz. Somos multifamiliares e não percebemos isso. Família é onde a gente se constrói e desconstrói. O importante é a amorosidade, entender que são relacionamentos que vão crescendo baseados no respeito, no querermos estar juntos.

Ju: Qual é o principio que tá acima de todos os princípios?

Cris: O conhecimento profundo de mim mesma, da verdade que está em mim e que está em qualquer ser humano, que não é de moda, não é de lei, não tem nacionalidade, não tem época, essa verdade que está em cada um de nós. É a busca pelo conhecimento, não pelo conhecimento, mas pelo propósito. Além do acúmulo de experiências, se sentir parte do universo, entender a vida, entender que sou a vida também, ela não está afastada de mim, entender que eu contribuo e faço minha vida.

Quem poderia ter respondido a essas perguntas? A nossa convidada agora se revela.

Zentchu: Meu nome é Zentchu, me conhecem como Monja Zentchu. Meu nome completo é Shindriu Zentchu. Significa, dentro da minha fé – sou monja budista da tradição Soto Shu Japonesa – significa dragão verdadeiro leal ao Dharma. É um nome muito bonito, e com uma grande responsabilidade. Sou monja budista, como já falei, e sou venezuelana. Nasci em Caracas, Venezuela, mas fiz do Brasil o meu país. O Brasil me acolheu muito bem. Sobretudo São Paulo, minha cidade. Morei em várias cidades. Morei na Polônia. Antes de ser monja, fui pianista. Morei na Polônia, Venezuela, obviamente. Morei 4 anos no Japão, onde tive a oportunidade de ter um treino intensivo no mosteiro feminino de Nagoya. E agora estou de volta pro lar, para tentar passar um pouquinho o que tão generosamente me deram.

Ju: Da onde viemos?

Zentchu: Sabe que isso nunca me preocupou? [risos] Sou monja e não me preocupa muito. De repente por isso que sou monja da Soto Shu, nós temos muita ênfase no aqui e agora. Estamos aqui. De onde vim – se vim, quem sabe sempre estive aqui, não tenho consciência disso – e onde vou, também não me preocupa muito. Eu quero saber onde estou neste momento. Só isso.

Ju: Qual o sentido da vida?

Zentchu: O que você quer ter, no momento. Tem que ter sentido? Qual? Uma chuva? Você é capaz de apreciar uma chuva? É isso. O sentido da vida é ter uma vida digna, honesta consigo mesmo. Né? Ser muito honesto. E para nós da nossa tradição sempre existiu isso. Estar o mais consciente do que está acontecendo, quem é você neste momento. Entendendo que não tem este sentido fixo da vida. O sentido da vida vai mudando. Também é isso. É a impermanência das coisas. Ninguém vai te dizer o sentido da sua vida. Por isso a gente sente sozinha. Por isso não sentamos e “quem vai dar sentido a minha vida?” Sou eu. E esse encontrar, esse sentido vai mudando. Você vai por um caminho, achando que o sentido, que a direção é por ali e a vida te leva para outro canto. O sentido da vida é isso. A vida vai falando e você vai escutando. Para onde quer que ela esteja te levando onde você está. Você é sua vida. Não tem um ente superior, não acreditamos que isso é que me empurra para lugar nenhum. Só que a vida tem um fluxo muito forte. E se eu for inteligente, entendo o sentido e vou sempre nesse sentido, vou sempre “na mão”. O que te esgota, o que te faz perder, uma grande crise, é a contramão da vida. Da sua própria vida. Você se força. Se violenta. O sentido é entender. Só isso.

Ju: Por que coisas ruins acontecem às pessoas boas? Por que existe sofrimento? E você acredita que, apesar de todas as diferenças que a gente tem de uma vida para a outra, no final tudo faz sentido e existe uma justiça que permeia todas as coisas que acontecem?

Zentchu: Tem uma palavra que se chama karma. Karma é ação. Toda ação gera ação. Não tem como. E karma não se apaga. Você diz: “Nossa! Mas ele é tão bom! Ele tinha bons hábitos. E teve um câncer de estômago terrível que está matando essa pessoa, uma pessoa tão boa”. Você sabe realmente qual a genética desta pessoa? Isso é karma também. Entende? Genética é karma. Quando você tem uns pais que vivem 150 anos saudáveis você tem um bom karma. Mas isso, você também pode cultivar. Sei que toda a minha família alguns tem problemas cardíacos, que todo mundo têm problema de diabetes, então o que eu posso fazer? Conhecendo isso, eu tenho ação, a liberdade, o livre arbítrio de comer menos açúcar, fazer mais atividade física. E você, queira ou não, responderá por um karma. Do seu pai, da sua família, pelo seu sobrenome. No momento que você está vivendo, temos um karma coletivo, de nação. Por nos está acontecendo isso. Porque todos nós estamos imersos neste… Digamos, brasileiros, estamos neste país – Isso em um plano pequeno, mente pequena. Devemos pensar em coisas maiores – Mas nós estamos fazendo e desfazendo isso e nós herdamos o que também cultivamos, o que nós semeamos e o que nos semearam lá atrás e não soubemos podar, tirar, dizer “isso está errado”, “isso está bom”, “vamos aumentar isso”. Entende? E por isso essas coisas acontecem, por pura ignorância. Falta de conhecimento, eu digo. Tudo dá nisso! Ignorância, Não fluir, não reconhecer os sinais, não se conhecer e não se respeitar.

Uma coisa que não quero que se passe nas minhas palavras. Budismo não é uma lesma. Que estou aqui porque o karma quis e não me mexo. Eu vejo que uma pessoa vai me pisar, e digo ai que horror, vão me pisar. Eu corro, se tiver pernas. Mas eu tenho que reconhecer o perigo. O karma lembra que ação é castigo divino. Não é isso não! Não existe esta coisa de que me puniram por isso. Por quê? Genética é genética. Costumes são costumes. E as coisas vão mudando. E nada é fixo, nem o karma. Uma ação ela pode se perpetuar se você cultiva isso. Se você vem de uma família de mafiosos, e você é mafioso, e seu filho é mafioso, esse karma vai continuar. Mas se você tem a vontade por conhecimento e dizer “quero uma vida diferente, isso não faz sentido pra mim, eu quero mudar”. Ou seja, herdou uma coisa, mas você pode tentar minimizar nas gerações seguintes. Você é livre. Não vai virar o que você não é, ou seja, um super herói. Não estamos falando de milagres. É uma consciência dentro das suas possibilidades. Dar uma virada? Pode sim! Dar um sentido para sua vida diferente? Pode sim! Mas quem tem que dar sentido na sua vida é você. Se você não se conhece, você não se respeita, você não se acolhe, vai fazer o que?

Ju: De que maneira não pensar da onde a gente vem e pra onde a gente vai, não se preocupar com o sentido da vida, e acreditar que as coisas que acontecem são baseadas ou karma ou na forma como a gente lida com karma que a gente herda ou de família, de sociedade ou das nossas próprias ações… De que maneira acreditar nessas coisas molda as suas escolhas diárias?

Zentchu: Molda tudo! Eu, por exemplo, interfere no sentido de que eu acho que nada é fixo e permanente. Né? Então eu não tenho uma escolha para dar de antemão nunca. Espero a coisa estar acontecendo. É simplesmente não ter molduras fixas. Sabe? Tem a moldura “A” para a situação “A”. Tem a moldura “B” para a situação “B”. Eu não tenho molduras. Estou aberta a tudo.

Ju: O que seria diferente na sua vida, nas suas atitudes e nas suas escolhas se você não fosse budista?

Zentchu: Você não vê que é budista de um dia para o outro. Você se reconhece o que você sempre foi. Então não sei te dizer. Que atitude teria eu se não fosse ser humano? Eu não sei! Porque eu respeito infinito ao momento que eu estou… Ao que eu acredito e eu sempre acreditei. Só que antes não tinha nome. E agora tem nome. Entende? E tem um voto mais firme. Eu fiz um voto de ser monja. Mas no coração eu sempre fui budista.

Ju: Como que o budismo pode contribuir para que tenhamos uma sociedade melhor?

Zentchu: Nossa! Com tudo. Seres humanos conscientes, que se conheçam de verdade. É fluir, estar presente e sobretudo nunca separado de nenhum ser humano nem de nada do que está acontecendo. Tudo está vivo para nós. Estando presente em cada momento. É isso que fala o budismo. Aqui, neste momento, todos são budas. Todos têm a capacidade de ter a mente buda. Qual mente buda? Aquela que vê o que realmente está acontecendo. Não o que você quer que eu veja. Não o que você quer que eu escute? Não, eu não estou escutando isso. E não é escutar só para fora. É um escutar inteiro. E não existe dentro. Não existe fora. Não existem nem palavras para isso. Então o budismo pode contribuir com isso, como qualquer religião bem entendida. Tem que estar baseada realmente em princípios humanos. E uma coisa que vá além da pátria pequena, além da minha tribo pequena, qualquer religião é respeitável. E ajuda muito, sim.
Cris: Vamos agora para a próxima entrevistada. O que é uma vida boa?

Ju: Uma vida boa é uma vida coerente, onde pensamento e ação estão alinhados, onde agimos de acordo com nosso coração e mente. É uma vida gostosa porque conseguimos ser quem somos, é verdadeiro e eu acredito que a verdade é que atrai as pessoas. Com a verdade temos por perto os amigos, a família, atraímos o emprego onde será possível manifestar também a nossa verdade. Também podemos comer com verdade, cuidar do nosso corpo com verdade.

Cris: O que é ser bom?

Ju: Uma pessoa boa é aquela que considera o contexto, é uma pessoa generosa e que consegue se colocar no lugar do outro. É uma pessoa que age de uma forma não egoísta. Um ser bom é uma pessoa não egoísta.

Cris: O que é família?

Ju: A família é a base do amor, a universidade do amor de todo ser humano. Família são as pessoas com quem convivemos mais de perto, que temos maior proximidade e é onde sai as coisas mais feias da gente também. Pra mim a família é a formação do ser é o lugar onde nos tornamos quem realmente somos porque convivemos muito então eu acredito que é o começo, o fim o processo é tudo junto. Uma estrutura que nos permite conhecer a vida. A família é essa base, essa cola de amor e de oportunidade de se conhecer e conhecer também o outro.

Cris: Qual é o principio que tá acima de todos os princípios? O seu principio primordial?

Ju: Consciência. Buscar estar consciente, buscar ser presente no que eu estou vivendo. É muito fácil estarmos no piloto automático e quando estamos no piloto automático não conseguimos apreciar o que acontece ao nosso redor e por consequência não conseguimos entender e viver as pessoas. O princípio que norteia a minha vida é a busca pelo que é humano, a busca pelo que é divino e essa consciência de um todo. Entender que eu faço parte de uma coisa muito maior.

Você se identifica com essas respostas? Então veja agora quem foi que falou isso.

Isa: Bom! Eu sou Isabelle Mascetti Kwintner. Tenho 31 anos, trabalho com branding, sou coach de jovens, sou judia ortodoxa e moro em São Paulo há 10 anos. Sou de Rondônia. Oi Rondônia! [risos]

Cris: Dentro desse seu olhar, do olhar do judeu, como vocês entendem de onde viemos?

Isa: A gente veio do criador. A gente veio do infinito. Toda as almas foram criadas juntas. Existe uma unidade muito grande nesse infinito, mas a gente veio do criador.

Cris: E para onde vamos?

Isa: A gente vai de volta para o criador. A gente escolheu. O livre arbítrio existe desde o início da criação. e a gente escolheu passar por um processo de alma de voltar a essa unidade, de trazer o paraíso para terra. Então a gente vai voltar a ter uma afinidade de consciência com o criador e então restaurar a unidade de todas as almas.

Cris:Qual é o sentido da vida

Isa:Buscar a elevação de consciência no dia a dia, então quando estou no trânsito, quando eu estou preparando o lanche do meu marido, ou quando meu chefe me deu um esporro, em cada oportunidade do dia a dia eu estou buscando a elevação da consciência. Estou buscando sair da minha natureza egoísta e ir para o compartilhar de amor. Por que é só com a afinidade de consciência do criador que eu consigo essa união e o criador, por definição, é esse compartilhar infinito.

Cris:Existe justiça? Porque você acha que coisas ruins acontecem com pessoas boas e todo esse sofrimento que vemos no mundo?

Isa:Existe sim justiça. Acontece que a relação de causa e consequência dos nossos atos não acontecem em um tempo que conseguimos enxergar, e na verdade não conseguimos enxergar esse efeito causa e consequência por uma misericórdia divina, ou seja, o criador nos dá um tempo para sofrer a consequência de uma causa, seja uma ação boa ou ruim. Ele nos dá um tempo para termos outra oportunidade, e nesse tempo a gente se perde, acontece uma série de vidas, então você não consegue determinar que você está sofrendo agora uma determinada situação porque há um tempo atrás, ou uma vida atrás, você fez determinado ato. Então essa diferença entre causa e consequência cria a ilusão de que não existe justiça no universo.

Cris: De que maneira essas respostas moldam tua visão de mundo ou como a sua fé influencia nas suas escolhas e atitudes?

Isa:A minha fé influencia muito na minha vida. Na forma como me relaciono com o tempo, com a comida, na forma como me visto, na maneira como ajo socialmente. Você ser ortodoxa num mundo como hoje é uma escolha que determina muita coisa, por exemplo, nem todos os meus amigos me acompanham num restaurante Kasher. Quanto tá frio, por exemplo hoje tá um frio gostosinho aqui em São Paulo, é muito mais fácil eu me camuflar. As pessoas não enxergam o quanto eu estou coberta, quanto a minha roupa me cobre, por exemplo. Então a minha visão de mundo impacta tudo no meu dia a dia.

Cris:Eu como sua amiga posso dizer que impacta mas não inviabiliza de forma nenhuma. A Isabelle está para ir jantar na nossa casa e o que eu fiz foi comprar uma panela nova. Porque essa panela nunca usada me permite fazer qualquer tipo de alimento que ela queira comer porque ainda não houve nenhum tipo de mistura nessa panela. Então assim, tem questões muito particulares mas elas não inviabilizam nem suas amizades e nem sua condição de vida

Isa:Não, porque é uma escolha minha. Porque eu escolhi essa vida e escolhi estar inserida no mundo, então são adaptações e flexibilizações que me fazem ter que estudar mais na verdade. Para poder ter essas licenças, entre aspas, eu tenho que estudar muito para entender aquela situação e porque essa situação foi conduzida de determinada forma. Existem leis judaicas que falam de diversas situações da nossa vida, então com domínio dessas leis, você consegue entender qual a essência daquilo e o quanto você quer ser rigoroso ou não. O mais importante é essa integração, essa união. Então não inviabiliza. Dificulta, as vezes viajar pra alguns lugares ficam muito difícil, por exemplo, no Japão eu fui visitar Chinatown e é impossível pra gente comer lá porque tudo tem porco, tudo tem frutos do mar. Então em algumas coisas que ficam difíceis, mas não inviabiliza.

Cris:O que você faria diferente se você não fosse judia?

Isa:Minha relação com as pessoas eu acredito que não mudaria. Essa questão de buscar a generosidade, buscar compartilhar, eu acho que permaneceria igual. Uma coisa que eu ainda tenho muita dificuldade, você como minha amiga conhece. Depois que a mulher se casa, a mulher judia passa a cobrir a cabeça e isso é uma coisa que ainda me pega. Eu sinto falta ainda de andar com o cabelo ao vento, assim na sociedade.
Então isso é uma coisa que talvez eu mudaria. Eu entendo o valor, eu entendo a importância disso pra minha família, pra comunidade, pra mim mesma, eu sinto diferença. Mas ainda é difícil

Cris:Não quer dizer que seja fácil ne? Só é fácil pras amigas que pegam a peruca emprestada e fica loira por uma tarde!

Isa:E ficou linda [risos]

Cris:Como sua fé pode interferir pra que possamos viver numa sociedade melhor?

Isa:Nós temos uma coisa que se chama 613 mitzvot que são 613 deveres que regem a vida dos judeus, e durante sua vida você deve tentar cumprir o máximo deles, o ideal seria cumprir todos eles. E muitos desses preceitos tem a ver com generosidade, tem a ver com buscar ser mais do que você é. Sair da sua natureza egoísta e buscar uma natureza que tenha maior afinidade com o criador.

Cris:Você consegue me citar uns dois exemplo entre esses 613?

Isa:Datz adaka, que é dar um donativo, que é darmos 10% de dízimo, acho que na religião cristã tem isso também. 10% de todos os ganhos você dá pra alguém pra mostrar que realmente o dinheiro é uma coisa emprestada aqui desse mundo material, então é uma forma de eu mostrar que não é meu, então eu faço esse fluxo continua, 10% do que eu recebi não fica comigo, vai pra outra pessoa. E é sempre proporcional, essa é a beleza. Se eu estou ganhando 10 mil reais ou se eu ganho mil reais 10% sai. E a natureza humana não funciona assim de maneira tão lógica, então quanto mais você ganha, quanto maior é o seu salário mais difícil fica dar o dízimo, por mais que proporcionalmente seja sempre a mesma coisa. Então essa mitzva é um preceito que faz muita diferença.
Outra, é colocar a vida em primeiro lugar. Se eu estou no shabatt que é um momento super importante dentro da minha religião que acontece uma vez por semana, que é o momento de eu me desconectar de tudo que é material e eu vejo uma cena onde eu uma pessoa em risco de vida, eu tenho que agir. Eu tenho que ser a primeira pessoa a agir para preservar a vida. Eu acho que essa mitzva é também muito importante que precisamos mantar em mente. Ter a vida sempre em primeiro lugar.

Cris:Eu te conheço e sei o quanto o shabatt é importante pra você, que é esse seu momento de conexão com o divino onde você tira para refletir e mesmo assim você quebraria esse momento para ajudar alguém?

Isa:Não só quebraria como gostaria de ser a primeira pessoa a poder ajudar. Então é a vida em primeiro lugar mesmo. Preservar a vida do ser humano, então eu quero poder correr pra ajudar. Não só olhar e pensar “será que eu ajudo”, eu quero correr pra ajudar. Porque a vida é em primeiro lugar.
Espero que esse programa ajude a desmistificar algumas questões, eu sigo aberta. Sou fundadora, junto com meu marido, da escola de Kabalah Elo91, então quem quiser entrar em contato com a gente fique super a vontade pra fazer mais perguntas. Eu sei que causa uma série de curiosidades: Porque que usa peruca? Porque que não mistura carne com leite? Então fiquem bem a vontade, estou a disposição! Vamos nessa trazer paz pro mundo e é isso ai!

Ju: Vamos então pra quinta entrevista.

Ju: O que é uma vida boa?

Maria: É aquela que a gente vive em paz. Consegue viver com a consciência tranquila e o coração pacificado. Quando compreendemos as verdadeiras razões da vida. Só assim adquirimos a paz, uma paz que você tem interiormente e consegue manter não importa o que passe na vida.

Ju: E o que que é ser bom?

Maria: É agir com correção, é pensar no outro. Não é fácil, mas é uma busca dessa experiência. Cultivar a bondade, mostrar paciência com o outro, buscar sempre falar a verdade que é tão difícil, sem ferir o outro, exercer a brandura, auxiliar. Ser caridoso, cumprir com suas obrigações. Isso tudo faz com que nos sintamos boas pessoas. Ser bom é entrar no caminho da redenção espiritual, de procurar fazer as coisas sempre corretamente.

Ju: O que que é família?

Maria: É a célula mater do organismo social porque ela é o microcosmo da nossa sociedade. É através dela que a gente vai exercer a educação, nossos valores éticos, os morais. É nesse lar que a gente vai acalentar os nossos ideais, nossos sonhos.

Ju: Qual é o princípio acima de todos os princípios? Qual é o princípio fundamental?

Maria: É o amor, mas amar é difícil. Nós conseguimos no máximo amar aqueles que estão junto de nós, os nossos parentes. O amor e é um exercício de todo dia. Se você consegue exercitar isso começando a ver o lado bom das pessoas ao invés de ver o lado ruim, é um princípio pra começar a amar e esse amor é o que vai fazer com que a gente também se melhore a cada dia. Através do trabalho, da caridade, da oração, você vai aperfeiçoando o coração pra que consiga também ter um pouco de humildade, paciência que na verdade é um exercício para a conquista do amor. Então a gente tem que perseguir esse amor que não é piegas, é um amor de trabalho.

Cris: Essas respostas poderiam vir de quem? Vamos saber quem é a nossa convidada.

Maria: Meu nome é Maria Tereza Bezerra de Meneses, eu sou espírita ha mais de 30 anos, e frequento a sociedade espirita fraternidade aqui em Niterói.

Ju: Bezerra de Meneses é um nome conhecido no mundo espírita né?

Maria: É, (risos) ele vem a ser parente do meu marido, ele era tio-avô do meu marido, o Dr. Bezerra de Meneses é um espirito de muita luz que nos ajuda muito, que está sempre junto conosco né, com todos nós.

Ju: Da onde viemos?

Maria: De onde viemos, a doutrina espírita nos diz que Deus criou o universo né, e Ele criou todos os filhos, animados, inanimados, materiais e imateriais e nós, nos criou simples e ignorantes, somos espíritos simples e ignorantes que fomos criados e Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos espíritos, para que eles fossem evoluindo a cada reencarnação e cada um fazendo a sua vida, o seu trabalho, a sua história, estacionando muitas vezes nessas encarnações em experiências boas, em experiências ruins, e acumulando estas experiências para próxima reencarnação.

Ju: Para onde vamos?

Maria: Os espíritos nos dizem que a nossa meta é nos tornarmos espíritos perfeitos através dessa renovação espiritual a cada reencarnação. A cada reencarnação nós viemos a Terra, nós temos as nossas lutas, nós nos aprimoramos e como pedrinhas do rio, que vão passando rios e vão batendo umas nas outras a gente vai se polindo, vai ficando redondinho para que um dia a gente também seja espírito perfeito, e aí não precisarmos mais reencarnar, essa é a nossa meta.

Ju: Qual é o sentido da vida?

Maria: É, o sentido da vida na verdade é isso, um aprimoramento nosso, moral, intelectual para que a gente possa então se tornar espírito perfeito, longe de todas essas… esses achaques, todas as doenças, de todas as coisas que hoje a gente tem aqui, aqui na Terra né.

Ju: Aproveitando que você falou em doença, uma das perguntas básicas que a religião tem que responder é por que coisas ruins acontecem para pessoas boas. Existe propósito nisto, você acha? Existe uma justiça no final disso tudo?

Maria: A doutrina espírita nos diz que se a gente acreditasse numa vida só Deus seria muito injusto. Por que que um nasce aleijado? Por que que outro nasce em berço de ouro? E nós não compreenderíamos e acharíamos então assim “Bom, ou Deus é injusto, ou…”.
Então cada encarnação nossa a gente vem para aprender, por isso tem pessoas que nascem já defeituosas e muitas vezes até são felizes, outros nascem em berço de ouro e muitas vezes são infelizes, porque nós somos herdeiros de nós mesmos, essas construções boas ou más, nós fazemos de outras existências da Terra. A justiça, ela é feita, mas nós não somos injustiçados, nós somos aquilo que nós fizemos de nós mesmos. Não começa no berço e não acaba no túmulo. Nós então vamos compreender a justiça, e no mundo de hoje a gente vê tanta injustiça, tanta coisa ruim, nós estamos num processo evolutivo da Terra também – são os nossos carmas, são os nossos testes, são as nossas expiações coletivas também – por isso a gente tem que ter muita esperança, muita fé, muita oração, e fazer a nossa parte, porque a justiça é Divina, as leis dos homens podem não ser muito boas, não muito justas para nosso olhar pequeno, mas a justiça de Deus ela não falha, ela vai sempre dar conta das nossas ações.

Ju: De que maneira acreditar nisso, acreditar que a vida não termina aqui, que a gente está num ciclo de aperfeiçoamento e de que não existem injustiçados interfere nas tuas atitudes e nas tuas escolhas?

Maria: Ah isso interfere diretamente, porque você sabendo de antemão que a sua vida vai ter uma repercussão na sua próxima, seu interesse é de ser o melhor possível, é de você fazer o melhor. Se eu acredito na reencarnação eu não posso ter preconceito, eu não sei quem eu fui, eu não sei quem é você, então isso impacta diretamente nas minhas escolhas nas minhas ações. Eu sou responsável por mim e pelas minhas ações isso tem um peso, então, quando a gente vai fazer uma escolha eu tenho que pesar “isso vai ser bom pra mim? Vai ser bom para o outro? Isso vai trazer benefício para alguém? O que eu estou fazendo importa?” Mesmo nas pequenas coisas, se eu faço a coisa certa na minha casa, na minha família, repercute na vizinhança, na sociedade, no trabalho e nas pessoas, e isso é um motivo impactante, e isso molda a sua visão de vida, interfere nas suas atitudes – a necessidade do trabalho no bem, a necessidade de fazer a caridade, não é aquela caridade que você dá, mas você doa seu tempo, você doa um pouco do seu ouvido pra ouvir, você fala coisas que vão importar para pessoas.

Ju: Muito bem. O que seria diferente nas suas escolhas se você simplesmente não tivesse o espiritismo?

Maria: Eu acho que as minhas escolhas não seriam tão boas, porque mesmo a gente sendo espírita a gente batalha né, a grande luta dessa auto superação é muito difícil a gente fala assim bonito mas no dia-a-dia é muito difícil, então se eu não tivesse esses conceitos talvez as minhas escolhas não tivessem sido tão boas, e uma outra coisa que a doutrina espírita também traz é a consolação, quando você tem… passa por uma perda de um ente querido, quando você vê a morte, quando você vê problemas muito sérios, você consegue né, se consolar com essa filosofia tão bonita que é o espiritismo, porque nela a gente sabe também que a gente se encontra, que os laços de amor não se rompem, que a gente vai estar junto depois.

Ju: Como que tua fé pode contribuir para a gente ter uma sociedade melhor?

Maria: Se eu me melhoro eu melhoro o outro também, porque inclusive a gente tendo essa consciência tranquila, essa… a gente vibra no bem, a vibração, a física, ela explica essa vibração no bem essa vibração boa, ela contagia a outra pessoa, então, se eu consigo me superar, se eu consigo fazer coisas boas, é como um vento bom né, que vai batendo em mim e que vai levando à outras pessoas também essa atitude positiva e isso impacta muito na sociedade porque a gente começa na família, começa em mim na família e na sociedade como um todo, com certeza.

Ju: Perfeito!

Maria: Nós temos um trabalho muito grande no Remanso Fraterno – se você até quiser entrar a nossa página é www.remansofraterno.org.br – a gente faz ali um trabalho de educação que é muito importante, que é muito bom, e temos muitos voluntários. Eu acho que essa mensagem é boa, de a gente dizer “olha o importante na verdade é você ser bom” não importa qual é a sua religião, não importa qual a sua doutrina, se você for bom, tá bom!

Cris: Vamos então, pra nossa próxima entrevista.

Cris: O que é uma vida boa?

Ju: Uma vida boa é uma vida autêntica. Eu estava fazendo uma palestra para crianças e perguntei se a bola do gol mil do Pelé era uma bola feliz. E um menino de 10 anos disse que “não”. E eu perguntei “por quê?” e o menino disse: “porque ela tá no museu e a bola não é para tá no museu. A bola é para tá sendo jogada.” Então essa é a vida boa: a vida em que você cumpre o propósito. Nesse sentido o propósito pode compreendido de duas maneiras:
Primeiro: o seu propósito como ser humano, tornar-se um ser humano. Não nascemos humanos, não nascemos com um chip de fábrica como os bichos. O lobo nasce lobo, o tigre nasce tigre, nós nos tornamos humanos.
E em segundo lugar: nos tornarmos o tipo de ser humano, ou ser humano que somos, a nossa peculiaridade dentro de 7 bilhões de seres humanos, existe um ser humano singular que sou eu, outro que é você…
Então a vida boa é essa, a vida em que a gente é autêntico. É o que tem que ser. Como ser humano e como pessoa particular.

Cris: E o que que é ser bom?

Ju: Ser bom é admitir que ninguém é bom, e a partir dessa compreensão, desenvolver uma postura mais compassiva, mais generosa, solidária, misericordiosa, compreensiva para com as outras pessoas. Ser bom é reconhecer a limitação de cada ser humano a partir da sua própria limitação e desenvolver um caminho de mais empatia e cumplicidade com todo mundo que reparte esse serviço, esse espaço de viver que a gente tem na sociedade, no planeta. Ser bom é ser solidário.

Cris: O que que é família?

Ju: Família é a resposta que nós encontramos para a solidão. Família é aquele ambiente, é o ninho que a gente vem ao mundo, é o ninho que nos protege enquanto nos encontramos no mundo, é nesse ambiente em que a gente se torna pessoa, e a partir daí voa para outras relações absolutamente abrangentes. Família é o ninho que nos abriga da solidão nesse vasto universo que a gente habita.

Cris: Qual é o princípio acima de todos os princípios? Qual é o princípio fundamental?

Ju: O princípio acima de todos é o amor. O amor no sentido da auto-doação, da abnegação, da entrega de si mesmo, desinteressado e sacrificial.

Ju: Você se identifica com essas respotas? Então agora descubra quem falou isso.

Ed Rene Kivitz:Bom, meu nome é Ed Rene Kivitz. Eu sou teólogo, sou pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo, na Capital, desde 1989. Praticamente toda a minha
caminhada sacerdotal e pastoral foi nessa comunidade evangélica batista. E é isso.

Ju: E é autor do livro Talmidim, que é lido por pessoas de todas as religiões. Bom, de onde viemos?

Ed Rene:Bom, nós viemos de Deus. Nós fomos criados por Deus, à imagem e semelhança de Deus.

Ju: E para onde a gente vai?

Ed Rene:Vamos voltar para Deus. E isso é um dos conceitos fundamentais da tradição Judáico-Cristã, a nossa compreensão de Deus é que Deus é uma pessoa, Deus não é força, poder, luz, verdade, amor, energia… Deus é uma pessoa, que é poderosa, amorosa e tudo mais… Mas Deus é uma pessoa e nos criou à sua imagem e semelhança como seres pessoais. Então para onde voltaremos? Na tradição do cristianismo oriental ortodoxo, nós voltaremos para essa comunhão da santíssima trindade. Nós seremos uma quarta pessoa nessa comunhão de três pessoas divinas. Nós voltaremos para Deus. Para um relacionamento e não necessariamente para um lugar, que a gente chama “céu”. Na tradição ocidental nós iremos para o “céu”, na tradição oriental nós iremos para a comunhão das pessoas divinas.

Ju: Qual é o sentido da vida?

Ed Rene:Sentido… O sentido pode ser traduzido, compreendido de duas maneiras: o sentido como direção, para onde estamos indo; e sentido como significado. Então o que empresta significado à nossa caminhada? Isso eu respondi lá atrás, que a vida boa é a vida autêntic, de você tornar-se humano e tornar-se você mesma. O que é ser humano? Qual é o modelo de ser humano? Para nós cristãos, Jesus é o modelo de ser humano. E aquilo que se chama de “salvação”, ser salvo, é tornar-se ser humano à imagem do Cristo. Então eu penso que o sentido da vida é esse caminho de humanização, e uma humanização à imagem do Cristo nós poderíamos dizer que é uma cristificação. Nós caminharmos na vida na direção de nos tornarmos seres humanos em plenitude à imagem do Cristo. Esse é o sentido DA vida e o sentido NA vida.

Ju: Por que que coisas ruins acontecem com pessoas boas? Por que que existe sofrimento no mundo? E no final, existe justiça? Se a gente nasce diferente, se a gente tem oportunidades diferentes na vida, se a sorte é diferente para cada um… No final, existe justiça?

Ed Rene:Isso é uma das perguntas, ou talvez A grande pergunta da religião e da filosofia. “Por que coisas ruins acontecem à pessoas boas?” É o capítulo da teologia e da filosofia até a Odisséia. Se Deus é bom, por que existe o mal? É porque ele não consegue impedir que o mal exista, então ele não é onipotente… Então o dilema é: ou Deus é bom, ou é onipotente. Ele não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo já que o mal está presente.
A resposta que o cristianismo dá para isso é que a presença do mal é resultado da liberdade que Deus concede às suas criaturas. Se Deus nos cria à sua imagem e semelhança, ele nos cria livres para uma relação de amor. E onde existe liberdade, existe a possibilidade do caos. Se eu deixo você livre, você é livre para me dizer “sim” e para me dizer “não”. Você é livre para fazer o bem e o mal, você é livre para conformar-se ao padrão divino ou rebelar-se ao padrão divino. Então o mal é resultado desse mal-uso da liberdade humana, de rebelar-se contra o padrão divino. E cada ser humano querer ser o padrão para que o universo gire ao seu redor. Então a gente tem 7 bilhões de seres humanos, você imagina 7 bilhões de pessoas acreditando que o mundo deve funcionar em razão dela. Nós somos civilizados até o ponto que nossos interesses se chocam, as nossas opiniões divergem, as nossas possibilidades entram em conflito, então a gente entra na competição, na disputa, na guerra. Então a resposta cristã é que o mal vem dessa liberdade e a liberdade é uma exigência de uma relação de amor. Se Deus não nos tivesse criado livres, ele seria um tirano. E por nos amar nos deu liberdade, e convive com essa possibilidade do mal.
Aqui no mundo a conta não fecha. Aqui no mundo não há justiça, não há equidade e não se distribui a cada um aquilo que lhe é de direito ou aquilo que é de seu merecimento. Aqui existe uma aleatoriedade tanto para o bem quanto para o mal e justiça não é a palavra que explica o nosso mundo, e aí que eu insisto: por isso devemos defender uma sociedade de compaixão, misericórdia e amor, perdão e solidariedade, não de justiça. Porque a conta só vai fechar em outro mundo que não é esse. Nas palavras de Jesus, ele diz: “O meu reino dá sinais nesse mundo, mas o meu reino não é deste mundo”. Isso Paulo apóstolo diz: que se nós esperamos em cristo apenas para esta vida, para esta dimensão de existência, somos os mais miseráveis dos homens, porque a conta aqui não fecha.
Há uma esperança de que um dia essa conta vai fechar, mas não é na História e não é resultado de uma construção humana. É fruto de uma intervenção divina num mundo criado por Ele, que será redimido por Ele. Essa é a mensagem do evangelho, né?

Ju: Pois é, isso nos faz chegar na próxima pergunta que é assim: se você acredita que nós viemos de Deus, que nós vamos voltar para Ele, que o sentido da vida é nos tornarmos cada vez mais semelhantes a Ele, ou cumprirmos o nosso propósito de nos tornarmos humanos… Se você acredita que embora a conta não pareça fechar aqui, ela certamente será fechada no total, no curso total. No final da história ou no começo da história, como você queira pensar, haverá justiça e haverá uma retribuição para as pessoas: para o que você fizer, o que você escolher, enfim… Que tudo vai ter um significado no final, que tudo vai fazer sentido no final, o que que acreditar em tudo isso interfere nas suas atitudes, nas suas escolhas e na sua visão de mundo?

Ed Rene:Eu não sou mobilizado pelo que vai acontecer no final, eu sou mobilizado pelo exemplo que cristo me deixou. Eu, como cristão, sou um seguidor de Jesus Cristo, então, eu tento.. eu construo minha experiência existencial, o que implica, também, principalmente, também todas as minhas relações no mundo em que eu vivo e na sociedade na qual eu pertenço, a partir na referencia de Jesus. Então é minha fé em Jesus como essa presença Divina na história que me mobiliza. É isso que orienta minha vida, é isso que da sentido prara minha vida, não é minha esperança de um mundo em que a conta fecha, eu não olho lá para o futuro, para a utopia do céu ou do mundo perfeito, eu olho para o Cristo que no passado me ensinou a viver no mundo imperfeito. É isso que alimenta minha caminhada como ser humano na história.

Ju: O que você faria diferente se você não fosse Protestante ou Cristão?

Ed Rene:Eu não faço a menor ideia como responder essa pergunta

[Ambos riem]

Ed Rene:Ela me soa como “como você viveria se não fosse ser humano”

Ju: Por exemplo, vamos falar mais praticamente, o exemplo de Cristo. Então, você é misericordioso com as pessoas porque Cristo foi misericordioso, se você não tivesse esse exemplo você não seria misericordioso?

Ed Rene:Eu não sei.. eu só sei que um dia a experiência de Cristo invadiu a minha vida e eu só não sou.. o que eu sou hoje se explica porque Cristo entrou na minha vida então eu não sei o que eu seria se Cristo não tivesse entrado na minha vida. Não faço a menor ideia!! [Ambos riem] Mas bem provavelmente eu seria algo muito pior do que eu sou hoje.

Ju: Como que a tua fé interfere para que a gente possa viver em uma sociedade melhor?

Ed Rene:A minha fé que mobiliza isso. A servir essa pessoa que está diante de mim, no meu horizonte de relacionamentos e influencias da melhor maneira que eu posso, é isso que minha fé me mobiliza a fazer. Eu não tenho a menor duvida que no fundo no fundo toda a discussão do caminho da espiritualidade ela é bem polarizade e vive fincada numa polarização, é o egoismo e o altruismo, é você desejar que a sua vontade seja feita acima de qualquer outros interesses e desejar que o bem comum prevaleça, inclusive, sobre ou contra a sua própria vontade. Então a fé cristã é a fé do exemplo do Cristo, que entre matar e morrer, escolheu morrer, entre ser feliz e servir, escolheu servir, entre tomar para si o que era de direito ou abrir mão em favor do outro, escolheu abrir mão, é sempre uma vida doada. Então, certamente, se o ser humano vivesse com esse espirito de abnegação e altruismo e de alto.. entrega e alto doação, o mundo seria completamente diferente do que é.

Ju: Vamos para próxima entrevista:
O que é uma vida boa?

Cris: Quando nosso comportamento combina com nosso objetivo, quando agimos na direção do nosso objetivo de existencia, uma ilustração para ajudar a compreender:
Um comerciante faz negocios para ter lucro. Em dezembro ele fica muito feliz, porque? porque ta rendendo, ta ganhando, ta realizando seu objetivo. Quando ele realiza seu proposito, não se sente cansado, mesmo que fique o dia inteiro sem comer. Quando o ser humano age na direção de realizar o seu objetivo, então, ele tem uma vida boa.

Ju: O que que é ser bom?

Cris: Quando uma pessoa tem uma boa relação com deus e boa ligação com o ser humano, ela é considerada uma pessoa bom. Quem é bom da para cada um o seu direito, da para deus o seu direito, da pro seu corpo o seu direito, da pra sua familia o seu direito, da pra sua sociedade, também, o seu direito.

Ju: O que é familia?

Cris: A familia é uma fabrica de ser humano, um lugar muito sagrado, uma célula muito importante dentro da sociedade e, por isso, tem que ser protegida e tem que ser preservada.

Ju: Qual é o principio que norteia sua vida?

Cris: Na minha opinião existem vários principios, na verdade, mas o principal é o conhecimento. Através do conhecimento a pessoa pode descobrir o seu objetivo de existencia, pode conhecer o caminho, pode ter uma luz que ilumina sua vida, enquanto a ignorancia pode destruir a vida do ser humano.
Você tem pontos em comum com essa visão de mundo? Descubra agora quem respondeu essas perguntas.

Mohamad Al Bukai: Meu nome é Mohamad Al Bukai, eu sou teólogo, eu sou muçulmano, eu sou diretor de assuntos islâmicos da União Nacional das Entidades Islâmicas aqui no Brasil. Eu sou também o sheikh, ministro religioso, da mesquita de Santo Amaro da Zona Sul de São Paulo.

Ju: Da onde viemos?

Mohamad Al Bukai: Essa pergunta foi bem determinada no Alcorão sagrado, que diz que a origem do ser humano é o nosso Pai. Adão, que ele foi a primeira criatura que Deus criou e dela foi criada o resto da humanidade. Então, começou com uma pessoa e daquela pessoa todos somos descendentes de um pai e uma mãe.

Ju: Pra onde vamos?

Mohamad Al Bukai: Também nós acreditamos que nós temos uma outra vida. Uma vida, um preparo para uma vida maior, uma vida eterna e temos que também nos planejar, nós temos que trabalhar para ter aquela vida eterna. Estamos aqui exatamente para esse objetivo, para a gente construir a nossa vida eterna no paraíso. Isso é, após a morte.

Ju: Qual é o sentido da vida?

Mohamad Al Bukai: Então.. o sentido da vida é que.. estamos aqui para..Deus nos escolheu para fazer esse teste, para ter essa vida eterna após a morte e nós temos que agir da melhor forma. Nós temos que construir essa vida e também viver bem aqui e também preparar a nossa outra vida. Então, o nosso objetivo aqui é construir a nossa vida eterna e também estamos aqui como teste, como está confirmado, para testar como nós vamos agir e para preparar, realmente o ser humano para aquela vida que é melhor, uma vida maior, uma vida ideal.

Ju: Porque que coisas ruins acontecem para pessoas boas? Porque que existe o sofrimento no mundo?

Mohamad Al Bukai: A justiça, na verdade, um dos grandes princípios nossos aqui. Nós não temos uma justiça completa, nós temos aqui uma justiça incompleta e isso implica também que existe um dia que essa justiça ser completa. Então, também nós acreditamos que o mal só existe porque é a falta do bem. O mal em si não existe, o que realmente existe é a falta do bem. Se nós, toda a humanidade, conseguirmos agir de uma forma correta, como usar esse livre arbítrio de uma forma correta, vamos não acabar 100%, mas vamos diminuir muito esse sofrimento que o ser humano tá passando hoje. Levando em consideração que a justiça completa só vai ser no dia do juízo final, na vida eterna. Se gente não coloca essa outra vida na nossa mente, nosso pensamento, nós vamos ter, realmente, uma visão muito incompleta, nós vamos ter coisas muito injustas, nós vamos entender e justificar muitas coisas que acontecem na nossa vida, mas quando a gente tem essas duas vidas e se compara entre as duas vidas, e vê que tudo que está agora a gente vê como injustiça, vai ser acertado na outra vida, nós vamos ter um acerto para todas as coisas que aqui estão incompletas. Isso que deixa a gente realmente mais tranquilo. Quem criou essa vida, quem criou esse Universo é justo e um dia nós vamos ter essa justiça que a gente pensava, que nós imaginamos. Nós como seres humanos temos essa visão de que tem que ser justo, que tem que ser… imagina o criador que criou isso tudo, com certeza um dia todas essas coisas que estão aqui injustas vão ter acerto na outra vida. Mas tem que ter na cabeça que existe uma outra vida para ter uma imagem completa.

Ju: De que maneira essa visão de que a gente veio de um homem e uma mulher, que a gente vai para uma vida eterna, que um sentido da vida é preparar nosso carater para essa vida eterna e de que a justiça ela não pode ser compreendida olhando para o que a gente ve aqui, mas sim num quadro geral que considera essa vida eterna também, onde as contas vão se acertar, e não o panorama que a gente tem hoje, com as injustiças que a gente ve. De que maneira acreditar nessas coisas molda a tua visão de mundo, molda tuas atitudes, molda as tuas escolhas?

Mohamad Al Bukai: Com certeza, muda muito. Eu acredito que existe um dia eu vá acertar tudo, eu vou pensar antes de qualquer atitude, qualquer passo que eu vá fazer. Eu dou exemplo sempre que essa vida é muito parecida com um supermercado muito grande. Quando a gente entra no supermercado e pega um carrinho para fazer as nossas compras, parece que é tudo de graça, tudo aberto para você colocar o que você quiser no seu carrinho. Na hora que você coloca ninguém fala pra você nada, mas mesmo assim as pessoas só colocam as coisas depois de pensar e decidir que “realmente eu preciso daquela coisa, eu vou colocar aqui no carrinho”, porque? porque ele tem certeza que quando ele sair, ele vai prestar conta. Então ele vai prestar conta, ele vai pagar no caixa tudo aquilo que ele colocou no carrinho, antes dele chegar no caixa ele pensa “vou colocar isso, não vou colocar”, vai pensar muito bem sobre as coisas que ele vai carregar. Então, a mesma coisa, quando nós temos essa crença, quando nós acreditamos nós temos uma visão muito profunda, crê no indivíduo, que um dia nós vamos prestar, para essa vida eterna, que Deus vai no final cobrar todos os nossos comportamentos. Com certeza a nossa vida aqui vai mudar, a nossa escolha vai mudar, nós vamos ter uma autofiscalização, nós vamos ter uma auto prestação de contas, nós vamos pensar antes de fazer qualquer atitude, nós vamos pensar que um dia nós vamos pagar por aquilo que a gente colheu, aquilo que a gente decidiu fazer. Então, realmente, muda muito quando você acredita ou não acredita. Aquele que não acredita, ele acha que é tudo de graça, que nunca vai pagar nada, que não vai prestar contas para ninguém. Aí o comportamento dele vai ser muito diferente, ele vai agir de uma forma que acredita que aqui tem que ser o paraíso, que aqui tem que ter o prazer. Aí não importa se vai prejudicar alguém, o que vai fazer, o mais importante para ele é a satisfação, o desejo que ele quer aqui. Então, realmente é uma diferença muito grande entre os dois pensamentos, porque, realmente o pensamento que é as bases de atitudes de qualquer pessoa, a crença, principalmente que ele carrega realmente tem muito a ver com as atitudes da pessoa.

Ju: O que é que seria diferente nas suas escolhas, no teu comportamento, na tua vida, se você não fosse mulçulmano?

Mohamad Al Bukai: É, na verdade muitas coisas mudariam, porque a gente muda nossa atitude por causa de uma informação que a gente ficou sabendo. As informações, esse conhecimento que a gente aprende, que a gente adquire então muda muito a nossa atitude. Então, se não tenho essas informações como uma certeza, então com certeza a minha vida vai ser outra. Talvez vou ter outras escolhas, mas, com essas informações que eu aprendi, mudaram muitas vezes muitas escolhas e a gente sabe que não vale à pena desejo. Às vezes a gente deseja muitas coisas, mas não são saudáveis, por isso a gente muda a nossa decisão para fazer as coisas saudáveis, mesmo que contrárias ao nosso desejo. Então, realmente, minha atitude vai ser totalmente diferente.

Ju: Como que a tua fé interfere na sociedade? Como que as coisas que você acredita interferem pra gente viver numa sociedade melhor?

Mohamad Al Bukai: Eu aprendi muito que nós somos aqui apenas moradores, que não somos donos desta vida. Então a gente tem que agir como moradores, e não como donos. Temos que respeitar a natureza, temos que respeitar as outras pessoas, respeitar a vida e conviver com qualquer ser humano, porque, para nós, a nossa fé nos ensina que nós temos dois irmãos na vida, o seu irmão da religião e o seu irmão da humanidade. Então todos nós somos uma família e nós somos irmãos e nós temos que agir desta forma e nós temos que colaborar mutuamente para fazer o bem e proteger essa responsabilidade, o Universo que Deus deixou muito bom e muito bem preparado para o ser humano. Então, para ter uma vida melhor, eu acredito que o ser humano tem que ser bem-educado, a chave, o segredo de tudo é o ser humano, porque o ser humano é a criatura mais importante entre qualquer outra criatura nesse Universo. Ele é o que tem livre-arbítrio, tem pensamento, tem vontade, então ele tem que ser.. quando preparamos o ser humano para ser um ser humano abençoado, purificado, o coração dele é purificado, e alimentar a mente dele com conhecimento, o coração dele com amor, aí então, nós vamos ter sempre uma sociedade melhor.

Cris: Depois dessas entrevistas a gente ficou imaginando que vocês iam querer conhecer a nossa profissão de fé, no que nós acreditamos. Claro que esse é o viés que filtra a escolha dos entrevistados, a elaboração das perguntas e a edição. Então nós acreditamos que é importante que ele também seja transparente, vamos agora responder as mesmas perguntas.
Ju: O que é uma vida boa Cris?

Cris: Pra mim uma vida boa é uma vida onde a gente aprende e produz, pode aprender com livro com outras pessoas com viagem. E nós trabalhamos, trabalhamos cuidando da nossa casa, da nossa família, do nosso próprio corpo. Uma existência sem aprendizado e sem trabalho ela não se justifica, nascer e morrer da mesma forma é um uso injusto da matéria empregada em nós. E pra você Ju, o que é uma boa vida?

Ju: Uma boa vida é uma vida com liberdade pra buscar e construir significados e propósitos, com ousadia pra amar e se deixar amar, com curiosidade pra entender o mundo e as pessoas, com propósito para contribuir de alguma forma para que o sofrimento humano desnecessário seja diminuído. O que que é ser bom Cris?

Cris: Pra mim é partir do princípio que o outro também é bom, ao menos tem algo pra te ensinar. Ser bom é ser honesto, leal, aprender a amar e ser amado. Ser bom é ter uma existência útil que ajuda a construir pessoas e uma sociedade melhor. E pra você Ju, o que é ser bom?

Ju: Ser bom é ser leal ao seus princípios, é ter honestidade pra perseguir com todo o coração e toda inteligência, conhecimento pra construir esses princípios. É ter coragem pra manter esses princípios mesmo em prejuízo próprio, é ter compaixão por todos aqueles que compartilham essa jornada solitária que é viver. É se revoltar contra as injustiças e combatê-las, é se entristecer com o sofrimento do próximo, é evoluir pra transcender o egoísmo intrínseco do ser humano, e se devotar pra promover a felicidade e o bem estar de alguém além de si mesmo. O que que é família Cris?

Cris: Família é o conjunto de pessoas que você escolhe para ser você mesmo, e tudo mais que isso pode carregar de bom ou ruim. Família são pessoas que corremos para comemorar e para brigar, são as pessoas que estarão presentes por toda nossa existência mesmo que não estejam mais lá. Família é um núcleo de crescimento, é um meio que nos ajuda a nos formar e nos transformar. E pra você o que é família Ju?

Ju: Eu já respondi em um Mamilos, família são pessoas que se unem por um amor no compromisso de cuidado vitalício. É um vinculo de entrega e dedicação, forjado pelo afeto que não está sujeito a conjunturas, opiniões e nem mesmo atitudes. A gente pode não gostar, não concordar, não entender. Mas família é laço que afrouxa mas não rompe. Qual é o maior princípio de todos Cris?

Cris: Pra mim os princípios mudaram ao longo da vida, o princípio primordial. Já passei por vários princípios que regiram a minha existência de forma prioritária, e atualmente eu diria que é empatia. É ter a consciência de quem eu sou, do caminho que eu percorri até aqui e pra onde eu desejo ir, isso me traz a energia e a tranquilidade pra entender outros caminhos, ter a humildade de entender que o caminho que eu escolhi é o correto pra mim. Mas pode não ser pra todo mundo, aprender a ouvir e saber de que matéria as outras pessoas são feitas e qual o sentido da existência delas, e o caminho que elas percorreram.
A empatia nasce do estado de amor que leva ao outro, e isso hoje é o que rege a minha vida. E a sua Ju?

Ju: O amor, sem amor a caridade é vã e o conhecimento é estéril. O amor é o que dá sentido e propósito pra vida. Quem é você Cris?

Cris: Eu sou a Cris Bartis e eu sou Ateísta. E você?

Ju: Eu sou a Ju Wallauer e eu sou Ateísta ortodoxa…
Risos

Cris: É engraçado eu sou Ateísta…

Ju: Graças a Deus…

Cris: Eu sou Ateísta não praticante e a Juliana é Ateísta ortodoxa.

Ju: Da onde viemos Cris?

Cris: Da matéria, de uma comunhão de átomos que vem se desenvolvendo ao longo de centenas de anos e hoje tem a forma do que a gente chama de corpo humano, e pra você?

Ju: De pó de estrelas, plagiando vergonhosamente Carl Seagan.

Risos

Cris: Eu falei também tá mais pra frente.

Ju: Somos uma improbabilidade estatística, os afortunados frutos de milhões e milhões de anos de evolução e seleção natural. Pra onde vamos Cris?

Cris: Mesma coisa, pra matéria né, vamos voltar pra lá. Viramos o que eu gosto de chamar de pó de estrela, ao morrermos quando deixamos de ter a consciência da nossa individualidade, a gente passa a ser parte do todo novamente. E pra você?

Ju: Mesma coisa, voltamos a ser matéria parte do universo. E qual o sentido da vida pra você Cris?

Cris: Aprender, questionar e dividir. É utilizar a minha forma hoje de matéria humana pra promover algo que tenha significado, que tenha objetivo. O sentido único que só o próprio indivíduo pode dar a si. E pra você, qual o sentido da vida?

Ju: A vida em si não tem sentido ela é. Somos nós que desejamos um sentido e por isso somos nós que conferimos algum sentido ao tempo de existência que ganhamos. Não existe um plano grandioso, não existe um livro de respostas, não existe um objetivo pré determinado nem pro universo nem pra humanidade e nem pra indivíduos específicos, eu não acredito nisso. Cris uma das perguntas fundamentais que a religião ajuda a responder, é se existe justiça. Por que quando a gente vê que as pessoas nascem com condições completamente diferentes, a gente se volta pra perguntar porquê? Por que que isso acontece, por que que a vida nos trata de formas tão diferentes, então, fundamentalmente as pessoas se dividem entre quem acredita que a conta fecha no final, e como as pessoas pensam imaginam que essa conta vai fechar. O que que você acha disso?

Cris: Não existe justiça… Risos, tenho palavras duras pra te dizer.
No sentido não de momento de vida, de julgamento como um todo a própria justiça já é um conceito liquido né, a justiça ela é vista de acordo com os grupos que questionam ou que julgam de acordo de tempos em tempos. Mas se você for falar da formação da sua matéria se ela é perfeita pros padrões ou não, ou em que ponto você está na escala de acesso aos serviços a vida não é justa. Eu poderia simplificar dizendo: Merdas acontecem… Risos
E pra você?

Ju: Pra mim não existe justiça, as condições do nosso nascimento, nossas condições físicas, os principais acontecimentos que moldam as nossas vidas, são completamente aleatórios. Sem um propósito, sem um objetivo e portanto nenhum acerto de contas finais. E isso não impede a gente almeje por justiça e deseje justiça. De que maneira acreditar nessas coisas, acreditar que a gente veio da matéria vai voltar pra matéria, não existe um sentido dado pra vida. Que o sentido da vida a gente tem que dar, e que não existe uma justiça, que não é um sistema perfeito né. Que no final a conta não fecha, de que maneira isso molda a tua visão de mundo, as tuas escolhas?

Cris: Eu acredito que a principal diferença, é que eu me sinto responsável por tudo que eu faço. A minha visão do mundo depois me reconhecer como Ateia, ela ficou mais solitária, mas também mais tranquila. Eu gosto muito dos dez mandamentos pro Ateu que está presente no livro do Richard Dawkins que é Deus é um delírio, ele coloca ali alguns norteadores pra uma visão de mundo. Eu gosto muito destes norteadores, eu acho eles perfeitamente factíveis. Eu destaco aqui alguns, é o segundo que é: Em todas as coisas faça tudo para não provocar o mal. A oitava também é muito legal: Sempre respeite o direito dos outros de discordar de você. E a minha preferida que é a última: Questione tudo.
Isso molda muito a minha visão de mundo, e pra você Ju?
Ju: Reconhecer a inexistência de uma justiça externa, nos torna responsáveis por equilibrar da melhor maneira que pudermos essa balança. Entendermos que somos todos sujeitos ao caos sem controle ou conhecimento sobre as mais partes mais importantes da vida, fortalece a compaixão com toda a humanidade. Se não existe nenhum ser sobrenatural pra intervir contra as injustiças e o sofrimento desnecessário, se essa é vida é tudo que temos uma violência é irreparável. Uma vida de sofrimento é um desperdício que não tem como recuperar, desfazer, corrigir. Então agir sobre isso é urgente, é um imperativo moral.

Cris: E só depende da gente.

Ju: Sim, o que você faria diferente se você não fosse Ateísta?

Cris: Na verdade eu não tenho orgulho de ser Ateísta, eu não saio por aí esfregando… risos
a minha não crença ou a minha crença na cara das pessoas. As vezes inclusive eu acho que é até mais fácil acreditar em Deus, mas o fato de não viver a culpa do pecado, não achar que Deus está sempre me vendo me vigiando. Não ficar a espera de que Jesus intervenha em meu favor, esses ponto me ajudam a ter mais serenidade a confiar mais e a me apegar ao princípio da minha vida que é trabalhar, dividir, compartilhar conhecimento, aprender. O que que você faria diferente se você não fosse Ateísta?

Ju: Eu já não fui Ateísta então assim eu nasci em um lar que não era, eu não tive educação religiosa, e aí mas a minha família por parte de mãe por parte de pai é Adventista e aí, eu escolhi na adolescência ser Adventista. Eu me batizei Adventista, e eu fui por bastante tempo líder jovem, diretora de coral, diretora jovem, organizava acampamento. Então assim eu estudava, era diretora de escola sabatina, fazia ano bíblico, acreditava realmente nessas coisas. E então por isso que eu acho que eu fiz essa pegunta, e acho que essa pergunta faz muito sentido pra mim, que é assim: Eu não mudei depois que eu deixei de acreditar em todas essas coisas, e passei a não acreditar em um Deus supremo numa bíblia, num livro que tem todas as respostas, no conflito, no grande conflito como a resposta pra todas as nossas perguntas. Os meus valores não mudaram em nada.
Então a minha resposta é: Se eu não fosse Ateísta, eu encontraria um outro sistema de crenças que tivessem os mesmos valores que eu tenho. Eu acho que os nossos valores não mudam.

Cris: Você ia continuar buscando isto até encontrar.

Ju: Eu acho que a gente tem os mesmo valores, e aí você pode ir pra qualquer religião que você vai ter os mesmos valores é o que eu acho. Como que você acha que a sua falta de fé…risos
Contribui ou pode contribuir pra gente viver numa sociedade melhor?

Cris: O fato de eu não ter padrões de certo e errado, pecado que são determinados por uma doutrina. Isso costuma deixar o Ateu mais aberto aos outros né, os Ateus costumam ser mais livres de preconceitos sobre as escolhas que as outras pessoas tem. Eles acabam se abrindo mais pra sociedade, os Ateus sabem que um mundo melhor só pode existir por meio de muito esforço, dedicação, ciência e respeito. Eu acredito que essas premissas elas nos levam ou nos direcionam para uma sociedade melhor.
E pra você Ju?

Ju: Ateus não acreditam numa solução já definida pra todos os problemas que existam ou que criarmos e por isso estão profundamente comprometidos e preocupados com as respostas que podemos e devemos encontrar sozinhos.
Não existe nenhum controle externo, nenhum ser superior pra acertar os nossos erros. A responsabilidade é toda nossa, não há outras oportunidades e por isso a vida é deliciosa, de qualquer ser humano.
Então é isso, temos uma teta incrível né?

Cris: Então é isso! Eu queria dedicar esse programa a minha mãe que é uma pessoa extremamente religiosa e que segue os preceitos que ela julgou muito importante pra vida dela, me criou nesses preceitos e respeitou as escolhas que eu fiz diferente dela. Ela… independente de eu não seguir aquilo que ela entendia como correto pra minha vida, ela me apoiou, ela continua me amando e eu acho que isso só reforça tudo que a gente ouviu sobre família, que são os laços que não se dissolvem, independente dos problemas ou das diferenças que nós temos, eu queria agradecer profundamente a minha mãe pelo respeito e pela liberdade que um pouco eu briguei, mas um pouco ela deu também.

Ju: E eu queria homenagear o meu irmão, Lucas que é pastor da igreja adventista e que é uma pessoa profundamente comprometida com construir pontes. Ele teve muita paciência comigo, depois que eu sai da igreja, ele tem tido muita persistência em deixar abertos os canais de comunicação pra que a gente consiga se encontrar mesmo nos pontos, completamente diferentes, de vista e de ver o mundo e de entender o mundo. Queria agradecer por todas as discussões que a gente já teve que me faz muito mais rica.
E agora o momento de agradecer todos os entrevistados, pelo tempo, pela generosidade de compartilhar o conhecimento com a gente, religiosos que cruzaram a barreira da desconfiança de conceder uma entrevista para um desconhecido né? Porque a maioria não sabia nem o que que era um podcast e principalmente venceram o preconceito de um religioso… né, imagina um sheik muçulmano dar entrevista pra um programa chamado Mamilos, né? Então assim…

Cris: Isso é que é vontade de compartilhar conhecimento né?

Ju: Realmente muito obrigada, todos eles foram muito generosos, muito obrigada.

Cris: Temos uma teta?

Ju: Temos uma teta e temos um farol acesso também.

Cris: Vamos então pro farol aceso (sobe trilha). O que que você indica Ju?

Ju: Eu indico um episódio do This American Life, o 584, chama “For your Reconsideration”, é um programa bem mamileiro, fala sobre o que nos motiva, o que nos mobiliza a mudar de ideia. Muito, muito bem feito.
Indico também a palestra do Ted, do San Harrys, que chama Paisagem Moral, eu tô lendo o livro mas pra agilizar e fazer o programa eu assisti a palestra que é um bom aperitivo pra interessar vocês no livro dele, então a grande questão dessa palestra é mostrar se a ciência tem alguma coisa a ver, ou alguma coisa a dizer sobre construção de moral.
E por último, o livro Lucas – Médico de Homens e de Almas, que segundo a minha mãe foi o livro que fez ela nomear o meu irmão como Lucas. Esse livro é muito bom, eu sempre volto pra ele quando eu penso sobre essas coisas, sobre religião, sobre significado da vida e tudo mais. Porque ele tem todas as dúvidas certas, daí eu ia lendo o livro eu falava: Sim, é isso que eu penso, mas como que esse cara virou um super apóstolo e tal, é muito, muito bom para quem tem dúvidas, eu assim, acho ele muito bem escrito, obviamente eu só descordo do final, mas eu ainda não morri né gente? Vai que eu passo pela mesma coisa que ele passou no final da vida (risos).

Cris: Vai saber né?

Ju: Pode ser que eu chegue lá. E você Cris?

Cris: Eu quero indicar o livro que eu citei nas minhas respostas, o nome do livro é Deus é um Delírio, de Richard Dalquins, eu não terminei de ler o livro, na verdade eu corri atrás desse material até pra organizar melhor os meus pensamentos e o livro é muito bom. Tem várias pessoas falando sobre ele na internet, resumo e tudo mais, tem um discurso ali que ataca um pouco religião que eu acho um tanto desnecessário, mas tem uma série de reflexões extremamente bem colocadas, bem sucedidas, ele tem um humor ácido… às vezes eu acho que não cabe sarcasmo num assunto tão sério, mas ainda assim eu recomendo muito o livro porque tem muita coisa interessante. Sabe quando você tem a sensação de que você nunca pensou uma coisa e aí a pessoa fala e você fala: Gente, mas isso é tão lógico! Depois de falada é lógico né, então você vai perceber isso em diversas passagens do livro, eu realmente… é um livro muito interessante.

Ju: Foi um livro que eu tenho todas essas críticas a ele, eu acho que ele não constrói nenhuma ponte, ele está é afim de dinamitar tudo, mas foi o livro responsável por eu sair do armário, porque ele me mostrou que é importante saber ter o orgulho ateísta, você se posicionar no mundo e você deixar claro qual é as suas crenças.

Cris: É você sabe que pra mineiro é muito difícil perder o costume né, do vai com Deus, fica com Deus, ai Jesus… eu sou a ateísta que mais fala Deus no mundo. Mas eu acho que é bom isso né? Porque eu ia falar o que, ai meu Thor?

Ju: Que também é um Deus, é só outra mitologia (risos).

Cris: Outra coisa que eu queria indicar, que não tem a ver com a pauta, mas tem a ver com aprendizados, é a série britânica da Alton Web, eu acabei de assistir a série. É meio novelão mesmo, mas você vai se apaixonar pelos personagens. Os personagens tem uma consistência que tipo mano, tem umas falas que você fala assim: Não acredito! E na verdade eu aprendi muita coisa nesse seriado com a aristocracia britânica sabe, porque na verdade o fato deles não serem passionais como nós somos, diferencia muito a atitude deles nas coisas, muitas vezes a pessoa está pensando mal de uma outra, essa outra tem a oportunidade de tirar essa impressão, mas ela simplesmente não tira, sabe porque?
Porque você pode pensar o que você quiser, eu deixo você sabe, se você quer pensar isso de mim, tudo bem, imagina isso pra uma pessoa que nasceu no Brasil. A gente não, a gente vai discutir, vai chorar, vai falar que não é bem assim. Outra coisa é que eles não compartilham tanta informação sabe, eu e a Juliana entramos num acordo em uma determinada situação, o mais lógico é que ela chegue em casa e comente com o Merigo…. não, eles não comentam, eles não fazem (risos).

Ju: Mas é novela, senão não tem novela né? Se ela contar, não ficam cinco capítulos em torno do segredo.

Cris: Eu não tô falando sobre segredos específicos não. A coisa morre no meio, ficou realmente entre só aquelas duas pessoas que aconteceu a situação, a diferença de classe eu acho isso muito interessante também, porque a 100 anos atrás na Inglaterra você tinha 200 criados e as pessoas penteavam o cabelo e colocavam pra dormir, servia café na cama e 100 anos depois a gente vê eles ali… então eu acredito que nos dá uma chaminha de esperança dessa condição serviçal nossa mudar um dia. Então recomendo a série, não precisa assistir tudo, tem uma hora que ela vai perdendo o fôlego, mas os personagens são muito apaixonantes, dá pra aprender com os britânicos alguma coisa, eu achei isso muito legal eu queria ser um pouco mais controlada né…. a menina não falou que eu sou passional?

Ju: É fleuma britânica né, super fleumáticos.

Cris: Então… eu não, eu agora vou ser assim tá, se acostumem com a nova Cris, a Cris que tipo simplesmente eu não vou demonstrar minhas emoções.

Ju: Aposto! (risos). Vou ganhar um dinheiro fácil agora.

Cris: Tá vendo, você duvida de mim, é de vida passional de novo né? (risos).
Eu queria aproveitar que a gente está recomendando Dalton e queria mandar um beijo pro Ulisses, do MBW, que morreu de ciúmes do Barata e do André e ficou lá zuando eles que a participação deles foi muito ruim, mas não foi viu Ulisses, pára com isso, você está virando britânico Ulisses.

Ju: Tanto não foi, que um monte de ouvintes nossos começou a ouvir o MBW depois da participação deles, tá vendo?

Cris: Vamos fazer o seguinte, vamos marcar um Mamilos e MBW aí em Londres, é super fácil pra gente ir tá… é só avisar.

Ju: Eu acho fácil, vamos marcar.

Cris: Você já convidou a Dilma pra ficar na sua casa, agora vamos todos nós. E olha que a gente ainda leva a Dilma (risos). Temos um programa?

Ju: Temos um programa gente, espero que vocês tenham matado a saudade e eu acho que esse é um programa pra ouvir e reouvir e reouvir e reouvir, até pra dormir.

Cris: Amém (risos). Fica a gostosa sensação de mais um Mamilos, obrigada gente.

Ju: Beijo.