Transcrição: Mamilos 56 - Fantasias & Contextos, Internet.org • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição: Mamilos 56 - Fantasias & Contextos, Internet.org

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Capa - Transcrição: Mamilos 56 -  Fantasias & Contextos, Internet.org

Jornalismo de peito aberto

Esse programa foi transcrito pela Mamilândia – o grupo de transcrição do Mamilos

Locutores: Ju, Cris, Caio Oga Mendonça, Cris de Luca

Ju:
Cris:
Caio:
Daniel:
Cris de Luca:

Início da transcrição:
(Bloco 1) 0’ – 10’59”
[Abertura] Esse podcast é apresentado por: B9.com.br

[Trilha sonora]

Ju: Mamileiros e Mamiletes! O Carnaval passou e a promessa é de que agora o ano começa. Agora a gente engrena! Vem com a gente então questionar as notícias da última semana com respeito e empatia. Eu sou a Ju Wallauer e essa foliã é a…

Cris: Cris Bartis.

Ju: Bora conversar que conversando a gente se entende. Gente, primeiro, antes de qualquer coisa a gente precisa fazer um anúncio de utilidade pública que é: o aplicativo nativo do iPhone pra podcast tá bem bugado. Muita, muita gente reclamou que tava com dificuldade de baixar o Mamilos. A nossa sugestão é que vocês baixem o aplicativo gratuito Overcast. Ele é muito melhor do que o Podcast…

Cris: [interrompe] É bem simples.

Ju: Cê pode aumentar a velocidade, diminuir velocidade, melhorar a qualidade do som… Enfim, ele é muito, muito melhor de qualquer maneira. E não tem bugs.

Cris: Caio, tem som no Mamilos? Nos surpreenda! Que que tem pra hoje?

Caio: Olá, Personas! Corraini aqui novamente para trazer à vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana! Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical desse programa, pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail: [email protected], [email protected]. Hoje, nós vamos ouvir As Bahias e a Cozinha Mineira. O grupo conta com duas vocalistas trans e tem como influências artistas como Gal Costa, Amy Whinehouse e Ney Matogrosso. Então fiquem aí com As Bahias e a Cozinha Mineira no som do Mamilos.

[Sobe trilha sonora]

Candango come comida forte
Pra construir a capital, Brasília
Candango come comida forte
Pra construir a capita

Candango come comida forte
Pra construir a capital, Brasília
Candango come comida forte
Pra construir a capital

[Desce trilha sonora]

Ju: E o beijo para:

Cris: Croácia.

Ju: São Paulo.

Cris: E Cláudio-MG. Cláudio sempre presente.

Ju: Fale com Mamilos. Vem falar com a gente, é só escolher o canal. Pode ser pelo facebook do Mamilos, no Twitter, Periscope, Instagram e Pinterest, com o perfil @Mamilospod ou pelo e-mail [email protected]. Ou ainda na página do Mamilos no B9.

Cris: Você também pode contribuir com esse projeto cheiroso no Patreon. Esse dinheirinho singelo a gente usa pra ajudar a divulgar, pra pagar a cervejinha do Caio e pra deixar a casa aqui limpinha pra fazer o programa: patreon.com/mamilos.

[Sobe trilha sonora]

Ó lua
Se apareces toda nua
Os meu olhos inocentes
Vão cantar murmúrio e dor

Não sabes de mim
Porém tua presença em meu peito
É nascer de vida a vida
Como a morte para o amor

[Desce trilha sonora]

Ju: Fala que eu te escuto. A Nilda que é uma ouvinte de muito tempo, desde o início do programa, e que comenta em todos os podcasts do B9 mandou um e-mail super legal essa semana: “Olá, esse assunto me interessa porque faz parte do meu trabalho. Sou funcionária do Judiciário e trabalho há 17 anos com execução fiscal, que é como chamamos os processos que as Fazendas abrem contra quem sonega impostos. Nesse tempo todo percebi que a maioria dos casos não é de sonegadores intencionais, que o fazem sabendo exatamente o que fazem e lesam o consumidor e o Estado. O consumidor porque cobram dele o imposto, e o Estado porque não repassam esse valor cobrado. A maioria dos executados se dividem em dois grupos: os que tiveram problemas financeiros, fecharam a pequena empresa e não puderam pagar os impostos. Ou os que não sabem exatamente como pagar todos os impostos, preenchem erradas as guias, ou pagam imposto de forma errada. E o ICMS é o mais cruel desses impostos pois ele é cobrado sobre ele mesmo. Sim, pagamos ICMS sobre o próprio ICMS. Antes da mudança seu cálculo já não era pra qualquer um, agora, nem quero chegar perto das fórmulas de física quântica que devem ser necessárias pra quem vende para outros Estados. Ah, tava esquecendo, os processos de execução fiscal no Tribunal de Justiça de São Paulo somam mais de 11 milhões, o que representa 57% dos processos existentes no tribunal. E não vejo muitas perspectivas desse número diminuir a pequeno prazo”.

Cris: O ICMS deu um pouco de pauta, né? As pessoas se interessaram pelo assunto, mas esse carnaval o pessoal tava mais era se jogando, seguindo as nossas dicas. Teve um cara no Twitter muito legal falando: “Segui as dicas das tias do Mamilos e sorri, me aproximei e só me.. só me deixei beijar”. (risos) Então a galera curtiu bastante aí o carnaval, e pouco comentário. Então essa semana todo mundo já voltou à ativa. Acabou a…

Ju: [interrompe] A moleza.

Cris: Alalaô, a moleza. Bora comentar. Bora conversar com a gente. Vamos então pro ‘Trending Topics’.

Ju: Bora.

[Sobe trilha sonora]

Cris: Quem tá aqui com a gente hoje? Temos dois gostosos.

Cris de Luca: Cris de Luca, esse é o meu terceiro Mamilos…

Cris: Que nada. Já vai pra mais…

Ju: [interrompe] Tem mais, Cris. Não é possível?

Cris: [interrompe] Cê já tá com Mamilos pra mais de metro.

[Risos]

Cris de Luca: E é sempre um prazer tá aqui com vocês pra debater e abrir a cabeça.

Ju: A Cris, pra quem não sabe, é editora-chefe do Mamilos.

[Risos]

Oga: Olá, eu sou o Oga Mendonça. Eu acho também que é o meu terceiro Mamilos.

Cris: Ai gente, cês tão viajando.

Oga: Tô me sentindo, tô me sentindo meio pena com três mamilos.

Ju: Cê é o Chandler.

Oga: Tipo isso. Verdade, olha que rápida! E…

Ju: O Oga na verdade… vocês precisam conhecer ele, que ele dirigiu o clipe, meu clipe preferido de toda minha existência. O clipe que eu não paro de tocar. O clipe que eu já vi no repeat duzentas e trezentas quadrilhões de vezes. Que é o clipe do Rico Dalasam, Riquíssima. Pelo amor de Deus, mamileiros, façam gifs pra mim disso. Eu quero viver disso. Eu só quero usar isso como referência na minha vida. Apenas isso, obrigada.

[Risos]

Cris: Se eu tivesse visto o clipe antes de ir no salão, ele tá com a cor do cabelo exatamente que eu queria.

Ju: Não, eu queria aquele cabelo… Queria tudo aquilo.

Cris: Eu devia ter levado… Quero o cabelo do Rico.

[Risos]

Oga: É, na verdade é uma peruca.

[Risos]

Ju: É, eu percebi que era uma peruca, mas era riquíssima.

Cris: É, mas a gente… E e a barba… Mas é rica.

Oga: Querida, a barba sim. Não, é incrível.

Ju: Riquíssima.

Cris: É rica e come rúcula.

Oga: Rúcula foi o mais engraçado.

Cris: Adoro!

Oga: Saudável comendo até rúcula.

Ju: É muito bom!

Cris: É muito bom!

Ju: Cara, essa letra é sensacional.

Oga: Ele é incrível. Ele é uma figura incrível.

Cris: Beijo! Oh, Rico, um dia você vem aqui, tá?

Ju: Ah é, por favor.

Cris: Vou pedir pro Oga pra te mostrar esse programa mamilético.

Oga: Boa!

Cris: Acho a sua cara você vir aqui.

Ju: É também acho cara dele vir aqui.

Oga: Demorô, né?

Cris: Vem, Rico.

Oga: Demorou, é só chamar que ele vem.

Cris: Vamos então começar aqui rapidinho com o giro de notícias antes de entrar propriamente nos TTs?

Ju: Bora!

Cris: Número cinco: performance bombástica da Beyoncé no Super Bowl. A Beyoncé causou já com o lançamento de Formation, seu novo single e ele foi lançado um dia antes do Super Bowl, pá! Chega Super Bowl outro vrá! Foi lá, dançou, arrasou, lacrou com performances que lembram os Panteras Negras, com as roupas das dançarinas. Ela com uma jaqueta que lembra o Michael Jackson. Formação das bailarinas do “X” do Malcon X. Eu tive até que ler um pouco pra entender a quantidade de referências porque não conheço tudo, tipo, que faz parte do estereótipo de algumas pessoas negras andarem com um molho de pimenta na bolsa. Isso fala na música. Assim, apenas Beyoncé destruiu porque ela levou um tema muito sério sobre preconceito racial no Super Bowl e aí, teve quem não gostou, né, Jú?

Ju: Problema deles. Os cães ladram a caravana passa.

Cris de Luca: E o que mais bombou foi o lado Fitness, né? Porque ela quase caiu, e dá um pulinho pra trás e se sustenta nas pernas.

Cris: É coisas de diva.

Cris de Luca: É uma coisa i-na-cre-di-tá-vel!

Oga: Nem a gravidade derruba a Beyoncé.

[Risos]

Oga: Ela é foda.

Cris: Eu acho… Eu acho… Se Beyoncé “fousse” [fosse], eu bateria nas pessoas só com o meu cabelo. Aquele cabelão todo trançado… A hora que a pessoa me irritasse eu só ia fazer um vrá!

Oga: E eu achei incrível ela botar a Blue, a filha dela…

Ju: [interrompe] Aiii fofo…

Oga: Com black power, que foi uma das primeiras polêmicas, né? E na letra ela descreve isso, falando assim, meu…

Cris: Ela descreve e…

Oga: Deixo minha menina com o cabelo afro mesmo.

Cris: Eu gosto do meu bebê com o cabelo afro e eu tenho orgulho do meu nariz do Jackson Five. E aí, eu achei muito legal porque o menino falou assim… Eles fizeram quase um abaixo-assinado, né? Uma coisa super de mal gosto. Fizeram um abaixo-assinado pra ela alisar o cabelo da menina.

Oga: Exatamente.

Ju: Como assim, né, gente? Peraí…

Cris: E é assim que se responde um troll. Foi isso.

[Risos]

Oga: Verdade.

Cris: Então, é sensacional. Foi muito legal. E tá tendo repercussão, tem um pedido de boicote a ela. E vamos ver aí, a coisa tá quente ainda.

Ju: Quarto: licença paternidade ampliada pra 20 dias. É um bom começo, né? Não resolve, mas é um bom começo, é um passo importante. Eu de bom grado, paro a luta por equiparação salarial se a gente começar a lutar por licença paternidade equivalente a licença maternidade. E aí, a gente começa a conversar de verdade.

Cris: Cadê seu deus agora?

Ju: É, porque daí, acabou a desculpa, né, galera?

Cris: Três: o Brasil avança em conhecimento básico de matemática mas continua atrás no ranking. O Brasil é um dos países que mais reduziram o número de alunos sem conhecimento básico de matemática, mas ainda é um dos últimos colocados no ranking de competência nessa disciplina no estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Foi publicado agora nessa quarta-feira.

Ju: Tem algumas iniciativas super legais pra melhorar o ensino de matemática. Eu até ia trazer uma iniciativa essa semana, trago na semana que vem, e eu acho que assim, a gente reclama de tantas coisas, e toda vez que a gente fala… a gente até falou no último programa, né? A gente fala que, todo brasileiro quando perguntado na pesquisa, fala que educação é prioridade, mas quando tem algum professor realmente engajado em fazer alguma coisa diferente, em melhorar esses índices tal, ele não tem atenção nenhuma, ele não tem espaço nenhum, ele não tem investimento nenhum, não tem nada, né? Então assim, é interessante que a gente melhorou, mas assim… Bizarro, eu tava conversando com esse meu amigo que tá fazendo um projeto super inovador em escolas, e aí ele falando: “Pô, tô procurando escola pro meu filho de primeiro grau, tal”. Falei: “Ai, que que cê viu de legal, quais são as escolas mais legais”. Ele: “Ah, a escola mais legal que eu vi aqui em São Paulo, por enquanto, é uma coreana”. Falei: “Nãooo!!! Até coreano no Brasil é melhor que a gente!” Sabe? Tipo… Tamo fudido mesmo… Então assim, realmente cê vê que como a gente precisa melhorar muito, né?

(Bloco 2) 11’ – 20’59”

Ju: Comitê diz que atletas dos Estados Unidos podem considerar não vir aos jogos olímpicos. O que aconteceu foi assim… ainda não é… primeiro é uma bandeira amarela né?! Digamos assim. O que aconteceu foi um call do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, os atletas mostraram preocupação com o risco das mulheres em virem para o Brasil em função do zika. E o que eles colocaram foi: deixaram em aberto, caso os atletas não se sintam confortáveis eles podem não vir aos jogos. O que acontece… se você trabalhou quatro anos para ter um índice, você conseguiu um índice para vim para cá, [então] é muito difícil essa postura do comitê de que “Ah, se você não quiser vim, não venha”. É muito difícil o atleta ficar nessa posição né?! Eu não acho que vá ter um número significativo de atletas dizendo “não”, porque cara… você provavelmente vai ter uma única chance de participar das Olimpíadas, é uma coisa que é o sonho de uma vida e tal… é muito complicado. Eu acho que a saída não pode ser assim, pessoal, tem que ser uma saída de Comitê falar “Ó, ou tem condições ou o Comitê não pode vim”. E aí, se o Comitê Olímpico americano fala que eles como comitê não vem, aí a conversa é completamente outra.

Cris de Luca: O problema é que isso já tá repercutindo pra caramba em relação a você vir para cá para fazer turismo.

Ju: Ah… Com certeza… Aí é outra coisa, né?!

Cris de Luca: E uma das atletas que já falou que não vem é super conhecida, que é simplesmente a goleira do time de futebol feminino dos Estados Unidos. Que é assim: primeiro é a americana típica, charmosa…

Ju: Sim.

Cris de Luca: Joga no time de futebol que está crescendo em popularidade nos Estados Unidos. Vem de dois campeonatos mundiais, né? Copa do mundo…

Oga: Isso.

Cris de Luca: Conquistado pelos Estados Unidos, então isso pegou.

Ju: Não… Eu acho que assim… Turismo é outra conversa, porque todo mundo pode optar por não vim né?! Eu acho que a pressão sobre o atleta é muito complicada, agora pra turismo, com certeza isso deve ter impactado.

Cris de Luca: O que eles falam pesa.

Cris: Pois é.

Ju: Claro.

Cris: Um Lei que obriga escolas e clubes a combaterem o bullying entra em vigor. A lei que obriga escolas e clubes a adotarem as medidas para prevenir e combater entrou em vigor agora, essa semana. O projeto determina que seja feita a capacitação dos docentes e equipes pedagógicas para implementar as ações de prevenções e soluções do problema, orientar a família também, identificar a vítima, identificar o opressor. E aí, começa a estabelecer que sejam realizadas campanhas educativas, porque não é só o combate, mas também a prevenção. Vamos vê se isso começa a mudar um pouco o cenário. A gente sabe que a escola já é muito sobrecarregada, então vamos entender que tipo até de material que vai chegar para que isso seja uma conversa e evoluir e realmente ser trabalhado nas escolas.

Ju: Eu acho que é legal, porque os pais pelo menos já sabem que tem uma previsão legal. Então assim, se você tem um filho que tá sofrendo bullying, já existe uma lei que obriga a escola a endereçar isso, entendeu? Então assim, tem que conversar com a turma, tem que ter material, tem que ter assistência psicológica para a criança, até jurídica para os pais se for cabível. Então eu acho que o mais interessante… A lei não resolve nada, a lei não cria nada, né? É a gente que pega a lei e faz ela valer, então assim, a partir de agora (isso fica a dica para todos os mamileiros aí) você sabem e sejam veículos dessa informação né?! Façam essa informação chegar a quem precisa para que as coisas realmente mudem, porque só mudam quando a gente mudar. Canetada não resolve nada.

Cris: Vamos então para o ‘Trending Topics’.

Ju: Fantasia da polêmica então é o primeiro tema, uma foto de uma família de Belo Horizonte com fantasias causou comoção nas redes sociais. O pai, um produtor de teatro, usou o figurino de uma peça que ele já tinha apresentado e fantasiou a família inteira de um clássico da Disney, Aladdin. O pai foi vestido de Aladdin, a mãe de princesa Jasmin e o filho do casal, Mateus, como o macaco de estimação, Abu. A associação da imagem da criança negra com o macaco foi alvo de muitas críticas e apontado como racismo por alguns internautas. O pai se defendeu dizendo que ele não tinha essa intenção, né? Que nunca exporia o filho de propósito, né? Que não era essa a ideia, que o que ele pensou foi só no melhor amigo do Aladdin. Então se ele era o Aladdin o filho era o melhor amigo dele. E falou assim “Olha, eu espero que pelo menos isso gerou conversa, que isso traga frutos positivos, pelas pessoas terem discutido e da próxima vez eu vou ter mais cuidado. Eu sou adulto, ele é uma criança, ele vai gostar de qualquer personagem. Fica um alerta. Eu vou aprender todos os dias e agente ainda vai vencer muitos preconceitos”. E aí, o que vocês acharam?

Oga: Para mim foi meio engraçado porque eu não vi na hora, eu demorei pra ver, eu tava meio em umRehab de redes sociais, tava com tendinite também. Então, quando eu vi eu tive já a resposta do pai, que pra mim foi positivo porque eu consegui contextualizar. Eu acho que tem coisas que tem que ficar muito claras: é uma imagem forte, qualquer pessoa negra consciente ou não vai se incomodar, então assim… Teve uma situação de preconceito ali, mesmo sem querer. Agora, transformar também… Acho que as pessoas foram muito agressivas talvez, assim já em condenar, que é uma coisa que sempre acontece muito em redes sociais.

Ju: É o tribunal das redes sociais.

Oga: Então como eu consegui ver com o contexto, eu consegui dá um passo para trás e falar assim “Não passarão, a gente tem que discutir isso. Eu acho que se você adotou uma criança negra, se você é pai, você vai ter de educar o seu filho, se seu filho é negro você vai ter de educar ele para um mundo que, infelizmente, não tem democracia racial. Ele vai ter que ter auto estima, vai ter que tá preparado para enfrentar coisas desse tipo. Se você é um pai que não sabe disso, você tá falhando.” Agora, por causa de uma falha jogar essa família na fogueira, eu acho meio absurdo, mas entendo que é um problema tão grave, muita gente passa por isso, que a primeira reação é essa mesma: você responder com raiva. Então, é um caso delicado. Eu tive a chance de conseguir dá esse passinho para trás e olha com um pouco de empatia e calma e entender o contexto, mas eu acho que assim… Tá muito claro nesse caso que todos nós, independente de ser branco ou preto, a gente precisa entender um pouco mais sobre outras etnias , eu acho que é uma discussão que é clara, que é visível para não cometer gafes desse tipo assim. Agora acho que essa criança foi exposta de uma forma tão dura… O pior de tudo é a criança sabe? Imagina que essa criança vai ter que aguentar isso a vida inteira, obviamente vão chamar ela de macaca. Eu tava vendo uma entrevista com o goleiro Aranha, que agora ele tá desempregado, quer dizer, agora ficam chamando ele de Branca de Neve. Antes chamava de macaco, agora é Branca de Neve. O cara aguenta até hoje. Então assim, essa exposição, se ela é usada, sem uma energia canalizadora para uma discussão real, ela vira um bullying eterno.

Ju: Deixa eu dá um passo para trás só Oga. Qual o problema de vestir ele de Abu? Não é só o amigo? Você entende? Se eu colocasse o meu filho, que é quase albino, vestido de Abu, tinha passado em branco e teria sido literalmente a intenção do pai. Que eu penso que é isso, sabe? “Ah.. eu vou de Aladdin, minha mulher vai de Jasmim e o meu filho de…“. Eu enxergo completamente minha família fazendo isso. E porque é diferente quando eu faço e quando ele fez?

Oga: Quando você pensa que a imagem do macaco é usada para ofender o negro há séculos… É mais por causa disso, é o poder da imagem mesmo. A gente entende que a intenção do cara não foi ofender. A gente entende isso.

Cris de Luca: Deixa eu entrar na discussão aqui. Não é há séculos aqui no Brasil que a imagem do macaco é usada para ofender um negro. Aqui não. Em outros países sim, tanto que aqui no Brasil isso meio que a alguns anos atrás passaria batido. Por conta dos jogadores de futebol, por conta do preconceito que tá vindo de outros lugares , eu acho que isso ganhou uma conotação muito maior. Aqui, se eu te chamasse de “neguinho”, “crioulo”, a turma ficaria muito mais ofendida do que “preto sem vergonha”, que é o que normalmente vem. A turma fica muito mais ofendida do que o “macaco”. “Macaco” é uma coisa que é um preconceito que vem muito da Europa. A Europa chama o negro de macaco.

Cris: De qualquer forma é um preconceito racial, porque onde a gente vê essa diferença acontecer. O preconceito racial é uma raça se sobrepondo a outra, quando você vem com o adjetivo do macaco, é um adjetivo, não é um animal agora. E a gente usa animais como adjetivo ao longo da vida, você chama o cara de “burro” quando ele não entende, de “gatinho” quando ele é bonito, de “cachorro” quando ele fala alto, de “galinha”…

Oga: E mesmo o “mulato” para o negro, né?!

Cris: Exato, e aí…

Oga: [interrompe] Que vem de mula, e que vem dessa mestiçagem ruim. A questão do macaco Cris [de Luca], só uma pequena correção, tem desenho do começo do século passado, no Brasil já, desenhando como macaco, fazendo menção do King Kong, mas entendo que veio da Europa sim.

Cris: Então, a gente usa animais para várias coisas da sociedade, não existe em nenhum momento na sociedade, você usando uma associação de uma pessoa ao macaco de uma forma positiva. Não existe! Toda vez que você chama uma pessoa de macaco, um negro de macaco, você está associando ele ao estágio pré evolutivo, quando a gente não tinha raciocínio, quando a gente era inferior, quando a gente ainda não tinha chegado lá.

Ju: Bárbaro!

Cris: E outra coisa, tem macaco branco, mas você não ouve ninguém chamando um branco de macaco, então a associação é extremamente pejorativa. É uma raça se sobrepondo a outra. Então, óbvio que quando eu vi aquela foto meu coração ficou em frangalhos . Sabe quando quebra, assim, igual a imagenzinha de facebook? Foi o meu coração. Porque naquele exato momento, sabe quando você faz “Hum… não…”? E tem uma coisa é muito importante, gente. Não é o fato de nós amarmos os brancos , amar pessoas negras, que ele não vá cometer um ato racista ou um ato de preconceito.

Bloco 3 (21′ – 30’59”)

Cris de Luca: A questão é: na cabeça dele tava um ato de preconceito?
Cris: Não.
Oga: Não, não ele não tinha intenção, ele não tinha intenção.
Cris de Luca: não, não é nem a intenção, não estava posto na cabeça dele que aquilo era um ato de preconceito. Não é questão da intenção ou não intenção.
Cris: Não, o que tava posto pra ele que era melhor amigo do Aladdin.
Cris de Luca: E que é o personagem do Aladdin que o filho dele mais gosta.
Cris: Não, não é um personagem…
Oga: Até porque na outra semana ele foi se vestindo de outras coisas.
Cris: Ele estava de pequeno príncipe no outro dia.
Cris de Luca: E ele disse isso, eu vesti meu filho no carnaval dos personagens que ele mais gosta.
Cris: O que acontece é que o cara já tinha feito essa peça e ele tinha suas roupas, ele acabou usando. O que acontece ali é que você não pode levar em consideração a intenção quando se tem um contexto social refletido ali. É a mesma coisa que um casal de alemão adotasse um judeu e colocação Pijama Listrado nele pra ir pro Carnaval.
Cris de Luca: Talvez também não seja uma forma dele começar a desmistificar isso pro filho? Enquanto a gente reforçar que macaco é uma ofensa ao negro, vai continuar sendo uma ofensa ao negro.
Oga: Eu sei Cris, mas, assim…
Cris: Então coloca uma pessoa adulta vestida de macaco que ela consegue bancar isso. Não foi a intenção, ele é totalmente apolitizado, ele não tinha essa consciência e ele continua não tendo, o post que ele fez no dia seguinte foi ele questionando se o filho dele fosse branco iria ter o mesmo problema. Ele não entendeu ainda.
Cris de Luca: Eu entendi eu to dando um passo atrás e tô dizendo…
Cris: Eu ouvi gente falando também que enquanto a gente ceder a senha de signos pras pessoas…
Cris de Luca: Exatamente, vai só reforçar, reforçar e reforçar.
Cris: Concordo então um adulto se vista de macaco, vá na rua e fale…
Ju: Foi o que o Daniel Alves fez né? O Daniel Alves foi lá e comeu uma banana…
Cris: Exato!
Ju: Você vai me jogar uma banana, eu como a banana e “prein!”
Oga: É, mais aí, esvaziou politicamente, virou a campanha “somos todos macacos” que não deu em nada.
Ju: Mas isso não é culpa dele.
Oga: Não, não… Eu digo isso…
Ju: O ato dele foi bacana. E eu acho que é disso que a Cris tá falando…
Cris de Luca: Exatamente, é isso que eu to falando…
Ju: Assim, olha, eu não tenho medo disso. Eu acho assim, é um pouco diferente e daí eu entendo, eu posso estar errada desse exemplo do Genocídio, porque assim, eu significo a banana, eu significo todas as outras coisas, mas eu não significo um pijama listrado, não tem como… Eu posso fazer um topzinho de pijama listrado pra sair, mas sinceramente, eu acho que essas são coisas que te foram impostas e que não tem muito como você dar a volta nisso, agora, as diferenças que a gente não tem, né? Porque o racismo é apontar diferenças que não existem, as diferenças que a gente não tem, eu entendo que a Cris tá querendo falar de às vezes o movimento afirmativo…
Cris de Luca: É mais racista que o movimento racista.
Ju: Não, ele mais reforça, põe luz nas coisas, nessas diferenças, quando a gente deveria apagar as diferenças. só que, eu entendo que existe uma transição, então assim, eu escuto bastante isso e já fez muito sentido pra mim falar que “gente, as pessoas são iguais, por que que a gente fica fazendo movimentos afirmativos?”, eu acho assim… se você passou séculos tendo a sua autoestima, seu valor e o seu lugar e as suas oportunidades sendo diminuídas, negadas e não alcançadas, existe um bom tempo em que antes da gente falar de igualdade, a gente primeiro tem que reforçar o valor que você tem e a sua identidade, eu entendo isso perfeitamente e eu entendo que nesse período de transição não cabe nenhuma lembrança do mau trato, nenhuma lembrança do sofrimento e é nesse contexto que eu falo, eu não acho que a gente sempre pode achar que ou que a gente deva achar que é uma solução que o menino não possa se vestir como personagem Abu, eu não acho, mas hoje nesse momento a gente está em um momento ainda que eu ouvi uma ouvinte do mamilos falar que eu achei bastante interessante, de mola esticada que assim, nesse momento, você tem que ser sensível ao momento, entendeu? Você não vai, por exemplo, você não vai evitar pra sempre falar de um filho que morreu pra uma mãe, mas naquele dia do luto, tenha respeito, e a gente tá nesse momento muito sensível de carne viva, acho que a gente tá na carne viva ainda.
Cris: O que acontece é que até pouco tempo atrás as pessoas não tinham essa voz da rebeldia de discordância, a gente ainda tá nisso ainda vai passar muito tempo por isso. Porque essa representatividade de falar não, aqui não… É muito recente, até pouquíssimo tempo atrás que é o maldito estereótipo do Mussum que a gente ainda vai ter que aguentar muito tempo que era: antes eu chamava de pô, ó lá o Mussum, chamava macaco, de bebum, de preto e ele não achava ruim. A gente ainda tá nesse momento, tem muito pouco tempo que a pessoa fala: “não, eu não sou isso, eu sou outra coisa”.
Ju: [interrompe] E eu não gosto de ser tratado assim.
Cris: E eu não gosto de ser tratado assim. Então o que acontece e que eu vi muitas pessoas escrevendo e falando sobre isso, toda criança negra em algum momento da vida nas interações que ela tem, ela foi chamada de macaco. Ela chegou em casa e ela chorou, porque ela sabe que aquilo não é bom, ela sente humilhada. Então eu escrevi um texto no Facebook que é muito do meu processo com isso, porque quando eu adotei uma criança, eu e o Agê, a gente não fez distinção de cores chegou uma criança negra a primeira percepção que a gente tinha era da abertura da paternidade, você tá aprendendo a ser mãe, você tá aprendendo a ser pai. Mas logo na sequência na primeira vez que a gente saiu com a Tamires, com três dias que ela tava com a gente a primeira coisa que eu ouvi foi “ela de criação né? porque ela é preta”, Aquilo me deu um choque, aquilo me transportou pra outro universo e falou, peraí eu não tô preparada pra isso, e quando eu entendi que as características dela eram muito diferentes das minhas características físicas e que ela vem de uma outra identidade de raça, que pra ela não é a mãe dela, ela nunca vai se enquadrar no branco, então eu precisava criar um colchão pra ela se encaixar no que ela é. E aí que entra o estudo, é aí que entra o contexto social e aí que você entende o que você pode ou não minimamente fazer respeitando a identidade.
Cris de Luca: Mas aí é o que eu vou falar pra você, pelo que eu conheço da educação que você dá pra Tatá, a sua educação é sempre ter reafirmando que ela pode sim, que ela é uma pessoa como qualquer outra pessoa no mundo e se vier o preconceito ela tem que olhar para aquele preconceito e desfazer o preconceito. Talvez este pai daqui algum tempo tenha dado uma maior lição pro filho dele do que não é o preconceito.
Cris: Eu discordo de você pelo seguinte se amanhã ele for chamado de macaco na escola e ele vai entender que isso é humilhante, ele chegar em casa eu falar: “pai, me chamaram de macaco na escola estou arrasado”.
Cris de Luca: Mas só vai ser humilhante pra ele se ele se sente se humilhado, Cris.
Cris: A associação é ruim.
Oga: Eu acho muito complicado, entender dessa forma…
Cris: Não é só se sentir humilhado, as pessoas não te ofendem só falando verdades, elas te ofendem falando mentiras também.
Oga: O pior de tudo é que ainda vão usar a foto! Vão usar a foto e esse menino ta marcado pra vida inteira. Eu acho que o pai pode transformar em uma coisa positiva sim, agora ele se informando, eu acho que sim… Óbvio que ele pode, mais assim… Esse primeiro passo de você tentar tirar o significado das coisas, é tão mais complicado do que você fortalecer a auto estima dessa criança.
Cris: De trazer simbologias que reforcem a cultura negra dela e pra ela entender o espaço de representatividade positiva que ela tem. Então não vai pelo caminho mais difícil com uma criança tão pequenininha, vai pro caminho do bem.
Cris de Luca: Mas por que esse é o caminho mais difícil? Talvez não seja…
Cris: Querer que uma criança desconstrua uma coisa que um adulto não consegue desconstruir…
Cris de Luca: Mas se não começar por eles, não vai acontecer!
Cris: Desculpa, mas é uma exposição muito cruel, muito cruel.
Oga: É, eu acho que é cê jogar um na fogueira, vai jogando uns quinze na fogueira, aí quem sabe uma hora vai mudar.
Ju: Eu queria só que a Cris falasse já que ela começou a falar da história da adoção dela que eu achei uma coisa muito interessante que é assim, eu entendo a maior ignorância desse pai foi de ser cego pra uma questão do filho dele porque assim… Quando você ama e você não vê diferença, e não vê! Ele tratou o filho dele como filho dele, ele não entendeu o contexto. E aí eu achei bonito que a Cris escreveu que assim, se você tá adotando, você precisa se preparar para esse contexto, acho que você podia falar um pouco sobre isso. O que que é se preparar pra isso acontece porque isso é importante?

Bloco 4 (31′ – 40’59”)

Cris: É que quando… E eu até citei “Longe do Árvore” que é um livro que a gente sempre cita aqui ele fala justamente dos obstáculos e da corrida que é por um pai criar um filho com caraterísticas muito diferentes da sua. Então o pai é heterossexual e tem um filho transgênero, ele é obrigado a desconstruir tudo de sexualidade, entender todo novo. Um pai que tem uma inteligência normal a ter um filho super dotado. Ele tem que aprender a lidar com um mundo muito diferente. Quando você não é negro e adota uma criança negra, você precisa entender o contexto da vida dela, você precisa entender, o que e identidade negra traz para que você consiga dar para essa criança um sentimento de inclusão e de identidade própria. Porque as referências de beleza, de cultura, de ocupação de espaço que ela tem, vai ser muito branca. Você não pode deixar que ela perca essa referência. E quando você começa criar essa cultura na família de trazer mais pessoas negras, de entender mais a história dos negros, do porque que existe racismo, do que é escravidão, quando você passa por esse processo de estudo porque é uma coisa que eu falei no texto, que não basta amor. Esse pai amava, ama, não basta, precisa ter estudo. Se você não entender esse contexto,você vai criar uma criança que não entende o lugar dela porque ela não vão ter referências negras porque ela precisa. porque o cabelo não é igual ao seu… A cor dela não é igual sua…ela precisa ver outros pontos positivos próximos para ela sentir, que não, tá tudo bem, vamos lá.
Ju: Mas Cris de Luca, trazendo o teu questionamento que eu acho muito válido, o ‘Longe do Árvore’ faz esse questionamento o tempo inteiro, até que ponto você entender, você não estar reforçando essas diferenças ao invés de diminuir essas diferenças. Porque ela… Eu vou dar um exemplo para sair da questão da negritude. Que é o exemplo do surdo. Então você tem o tempo inteiro essa tensão entre o pai que fala, bom, então vamos abraçar isso, e vai já direito para comunidade surda então o filho já fala só na linguagem de sinais e tal, e aí ele fica muito feliz mas num grupo muito pequeno, e os pais que vão pro outro extremo e querem que os filhos aprendam a falar e ler lábios, fazer leitura labial e consigam falar para se comunicar com todo o mundo. E os pais que ficam no meio do caminho que tipo entendem que os filhos têm uma necessidade então dão um senso de comunidade, um lugar onde ele se encaixa, mas também preparam para pro mundo…
Cris de Luca: [interrompe] Isso e uma coisa não exclui a outra.
Ju: Uma coisa não exclui a outra, eu entendo.
Cris de Luca: Você pode fazer tudo o que Cris está falando e deve fazer e tem que fazer, sendo que do outro lado você tem que mostrar que um contexto não pode ser tão pesado para ele assim. Se ele não conseguir começar quebrar o contexto…
Ju: Sim.
Cris de Luca: Não vai quebrar o contexto nunca.
Ju: [interrompe] Para todos nós né, para todos nós.
Cris de Luca: A gente vai reforçar o contexto vida inteira!
Ju: A gente está reforçando um erro.
Cris de Luca: Pra todo mundo.
Oga: Eu entendo seu ponto Cris, eu concordo contigo, só acho que assim, primeiro a gente tem que reforçar o autoestima desse menino, tem que reforçar, tem que crescer forte. Se o pai não sabia para mim esse é o erro. Se o pai desconhecia ou ignorava o racismo, esse é o erro. Entendo, por isso que eu… Foi a minha primeira fala né, eu acho que as pessoas agiram com um peso muito grande porque a imagem é muito forte, acho que as pessoas precisavam ter, que nem eu tive, me chegou pela resposta do pai. Eu acho que até ele respondeu bem. Eu não acho que ele errou na resposta, não concordo mas eu acho que ele respondeu bem. Gente, desculpa quem eu ofendi, eu não tinha noção disso. Se não com certeza ele não teria feito, para evitar esse transtorno. Eu não acho que ele ia sair combativamente e falar “eu posso vestir meu filho de macaquinho porque ele não é macaquinho que ele só amigo”, eu não acho…
Cris de Luca: [interrompe] Não é isso…
Oga: Não deveria fazer.
Cris de Luca: Não foi isso que ele falou… Por isso que ele falou, ele inclusive está na meu ponte fala que ele disse o seguinte, eu peço desculpas a quem eu ofendi, mas eu não vi assim, meu filho também não viu.
Cris: E não vai ver nada né gente?
Oga: Então, é isso.
Cris de Luca: Espero que ele cresça não vendo, não é para não ver.
Cris: É isso que eu acho complicado.
Oga: É isso que eu acho erro.
Cris: Se uma criança não consegue identificar o racismo, ela não consegue nem combater.
Oga: Não vai se defender. Não vai entender a situação, que ela está sofrendo.
Cris de Luca: Cris, olha só, vocês estou partindo do pressuposto de que, para ele não ser um peso significa que ele não está vendo, ele está vendo, só que ele precisa começar a tirar o peso do que ele está vendo. O que as pessoas fizeram foi colocar um pesado exacerbado na imagem.
Oga: Eu entendo se você… Se você vê sem contexto eu entendo a pessoa botar um peso, porque a gente viu muitos absurdos. Eu estava em casa.
Cris: [interrompe] Muita gente…
Oga: Eu estava em casa eu não estava no bloco, estava vendo aquela música “se o seu cabelo não nega mulata”… Isso é música racista, tudo mundo sabe, tudo bem, Brasil era… A gente entende, mas hoje em dia, um bloco totalmente branco na Pompeia precisa botar essa música? Para mim me ofende. Agora eu sou um cara fortalecido, entendo contexto, é uma música antiga, infelizmente tem gente que não entende que isso é ofensivo para uma boa parte da população. Eu consigo entender isso. Mas eu fico pensando, se o pai não conseguiu ter essa dosezinha de maldade de falar, é as pessoas podem entender mal, esse cara está sendo muito ingênuo, vai criar um filho ingênuo que vai sofrer muito porque é ingênuo. Então meu ponto maior é esse assim…
Cris de Luca: [ interrompe] Eu não acho que ele vestiu o filho de macaco, porque o tempo todo, ele diz para o filho dele que, isto não é problema.
Ju: Sim, a mesma coisa do, da marcha das vadias. Pode chamar me de vadia, eu vou inclusive sem blusa.
Cris de Luca: Isso, isso.
Ju: Entendeu? Aqui a marcha das vadias, se isso é problema é para você, para mim é que não é. Isso não é problema para mim não é, pode chamar-me de vadia. E para você em sua cabeça continua sendo, você está colocando todo peso nisso, pra mim não é. A mesma coisa da torcida do Corinthians, o que, sou maloqueiro, sofredor, graças a deus. Entendeu, porque o que o que ele vá falar , isso sempre foi um xingamento, a partir do momento que eu falo, para mim não, para sua cabeça é, quando você chama o Corinthians de malu-quero, é um xingamento mas não para ele.

Oga: Não sei, gente.
Ju: Entendeu.
Oga: Mas eu acho muito cruel o sistema.
Cris: Eu entendo muito esse ponto… O que eu não entendo, o que eu não concordo, é que a gente deva usar esse tipo de situação e esperar que ela desconstrua alguma coisa porque que tem uma criança envolvida. Se fosse um adulto, entendo perfeitamente, igual a é marcha da vadia. Igual éuma série de coisas, quando é uma criança, não. Aquilo vai se virar contra ela que é prejudicial e ela precisa entender o contexto para ela saber se defender e saber se posicionar.
Oga: Até tem a opção se ela quer participar disso, que para mim isso é o pior assim , sabe a criança não teve opção, realmente a criança queria botar a roupa do personagem, que ela não tem maldade…porque ela é uma criança.
Cris: não, e provavelmente ela gosta.
Oga: É, eu acho que é tranquilo.
Cris: Ela gosta sim, não tem nada de errado em ela gostar igual tem o Botas da Dora Aventureira e tem outros personagens.
Ju: Deixa eu problematizar de novo, porque é onegócio que eu te falei. Vamos lá. Por exemplo, o meu filho da mesma maneira que o filho dele não ver raça porque ele é pequeno demais, então isso não foi construído na cabeça dele, o meu filho não entende diferença de gênero ainda. Ele é muito pequeno para isso. Então meu pro filho a Nina ganhou uma bolsinha douradinha, pequenininha ela tava desfilando com a bolsinha e ele adorou e ele quis pegar, e a mãe disse, não pode. Isso é coisa de menina. O que que ele fez? Correu encheu de carrinho e disse, pronto, agora é de menino. Ta? Entendemos o contexto. Se eu como mãe, deixo meu filho sair na rua de bolsinha, você está dizendo que eu estou expondo meu filho, que eu não deveria fazer isso. Porque todo mundo vai chamar ele de bichinha, porque todo mundo vai dizer que ele é viado. Que ele vai ser viado. É isso?
Oga: Não… Eu acho.
Ju: Que eu estou expondo meu filho… Porque, é isso que você pode dizer.
Oga: Eu acho, por exemplo é diferente você já sabe que que é. Você sabe, aí essa uma decisão sua, você está fazendo talvez seu filho debater isso com você no futuro. Talvez não, porque vai se criado num ambiente que isso não é um grande problema….
Ju: Mas é igual, é a mesma coisa…
Oga: [interrompe] O pai não sabia o contexto racial…
Cris: [interrompe] Ele não tem consciência…
Oga: O pai não tem consciência nenhuma que isso poderia ser ofensivo. Você tem noção seu filho vai ser exposto.
Ju: Entendi.
Oga: O pai não tinha…
Ju: [interrompe] Entendi.
Oga: Para mim o meu maior questionamento pra mim o que me pega mais essa discussão é… Eu acho…
Ju: [interrompe] A ingenuidade.
Oga: O desproporcional, as pessoas condenarem, como foi o caso com a Madonna quando estava o filho dela negro, fazendo massagem no pé, a galera saiu dando porrada. Tipo é isso, fazendo o negro… nos Estados Unidos isso foi muito pior, muito pior, porque a galera vive numa tensão, até hoje, muito muito grave como é no Brasil só que lá o negro é muito empoderado, num nível talvez um pouco maior e lá, não passa mesmo, né. Agora assim, aqui no brasil, acho que tem… para mim esse é o pior é não saber, se o pai soubesse, eu entendo. E ao mesmo tempo que é o pior, é onde eu dou um ponto pra ele, eu falo gente calma, ele não fez um ato de preconceito querendo agredir Para ele…
Ju: [interrompe] Tá, mas volta no meu exemplo. Eu não estou agredindo ninguém tipo meu filho está saindo com uma bolsa porque não tem problema gente. Não tem problema.
Cris: Você vai fazer de forma consciente…
Oga: [interrompe] Você vai conseguir discutir com as pessoas, você vai conseguir proteger ele…
Ju: Mas, mas continua o que você está falando eu estou expondo meu filho porque a cabeça das pessoas é retrógrada, o problema está na cabeça das pessoas e não em mim. É o que Cris está falando. A cabeça ads pessoas, é racismo, não a situação não tinha…
Oga: Ju, Ju, mas você sabe, como proteger, pode falar para ele que “ó cê responde pra esse cara isso daqui ó… que é Isso isso isso…” Agora esse menino e vai responder? Eu aprendi em casa, eu aprendi em casa quando me chamavam de macaco dar um soco na cara dele todo mundo é igual… Minha família é muito miscigenada… Minha avó é negra, o último tom de negra, não dá para falar que ela é moreninha. África, e meu avô é espanhol. E aí teve filho de todos… 16 filhos, e nisso saiu a minha mãe. A minha família é muito miscigenada… Essa discussão nunca foi uma discussão muito profunda na minha casa. Eu só tive essa discussão quando eu sofri meu primeiro preconceito. Foi o pai de uma e namoradinha minha, que o irmãozinho dela bem pequeninho de quatro anos chegou para mim, tinha 16 anos, chegou para mim e o menininho falou imitando ele, ele chegou e falou assim. Meu pai não quer ter um neto preto. A partir daí eu entrei em parafuso, e eu não conseguia achar na minha casa assim, eu sempre aprendi que assim, Douglas, tem gente que é preconceituosa, cê vai ter que fazer tudo 2 vezes melhor, porque tem gente que é preconceituosa, mas assim, é só não baixar a cabeça. A discussão era tipo isso, coisas bem genéricas, de auto-estima que eu tinha, que me ajudava até um momento. Quando aconteceu isso, cara eu entrei em parafuso, eu entrei em parafuso. Tive que procurar informação, talvez isso me aproximou muito do Rap, que de todo tipo de militância… Que era um jeito super agressivo, muito claro, porque eram situações agressivas que esses caras passavam. A gente tem que lembrar que isso, né, por causa dessas associações, por causa desse signos que moleques negros tomam tiros nas costas. O menino tem 70% mais chance de morrer do que de um outro garoto. Quer dizer, então assim, eu acho essa discussão é muito urgente, para a gente tentar achar um caminho que não seja esclarecer. Então quando você me dá esse exemplo, Ju, eu falo você já sabe, você pode ensinar tudo a esse menino sobre gênero. Sobre igualdade, esse menino desde criança ele vai saber dar uma respostinha se alguém chamar ele de bichinha. Não é um grande problema…agora esse coitado ele não sabe que resposta ele vai dar. Eu gosto do personagem, ele vai apanhar na escola do mesmo jeito, as crianças são cruéis. E aí esse menino coitado ele tá indefeso. Eu concordo com a Cris no sentido que tipo assim, tem um lado positivo nesta discussão. Agora esse menino vai crescer, talvez e os pais parecem ser espertos então eu acho que assim, esse menino vai crescer talvez até mais empoderado que os outros meninos se ele for direcionado do caminho certo. Agora é o que a gente vai tentar entender.

(Bloco 5) 41’ – 50’59”
Cris de Luca: O pai tem tudo para direcionar ele para o caminho certo.
Cris Desde que ele realmente entenda vai precisar entender melhor a identidade racial dele.
Oga: É empoderar esse menino.
Ju: Eu queria só que você falasse um pouquinho Oga, falando sobre isso nessa semana para eu entender, você fez uma distinção super legal que nunca tinham me explicado sobre racismo e preconceito. Que eu achei muito boa, pois como você pode falar que esse pai é racista, gente se ele fosse racista, se ele achasse que a raça negra é inferior ou que os negros têm menos capacidade ou de qualquer maneira existe uma diferença…
Oga: [interrompe] ele não teria adotado um negro na família dele.
Ju: Ponto um, ele não é racista, mas isso não quer dizer que ele não possa preconceituoso ou ter atitudes preconceituosas, ou reforçar algum tipo de preconceito. E eu acho que você poderia falar um pouco melhor sobre isso.
Oga: Assim, tem uma distinção muito clara nisso né?! O racismo, assim como a Cris já tinha definido, eu vou definir bem rapidamente, ele é justamente quando uma raça se sobrepõe a outra. Então, partindo do princípio que ele não teve um navio “branqueiro” voltando da África, nunca o branco foi subjugado por um negro (pela raça). E nem digo casos isolados. E muito complicado a gente falar de racismo reverso, ou se falar assim: os negros são são mais racistas dos que os brancos . Não, não dá! Os negros podem ser preconceituosos, isso sim, se um cara branco for para o Zâmbia, e cair numa tribo no interior, claramente ele pode vir a sobre um preconceito ou discriminação racial. Sim, pois ele é diferente! Agora, ele nunca vai sofrer um preconceito, racismo. Racismo não tem jeito. Se você não é aquela raça que foi subjugada você não vai passar. Então, assim, Você tem essa discussão com alguém…
Ju: [interrompe] Não de indivíduo né?! É a opressão não de indivíduo mas sim de uma raça inteira, é isso?! Você pode sofrer preconceito como branco, como qualquer coisa, como mulher, como nerd, cê pode sofrer preconceito, mas não como racismo.
Oga: E aí acontecem essas coisas, que é um pouco do exemplo quando a gente já discutiu, que tem o racismo estrutural, que é o problema do Brasil. É esse racismo que tá tão dentro da nossa estrutura, que é isso, sabe? Por exemplo, um dia desses eu estava na C&A e uma menina me perguntou o preço de uma coisa. Eu já passei por isso inúmeras vezes, ok, não vou ficar ofendido. Eu entendo que as pessoas da C&A tem uniforme preto e eu não estava vestido de preto. Mas eu não vou ficar profundamente ofendido, mas eu entendo que esse é um raciocínio estrutural. A mulher olhou pra mim e pediu desculpas, mas eu virei para ela e disse: ‘eu não trabalho aqui senhora, mas você quer que eu veja?’. Eu acho que ela não conseguiu enxergar a etiqueta, mas ela ficou super sem graça e eu fui ler a etiqueta. ‘Tipo, eu não preciso trabalhar aqui para ler’. E eu ainda dei essa “pontatinha e ela ficou super sem graça, mas assim, é o racismo estrutural, a pessoa espera que o funcionário na loja seja negro e às vezes negros fazem isso. Quando um policial negro me para, presumindo que porque eu tenho dreadlock, eu fumo maconha. Se eu fumasse não teria problema, mas eu não fumo. Ele está cometendo esse racismo estrutural, e é aí que eu acho que os signos significados são muito importantes de serem combatidos, porque a gente vive nessa sociedade que tem o racismo estrutural. E aí eu entendo que eles estavam propondo um outro tipo de luta, que eu acho que pode ser juntos.
Cris de Luca: Exatamente.
Oga: Mas eu acho que a gente não pode deixar de tentar todos os métodos, por assim realmente está sendo muito grave. Porque assim, eu vi a discussão do Neymar com o lance da polêmica da banana, agora ele veio com outra hashtag que é “O Sangue é Vermelho”. Então, assim, o brasileiro tem essa coisa do não confronto, por isso assim, eu fico muito feliz por você estar aqui hoje, E você mesmo aqui com duas pessoas, você fala assim ‘Gente, calma aí, eu tenho meu ponto de vista, que é um pouco diferente do de vocês’. Porque a gente faz essa discussão, e assim, obviamente nem tudo a gente vai concordar ou discordar, mas assim o que a gente mais precisa é disso. Não uma hashtag que simplifique que somos todos iguais e acabou o problema.
Ju: E acabou o problema.
Cris de Luca: As vezes o negro é mais racista do que o branco não é em relação ao negro com o branco, é o negro com ele mesmo. Ele reforça o tempo inteiro, e aí gera o preconceito.
Ju: Alimenta né?
Cris: É que o oprimido não consegue ser o opressor. Ele está repetindo uma estrutura social, mas ele não consegue oprimir a si mesmo.
Oga: Aí tem questão semântica que eu digo: o racista nunca seria racista, seria preconceituoso e nisso eu concordo. Mas entendeu, essa questão semântica, ela é muito sútil. Se você falar isso para alguém da militância, o pessoal te dá uma resposta super torta. Porque a pessoa vai considerar assim: essa pessoa nunca leu nada a respeito disso. E eu acho isso ruim, pois eu já sofri coisas desse tipo, até colorismo, que outra coisa. Pois como a minha pele é mais clara, em alguns momentos, quando eu estava começando a me informar sobre isso, eu recebi respostas meio estranhas e tortas, tipo assim: “ah mas você nem sofre racismo, sê não é nem preto como eu, e com essa cara de artista”. Eu já ouvi coisas desse tipo, de gente que depois me ensinou muito, que eu tive paciência de entender.
Cris: [interrompe] E porque essas diferenças de mulato, moreno, isso dificulta a identificação.
Cris de Luca: O meu cabelo, por exemplo, que chegam aqui, pegam e dizem: é “fininho”… Ué, gente!
Cris: Dificulta a identificação.
Oga: Tem uma história eu conto, o “P” uma vez me entrevistou e eu contei essa história eu lembro que estava no primeiro ano do colegial e um menino me chamou de preto, e um amigo branco, mais alto e repetente foi lá e socou o menino. E falou: – ele é moreno! E é aqueles momentos que você fica, eu agradeço ou te agradeço ou explico.
Ju: [interrompe] Pros dois…
[risos]
Oga: Ou deveria bater nos dois. No Brasil tem essa questão, ou em qualquer país que tenha tido a diáspora tem essa questão, né? Nos EUA é menos, o cara entende que ele é negro e ponto, sou filho de negro. Agora aqui nós temos essas sutilezas.
Ju: Eu queria antes de fechar, falar que assim: eu acho muito interessante o que você falou sobre o racismo estrutural é a mesma coisa quando a gente fala sobre machismo estrutural, que é, você cresceu com um monte de coisas naturalizadas. Então assim, mesmo que você não acredite que outras raças são piores do que a sua, mesmo que você não acredite que uma mulher é menos capaz que um homem, todos os dias você reproduz coisas sem pensar. Então é nesse ponto que esse pai, pode não ser racista, ele não acredita que uma raça é pior do que a outra. Mas ele pode reforçar preconceitos, preconceitos que vão fazer o filho dele sofrer. Então é nesse ponto, que a gente não pode se fechar para as críticas e ser simplista e dizer ‘Não, só um pouquinho, eu tenho um podcast chamado Mamilos, cê vai dizer que eu fui machista?’, ‘Sim, Ju, agora, há dois minutos atrás’. E assim, é escutar e desconstruir. E porquê, então como? A gente está num processo de aprendizado, então todo mundo está errando o tempo inteiro. Eu acho que essa “Sandália da Humildade” ao mesmo tempo, nos tira do Olimpo de achar que a gente não está errando, e nos tira essa metralhadora de mirar na cara das pessoas que estão cometendo erros, porque assim, ninguém é perfeito, e ninguém está fazendo tudo certo. E não tem uma pessoa que está com o manual para poder distribuir faixinhas de miss feminista, miss movimento negro, não tem!
Oga: essas informações que você recolhe durante na vida, né gente?!
Ju: Então, tenha paciência com as pessoas, nos diferentes estágios de níveis de desenvolvimento que elas têm. É sacal a internet crucificando, buscando a próxima pessoa para crucificar…
Cris: E pode ser você amanhã, porque todos nós podemos cometer um erro.
Cris de Luca: Acontece o tempo inteiro.
Cris: O resumo dessa ópera, e eu entendo as pessoas que gritaram, não as que pediram o loteamento da família. Isso não tem nenhuma explicação. Mas eu entendo o grito, e eu acho que foi como um alerta gigante. As pessoas que escreveram textos conscientes, que se reportaram aos pais falando: vocês precisam estudar, vocês fizeram uma puta de uma merda, por mais que você ame essa criança, você está prejudicando ela, olha aqui! Então essa onda gigante que veio, ela é muito necessária, tirando o ultra extremo, e é claro a criança ficou muito exposta nessa situação toda. A máxima disso tudo pessoal, é: busque conhecimento, entenda o contexto. E entenda que você precisa criar uma criança que precisa ter auto estima, que precisa saber se defender, que precisa entender os signos. E você só vai conseguir fazer isso se você conseguir entender, se você estiver do lado dela, se você mostrar para ela uma cultura, que de repente ela não vai ter acesso na escola. Porque nas escolas não se vai estudar Zumbi dos Palmares, ela não vai ouvir Nina Simone, ela não vai ouvir Cartola, ela não vai ouvir uma série de coisas da cultura negra que reforçam a construção da cultura brasileira, e quem tem que fazer isso é você, é você!

[Sobe trilha]
[Desce trilha]

Cris: Vamos então para o tema dois? O Facebook foi acusado de ferir a neutralidade da rede pelos indianos, com o projeto Facebook.org. Muita gente critica, e o tema é bastante controverso. Tem gente que diz que a iniciativa não tem nenhuma relação com a neutralidade da rede, não seria uma questão técnica mas sim de uma questão econômico, por darem acesso gratuito somente aos apps que fazem parte da iniciativa. Então, acusam por isso, o Facebook, de estarem criando uma internet paralela. Quem tem acesso através da iniciativa do Facebook.org não tem acesso gratuito a internet toda, mas é inegável que dessa forma, o Facebook está inserindo milhões de pessoas na Internet. Claro, privilegiando a sua plataforma e a de seu parceiros. Cris explica pra gente um pouco do que é neutralidade da rede.

(Bloco 6) 51’ – 1:00’59”
Cris de Luca: Neutralidade da rede é um termo bastante antigo, ele vem desde a época da rede de telefonia. A ideia é que todo tráfego de uma rede ele tem que ser tratado de forma igualitária, você não pode discriminar o tráfego da rede nem por questões políticas, nem por questões econômicas. Então a gente aqui no Brasil, no marco civil da internet, colocou a neutralidade de rede como aquele acesso à comutação e roteamento do pacote não tendo nenhum tipo de discriminação ou degradação e essa discriminação não pode ser por origem, destino, serviço, terminal ou aplicativo. Isso é o que tá lá escrito no marco civil da internet. O que que acontece nesse caso da Internet.org lá na India: Internet.org é um projeto do Facebook que vai fazer dois anos agora em junho. E como é que nasceu esse projeto? Nasceu de uma ida do Mark Zuckerberg ao Mobile World Congress na cidade de Barcelona, onde ele foi falar pro pessoal da área de telefonia, de modo geral pras operadoras, que ele tinha uma ideia de fazer alguns serviços gratuitos pra tentar levar um, incluir o maior número possível de pessoas na internet através desses serviços gratuitos porque a partir daí tomando conhecimento desses serviços e de tudo que a rede seria capaz de fazer essas pessoas naturalmente comprariam pacotes de dados e continuariam navegando na internet. Então ele foi lá tentar seduzir as operadoras com o princípio de que, em vez de você cobrar caro por um acesso e excluir um monte de gente, porque você não bota um monte de gente pra dentro trazendo um chamariz gratuito, meio que efeito Coca-Cola, você deve ter lido lá na propaganda e marketing quando a Coca-Cola nasceu ela distribuiu Coca-Cola de graça pra todo mundo…
Cris: [interrompe] Isso, não tem novidade aí.
Cris de Luca: Exatamente. Depois começou a cobrar. Então um pouco da ideia dele era isso. Por quê? Porque ele viu que o Facebook tava chegando num teto, a maior parte da pessoas que podia pagar já tava dentro da rede e pra ele quanto mais gente dentro do serviço dele melhor, porque ele hoje se remunera a través de propaganda, através de venda de dado pessoal, através de um monte de outras questões que não a cobrança pelo uso do Facebook. Então se o Facebook, você não paga pra entrar, porquê que você não pode fazer a mesma coisas com outros serviços? E aí ele foi tentar seduzir operadoras e governos pra dizer o seguinte: ‘Olha, todo os serviços que têm algum tipo de utilidade pública’. Então, Wikipédia, o acesso aos órgãos de governo, tudo isso podia estar dentro do Internet.org e ter acesso gratuito que a operadoras teoricamente estão bancando pra levar um número maior de pessoas lá pra dentro. Essa é a ideia, tá? Quais foram as críticas? O Mark Zuckerberg está criando uma internet dos pobres, bem parecido com a questão que a gente tava discutindo antes. Então assim, nessa internet dos pobres, esses caras só vão navegar ali dentro, vão conhecer apenas aquela internet e vão continuar não pagando porque eles não têm como comprar um pacote de dados. Além disso, os governos que cederem a essa iniciativa podem se sentir desobrigados de fazer a inclusão digital da população porque afinal de contas ela já tem acesso à uma série de produtos e serviços que estão sendo oferecidos pelo Facebook. Por quê que por trás disso tudo tem a questão da neutralidade de rede? Porque pra alguns defensores da neutralidade e da livre iniciativa na internet, das liberdades na internet, há aí uma questão de discriminação por conteúdo. Então assim, você só acessa de graça quem é parceiro da iniciativa que está dentro do aplicativo. Porque o que que aconteceu, quando o Mark Zuckerberg foi pra Índia e falou tudo isso lá e disse que ia lançar um Internet.org lá, o Internet.org tinham dois pilares: um pilar de levar internet pra todo mundo através de uma rede que o Facebook ia instalar e o pilar desse aplicativo que tinha todas as aplicações gratuitas dentro. O que que ele fez? Ele, quando o pessoal na Índia começou a reclamar e foram os primeiros a botar o dedo na ferida, dizer: ‘isso fere a neutralidade de rede’ lá no entender deles, o Facebook separou a duas coisas. Continuou mantendo o projeto internet.org como um projeto de inclusão digital de levar a infraestrutura de rede e separou o aplicativo e deu o nome a ele de Facebook Free. Que que a Índia fez, A Índia disse o seguinte: ‘Olha, é proibido aqui preços diferenciados para provedores de serviço e internet que discriminalizam o conteúdo’, isso foi o que ela disse.
Ju: Tá, mas é proibido do tipo, eu entendo ser proibido assim: ‘Ah, cê não pode… Pacote dez reais você acessa UOL, se você fizer por cem reais você acessa a internet inteira’…
Cris de Luca: [interrompe] Exatamente.
Ju: Não pode ter uma internet de dez reais que só dá acesso ao feudo A ou feudo B. Mas de graça? Se você quiser de graça, você não pode dar?
Cris de Luca: Mas é isso que ele está falando. O de graça criou o feudo, é o mesmo que cê cobrar dez reais, você tá criando essa discriminação. Do ponto de vista…
Ju: Tá, mas é como cê tá falando, tem uma pessoa morrendo de fome, aí você vai dar pão, mas você vai falar: Mas pão não é nutritivo! Não acredito que que você vai dar pão! Galera ela estava morrendo de fome! Lembrando que ela não estava na internet at all.
Cris de Luca: Pois é, mas aí…
Ju: É melhor zero internet ou alguma internet?
Cris de Luca: Esse é o…
Ju: [interrompe] Desculpa eu tô sendo ignorante aqui, eu nunca pensei sobre isso, eu não sei.
Cris de Luca: Esse é o argumento do Mark Zuckerberg. O Mark Zuckerberg quando defende ele diz assim: ‘Mas não é melhor uma pouca internet que nenhuma internet?’. E aí a galera toda diz assim: ‘Não, alôu! Você precisa dar internet, você precisa brigar pra levar internet gratuita a todo mundo’.
Ju: Não, quando eu puder dar cesta básica, darei cesta básica, mas assim eu vou lutar pra que as pessoas fiquem com fome porque não quero que deem pão, tem que dar só cesta básica. Não estou entendendo.
Cris: Então, a minha pergunta nesse sentido é a seguinte: ele restringe por uma questão técnica ou ele restringe por uma questão econômica? Porque que se ele tem a cesta inteira pra entregar e tá entregando só o pão…
Ju: [interrompe] Aí é sacanagem
Cris: É osso. Como que é isso?
Cris de Luca: Aí que está a grande questão. Então vamos separar a discussão entre discussão técnica e discussão econômica.
Ju: Comercial.
Cris de Luca: Então vamo lá, tem uma galera inteira na internet, inclusive algumas pessoas do comitê gestor da internet aqui no Brasil, que defende que neutralidade de rede não tem nada a ver do ponto de vista econômico, é uma questão técnica, diz puramente a camada da rede lá da internet do que tá trafegando do que não tá trafegando. Então por exemplo, quando a Conquest resolveu fazer lá a via rápida pro Netflix passar mais rápido essa discussão se estabeleceu nos Estados Unidos, é uma quebra de neutralidade de rede ou não é uma quebra de neutralidade de rede. Eu posso dar à Netflix uma rede rápida pra ele passar com o conteúdo dele e oferecer um melhor serviço ou não posso? Algumas pessoas que defendem a neutralidade de rede técnica diz assim: Pode! Isso é uma questão comercial. O que o Netflix não pode, nem a Conquest pode é cobrar dois usuários um preço diferente porque eles estão usando a via rápida. Agora a Netflix usar uma via rápida pode. Qual é a questão que se impõe aí? Da mesma forma que Netflix pode, aquele pacote que a Conquest fez para o Netflix, ela tem que oferecer nas mesmas condições…
Ju: [interrompe] Ah entendi. Tá entendi.
Cris de Luca: Para o concorrente do Netflix. E aí entra uma questão econômica, é uma questão de isonomia. Se eu tô te dando um tratamento diferenciado, esse tratamento diferenciado tem que ser igual a todas as outras pessoas que estão aqui. Então vamos trazer o Internet.org pro Brasil. Como começou aqui há dois anos atrás? Através do serviço gratuito do Facebook oferecido por algumas operadoras. Então você tem, até hoje você tem a Claro, você tem a Tim não cobrando pelo tráfego de dados de quem acessa o Facebook. Então você tinha um pacote de telefonia e dentro desse seu pacote de telefonia você pode até hoje acessar o Facebook de graça. Naquela época era um pacote de telefonia, aí é que veio a confusão. Tá assim, se eu tenho só telefonia…
Ju: [interrompe] Tá, entendi.
Cris de Luca: E estou acessando de graça só o Facebook eu quero usar…
Ju: [interrompe] eu quero usar esse mesmo volume pra acessar outra coisa e tem que ser de graça também.
Cris De Luca: [interrompe] e se eu quero usar outras coisas eu vou pagar, vou ter que comprar um pacote, eu deveria ter que comprar o pacote para acessar o Facebook também.
Ju: Se você me deu 10Mb para acessar o Facebook me dá 10Mb pra eu acessar qualquer coisa que eu quiser, é isso, você não pode discriminar o que eu vou acessar.
Cris de Luca: E aí o que que aconteceu?
Ju: [interrompe] Cê pode me dar o que você quiser de graça mas não pode ter que me dizer o…
Cris de Luca: [interrompe] E aí foi o que as operadoras fizeram, hoje como é que isso funciona? Dentro dos pacotes de dados da Claro e da Tim o que você usa dentro do Facebook não é debitado do seu pacote então cê continua usando de graça mas você já comprou um pacote de dados.

(Bloco 7) 1:01’00” – 1:10’59”
Ju: Tá…
Oga: Entendi..
Cris de Luca: Ééé.. e aí naquele pacote de dados, quando eu clico num link que joga pra fora do Facebook, eu continuo navegando, aí consumindo o meu pacote de dados. Essa é a questão. Voltando para a história do Internet.org na Índia. E aí o que que aconteceu: como a Índia tomou essa decisão e é uma decisão desta semana de dizer: “olha, aqui, preços diferenciados para acesso por questão de conteúdo, não pode”…
Ju: [interrompe] Hum…
Cris de Luca: O pessoal aqui no Brasil que defende que usar um rating, que foi isso que eu falei aqui, quer dizer não cobrar o facebook, não é uma questão comercial é uma questão técnica que fere a neutralidade. Viu nessa oportunidade para dizer assim: “Ó! Olha lá o que que os indianos fizeram!” A gente tá na discussão da regulamentação do Marco Civil que regulamenta as exceções à neutralidade de rede. Porque você tem exceção. Vamos supor que eu queira fazer uma chamada de emergência. Para eu identificar uma chamada de emergência, tenho que discriminar o pacotezinho dela na rede. Ela tem que passar na frente de todo mundo. Vamos imaginar um pedágio, tá? Eu tenho lá as caixinhas do pedágio. O que que a neutralidade de rede não permite? Que eu tenha aquela faixa onde eu compro…
Ju: [interrompe] Sem Parar…
Cris de Luca: O sem Parar e passo direto. O que que a neutralidade permite? Que todo mundo saia da frente para a ambulância passar porque ela não pode ficar parada no pedágio. Ou que a ambulância use aquela faixa lateral para passar reto porque ela tem prioridade. Como é que acontecia na rede de voz e acontece até hoje? A chamada 190 passa na frente de qualquer outra chamada, porque ela tem que chegar rápida na Central de 190. Então se eu tiver, por exemplo, fazendo um 190 aqui e todas as Centrais daqui tiverem entupidas de ligações, é Ano Novo, tá todo mundo ligando pras famílias, tá tudo aqui entupido na rede de telefonia, alguém faz uma chamada 190, ela passa na frente de todo mundo. Às vezes algumas chamadas até caem! Para ela poder passar, né. Então o que que acontece, no caso do Internet.org aqui no Brasil houve uma gritaria, sem fim, da galera que defende as liberdades da rede dizendo: “Opa! Internet.org aqui não!”, por quê? Porque o Mark Zuckerberg se encontrou com a Dilma e começou a dizer para a Dilma o seguinte: “olha, cê quer fazer inclusão digital? Vamos fazer junto com o meu projeto!
Oga: [interrompe] Te ajudo!
Cris de Luca: Eu vou ser o seu parceiro”. E aí a galera que quer que a internet aqui no Brasil seja vista como um direito fundamental, e eu defendo essa teoria de que tem que ser um direito fundamental, chegou lá e falou assim: “opa, opa, opa! Não! Pelo amor de Deus! Não se junta ao Mark Zuckerberg!” Então nessa balança, o que tá difícil é contrabalançar os dois interesses. Porque de fato, a fala do Mark Zuckerberg é legítima pra alguns locais, é melhor alguma internet…
Ju: [interrompe] Tá, o que cê tá dizendo é tipo o McDonalds falar: “gente, eu vou me aliar à Dilma e vou acabar… Fome Zero! McDonalds pra todo mundo!”
Cris de Luca: [interrompe] Ahaha… exatamente!
Oga: Mas sóóó… Mas só o nº 1…
Ju: [falando junto do Oga] Aí ele vai mais criar novos consumidores pra ele do que realmente acabar com a fome no Brasil.
Cris de Luca: Isso! E talvez, e talvez viciando…
Ju: [interrompe] As minhas metáforas são só de comida, né! Haha.
Oga: [interrompe] Não, e não é só, não é só Mcdonalds…
Ju: [interrompe] Gordinha é uma desgraça! haha.
Oga: [interrompe] É número um… Só número um, número dois… Vocês vão ter que pagar.
Ju: [interrompe] É.
Cris de Luca: É, exatamente! É só, é só… Mc… McLanche Feliz…
Ju: [interrompe] McLanche Feliz.
Cris de Luca: [interrompe] Os outros vocês vão ter que pagar.
Ju: Entendi, tá bom!
Cris de Luca: [interrompe] Né, então, então assim…
Oga: [interrompe] Cris, eu tenho uma dúvida… O Google tentou fazer isso também né, tipo, por exemplo…
Ju: [interrompe] É verdade!
Oga: Tipo botar aqueles balões em cima, o que que é…
Cris de Luca: [interrompe] Aí é outra coisa…
Ju: [interrompe] Mas aí é ele provendo ééé…
Cris de Luca e Oga: A internet…
Ju: [interrompe] Conexão, é…
Cris de Luca: É o que o Facebook hoje…
Ju: [interrompe] Mas é tudo, né?
Oga: [interrompe] Então…
Ju: [interrompe] Não é assim, você só acessa o Google, né?
Oga: [interrompe] Eu não sei se tinha malandragem também, né…
Cris de Luca: [interrompe] Então! Vamo lá.. É exatamente o que o Facebook diz que vai fazer com a Internet.org. Quando ele separou, deu outro nome ao aplicativo e o Internet. org passou a ser só a infraestrutura de rede…
Oga: [interrompe] Entendi…
Cris de Luca: Ééé… O Internet.org é a infraestrutura equivalente ao Baloon lá ééé…
Oga: [interrompe] Entendi…
Ju e Cris de Luca: Do Google…
Oga: Então, virou meio que um concorrente…
Cris de Luca: É virou um concorrente. Porque é aquela história do seguinte, ó: “você tem dinheiro, Governo, para levar a internet para a Amazônia?” [silêncio] “Não, não tem”. “Você tem poder para bancar as operadoras de irem pra Amazônia? Tem! Mas não fez! Então, se você não fez nenhuma coisa nem outra, EU estou querendo ir pra Amazônia…”.
Oga: [interrompe] Eu boto as antena…
Cris de Luca: [interrompe] “Dar acesso de graça lá! Eu posso?” E aí o governo vai dizer “sim” ou “não”. Então o governo brasileiro tá estudando um balão igual o balão do Google…
Oga: Do Google… Que foi o Uber em São Paulo também, né?
Cris de Luca: [interrompe] A mesma coisa!
Oga: O Uber do Haddad, né? hahaha Tipo, então não vamo deixar Uber, mas eu faço outra categoria de Táxi e tal…
Cris de Luca: É, e o Uber… A regulamentação que ele tá trazendo pro Uber é bem legal! Então assim, tem várias questões envolvidas aí. E por que que a galera que defende esse lado de que internet.org NÃO! Fere a neutralidade de rede SIM! Tá tão embandeirada com a questão da Índia, porque nessa discussão do Marco civil, o que que essa galera queria? Que na regulamentação das exceções à neutralidade de rede estivesse dito claramente que os zero rating não pode. E isso não está dito…
Ju: Não está…
Cris de Luca: Não está e não estará! Por quê? Porque tanto o Comitê Gestor da Internet, que está lá sendo um dos órgãos a ser consultado em questões de quando você fere a neutralidade. Então toda vez que você tiver um problema de neutralidade de rede, o Comitê Gestor é uma das instâncias que você vai consultar e isso vai ser fiscalizado pela Anatel. Tanto a Anatel, quanto o Comitê Gestor, não vêem a internet.org e o Facebook como uma questão de neutralidade de rede. Vêem como uma questão concorrencial. Então é assim, se o Facebook está ganhando com isso um impulso enorme e acabando com a concorrência dele, isso é uma questão anticoncorrencial e quem tem que julgar é o Ministério da Justiça com a Secretaria de Defesa do Consumidor e o CAD com questões relativas a direito econômico. Isso é o que está posto no decreto…
Ju: [interrompe] Que não é uma coisa…
Cris de Luca: [interrompe] Essa discussão…
Ju: [interrompe] Que não faz sentido também. Também faz sentido..
Cris de Luca: [interrompe] Não, faz todo o sentido.
Ju: [interrompe] É, faz sentido.
Cris de Luca: Então essa discussão, hoje, ela tá caminhando, né e todo mundo que lida com o tema, tá lá de olho no regulamento. Regulamento tá aberto, é bom que se diga isso. O regulamento tá disponível numa página do Marco Civil da Internet do Ministério da Justiça, qualquer brasileiro pode entrar lá, ver o regulamento, opinar sobre o regulamento e entender quais são as implicações deste regulamento pra sua vida. Que não diz respeito só à neutralidade. Neutralidade é um ponto; diz respeito também à guarda de log de acesso…
Oga: [interrompe] Total…
Ju: [interrompe] Éééé…
Cris de Luca: Que é uma outra questão! E diz respeito…
Oga: É, o Zuker vai mandar…
Ju: Mas isso… Isso virou bangu já, né… Vamo falar a verdade isso já virou bangu…
[Risos]
Cris de Luca: E diz respeito à proteção de dados pessoais.
Oga: Uhum..
Ju: Que também… né? Mais ainda, né?
Cris de Luca: [interrompe] Mas que tem tudo a ver com o trabalho nosso aqui, né?
[Risos]
Oga: Sim, claro… [Falando rindo]
Cris: Enorme, né…
Cris de Luca: É enorme! Tem super a ver com o trabalho da gente. Porque tem super a ver com os dados que você armazena a respeito do seu cliente na internet, as informações que você colhe, como você vai guardar ela, como você vai proteger esse cara de que outros não vão ter acesso ao dado que ele te deu para um determinado fim e não para um outro uso. Então assim, tudo isso tá posto ali, são várias discussões. O que me chamou muita atenção, eu tava vendo antes de chegar aqui, um vídeo, porque o Ministério Público Federal, aqui no Brasil, ele, há pouco tempo, em novembro desse ano, ele emitiu um parecer dizendo que a internet.org fere a neutralidade de rede!
Ju: [interrompe] Ô babado!
Cris de Luca: E por que que ele fez isso? Porque uma das questões colocadas lá é justamente a questão de que o governo vai abrir mão de fazer o que ele deveria fazer…
Ju e Oga: Uhum…
Cris de Luca: De dar acesso a todo mundo porque você tem essas alternativas, né, para ser usada. Então isso tá assim, todo mundo que defende liberdade na internet: Intervozes, Partido Pirata… Tá todo mundo muito de olho nisso porque todo mundo quer entender pra onde vai. A galera mais técnica, do Comitê Gestor da Internet, até peguei uma frase muito legal que diz assim ó: “A definição de neutralidade não é consertar as parcialidades é dar amplo acesso a todas elas.” Então assim, a neutralidade tem que garantir que eu conheça o contexto.. ahaha.. pegando a discussão lá do começo…
[Risos da Ju, Cris e Oga]
Cris: O contexto gente…
Cris de Luca: [interrompe] E não que eu faça um monte de parcialidades e bote todo mundo nos guetos.
Ju: Bom também.
Cris: Isso vai ser discutido? Como é que vai ser essa votação?
Cris de Luca: Isso tá em discussão. Quer dizer, na Índia não, na Índia já rolou; o Mark Zuckerberg tá lá quebrando o pau. Já deu um monte de problema! Já teve um diretor do Facebook falando um monte de bobagem, o Mark Zuckerberg teve que ir pra rede social se retratar…
Cris:[interrompe] Isso…
Cris de Luca: [interrompe] Já aconteceu de tudo…
Cris: [interrompe] De tudo…
Cris de Luca: [interrompe] Nessa história…
Ju: Mas tudo bem, porque é mercado pequeno! haha
[Risos do Oga e Ju]
Cris de Luca: Não, tem uma outra…
Ju: Tá de boas… É irrelevante!
[Risos]
Oga: Tá tranquilo!
Ju: [interrompe] Tá ‘sussa’.

(Bloco 8) 1:11’00” – 1:20’59”
Cris de Luca: Não, tem uma outra questão, quem defende o internet.org lá diz o seguinte: a internet, é uma ilusão achar que a internet na Índia já está acessível a todos. O Facebook.org estava dando internet, por exemplo, aos Dalits, que não interessa ao governo indiano que tenha acesso, nem a esse pedacinho pequenininho, porque, vamos combinar, aonde que estas discussões todas que a gente tá conversando aqui tão acontecendo?
Ju: No Facebook.
Cris de Luca: Onde essa gritaria toda dos direitos tão acontecendo? É na internet como um todo? Não é!
Ju: Não é. É no Facebook, de fato…
Cris: [interrompe] Olha que legal.
Ju: Nas redes sociais quais sejam.
Cris: Olha que legal. É engraçado né, olhando a colonização de vários países da África, como tinham tribos diferentes, eles sempre elegiam uma que dava mais privilégio, e aí quando eles saem é toda essa guerra que a gente vê. Imagina, em tempos modernos, o que que você faz? Permite que uns tenham acesso à internet e outros não, e divide as pessoas dessa forma. Olha que loucura, né! É outro tipo de segregação aí.
Cris de Luca: Então assim, na prática, o que que tá acontecendo: está se jogando dentro do balde da neutralidade um monte de questões que não têm a ver com neutralidade, mas que talvez a neutralidade resolva, que foi o que aconteceu na Índia. Então muita gente aqui, e o Demi Getschko do Comitê Gestor é um dos que fala isso, não dá pra jogar tudo dentro do pote da neutralidade, é forçar uma barra. Por isso foi aquilo que eu te falei: aí eu concordo com isso, realmente não dá pra forçar a barra, porque a gente busca esses caminhos mesmo.
Ju: Uhum.
Cris de Luca: Quando a gente tá militando por uma causa, a gente tenta buscar alguns atalhos pra que a nossa defesa seja mais forte. E, às vezes, a gente tá abrindo uma brecha muito maior, que a gente não tá vendo. Então jogar tudo dentro do saco da neutralidade pode abrir margem pra que a neutralidade daqui a pouco seja usada para censura, né?!
Oga: Uhum.
Cris de Luca: Pra questão política – que aqui no Marco Civil tá dizendo que não pode ser usado. Mas você flexibiliza um pouquinho aqui, flexibiliza um pouco lá, dá uma interpretação um pouco mais larga do que que é o conceito, e aí a gente começa a ter problema.
Ju: Muito bom.
Cris: Uau, que coisa complexa, né?! E é isso?
Ju: Foi uma aula, adorei. Cris, eu vou escutar umas duas vezes o programa pra entender tudo.
[Risos]
Cris: É muita informação.
Cris de Luca: Vai ter um monte de gente me descendo a lenha.
[Risos]
Ju: É polêmica!
Cris: É, polêmica. Vamos então para o Farol Aceso?
Ju: Bora.
[Trilha Sonora]
Cris: Vamos então para o Farol Aceso. Vai começar por mim essa semana, e infelizmente eu não tenho nada pra indicar, eu realmente não fiz nada, então eu só vou…
Ju: Ela tava na praia, tá, gente? Ela tava pegando sol, ela tava bebendo caipirinha, ela tava nadando, então é isso que ela tem pra indicar.
Cris: A minha indicação essa semana pra vocês é: bebam água. Juliana, manda aí!
Ju: Eu, em compensação, tenho um monte de coisa pra indicar. Primeiro, eu assisti o documentário “Amy” no Netflix, o Oga até pode me ajudar, eu fiquei super mexida. Achei, primeiro, linda a forma de contar a história, né, que eles partem de uma declaração dela, de que ela só sabia fazer músicas falando sobre a vida dela, então eles usam as letras das músicas pra contar a história dela. Tem bastante filme caseiro, né.
Oga: Isso, eles pegaram muito acervo dos próprios amigos, da família dela, e aí você acaba tendo uma visão…
Ju: [interrompe] Muito íntima, né?!
Oga: Íntima, ao mesmo tempo é engraçado, porque é uma visão quase – óbvio que tem edição -, mas uma visão não editada, né, porque você tem imagens tão próximas, ela não tava fazendo carão pro amigo dela que tá gravando ela dormindo, ela não tá posicionada, né, e justamente isso aproxima, tem essa intimidade que aproxima e ao mesmo tempo humaniza, porque aí principalmente quando você vai percebendo que ela vai ficando famosa, até o tipo das imagens vão mudando, porque aí já tem imagem da imprensa.
Ju: Sei.
Oga: Aí o documentarista usa imagens de filmes, de outras coisas que saíram dela, então você vê que até tem esse amadurecimento da imagem. No começo é ingênuo, são vídeos dos amigos, vídeos da família, super 8 da família quando criança, e depois saiu esse lugar de aconchego, esse quentinho, e começa a vim a visão dos tablóides…
Ju: [interrompe] É!
Oga: Então isso é muito interessante pra construção da imagem dela.
Ju: Eu achei cruel de ver assim, porque a gente tava acostumado com a imagem dela já final, então você vê ela menininha, e vê que assim, cara, querendo ou não, a gente acaba se acostumando com a máscara, e aí quando você vê por trás da máscara é só uma menina, e aí é bem triste. E eu achei muito lindo o Tony Benett, a participação dele, a frase que ficou comigo do documentário foi a frase que ele falou depois que ela morreu, e aquilo, assim, muito doído. Não vou estragar a experiência pra quem não viu, então assim, vale muito a pena ver. Outra que eu queria indicar é um podcast que fez discussão sobre aborto pra caso de microcefalia, e por que que eu quero indicar? Porque a gente falou algumas coisas no programa passado, aí depois eu ouvi esse podcast e eles trouxeram uma discussão sobre o quanto legalizar o aborto só pro caso de microcefalia acaba esbarrando numa questão de eugenia. É mais ou menos o que a Cris falou: quando você tá tão ansioso pra lutar por uma causa, às vezes você pega atalhos que são muito caros. Eu achei muito bom esse podcast discutindo isso, as polêmicas que eles trouxeram, é o “20 Centavos”, eu vou colocar na pauta. E a maratona Oscar, eu assisti o “The Revenant”, que é uma viagem visual linda, incrível, então assim, eu já fui calibrada pra isso, eu já sabia que não ia ter um roteiro incrível, que não ia ser uma história que ia me pegar e tal, eu fui pra ver esse show off de diretor…
Oga: [interrompe] National Geographic.
Ju: E realmente… é, National Geographic [Risos]. E não deixa ninguém…
Cris de Luca: [interrompe] Pra mim o Oscar é do Urso.
[Risos]
Ju: Mas assim, realmente é impressionante, uma coisa que eu fiquei (não sei se é porque eu já tava preparada, que eu achei muito interessante), mas é que eu ando muito sem paciência com gente que tem preguiça de editar, que faz filme de três horas porque não sabe editar, sabe?
[Risos]
Ju: E esse filme especificamente eu achei que ele levou o tempo que tinha que levar. O Merigo saiu irritado da cena: “ah, podia ter cortado isso aqui”, e eu falei “não”, o tempo era uma variável ali.
Oga: Você tá acompanhando o sofrimento dele ali.
Ju: Exato!
Oga: Você tem que viver aquele tempo.
Ju: É, e eu achei muito bem editado, ele não é cansativo, ele não é arrastado, na minha opinião não foi, entendeu? Então assim, mas a impressão que eu tenho pra mim é que é um filme completamente descartável. Vi, me entretive e saí da sala, não vai me acompanhar, não tem nada que aquele filme me tocou.
Oga: Tecnicamente é questionável isso.
Ju: Não, pra cada um vai ser uma coisa, né. Mas pra mim, eu não me toquei em nada.
Cris de Luca: É, realmente. Tecnicamente a gravação é uma coisa maravilhosa. As imagens são…
Oga: [interrompe] É, eu acho que ele vai ser um videocase pra muita gente que trabalha com fotografia. Assim, eu até dei um passo pra trás, porque assim, recebi tanto spoiler tecnicamente, que eu falei: “deixa passar um pouco, depois eu assisto, porque agora eu já sei do filme inteiro”, sabe?
Ju: Ah não, mas eu também já sabia antes de entrar porque a galera faz esse favor, né. O outro que eu assisti, na sequência, foi O Quarto de Jack, que eu achei um filme também bem envolvente, você passa o tempo ali, mas também pra mim, assim, não me marcou, não foi marcante. Assisti o Steve Jobs, que eu achei muito bom, porém o que que eu acho: a verborragia do Aaron Sorking pra mim já deu. O que acontece: nesse filme especificamente a velocidade das coisas que eram faladas não te permitiam enxergar os contextos das coisas, entendeu? Então, assim, às vezes uma coisa que você fala o espectador tem que relacionar com um monte de outras coisas que já foram faladas antes, você tem que, assim, na hora que você fala uma coisa você tem que olhar pra onde o cara olhou, eu tenho que olhar o gesto na mão, sabe, assim? Tem um monte de sentidos, porque eram super complexas as falas, só que é uma verborragia de tal maneira que tudo passa batido, sabe? É tipo quem não sente o gosto da comida, só engole. Eu achei um pouco isso. Atuações muito boas, um roteiro maravilhoso, o jeito que eles contam a história é muito legal, mas realmente eu acho que ele podia pensar um pouco sobre isso né, tipo menos é mais.
Oga: É aquele efeito do Closer, né. O Closer, pra mim, eu falava assim “são gênios tendo DR”, porque era tudo tão rápido, eles não respiram né. Legal, agora vou assistir de novo no slow, porque gente, DR de gênio não dá.
[Risos]
Ju: É! E assim, ele sempre foi assim e tal, no The Newsroom ele faz isso, e o Merigo me criticou porque ele fala assim “Ah, mas no Newsroom ele faz isso e você não se incomoda”.
Oga: Mas tem humor e não é uma história real também.
Ju: E não é só isso, numa série você tem um tempão pra pegar contexto, então eu sei quem você é e porque você falou o que você falou. Porque se eu não pegar num capítulo, eu pego no outro, ou depois no outro. No filme você só tem aquele tempo, então não dá pra fazer desse jeito, na minha opinião leiga, e que não interessa, e que ninguém perguntou.
[Risos]
Ju: Mas enfim, essas são as minhas dicas.
Cris: Vamos lá, Oga?
Oga: Nossa, lembrei de uma rapidinho. Vocês estavam falando de filme, e um filme que todo mundo tem que assistir é o “Boi Neon”.
Cris: [interrompe] Ai, eu tô louca pra ver!
Oga: Gente, que filme. Assim, eu acho que de roteiro, eu não acho ele tão genial, mas ele tem um desbunde nas imagens que te levam a questionamentos. Eu não posso ficar dando spoiler, não vou descrever as imagens porque a maioria é spoiler. Mas assim, é esse filme que te pega pela estética, ele te segura pela estética, e depois você sai com aquelas imagens na cabeça e aquelas imagens vão gerar discussão.
Cris: Que legal!
Oga: Eu saí e fiquei discutindo com a minha esposa horas por causa de uma cena específica e foi muito louco a força da imagem. E voltamos pra aquele assunto que a gente tava discutindo no começo.
Cris: Tá certo! Vou colocar aqui também, Boi Neon!
Oga: Isso! Aí agora tem um site que chama Music Non Stop da Cláudia Assef, é um site de música eletrônica. Mas ele tem uma discussão que agora… até a Cris ajudou a cunhar o termo, que ele tem um pouco da discussão do.. ele tem mais toques, as matérias são grandes, a Cláudia Assef, ela consegue fazer uma matéria, por exemplo, com um DJ que era o cara que nos anos 80 trazia uns discos para o Brasil; ela faz uma matéria com mais que dois mil toques e ainda faz um vídeo, sabe.. Acho que a gente, falta um pouco assim, tem gente que quer se aprofundar na discussão e a maioria dos portais grandes, principalmente falando de cultura, cada vez mais cê lê um release, um videozinho, aquela coisa de lista né, “10 motivos para você ver não sei o quê”, e aí quando cê vê, cê fala assim “cara! tipo, tá, mas eu quero debater! Aí cê sai do negócio e não sabe com quem falar, né! Porque os reviews são muito curtos, e aí eu tô gostando muito de uns que, não é que é tudo gigante, não, mas tem muita coisa com profundidade de uma coisa que é de nicho, que é considerado fútil, “ah, música eletrônica, ah é tudo igual, putz, putz… não! Ela trata com um respeito que é tão legal! Tipo, acho que mesmo quem não se interessa por música eletrônica, eu não sou um profundo conhecedor, pelo respeito que você vê que é tratado aquilo cê se aproxima assim. O outro é o “Chelsea Does”, vamo lá fazê aquele jabá para o Netflix…
[Risos]
Oga: Um dia eles vão pagar a gente, né…
Ju: [Rindo] Um dia, um dia…
Oga: Um dia eles tem que pagar aqui, né… É uma série de uma comediante americana que ela faz documentários de uma hora sobre vários temas, ela fala sobre racismo, que aliás é beeem interessante, sobre casamento que não é interessante…
[Risadas da Ju]
Oga: Cê pode ver o primeiro depois, é o mais chatinho, mas é legal, tem coisas interessantes ali sim. Sobre drogas eeee, eu não me lembro.. ah! E sobre o Vale do Silício, que aliás é bem legal também. O que é legal também é que ela se bota, meu, ela é uma comediante de 40 anos, mulher branca, americana, com uma língua muito afiada e é legal que ela se bota no papel de ignorante, “eu quero entender isso”, e aí o roteiro é muito bem construído porque bota ela em situações, assim, ela tá numa mesa discutindo racismo, ela tá com uma mesa com representante do movimento indígena americano, movimento negro, de todos, haha! Tipo dos asiáticos…!! E ela se bota em situações que cê fala assim: “gente, só americano consegue discutir isso sem dar uma facada no outro” hahahaha! E ela consegue sair de alguma forma e trazer luz. E o que é legal é que é humano, sabe? Ela não é uma gênia, em vários momentos cê fica com raiva dela, muuuita raiva dela, outros momentos você entende, mas rola um carisma ali e para mim que me interessa, que faço documentário, pelo sabor especial de entender esse tempo. Ele é super rápido, ele tem essa coisa da internet, apesar de ser uma hora, ele é muito picotado, vai pra lá, vai pra lá, mas você não sai com essa sensação de tipo “ah!, eu queria ver mais”, do tipo “ai, foi um resumo”…
Ju: [interrompe] Uhum.
Oga: Então tem alguma química ali que eu não entendi, porque ela consegue mostrar todos os lados em pouco tempo, assim. E o último é um jabazão…
Ju: [interrompe] Hahaha.. Eee!!
Oga: Pra mim!
Cris: [interrompe] Tá certo!
Oga: Eu fiz uma seriezinha pra Redbull, tá dentro do site deles, Cris vai botar o link. É uma série que eu tinha escrito junto com o Hugo da Fine, a gente tinha feito pensando nos imigrantes, nos músicos imigrantes que moram em São Paulo. Ééé teve uma série de vídeos de ações na Redbull, pro aniversário de São Paulo, e a gente pensou nisso assim: “meu, como vivem esses músicos que moram aqui? Como eles produzem?”.
Ju: [interrompe] Que escolheram aqui, né.
Oga: Principalmente que escolheram São Paulo, sabe? E aí tem depoimentos muito legais assim.
Ju: [interrompe] É bem legal mesmo.
Oga: Como, como a gente muitas vezes né, sempre tem uma visão negativa, como um bom paulistano que sou, sempre falo mal da minha cidade…
[Risos]
Ju: Isso.
Oga: Então é muito legal ouvir gente de fora falando bem, e trazendo esses pontos…
Ju: [interrompe] Vários sotaques né, vários olhares.
Oga: [interrompe] Justamente.
Ju: [interrompe] Diferentes, é bem legal a série.
Cris: Cris de Luca, que que cê manda pra gente?
Cris de Luca:: Então, eu tô na maratona Oscar também.
Cris: Ai que raiva de vocês!
Cris de Luca: É, sim…
[Risos da Ju]
Oga: Quanto tempo gente!
Cris de Luca: Spotlight é uma aula de jornalismo, acho que, apesar de, mesmo quem não é jornalista deve ver, até pelo exercício que é você entender como a notícia acontece, como é que a construção da busca de uma determinada informação e como você às vezes tem que ir contra o seu próprio instinto de proteção. Porque é isso que acontece no filme, né. E se eu falar mais eu vou dar spoiler também
[Risos do Oga]
Ju: Mas é legal também de você ver como a notícia NÃO acontece…
Cris de Luca: [interrompe] Também.
Ju: Né? Porque várias vezes o editor fala “não”, “não”, “ainda não”, “ainda não”, “ainda não”…
Cris de Luca: [interrompe] Isso, ainda não tá pronto.
Ju: [interrompe] “ainda não”, “ainda não”, “não tá pronto”, e o cara vai falar “não! Mas eu já tenho isso e isso e isso..”, e ele fala “se você der assim, basta uma pessoa contestar assado e você matou”.
Cris de Luca: [interrompe] Você perdeu a história.
Ju: [interrompe] A matéria.
Cris de Luca: Exatamente.
Ju: Eu achei gênio!!! Porque é justamente o que a gente não tem hoje, né, então… Eu acho o como uma história não sai, eu achei…
Cris de Luca: [interrompe] É quanto você.
Ju: [interrompe] Melhor ainda.
Cris de Luca: Precisar amadurecer e buscar outras fontes de informação para construir algo que é incontestável. E o tema da reportagem em si, é um tema muito delicado que é a questão de pedofilia na Igreja, né, então é muito importante ver por várias questões. Eu fiquei assim, eu saí emocionada, eu saí chorando…
Ju: [interrompe] Sim!
Cris de Luca: Do filme, porque bateu lá no fundo, sabe…
[Risos]
Cris de Luca: Lá no fundinho do coração e só tinha acontecido isso comigo com “Todos os Homens do Presidente”, é mais ou menos o mesmo calibre. Éééé, e outro que eu vi também, eu gosto das histórias densas, foi o filme “Trumbo: Lista Negra”, é que conta a história de um diretor de Holywood que nos anos 40, 1947, entra na Lista Negra de diretores americanos acusados de comunista e de estar querendo implantar o ideário comunista nos EUA. E aí há todo um movimento de defesa dentro dos estúdios por aquilo que eles imaginam que seja os valores americanos, né, e ele mesmo caçado, ele volta a escrever roteiros, ganha dois Oscars sem ter o nome dele nos roteiros e dois Oscars que, com filmes que o público americano se vê retratado nos filmes e então ele consegue dar a volta por cima, é no final e eu não vou contar mais também porque se não é…
[Risos]
Cris: Aí rola spoiler.
Cris de Luca: [interrompe] Isso, mas é muito bom.
Cris: É isso então. Temos um programa, temos mais um Mamilos. Obrigada a você que esteve conosco até esse momento!
Ju: E comentem! Comentem, comentem, comentem, comentem, não nos deixem falando sozinhas, não nos deixem falando com as paredes.
[Risos]
Cris: [interrompe] Isso é uma música!
Cris: Vamo lá, então? Beijo, brigada! Boa Noite, tchau, galera.
Ju: [interrompe] Obrigada, galera!

[Sobe trilha ]