Jornalismo de peito aberto
Esse programa foi transcrito pela Mamilândia – o grupo de transcrição do Mamilos
Início da transcrição:
(Bloco 1) 0’ – 10’59”
[Vinheta de introdução]
Este podcast é apresentado por b9.com.br
[Sobe trilha]
Cris: Mamileiros e Mamiletes, sejam bem vindos ao Mamilos 51. Esse é seu podcast para tratar de temas polêmicos com: um quilo de empatia, levemente umedecido com respeito, recheio de inteligência e salpicado de bom humor. Eu sou a Cris Bartis e essa é a minha amiga de fogão…
Ju: Ju Wallauer!
Cris: E juntas vamos trazer pra vocês mais que informação, vamos te levar pro submundo das reflexões.
Ju: Você pode falar conosco em nossa página no site do B9 ou por um e-mail [email protected]. Pode também seguir o nosso perfil nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Pinterest. Só buscar “Mamilos” por lá. E pode contribuir com esse projeto lindo pelo Patreon: patreon.com/mamilos.
Cris: Vamos então para o Som do Mamilos. ‘Caiô’, canta pra gente?
Caio: Olá personas ! Corraini aqui novamente para alegrar os ouvidos de vocês com o artista que irá trilhar o nosso mamilos dessa semana. Então, me ajude a te ajudar. Envie o seu artista ou banda favorita brasileira para o e-mail [email protected], [email protected].’brrr’. E nessa semana a gente vai ouvir o ‘Apanhador Só’ que é uma banda de rock alternativo lá do Rio Grande do Sul. Então fiquem aí com o ‘Apanhador Só’ no Som do Mamilos.
[sobre trilha]
Música: Problema é que não sei como subir no morro
E é preciso ‘tar’ no alto pra se atirar
Achei nenhum caminho mas ‘tá’ escrito vou tentar de novo
[desce trilha]
Ju: E o beijo para:
Cris: Caucaia, no Ceará.
Ju: Madri.
Cris: Beijo pro Giuseppe Solimena e a dona namorada dele Daniele Lobato. Ô Daniele, ‘farfavor’ de dar um play aí no mamilos que a gente tá te esperando.
Ju: E essa semana tem um monte de mamileiro especialíssimo de aniversário. Porque gaúcho fala ‘tá de aniversário’. Então, quem tá de aniversário, Cris?
Cris: A Anne, a mamileira número zero zero zero zero.
Ju: O Breno Crieger que é um mamileiro surtado, fã fanático, evangelizador da palavra da polêmica. Obrigada pelo carinho, coisa linda.
Cris: E o Thierry Parmegiani. Feliz aniversário. Agora sobre o merchand, a gente queria indicar pra vocês um negócio bem legal. Assim, queria, é, na verdade, apoiar isto. O Alexandre Orrico, ele listou no Buzzfeed treze sites que se propõem a um novo jornalismo e é uma coisa que a gente bate tanto aqui, né, de diversificar os canais onde você ouve a informação. Ele reforça que momentos de crise também criam oportunidades e jornalistas e empresários estão se reorganizando em coletivos, revistas independentes e sites, e estão movimentando o mercado. Então a gente está sugerindo aqui pra vocês darem uma olhada, tem muita coisa boa pra seguir, pra ler, pra dar um fresh aí nos seus veículos de informação, nas coisas que você sempre lê. A gente tá colocando o link e tem bastante jornalismo diferente ali.
Ju: Além disso eu e a Cris estaremos na Disconferência do grupo de planejamento. Mamileiros e leitores do B9 tem desconto, então corre que é nesse sábado, ou seja, o programa vai ser liberado na sexta e você vai ter meio dia pra comprar com desconto. Corre e vai lá nos assistir.
[sobe trilha]
[desce trilha]
Cris: Entrando agora no ‘Fala que eu te escuto’, o Marcelo Júnior nos escreveu dizendo que ele faz parte de movimentos sociais da juventude partidária e que ele gostaria de fazer uns comentários sobre a relação ao pedido de impeachment da presidente. Ele fala de uma entrevista após a abertura do processo do Eduardo Cunha que disse que havia uma barganha em relação à sua permanência à CPMF. Em uma primeira vista, parecem assuntos muito diferentes a abertura do impeachment, “ah mas não é tanto assim”. O apoio ao Cunha estava em jogo. A questão é que a aprovação da CPMF em virtude da permanência do Cunha inverte o jogo e o coloca na posição que o PT está hoje: a posição de acuado e isso não seria o bastante para segurar ele. Outro ponto é que nos bastidores se fala em um apoio do PMDB à acção do Cunha, que ainda não se aplica. O PMDB está rachado já tem um tempo, não vota em bloco há meses. Para o PMDB, a saída da presidente seria muito vantajosa. O que se fala é que o vice, Michel Temer, real presidente do PMDB no diretório nacional, como presidente do partido, pouco fez para defender o mandato da Dilma. Partidos da base que realmente apoiam o governo já foram a público em coletivas e deram a cara pra bater ao PMDB e isso não se faz. O próprio PT também está rachado e votos divididos não seriam surpresa. Ele ainda coloca outro ponto. O fato agora é que “a Dilma está com o Cunha na mão”, desculpe a piada infame. Que ele cai, é fato. Agora, quem ele vai levar junto? Quantos são? E a delação premiada? E jogar tudo no ventilador? São opções. Agora não é de se duvidar que a manobra feita pelo PMDB é que para acabar de uma vez por todas com o ‘mimimi’ da saída da Dilma. Outro ponto é que o mercado está de olho com bons olhos a possível saída da presidente. Prova é a reação logo após ao anúncio. Mesmo contra tudo e contra todos, o mercado reage bem e isso é bem estranho. Ele conclui falando que ele entrou na vida política porque ele tava cansado de reclamar no Facebook e nunca tomar nenhuma atitude. Ele foi atrás, se informou, viu como funciona o jogo maluco e o que que tem aí por trás. Então ele se filiou a um partido na cidade dele e conheceu pessoas incríveis e vê todo dia o que que é esse verdadeiro House of Cards que é a política. Ele não ganha nada por isso e acabou aprendendo que realmente existem políticos sérios e honestos mas que também tem muito chorume no meio disso tudo. Foi bem interessante o comentário dele porque ele acaba falando que essa conscientização levou ele pra ação e o que a gente tá precisando hoje no país é ação, né?
Ju: Bom, esse é um e-mail… A gente escolheu só um em função de ele ser muito longo, mas eu queria fazer um à parte sobre os comentários que a gente recebeu essa semana. É natural que programas de opinião gerem comentários mais apaixonados porque você tem sua opinião, o amiguinho tem uma opinião diferente, o amiguinho não tem todo embasamento, ele não tem todo argumento. Vale lembrar pela milésima vez a diferença entre Teta e Trending Topics, que Trending Topics é freestyle, as pessoas chegam aqui, tem um assunto e elas tem que rebolar pra falar sobre esse assunto. Não tem uma investigação profunda sobre isso, não tem um embasamento profundo. Elas podem falar coisas erradas, elas podem falar coisas incompletas. E aí, você está no seu completo direito de se você discorda absolutamente destruir cada uma dessas coisas, mas a premissa do Mamilos é: gentileza, respeito e empatia. Entenda do ponto da onde a pessoa está falando, porque que ela está falando o que ela está falando, e tente explicar pra ela porque que você vê de uma outra maneira. Entenda que todo mundo que está aqui para discutir tá bem intencionado e é inteligente. Partindo desses dois pressupostos, a gente pode se encontrar. A gente pode ter opiniões diferentes mas a gente sempre vai se encontrar e a conversa vai ser boa, vai ser gostosa pra todo mundo. Essa semana a tia teve que dar um ‘pito’ nos comentários. A tia não gosta de fazer isso, então, vamos respeitar a casa dos amiguinhos. Esse espaço não é meu e não é da Cris. Esse é um espaço que vocês construíram, esse é um espaço que vocês respeitam e que vocês fazem ser grande e fazem ser muito legal. Então, vamos continuar com isso, pode achar que tudo que eu falei está errado, pode falar que eu não tenho embasamento, me prove errada que no programa seguinte eu leio o seu e-mail.
Cris: “Cocô, só na casa do Pedrinho”.
[sobe trilha]
Dobro uma esquina
Dobro outra esquina
Mais uma esquina
E aí dobro outra mais e tu voltou pro mesmo lugar
Sem gasolina
E ainda buzina
Que te azucrina
Pressiona internamente a tua cabeça e quer entrar
[desce trilha]
Ju: Vamos então para o Trending Topics. E o que temos essa semana, Cris? Essa mesa tá linda.
Cris: Então, além dos gatos guerreiros, temos ainda um convidado especial, novata estreando aqui com a gente. Vamos começar por ela? Vamos lá, se apresente, Diane.
Diane: Diane Lima, baiana, mundonovense, há um ano e meio em São Paulo, diretora criativa, curadora, ativista, movimento negro, mulheres e tudo que não… Que for excludente e não promover a diversidade.
Ju: Muito bem.
Cris: (interrompendo) Seja bem vinda.
Ju: A Diane era a peça que estava faltando nesse mamilos. [Risada da Ju e Diane]. Muito te procuramos, muito te procuramos, Diane.
Diane: Estamos aqui agora.
Ju: E muito importante, não menos importante, temos um palmeirense que veio a caráter comemorar o título, o preferido de vocês, o palmeirense mais amado dos mamileiros: Daniel.
Daniel: Boa noite, mamileiros. Na verdade eu não vim, eu estou desde quarta-feira passada comemorando ininterruptamente.
[Todos riem]
Cris: Você não consegue parar de rir.
Daniel: Realmente… Vem de dentro. Isso aí é um vício…
Ju: [interrompe] O que você falou… Que o futebol é a coisa mais…
Daniel: Não. Das coisas nada importantes, totalmente desimportantes, ele é o mais importante.
Diane: Nossa.
Ju: Muito bem.
[Risada da Ju]
Diane: Isso aí, né?
Ju: E do lado direito do Daniel…
[Risada da Cris]
Ju: Um santista triste, cabisbaixo…
Cris: Tadinho.
Peu: Eu não diria triste, eu diria meio puto com meu time.
[Risadas de todos]
Ju: Peu, fale.
Peu: Um santista que mora perto do estádio também, né?
Ju: É verdade.
Peu: Tem esse lado. Então eu ouvi o Daniel gritar lá da…
[Risada da Ju]
Cris: [interrompe] Ele tacou um ovo no Daniel.
Peu: Da janela do meu apartamento até às três da manhã.
Diane: Mas ‘ó’, não desiste não.
Peu: Não, não desisto. ‘Tamo aí’!. Tá tudo certo. Boa noite.
Ju: Quem é você, Peu?
Peu: Eu sou o Peu Araújo, eu sou jornalista, trabalho na ‘Vice’ aqui no Brasil, ‘freelo’ pra outros lugares também, eu sou DJ e pesquisador de música brasileira, tem uma festa chamada Rabo de Galo…
(Bloco 2) 11’ – 20’59”
Ju: Ô Peu, saca tua carteirinha da quebrada que a última vez que você veio aqui teve mano…
Peu: É né? Não…
Ju: Que que é isso, Peu?
Peu: Fui questionado. A última vez que eu vim aqui…
Ju: Foi questionado, cara…[risos]
Peu: Se eu… Por não morar, não ter crescido na quebrada e eu…
Ju: E ele contou a história dele na quebrada e mano ainda veio… Veio pedir carteirinha. Falou “Como assim, vocês falam nesse assunto sem ter alguém da quebrada”… O Peu tava lá, cara, que que é isso, respeita o moço.
Peu: Cara, se tem alguma coisa que eu aprendi na quebrada é não sair dando carteirada, né?
[risos]
Cris: Boa, Peu, boa
Peu: Quem é, sabe.
Ju: Quem é, sabe, né, Peu.
Cris: Vamos então ao giro de notícias. Top 5 de notícias da semana. Número 5: Alckmin anuncia suspensão da reorganização, secretário de Educação deixa o cargo, mas os alunos querem o cancelamento e o cronograma de reunião para desocupar as escolas. Esses meninos aprenderam esse trem muito rápido!
Ju: Parabéns, meninada. Peu, quer falar alguma coisa, rapidamente, dois minutos sobre a ocupação?
Peu: É, não sei se eu consigo em dois minutos, mas eu vou tentar. [risos] Seguinte, a Vice fez uma coluna, que eu acho que vale a pena dar uma olhada, que se chama Educação Ocupada. A gente aproveitou que estávamos abordando muitas, muitas vezes, voltando ao tema, falando de educação e tal e falando sobre as ocupações, e a gente acabou fazendo uma coluna e compilando tudo ali. Vocês conseguem achar, as meninas vão colocar aqui. Eu fiz duas dessas matérias. Uma delas foi falando sobre a reorganização, na época que tava todo mundo já defendendo, no começo rolou uma defesa, né, principalmente da imprensa, que era pra falar, olha, não, tá tudo, tá tudo certo, vai transformar em creche, vai transformar em EMEI, vai transformar em Centro Paula Souza, e a minha pergunta foi: tá, peraí. Eu comecei a ir a essas escolas e fui descobrindo que não tem um plano, não tem uma data, não tem uma previsão, não tem nada. Então as escolas vão fechar e sabe-se lá…
Ju: Promessas vazias.
Peu: Sabe-se lá quando virarão essas coisas que se promete. Uma delas, o Elísio Teixeira Leite, em Taipas, ela não era boa suficiente pra continuar sendo uma escola que só tinha o segundo ciclo, que é o Fundamental II, e ela viraria uma EMEI, sendo que no mesmo quarteirão tem uma EMEI. Ela viraria um Centro Paula Souza, sendo que a 1 km tem um Centro Paula Souza. E aí eu descobri que essa escola foi a única da Norte Dois que aderiu à greve 100% dos professores. Enfim, entre outras coisas que tão muito mais por debaixo dos panos do que por isso. A outra escola, eu entrei na maior escola de São Paulo, que é o Brigadeiro Gavião Peixoto, e a gente acompanhou de dentro todo o processo da ocupação. E eu posso dizer que sim. Essa molecada tá muito organizada e eles aprenderam a fazer direito.
Cris: Massa.
Ju: Harvard lança nota oficial se dizendo entristecida com a prisão do banqueiro André Esteves. Ele tinha forte ligação com a instituição e tinha até um prédio no seu nome.
Cris: A Mattel decide vender oficialmente a boneca inspirada na premiada diretora Ava DuVernay. Pra quem não sabe, ela é diretora do filme Selma. Ela é muito bonita, a boneca é uma graça, tem os cabelos longos e com tranças como o dela. A boneca não ia ser vendida, mas a chamada foi gigantesca e aí eu fui lá comprar e acabou.
Ju: STF suspende instalação da Comissão Especial do impeachment. Depois de uma votação tumultuada, com quebra de urnas, muita gritaria e votos secretos, a chapa da oposição ao governo venceu, avançando o debate a favor do impeachment. A coisa toda foi tão nebulosa que o ministro Edson Fachin decidiu que os trabalhos sejam interrompidos até que o plenário do Supremo analise o caso verificando se o pedido é constitucional.
Cris: Número 1: hoje, dia 9 de dezembro, dia internacional de combate à corrupção. Esta data foi estabelecida pelas Nações Unidas em 2003, para estimular políticas que incentivem o debate sobre o tema. E o Ministério Público tá aproveitando essa data, e tá lançando hoje uma campanha chamada “Dez medidas contra a corrupção”. A gente vai deixar o link pra vocês conhecerem, eles tão angariando assinaturas sobre isso. Tem toda uma proposta de criminalização da corrupção e de, uma série de multas e de retorno pra sociedade do dinheiro que é preso com os corruptores. É um projeto que vale a pena ver. Vamos então aos Trending Topics! E o assunto número um é a hashtag #SeráQueÉRacismo? A hashtag denunciou a discriminação racial no cotidiano. Se você ainda não viu, dá uma busca nas redes sociais nessa hashtag porque você pode se identificar com algumas colocações e isso pode te despertar mudanças. Foi bem interessante o que aconteceu essa semana.
Diane: É, eu acho que a hashtag, ela é um reflexo dessa aproximação que tem existido, sobretudo pela juventude negra e pelas feministas negras, né, que são as mulheres que estão à frente desses movimentos e eu acho que a internet têm propiciado essas aproximações, assim. Há três anos atrás, a gente tinha uma distância muito grande de reconhecer e de ser representado, e a internet têm propiciado esses encontros, né. Então, à medida que você encontra nos seus pares essas manifestações, essas mensagens, você também se identifica, e aí surgiram à onda, então a internet tem sido determinante pra que essas inquietações, esses desejos e esses anseios, eles venham à tona, então o #SeráQueÉRacismo mostra, né, com os depoimentos, muitos deles fortes, muitos deles marcantes, como é que…
Cris: [interrompe] É um baita dum espelho da sociedade.
Diane: Sim, sim, totalmente, né. É uma oportunidade de falar, né, de expressar, e de… eu tenho um #SeráQueÉRacismo que eu não falei, né, porque essa semana foi muito corrida, mas, quando eu cheguei em São Paulo, eu participei de um, enfim, fui convidada pra uma exposição de design. E aí, quando eu cheguei lá, o curador olhou… a mina que tava tentando me apresentar pro curador virou e falou “ah, você precisa conhecer a Diane, a Diane acabou de chegar em São Paulo.” Eu tinha dois meses de São Paulo. “Você precisa conhecer Diane, a menina é uma ótima, nã nã nã”. E o cara fugia daquele museu da Casa Brasileira como fugia da cruz, como o diabo foge da cruz, assim. E eu sem entender, um dia lindo, umas luzes lindas caindo pelas folhas e pelas árvores, e eu ótima, incrível, tô achando tudo ótimo, eu não tinha ainda me tocado, né? Daqui a pouco, ela tentou uma, duas, três, quatro, cinco vezes me apresentar pro cara. E aí quando enfim ele resolveu falar comigo, ele falou assim “ah, a menina do cabelo duro”.
Ju: Não.
Diane: Sim. Sim. Sim. E é tão engraçado, porque o racismo, ele tem um gesto, né? E é um gesto que eu não tenho como reproduzir contando pra vocês. Né, assim, só quem sofre o olhar, como a pessoa gesticula, como ela foge, como ela te olha, como ela te encara, então, foi bem louco, assim, e é difícil pensar assim, que até as pessoas que ‘tão’ na linha de frente, falando sobre suas questões, colocando elas, ainda tem dificuldade de saber como lidar, né? Então, eu não soube como lidar mesmo. Passou aquele ‘coiso’ na minha cabeça e eu fiz, nossa, o que que tá acontecendo, não tô acreditando. E eu fui recobrando aos poucos, né, a minha consciência.
Cris: Queria aproveitar a oportunidade pra compartilhar que, uma experiência que eu acabei não falando na internet. Será que é racismo? Ele reconhece todas as crianças como fofa, põe a mão na cabeça de todas, mas ignora completamente a presença da minha filha. Pega na bochecha de todas e fala que elas são uma gracinha, mas de repente é como se minha filha não ‘tivesse ali.
Diane: Sim.
Cris: Será que é racismo?
Peu: Esses dias, eu e o Bruno fomos chamados pra dar entrevista numa rádio, que eu prefiro não falar o nome, e a gente chegou com o carro do Bruno, o Bruno que tava comigo é negro. A gente estacionou o carro, “ah, a gente vai dar entrevista ali, tal”. Desce lá, faz o cadastro, RG, tal. Aí tinha um segurança na portaria. A gente chegou pra entregar o RG pra poder entrar pra ser entrevistado, o cara olhou pra gente e falou “vocês vão fazer entrega aonde?”
Diane: [Interjeição de indignação]
Peu: Isso não era porque a gente tava vestido de boné. Isso porque o Bruno é negro. E isso é foda. [Cris: Será que é racismo?] Porque, na hora ele nem se tocou. Daí eu respondi pro cara, eu perguntei, “como assim, fazer entrega? A gente vai ser entrevistado aqui.” Aí o cara, “ah tá”, e tipo, o cara nem se prestou a pedir desculpa, sabe?
Diane: Sim, sim, sim.
Peu: Não teria problema nenhum estar ali fazendo entrega às dez horas da noite. A questão não é essa. [Diane: Sim.] A questão é o cara me julgar e julgar o Bruno, principalmente, por ele ser negro, que ele não poderia estar ali pra fazer uma entrevista, entendeu?
Diane: É, a questão é que, o lugar que te dão. Porque sempre eu tenho que ser a menina do buffet? Chegar em uma reunião em Alto de Pinheiros, eu cheguei mais cedo porque eu tinha uma reunião antes do jantar e a única opção que o meu amigo porteiro me deu foi se eu era a menina do buffet. Que eu tava chegando mais cedo porque eu ia montar o buffet do jantar. Então ele não me dava a opção de ser…
Cris: De onde que ele tirou esse pressuposto, né?
Diane: É, então, assim, eu infelizmente, eu não consegui nem ir conversar com ele porque é tudo muito rápido, né? Será que é racismo, quando é racismo, e normalmente é racismo e é racismo, é muito rápido você se recobrar assim do que tá acontecendo. Quando eu entrei no elevador, que eu olhei pro espelho, e Oh!, ele perguntou se eu era a menina do buffet! E aí eu já tava no elevador, então assim, eu queria ter voltado, mas enfim, assim, é, é complicado você entender esses gestos, sabe? De que minha única opção é ser a menina do buffet, sabe? Eu não tenho a opção de ser a menina que vai chegar mais cedo pra uma reunião.
Ju: Mas não é um pouco de repertório? Repertório desse cara, de nunca ter visto Diane chegando pra não ser o buffet, pra ser o prato principal, pra ser a pessoa que vai falar, a pessoa que todo mundo quer ouvir.
Peu: Mas isso é racismo também.
Diane:É, mas não é repertório. Isso é condição política e econômica do nosso país, sabe?
Ju: Não, não. Sim, tudo bem. Mas o que eu quero dizer é, o problema não é tanto dele, o problema é a estrutura onde ele tá inserido, e ele reproduz essa estrutura porque ele não é consciente, porque ele não pensou sobre isso, porque ele não parou pra pensar. Ele fez no automático, e não to dizendo que tá errado. Não, não tá certo…
Peu: [interrompe] E tá na hora dessas pessoas tomarem enquadro bem de rua, assim, bem na maloqueragem, pra aprender que não é assim, tá ligado?
Diane: É, né.
Peu: Com o Oga, a gente saiu de Perdizes, Pompéia ali, e a gente foi até a Liberdade, no show, há muito tempo atrás já, do Emicida. A gente parou em três blitz.
Diane: Uhum, uhum.
Peu: Saca? Ele dirigindo, eu do lado, a gente parou em três blitz. O Oga é negro. Esses dias vazou um vídeo de um policial fazendo abordagem, não sei se vocês viram esse vídeo, [Diane: Sim.] É o policial fazendo abordagem pela cidade e tal. E ele começa a, a humilhar o rapaz, pelo celular que ele tinha, porque que ele tava andando perto do shopping. E quando ele pára um cara branco, ele fala “porque que você tá aqui sozinho, com o vidro aberto? [Diane: Uhum, uhum.] Você não sabe que essa cidade é perigosa?” Porra! É repertório pra esse cara também?
Ju: Não, não, isso é profiling, essa é a profissão dele. Eu acho que assim…
Peu: É isso, é a cor suspeita. É um absurdo isso!
Ju: Profiling é uma outra discussão, a gente falou em violência policial, é um assunto bem sério, é uma outra coisa. O que eu quero falar é o seguinte. Eu não sei, porque é a abordagem do Mamilos, é o jeito que a gente fala, assim… =
(Bloco 3) 21’02” – 31’38”
Ju: = tipo, às vezes esse cara, ele não é uma pessoa que faria distinção, mas ele tá no modo automático. Se você pára e olha pra ele, gentilmente, e fala assim: “Cara, eu sou a luz da festa, eu vim aqui pra todo mundo me ouvir”, o cara sorri pra você e fala: “Que legal!”. Eu não sei se eu tô…
Cris: [interrompe] Na verdade não é bem…
Ju: …sendo super pollyanna…
Diane: [interrompe] Tá
Ju: Calma… calma.
Cris: Hahaha…
Diane: Muito, inclusive.
Ju: Tudo bem, eu posso estar sendo super… Eu acho que assim, no caso da tua filha por exemplo é um caso claro de racismo. Mas nesse caso…
Diane: [interrompe] Não, mas esse é um caso claro e límpido de racismo. Isso é uma injustiça cognitiva. É um problema geral de cognição, de que a gente tá há séculos sofrendo epistemicídio. A gente sofre genocídio dos jovens negros, que é você ser parado em todas as blitz, tomar duzentos tiros num carro que você não sabe nem porque tá morrendo, e ao mesmo tempo ‘cê tem o epistemicídio que é toda a supressão de conhecimento do outro. Então é óbvio que ele é parte da engrenagem, mas assim, se for assim a gente vai matar todo mundo. A gente vai se matar e não dá assim, não dá, o racismo ele é crime e ele precisa ser punido. Eu entendo todas essas essas questões, assim, de pensar que a pessoa muitas vezes ela pode até ser negra, mas não é esse o ponto, sabe. Então eu não acho que é uma questão de repertório, eu acho que é uma questão mesmo de crime. E enquanto o nosso lugar tiver sendo sempre colocado, dado, quando não houver possibilidade eu acho que não tem conversa, sabe.
Peu: E parte dum ponto muito simples. Se o porteiro não pergunta pra ela o que que ela tava indo fazer, e se o porteiro, onde a gente foi perguntar, se ele simplesmente fizesse o trabalho dele, falar “onde você vai?”, [Ju: Sim, exato] “pra que andar que você vai?”. Acabou.
Ju: Sim,
Peu: As pessoas…
Ju: [interrompe] Ele não tem a obrigação de saber, né.
Peu: Ele não tem a obrigação de saber, ele não tem que adivinhar. Eu acho que em muitas situações é invasivo em qualquer coisa, porque ele te julga por uma aparência, por qualquer coisa.
Ju: Faz sentido, faz sentido.
Peu: Isso acontece em qualquer da portaria que você vai desse país
Ju: Sim.
Diane: Sim.
Peu: = Entendeu?
Ju: Sim, é verdade.
Diane: É, e acho que é por isso que a gente tem vivido uma, de alguma maneira, essa revolução estética, né, que é a aparência como esse lugar primeiro de criar relação. Então hoje o que a gente tem é num cenário principalmente virtual, que há… 2002 assim, das minhas pesquisas não existia, onde a gente tem uma proliferação de imagem de meninas negras como nunca antes. A gente tem um grupo de meninas pensando a aparência, mas com a criticidade gigantesca, que é uma coisa que talvez antes não existia, né, que a imagem se perdia na própria beleza e na própria relação egóica. E hoje você vê o cabelo, né, como uma representação crítica e política assim. Seu cabelo representa muito mais do que uma estética ou do que cachos…
Cris: [interrompe] Um posicionamento político.
Diane: Exatamente. Então, é isso assim, a aparência pro negro e pra negra ela sempre foi determinante, né. Então quando o cara te para e te julga dentro do carro, de três blitz, o cara me dá única opção de ser a menina do buffet, sabe. Não há problema de ser a menina do buffett, mas por que a minha única condição é ser a menina do buffet? A gente precisa fazer uma…
Peu: [interrompe] Ou ser o cara da entrega, né, é isso.
Diane: A gente precisa fazer uma regressão histórica, né, pra saber.
Daniel: É isso que eu tava pensando agora, quando você falava. Que foda pra quando chega a menina do buffet. Porque você não era, [Diane: Sim] mostrou pra ele, [Diane: Exatamente] e quando ela chega, fala, “pô, mas ‘cê ainda me lembra?”…
Diane: É a condição!
Daniel: É só isso, não só porque valha menos, mas é nesse perfil só que eu me encaixo.
Cris: Geralmente quando as pessoas são confrontadas com uma realidade diferente da que ela tá esperando dentro do estereótipo, o que eu vejo é a pessoa perder completamente a compostura.
Peu: Ah, aí só assoprando a fita, véi. É tipo, trava o Nintendo.
Diane: Como é assoprando a fita?
Peu: Trava Nintendo, sabe, ‘cê tá jogando o Nintendo e…
Diane: Nooossa…
Cris: Praça…
[risos]
Cris: Geralmente a primeira reação é, assim, “eu não quis te ofender”…
Peu: É.
Diane: Uhum.
Cris: Né, “eu não quis te ofender”, ou “você me entendeu mal”. Então assim, a reprodução de um comportamento aceito socialmente até pouco tempo atrás, e confrontado recentemente, não tira das pessoas a responsabilidade do que elas tão falando. Ninguém aqui é peça de engrenagem que não possa se questionar. Do mesmo jeito que a gente vem falando de machismo, a gente tem que falar de racismo. Não adianta eu falar assim: “ah, ele não percebeu”, ou “a pessoa não fez isso de uma forma maquineísta [correção: maniqueísta] pra tentar menosprezar o outro”, apesar de muitas vezes ser. O que acontece é o seguinte: o que funcionou até agora não funciona mais. Reveja isso. Se você precisa conviver com outras pessoas pra entender, elas já estão aí. É você que não tá vendo.
Daniel: Essa que é a beleza dessa hashtag, que eu tava pensado. Será que é racismo? Acho que a resposta é muito clara pra todo mundo que é racismo.
Diane: Sim, sim.
Daniel: Agora, o que eu tava dizendo, que eu acho super importante é como vamos lidar com isso? E eu lembrei muito daquele filme “O Mordomo da Casa Branca”, que tem um filho… vocês já assistiram?
Diane: Não
Cris: Sim.
Peu: É foda esse filme.
Ju: É bem legal.
Daniel: É um filme muito interessante que, não vou dar spoiler do filme, mas só…
Peu: Não, spoiler é…
Daniel: A parte importante. Os dois lutam contra o racismo de formas totalmente antagônicas.
Diane: Uhum.
Daniel: Mas os dois combatem o racismo e eu acho que faz sentido gente discutir qual que é a estratégia mais efetiva nessa luta pra mostrar: não funciona mais aquele mindset que a gente tinha, amiguinho. Porque tem gente que é racista, quer ser racista e continua sendo racista.
Diane: Mas aí é cadeia, né gente.
Daniel: E aí é cadeia.
Diane: É.
Daniel: É lei. Transgressão.Tem gente que é racista, não gosta de ser racista, não sabe não ser racista, e precisa [Ju: Exato] aprender como que funciona pra você não ser racista.
Peu: Tem que tomar orelhada pra…
Ju: [interrompe] Então…Não, cara mas é a mesma discussão que eu tava tendo com o Peu.
Daniel: [interrompe] Não é na violência, é na informação…
Peu: Orelhada, tipo, orelhada não é violência, gente.
Daniel: Não, não, eu tô te…
Peu: Orelhada tipo: “ó filho, cê tá sendo racista, tá sendo otário, o papo é esse”.
Ju: Então, mas é o que eu tava falando, antes de começar a gravar, eu tava tendo uma puta discussão com o Peu sobre feminismo.
Peu: Tava brigando comigo.
Daniel: Haha…
Ju: Porque eu tava falando, eu, eu acho, é a minha visão, muito particular, não é o movimento feminista, Juliana. Acho que todos nós somos machistas, todos nós. A gente nasceu nessa cultura e a gente não percebe quando a gente reproduz, então deixar de ser machista é uma desconstrução. Então você não precisa, não deve, desconstruir tudo pra poder se chamar de feminista. Feminista é, eu acho, que homens e mulheres devem ter direitos iguais, eles devem ter igualdade de condições, então eu sou feminista. Se eu erro 350 coisas, isso não tira minha carteirinha de feminista, estou em desconstrução. Putz, isso eu não tinha visto, aquilo não tinha percebido. A minha percepção é que com racismo é a mesma coisa. Você mesmo sabendo que as pessoas são iguais – independente de raça, de religião, de sexo – você vai errar. Você vai errar porque você não percebe que você foi programado desse jeito. Isso não quer dizer que você não deva ser corrigido. Deve, e sempre, e se você realmente tem sinceridade no que você tá falando, que você quer ser uma pessoa que promova a igualdade, você não vai se incomodar de ser corrigido. Você vai abraçar isso e querer isso e vai agradecer isso.
Peu: Só para as…
Ju: Tipo, “brigada, desculpa, fui errada, não foi por querer, não quis… estou em construção!”. E tudo bem, a gente tem que ter, assim, eu acho, eu tava discutindo isso com o Peu, falando de feminismo que…
Peu: É, que eu quero falar só o que eu…
Ju: é o que eu posso falar.
Diane: Então vou anotar o que eu vou falar senão vou esquecer.
Peu: É, eu só queria dizer, porque eu não tava discordando da Ju, só pra explicar. Eu sou homem e eu não me colocaria numa posição de feminista porque tem esse papo que tá se falando muito sobre tirar o protagonismo das mulheres nisso e que eu acho legítimo. Pra mim é muito simples, cara. Eu não sei o que é ter que me preocupar com a roupa que eu me visto, se minha saia é curta, se minha saia é longa, se minha bunda é grande, e isso vai me provocar outros homens, se eu tô com decote, se meus seios são grandes e um cara olhar pra mim diferente no ônibus e vai sentir desejo.
Diane: Uhum.
Peu: Nisso, se eu vou ter que descer nessa rua aqui quando acabar o podcast, eu posso ir a pé até ter minha casa que provavelmente o máximo que vai acontecer é, sei lá, eu chegar cansado em casa.
Diane: Uhum.
Peu: Sabe, eu não vou ter que me preocupar, tipo, quando se o carro tá passando mais devagar. Eu tive noção muito real disso há duas semanas quando eu tava conversando com a minha mulher sobre isso. E eu tava perguntando: “Tá, mas como que você faz durante o dia?”, daí ela: “Olha, me preocupo com minha roupa, me preocupo com isso, me preocupo com aquilo, se um carro passa mais devagar eu fico preocupada que ele pode passar e falar alguma coisa pra mim, eu não quero ouvir isso, eu aperto o passo…
Diane: Sim.
Peu: Se um cara vem andando na minha direção às vezes eu fico preocupada porque ele pode me passar e falar alguma coisa pra mim. Num ônibus eu tenho que me preocupar se o ônibus tá cheio, se o cara não vai parar atrás de mim não vai ficar… não vai se esfregar em mim.”. E isso é tudo muito difícil de assimilar, é muito difícil. Eu…
Ju: [interrompe] Eu não acho que você tenha que saber como é viver isso pra ser contra isso. E se você tá do meu lado…
Peu: Não, não é questão de ser contra…
Ju: pra lutar contra isso você é feminista e pronto.
Peu: É só questão de não me colocar nesse local. Eu não tenho, eu não me sinto no direito….
Ju: Cê pode não ser o líder do feminismo,
Peu: É, é…
Ju: mas você é feminista, na minha opinião.
Peu: Não, mas eu… não porque eu sou machista várias vezes no dia, porque…
Ju: Mas eu também!
Peu: Eu tenho a consciência de que eu cometo atitudes racistas… hã, racistas, não… racistas às vezes também, porque eu sou branco e eu cometo atitudes racistas às vezes [Ju: Sim], mas eu cometo atitudes machistas no meu dia-a-dia e a minha briga há alguns anos é justamente lidar com isso. É não cometê-las. É não… é não ser machista.
Ju: Você tem que ser completamente puro e perfeito e não errar pra você poder dizer que você é feminista ou, na mesma maneira…
Peu: Nesse caso é só não…
Ju: de maneira análoga, racista, porque… eu não sei, eu imagino que mesmo você que é uma pessoa consciente, empoderada, negra, mulher, que luta por essas causas de igualdade, em algum momento você tem uma reação que você pode até não falar, mas você tem uma reação que é o machista ou racista, é um reproduzir sem pensar, sabe. Uma coisa que você foi programado e você vai lá e, tudo bem, todo dia você desconstrói uma coisa e muda uma coisa, mas você não tem? Você não tem atitude racista, nunca?
Diane: Eu não sei se eu me colocaria no lugar de ter uma… dizer que eu tenho atitude racista. Eu acho que todos estamos submetidos diariamente à violências das mais diversas, né. Inclusive as simbólicas, que é o que a sua mulher fala quando ela tem que pensar em sair de casa e não somente ficar preocupada com se alguém vai te enfiar uma faca mas também ficar preocupada, por exemplo [Peu: Exato] quando eu sábado de tarde, de dia, indo… andando na Pompeia, eu tava com um decote, de vestido, sábado de tarde, com sol, e botei um chinelo havaiana, desci e o cara tava numa marquise, trabalhando. Ele parou tudo e ele tava de cima, então com uma visão privilegiada dos meus seios. E o cara parou tudo e ficou me encarando e encarando. Eu tava com uma amiga e peguei e dei dedo a ele. E ele pegou e deu dois dedos pra mim. E eu só não abaixei e peguei uma pedra porque, não sei, eu me controlei. Mas eu acho que essas violências todos estamos submetidas por viver neste lugar que a gente vive, que é esse país, fundo de quintal, né, lugar de reprodução de todo lixo neoliberal e capital. Mas eu acho que tem uma coisa que é importante que você falou, tá dentro da sua pergunta, que é a possibilidade e necessidade da gente abrir diálogo. Abrir diálogo com o outro. Então eu entendo quando você fala que “não sou feminista”, porque eu acho que é perigoso assumir lugar neste momento, sabe, da gente reproduzir. Eu tava vendo um…
(Bloco 4) 31’39” – 40’59”
[Peu interrompe] Senão vira um ‘feministo’, sabe assim, que é aquele cara que fica, não sei…
Diane: Não, eu acho que vira uma coisa superficial, sabe? Assim, de repente, todo mundo vira feminista, e todo mundo tá abraçando isso, e se discute. Acho incrível, acho importante mas, aonde tá a verdade dessas coisas, sabe? Tem uma coisa que apareceu na minha timeline essa semana que… que eu to dando printscreen em tudo, né? To fazendo um dossiê ai, e ai chegou um festival de criatividade super coxinha, e começava assim “Feminismo está em pauta”. Quase fala que estava na moda. O sentido era praticamente o mesmo. E aí falava, né, sobre as pessoas que estariam ali e tal. E eu achei isso perigoso, assim, porque a medida que a gente vai se deixando cooptar por esses movimentos que de alguma maneira tendem a comercializar o manifesto e a movimentação política, eu acho que a gente vai perdendo a credibilidade disso, sabe? Então, que nível de conhecimento você tem pra dizer que é feminista? Eu entendo, assim, quando você fala que é importante ter aliados, agregados, pessoas que vão colaborar, que estão interessados em… Mas no momento, assim, eu tenho pensado que a gente teve seis campanhas publicitárias de cabelo nos últimos… menos de três meses. A gente teve agora sete, oito capas de revista com meninas negras na capa. Então assim, eu tenho refletido sobre como tudo isso vai impactar positivamente, mas o que isso vai gerar de fato enquanto percepção crítica, sabe? O quanto isso vai influenciar, como isso vai influenciar.
Peu: E a gente tá falando de um país em que algumas revistas, talvez a maior delas, ‘cê só pode ter negro uma vez por ano na capa.
Diane: Sim, sim, sim.
Peu: Entendeu? É isso. A gente tá lidando… eu acho que isso é importante discutir. Inclusive se é positivo ou não.
Diane: É, eu acho que a gente tem que medir agora até que ponto vai, sabe? [Peu: Sim.] Até que ponto isso vai. Por isso que o meu medo de… é a onda, né? A coisa da onda. Não é uma onda, a gente não tá falando de onda. É um movimento político. [Peu: Sim.] Então não é uma onda.
Daniel: E eu fico pensando que é um risco de você ter muita lateralidade, muita gente falando e pouca profundidade.
Diane: E pouca gente agindo.
Daniel: E a ação demanda profundidade. [Diane: Sim, exatamente.] Demanda se querer fazer, porque senão fica…
Diane: Sim.
Peu: E ação é diária, ação é na rua, ação…
Daniel: Sim, sim.
Ju: Gente, racismo é o assunto de uma Teta, essa Teta é responsabilidade da Cris, ela está cozinhando essa Teta [risos], vai rolar. Que é pra gente justamente discutir em profundidade esse assunto e aí é trazer diferentes abordagens, [Diane: Legal, legal.] diferentes pontos de vista, pra trazer ponto, contraponto, cenário. E aí, assim, pra realmente, isso… porque esse programa de Trending Topics é um programa de opinião. A gente sempre foge de temas de racismo, porque? Não é uma questão de opinião. Não é uma questão pra ser abordada em quinze minutos. Então, tá aqui uma palhinha, o início duma discussão, e a gente vai pro segundo Trending Topics.
[sobe trilha]
[desce trilha] 34:40
Ju: E o segundo Trending Topics, como não poderia deixar de ser, depois de inúmeros pedidos, é a romântica carta de amor não correspondido, de coração partido, de desilusão do Michel Temer para a Dilma. Uma carta secreta, que ele mandou só pra ela ler, sobre os sentimentos dele, mas por uma… um infortúnio do destino, caiu na boca do povo. É isso, Cris?
Cris: Michel Temer, vice-presidente da República, endereçou uma carta para a presidente Dilma que foi publicada pela imprensa na segunda à noite. O fato escancarou o mal estar entre o vice e a presidente. Na carta, ele enumera diversos pontos onde ele se sentiu deixado pra trás e sua lealdade questionada. Depois do texto virar público, a assessoria do vice disse que o conteúdo da carta era confidencial e Temer não havia autorizado sua publicação. Afirmou ainda que ele não propôs um rompimento com o governo. Falta de reconhecimento: a carta praticamente se resume a esse sentimento. A internet veio abaixo com análises maravilhosas da carta e a hashtag #CartaTemer chegou ao Trending Topics mundial. Que venha a zueira!
[risos]
Peu: Eu só sugiro uma coisa, ‘cê não leu a carta, não precisa, ela é chata. [Diane: É.] Vê o vídeo do Marcelinho lendo a carta que tá tudo certo.
Cris: Foi vexatório, a minha opinião é essa. A minha opinião é que quando a Tatá estiver na escola estudando isso, ela vai falar “Mãe, isso é zueira, né?”
Diane: Uhum.
Cris: E eu vou falar: não. [risos] Não é zueira. Então assim, dá vergonha a forma como as coisas estão sendo tratadas, assuntos tão sérios. A carta parecia uma sucessão de mágoas e coisas mal resolvidas, inclusive dados que depois, quando você vai bater, e houveram análises profundas sobre ele, não bate. Tem várias coisas ali que não tão batendo.
Peu: Ele escreveu magoadão mesmo e mandou a carta.
Cris: É que a gente custa acreditar, né?
Ju: Imagina! Ele não tava magoadão, isso é uma jogada política super bem calculada, gente, que que é isso.
Diane: Concordo com você, concordo.
Ju: Magoada sou eu, não é ele!
Peu: Não, é uma jogada. É uma jogada, gente, mas é. House of Cards tá perdendo assim, saca, a gente tá…
Diane: Tenho certeza que essa galera tá assistindo. Tenho certeza que o Cunha assiste, se inspira.
Daniel: Mas eu tava lembrando muito de três meses quando eu vim aqui gravar um programa, e eu tinha conversado com um amigo que eu já até conversei, quem ouviu vai lembrar, que ele é lobbysta e ele falou “ah, o PMDB fechou com a Dilma depois de uma reunião em que o Temer entrou na sala, isso foi informação desse lobbysta, e falou: “Ó, chega de ser fantoche na mão do PT, a gente precisa governar. Se vocês quiserem que a gente trabalhe amarração política, a gente não quer mais, chega. Gabinete não me resolve, ministério não me resolve. Eu quero mandar.” Então essa mensagem foi dada pro público agora. [Peu: Sim] A Dilma já tomou esse “presta atenção” já tem uns, acho que são quatro meses, foi em agosto que ela tomou esse “presta atenção”, que foi quando o PMDB começou a se movimentar e falar “olha, eu posso te entregar pros cachorros morderem.” [Peu: Não, o…] É super perigoso isso, a gente tá brincando, mas é um negócio bastante delicado.
Peu: Mas é que do jeito que ela se apresentou, ela foi só patética, entendeu? A carta, ela só se mostrou uma carta patética dum vice que tava, tipo… parece que a..
Cris: Um homem magoado e perigoso, foi isso que me soou.
Peu: É, essa semana, os noticiários tão assim, cê chega na segunda e fala “puta, tá, beleza, foi um absurdo”. Aí chega na terça, vem um absurdo maior. Na quarta vem outro, sabe assim? A gente tá cada… se surpreendendo, parece uma série.
Ju: Então, vem comigo, pensa o seguinte. Se você acabou, porque não faz três anos, você acabou de fazer campanha, você acabou de escolher estar do lado dela, [Peu: Sim.] você acabou de fazer de tudo e do jogo sujo, porque as últimas eleições foram sujíssimas. Se você fez parte desse jogo sujo, e na metade do caminho você viu que essa canoa tava furada e você quer sair dessa canoa, você não tem a opção, politicamente, de simplesmente falar: galera, fui. Não dá. Então tem uma série de ritos e de passos que ele tem que fazer antes de conseguir sair dessa canoa.
Daniel: Mas Ju, ele tá a doze meses…
Ju: E assim, o que eu vejo nessa carta, esse jeito abjeto de pular da canoa quando ela tá caindo, e assim, de verdade, eu não acho que você tem que morrer abraçado com canalha. [Daniel: Não.] Não acho mesmo. E não acho que você tenha que ter apoio irrestrito se as coisas que tão sendo feitas são erradas. Mas o que eu vejo dessa carta é justamente é uma jogada política bem baixa, um jeito dele tentar não se queimar, de ser o duas caras [Peu: Sim.] que foi, na hora que foi pra comer a fatia do bolo tava de boas, acobertando tudo, e na hora que a coisa ficou preta, ele saiu e fez que não tinha nada a ver com isso. Essa carta é uma tentativa justamente de você pensar que ele é patético, de ele é coitadinho, porque ele não fica um mau caráter.
Peu: Não, ele continua sendo.
Cris: Não, eu acho que na verdade a reação da sociedade foi assim: é isso que vem em seguida? Tamo realmente perdido. Então acho que a carta acabou soando um tiro no pé. Ele queria mostrar o quanto ele tava sendo relegado a segundo plano; e aí vem o mistério, quem vazou a carta, porque amigo, se eu recebo uma carta dessa, eu mostro pra todo mundo [risos]. Então tem uma suspeita se foi o Planalto, se foi ele mesmo, não se sabe. De qualquer forma, quando isso chega a público da maneira como está, ele acabou sendo ridicularizado. E a população, se antes pensava, ah, mas vem um cara aí, um cara mais sólido, não sei quê, olha agora e vê da mesma forma que viu o Cunha abrindo o pedido de impeachment, que tem base. É isso que é a diferença. Existe base. O problema é que como ela é usada, tira a credibilidade de quem tá falando.
Ju: Não, a minha pergunta é: não é por acaso que a escolha de uma carta. [Peu: Sim.] O cara que tem entrada e que vê a Dilma todos os dias, precisa escrever uma carta pra falar tudo que ele falou. Não é, ele escreveu uma carta pra sair na Folha, ele escreveu uma carta pra sair em todos os blogs. Ele escreveu uma carta pra eu ler.
Daniel: Segundo ele não, as palavras…
Ju: Ah, por favor.
Cris: Não, na verdade, ele mandou um email pra Dilma com cópia oculta pro Folha, Estadão… [risos]
Peu: E pra Fabíola Reipert, que falaram. O Temer na época das eleições teve um comício grande da Dilma no… na PUC. E uma cena que eu lembro que a gente relatou inclusive em matéria, é dele dançando um forrózinho, que a música dela era um forró. Pra mim, ele continua no mesmo conforto ali na vice-presidência que ele estava dançando aquele forró, que é nenhum, que ele não sabe dançar o forró [risos]. E ele continua no mesmo conforto, assim, ele não está feliz com aquela posição desde lá, entendeu? É o jogo político, é o jogo político, só que agora, ele tá tentando subverter esse jogo, talvez. Ou o papel que ele se prestou foi justamente de fazer isso, ele comeu o bolo e agora tá tentando sair fora.
Ju: Mas não sei se a leitura das pessoas é essa, Peu. De verdade, eu não sei. Eu acho que ele fica parecendo a pessoa que.. porque assim, eu vi muitas análises falando que a Dilma tá colhendo o que ela plantou por inabilidade política. De que ela de fato [Peu: Mercadante-te-te-te-te…], é, mas que assim, que ela de fato não tem habilidade política, que ela de fato não é uma articuladora, que ela de fato…
Peu: Truculenta
Ju: …que ela é truculenta.
(Bloco 5) 41’ – 50’59”
Ju: Que ela tanto fez , tanto fez, tanto fez, que nem quem era aliado dela. Chegou uma hora que tipo “miga, não dá pra te defender, apenas pare!”. Eu vejo muito isso. A leitura que eu vejo das pessoas dessa carta, fora da gracinha, fora do gracejo, fora de tudo ser piada. A leitura que fica no final é assim: A culpa é dela. O que ele fez é tipo: Apenas deu o limite pra uma coisa assim “Você nunca soube! Você abusou, tirou partido de mim, me abusou e agora acabou!”
Cris: Sabe o que que me assusta um pouco nisso? A gente fica brincando com esse negócio de House of Cards, mas eu acho que a gente tá assistindo isso como se fosse uma série, mesmo.
Peu: [Interrompe] Exatamente
Cris: A gente senta aqui e comenta como se fosse: “Cara, você viu? Pois é, e tá eletrizante esse final de temporada!”
Diane: A começar dos próprios veículos de comunicação, né? Porque assim eu não acredito, eu não acredito num jornal que troca a palavra “Ocupação” por “Invasão”. Então assim, desculpa, eu não tenho como garantir a idoneidade de um veículo que utiliza o mesmo modos de cooptação pública da Ditadura.
Peu: E sabemos aqui que a palavra tem peso, né?
Diane: Nossa gente, de ‘invasão’ para ‘ocupação’, né? Que foi o que a Folha de São Paulo fez com a ocupação de estudantes, então…
Peu: Fora tirar o vídeo do ar.
Daniel: Mas o que eu tava pensando: Duas coisas que me chamam atenção. O Temer, dado o timing que isso tudo tá acontecendo, já viu que não vai cair no colo dele essa. Se é que isso vai ser aberto, se o impeachment realmente correr, vai ficar três meses como líder do país, faz uma nova eleição e o cara tá fora. Se isso acontece em doze meses eu acho que era estratégico e o PMDB vinha seguindo: “Vamos segurar esse bagulho pra formar um novo Itamar Fraco”…
Ju: [Interrompe] É, é essa a estratégia.
Daniel: Só que não deu pra segurar. Eu acho que forças pressionaram o Cunha e aí o PMDB falou, bom.
Cris: Forças parece gases…
Daniel: Eu lembro muito isso…
Ju: Não, Jânio. Parece Jânio.
Daniel: Jânio falava “Forças Ocultas”
Ju: Forças ocultas.
Daniel: Mas é que forças pressionaram o cara e agora o que é super interessante, você vai olhar a popularidade dele que tava muito baixa, do Cunha, já começa a subir porque ele começa a trazer benefícios. Porque ele foi ileso ao promover o impeachment. Isso que eu acho interessante como a mídia vai fazendo: O cara era o capeta há duas semanas. Fizeram uma análise e o cara menos confiável do país era o Cunha. Nessa análise. Eu esqueci o Instituto que fez isso. E você já vai analisar, tava vendo hoje um cientista político falando, ele já vem melhorando perante a população. Então essa carta bizarra que o Temer falou também tem teor populista.
Peu: Sim
Ju: Claro que sim.
Daniel: Justificar a saída dele e ele… Gente, não pensem vocês que o PMDB larga o osso. Já conversou com o Serra, já conversou com a oposição e falou ó: “Precisando da gente estamos de braços abertos”.
[risos]
Cris: O Serra tá fazendo um poder paralelo ali que a galera não tá ligada.
Peu: A gente inclusive tava falando ocupação e tal. Inclusive a postura do governador de postergar isso tem a ver com o momento político que a gente tá também. É inocência nossa achar que não e que tá tudo bem. Inclusive ontem ele já tava dando declaração sobre o impeachment, sobre o Golpe e tá rolando uma concentração de forças nisso.
Ju: Sim
Peu: E na real ele deve ter tomado uma puta comida de rabo nos bastidores ali que é de “Porra, essa ocupação aqui tá atrapalhando”…
Diane: Claro, e acho que ele não contava com a astúcia dos jovens.
Daniel: E outra coisa, é um nome contra toda a lógica é o nome fortíssimo do PSDB para uma futura eleição, então, toda essa ocupação, amiguinho, você que tá ocupando aí, você está sendo extremamente importante no tabuleiro político, não de São Paulo.
Diane: Sim, brasileiro.
Cris: Tem mais uma questão: São Paulo é um dos fomentos de início de manifestações pró-impeachment e São Paulo tá ocupado, prestando atenção nas escolas. O que tá baixando a poeira de manifestação a respeito do impeachment. A gente tem que ficar muito de olho nesse tabuleiro, porque a gente não consegue prestar atenção em tudo ao mesmo tempo. Então uma força acaba anulando a outra e fortalecendo uma terceira. O que eu tava falando sobre o que me assusta é a gente assistir isso realmente como se fosse uma série. Brincar com isso. Rir disso porque a gente acaba rindo porque é realmente patético, só que o certo seria a gente tá bem mais engajado em tentar resolver essa situação.
Peu: Sem dúvida.
Cris: Que o roteirista no final, quem vai pagar o final ai da série aí somos nós.
Daniel: E Cris, tem uma coisa que me chama muito a atenção. Eu não sou petista, mas acho uma baita sacanagem o que o mercado tá fazendo nesse momento.
Ju: Sim.
Daniel: Você tem uma crise de confiança? Tem. O país tá com problema e fundamental pensando macroeconomicamente? Tem. Mas quando o mercado passa uma resposta tão positiva para a movimentação pró impeachment, a gente tá vendo que não é só uma certa…
Ju: É manipulação!
Daniel: Tem muita gente brincando com o botãozinho investe e não investe. Isso é emprego! Isso é confiança de consumidor! Isso é mudar a tendência de uma curva do país. É muito sério isso. Ontem eu tava conversando com o cara que mora em casa ele falou: “Olha, a empresa que a gente trabalha tem dois cenários. A gente não pode se posicionar politicamente porque se A ganha eu não trabalho com B e vice versa”. E ele falou: “A gente tem uma… o nosso horizonte tende ao impeachment. A gente quer que aconteça o impeachment porque a gente acredita que vai ter uma aceleração da economia”. Mas se o problema é fundamento, se é base o problema, porque que vai mudar trocando A por B? [Ju: Posso falar?] Até porque a política da Dilma é a mais de direita possível com todo esse arrocho que foi feito.
Ju: Então mas eu vou te eu falar. O FHC passou um perrengue fodido por causa de especulador também. O especulador querendo botar o dedo…
Daniel: O câmbio era flutuante né?
Ju: Então, mas só pra dar um contexto de dizer que “isso não é forças capitalistas contra a Dilma e blábláblá”. Não vem com esse papo que assim, o mercado sempre foi escroto, sempre quis mandar na política e [Daniel: Ju] sempre quis ganhar porque assim, sabe as oscilações de dólar de um dia pro outro, sempre em momentos imprescindíveis da política? Tem um monte de empresa perdendo dinheiro, [Daniel: Sim] mas tem muito cara ganhando muito dinheiro com isso. MUITO.
Daniel: Ju, eu não votei na Marina Silva porque eu acho que ela é excepcional, apesar de eu gostar muito dela. Eu votei pela política econômica e por uma coisa que ela bateu fortemente na campanha dela, que é: Autonomia do Banco Central!
Ju: Sim.
Daniel: O mercado é o filho mimado que fica testando a mãe!
Ju: Isso.
Daniel: A hora que a mãe dá limite pro filho e a mãe agora chama o Banco Central. E os fundamentos econômicos e macroeconômicos, “opa, eu vou brincar e os caras não vão abaixar as calças”. Se o Brasil fizer isso, e eu acho muito ruim quando o mercado brinca e a gente tá tão vulnerável politicamente que você começa a ficar o que? Escravo dele, né?
Ju: Sim.
Cris: Tem só uma coisa que eu acho importante a gente colocar nesse cenário todo, só pra amarrar aqui a discussão. A Dilma não é uma vítima nesse processo. A Dilma não tá passando tudo isso e ela é um mártir e olha “Coitada dela”. Ela tem uma parcela de responsabilidade gigantesca em cima disso. [Daniel: Sim] Se ela não fosse tão arrogante, tão autoritária e tivesse aprendido um pouco de como se joga esse jogo inclusive incluindo o Michel Temer. Porque você não chama o Michel Temer pra vice e acha que você nunca vai precisar pagar essa conta. E ela tinha que ter feito essa articulação. Então assim, o que acontece é que a gente tem personagens muito fortes jogando e ela não tá ali tipo “Olha, gente,…
Peu: Ela não é alheia as coisas, mas…
Cris: Ela não tá alheia…
Peu: Mas também, não, eu acho que o que rola também é uma personificação à personagem dela na hora de pedir o impeachment.
Cris: É porque o brasileiro personifica. A gente não olha instituição, a gente olha pessoas.
Peu: E são pessoas que usam disso inclusive para ofendê-la por ser mulher. Para ofendê-la por uma série de coisas. Você pode ser contra as coisas, mas o que tem sido feito com a Presidente nos últimos anos na Copa e em várias situações é um desrespeito que é um…
[interrupções gerais]
Peu: A gente tá passando um recibo de um país mal educado assim. Acho que na abertura de uma Copa do Mundo, um estádio inteiro xingar uma presidente de um país é passar um recibo de um país mal educado.
Diane: Claro.
Peu: Posso tá sendo conservador na minha postura, mas eu acho que essa personificação também. É claro que ninguém é inocente de achar que a Dilma não sabia de nada e que tudo tá acontecendo e é alheia. Mas eu acho que personificar também isso, como tem sido feito. Como aquele adesivo dos carros que era ela com as pernas abertas, eu acho que isso é, eu acho que isso é importante a gente falar também assim.
Diane: Claro. Eu acho que tem uma coisa ai de o quão hipócrita somos também, porque eu tava almoçando um dia desses num restaurante, ai tinha três caras almoçando e falando sobre a corrupção, Dilma vai cair, o impeachment e blábláblá e ai eles criaram uma crítica gigantesca, né? Aquele perfil assim de falar, de bater de um discurso super raso provavelmente era gente que batia panela e ai depois logo em seguida eles começaram a falar de um contrabando de alguma coisa que eles tavam trazendo de fora… queriam trazer de fora motos. E começaram a armar um esquema corrupto na mesma, no mesmo momento que eles falavam da corrupção da Presidente. Então, o que eu enxergo é que existem essas forças, parece um rebanho de gente que não pensa direito. E é o que a minha mãe sempre fala assim: As pequenas corrupções do dia a dia. A gente fala do Presidente, a gente fala da Presidenta, a gente fala dos políticos, mas na primeira oportunidade que a gente tem de furar a fila do banco a gente fura. E a primeira oportunidade que a gente tem de criar um contrabando de moto pra ganhar dinheiro a gente … e vai bater panela depois. Então eu acho que o cenário político é sim muito difícil, mas eu acredito muito que a gente tá num momento de micropolíticas, né? De criar essas microrevoluções e trazer pro indivíduo mesmo, né. Questionar o indivíduo que ações são essas que ele faz. E que possibilitou…
Cris: [interrompe] Em que país você quer viver? Eu acho que isso tem muito a ver com a discussão de violência policial quando a gente falava assim: O policial é violento, mas ele não é um ET que surgiu assim… Ele emerge da sociedade e o político ele é corrupto porque ele tá emergindo dessa sociedade. Nós somos isso.
Daniel: Nossa política é representativa.
Peu: Sim.
Daniel: O cara me representa. Se eu sou corrupto eu não posso reclamar que ele é corrupto. Mudo eu a minha corrupção pra depois ver se tá sendo espelhado lá. Não adianta xingar, quando eu sou corrupto. É representativo. Tá certinho. O sistema está funcionando. Ele foi construído para ser assim.
(Bloco 6) 51’ – 1:00’59”
51’03” – 1:01’36”
Cris: Eu gosto muito de um videozinho que ta circulando de uma… Uma mulher que é de alguma região do nordeste, por causa do sotaque dela, e ela fala “Olhe, a gente tá tudo errado”. E aí, ela vai falando assim “Quando a gente faz isso… E não é político, não. É a gente que ta fazendo”. Eu vou colocar o link aqui, porque é muito bom esse vídeo.
Ju: Vamos para o Trending Topics três, então. A Comic Con Experience escancarou a necessidade de um novo humor. Ou talvez de um jornalismo mais responsável. Que que aconteceu? No final de semana passado, aconteceu o encerramento da Comic Con Experience, a maior feira de cultura pop da América Latina. Tudo seria festa e sucesso, se não fosse um incidente: uma das cosplay presentes, Myo Tsubasa, foi abordada pelos humoristas do programa Pânico. E mesmo sem desejar dar entrevista, foi assediada e lambida no braço por um dos humoristas. Ela fez um post no Facebook contando que teve muita repercussão, mas o programa exibiu a matéria assim mesmo. A reação das pessoas foi de maciço repúdio. Será que a gente tá presenciando o princípio do fim da era do humor agressivo e desrespeitoso? O que mais chama atenção dessa vez, é que tanto o site Omelete, quanto a Comic Con são voltados pro mesmo público que o Pânico: jovens e adultos que consomem cultura pop. Mexeram com o próprio público, aquela barreira complexa conhecida como tiro no pé.
Cris: Eu só queria fazer uma contextualização do que que é cosplay. Não faz muito parte do nosso universo, pode não fazer de vocês também. Então, só pra entender um pouco: cosplay é a junção da palavra… É… ‘Costume’ como ‘traje’, ‘fantasia’ e ‘Role Play’ que é ‘brincadeira’, ‘interpretação’. O cosplay é, na verdade, um hobby que consiste em se fantasiar de personagens, geralmente, de quadrinho, de games e desenhos. Ele é uma forma de expressão que ajuda muita gente com essa fantasia. Porque dá segurança pras essas pessoas. Elas se realizam através daquilo. E pessoas aderem ao cosplay pra se tornarem mais fortes, usando a interpretação e a confecção dos seus trajes pra lutar contra quadros de depressão, inclusive… Pra manifestar sua sexualidade, pra trabalhar sua auto-estima. É uma ideia de brincar de super herói pra se sentir melhor consigo mesmo.
Ju: Você acompanhou essa polêmica, Peu?
Peu: Eu assisti a matéria do Pânico. E o que eu posso falar é um pouco do lado… Acho que o Pânico, eu nunca, jamais, classificaria ele como um programa jornalístico. Mas, ele lida com entretenimento, ele lida com informação, de certa forma. E você ir para um lugar em que você não sabe absolutamente nada sobre aquilo é uma irresponsabilidade muito grande. Eu não posso fazer uma matéria sobre o Mamilos sem saber o nome de vocês, sem saber o que vocês representam, onde vocês estão, aonde vocês estão situadas. Só pra dar um exemplo, eu não posso chegar pra sentar e entrevistar alguém numa manifestação sem saber o que aquela manifestação está pedindo… E não sei o que. É o básico do… da… Eu não falo nem do jornalismo…
Ju: do preparo, né?
Peu: do preparo para um produção qualquer…
Diane: Sim.
Peu: Eles chegam no Frank Miller que é uma lenda das histórias, das criações de personagens e tal, como se ele fosse o criador do Batman. E a menina vai lá, aperta a mão do cara falando obrigada por ter criado o Batman. O Frank Miller não criou o Batman. Sabe, assim? Isso é um desrespeito ao Frank Miller, é um desrespeito a quem gosta do Batman, é um desrespeito a quem não gosta do Batman [risos], é um desrespeito a… A uma série de coisas. Eles abordam muitos dos personagens ali sem fazer a menor idéia de quem são aqueles personagens…
Ju: [interrompe] Isso é minimizar, é não dar importância, né? É ridicularizar, né?
Peu: É… Os apresentadores, se pá, a culpa não é nem deles. A culpa é do produtor que tá junto ali e não fala “Oh, aquele fulano de tal que você vai falar ali é do desenho tal”. Você precisa explicar pro cara ali dois minutos antes, falar “Oh, pergunta tal coisa, tal coisa e tal coisa”. Muitas vezes o cara tá ali só fazendo o que tá escrito no roteiro. Eu não quero ser leviano também de falar ‘Olha, o “repórter” (porque ele não é repórter) tava ali e foi ele o responsável’. Ele foi otário! Porque virar pra uma mulher vestida de personagem… Tá a mãe e a filha, e ele falar que se tivesse uma mãe daquela, ele mamaria até os 30 anos. Isso é um exemplo de tudo aquilo que, sei lá, eu abomino…
Cris: Que não tem graça.
Peu: E isso partiu dele, né? Não foi o produtor que pediu pra ele fazer isso. Foi uma “piada” (muito entre aspas) que ele resolveu fazer. Mas, ele chegar ali e não saber quem é aquela personagem, ok. O produtor deveria saber.
Ju: Ô Dani, o mundo tá ficando muito sem graça?
Daniel: Ju, eu quando vi isso. E eu vi na pauta, eu não consegui… A primeira coisa que eu pensei foi no Charlie Hebdo. Primeira coisa que eu pensei: limite do humor. Você pode pensar em liberdade de expressão mais limite do humor. Mas lambeu. Aí você já tá entrando num ambiente que não é seu.
Peu: E foda é que a lambida, se você assistir, se pá, ela é menos agressiva do que outras coisas ainda.
Daniel: Então, eu não to nem querendo entrar no mérito. Eu acho… Primeiro, eu acho extremamente ‘disgusting’ o cara lamber alguém. Acho um negócio de extremo mal gosto do cara que fez. Homem ou mulher, não interessa. Extremo mal gosto. E outra coisa que eu pensei foi censura, Ju. Porque enquanto se falava “Ah, mas eu mamaria até os 30 anos naquela mulher”. Só faz esse tipo de piada, porque esse tipo de piada tem gente que gosta. Diferentemente da Cris, diferentemente da Ju, diferentemente da Diane, diferente de quem quer que seja. Mas tem um público que consome. E enquanto tem consumidor e não tem um censor, não tem alguém pra dar limite…
Peu: Crítica… Ou, crítica.
Daniel: …vai ser feito. Não tem filtro. Tem como comercializar. Faço o lixo que for. Não interessa, não respeito.
Cris: Eu acho que tem…
Ju: Mas tem, né Cris? Começou a ter.
Cris: É isso que eu acho interessante falar, sobre a reação que as pessoas tiveram. Não teve apoio.
Diane: Sim.
Cris:: E a gente tem visto, por exemplo, o Danilo Gentilli, o Rafinha Bastos, toda essa galera perdendo audiência. A gente vê o Zorra Total mudando completamente a linha de humor. Então, será que a gente não tá vendo pequenas mudanças acontecendo? E a mudança de cultura então, é muito difícil. E tem uma frase que eu vi outro dia que ‘sabe-se muito de uma sociedade pelo o que provoca o riso nela’.
Peu: Sim.
Cris: Né? Que o riso, ele mostra uma conotação social e política de amadurecimento. Então a gente tem passado tantos acontecimentos. Toda essa conversa sobre feminismo, racismo, política, tem despertado mesmo que as pessoas não queiram pra um universo novo. Então esse humor de diminuir o outro, de usar opressão como escada pro riso não tem funcionado mais como antigamente.
Ju: E eu acho isso melhor do que censura. Entende?
Daniel: Sim.
Ju: Que todo mundo seja livre pra fazer como o Alê defendeu naquele programa de liberdade de expressão, que eu aprendi muito com ele naquele programa, é assim: deixe as pessoas livres para falarem idiotices. Porque aí você reconhece as pessoas que inclusive são perigosas. E elas podem ser responsabilizadas. E aí, elas podem ser relegadas. De um lado, criminalizadas por isso. E de outro lado, relegadas ao ostracismo. Então, o que eu achei muito legal foi assim, não é que o Pânico foi banido daquele momento porque ele estava sendo inconveniente. Não. Ele foi banido da Comic Con Experience pra sempre. O Pânico não entra mais lá. Não faz mais cobertura porque ele não respeita o local, o ambiente, as pessoas, e esse tipo de humor não é mais tolerado. Eu não preciso de censor pra isso. Nós, as pessoas, já censuramos. A gente não quer ver isso.
Peu: Assim como o Pânico não entra em outros muitos eventos. Assim como o Pânico não pode mais falar o nome da Carolina Dieckmann…
Diane: Sim.
Peu: Assim como o Pânico não pode fazer uma série de coisas, já. Então assim, esse não é o primeiro evento em que o Pânico…
Cris: [interrompe] Não, uma série. Eles invadiram o enterro da Amy Winehouse.
Peu: Sim.
Diane: É, e eu acho que a gente tem deixado de ser passivo, né? De ter um tipo de conteúdo que não tem uma interação onde eu possa dizer ‘Cara, é o seguinte, você não tem responsabilidade nenhuma com o que você produz, de significado simbólico pra nada e assim… A gente não vai mais aturar isso, a gente não vai mais aturar ‘black face’. Sabe? Não vai aturar mais lambida que é quase um estupro, praticamente. Então, todos esses veículos eles precisam de fato repensar esse lugar do interlocutor, de que tipo de mensagem eu tô passando, pra quem é aquilo. Porque senão, a gente não… A internet tá aí pra dizer ‘o quê não’, né? Que a gente tem a possibilidade de criar outros lugares e inclusive criar o próprio conteúdo, né?
Cris: Por isso que eu achei muito legal o posicionamento oficial do evento que falou… Um posicionamento grande, mas eu destaquei um pedaço que eu achei muito legal que corrobora com o que você tá falando. “Todas as pessoas são bem vindas e incentivadas sem preconceitos a ser quem são ou quem desejam ser. É um ambiente harmonioso que defendemos. Um lugar onde cosplays, nerds, gamers, cinéfilos, leitores de quadrinhos e simples curiosos convivem com respeito. Numa convenção de cultura pop, o contrato social que sonhamos para nós em que toda diferença é aceita e celebrada, torna-se realidade. Então é com tristeza e um sentimento de desgosto que assistimos a maneira como o programa Pânico, incapaz de lidar com o diferente, traz pra dentro do evento seus preconceitos de gênero…
Diane: Maravilhoso.
Cris: e o seu franco desrespeito entrevistando cosplays com grosseria, chegando a lamber uma visitante. Depois desse incidente lamentável, o Pânico foi banido do evento e de todas as atividades da organização, a partir de hoje. Reforçamos ainda que assédio moral e sexual são temas sérios e não humor.
Diane: Exata…[palmas]…Nossa, gente, agora a gente gostou desse negócio, né?
Cris: Né?
Ju: Então é, o que eu acho importante que eles tão fazendo é o seguinte: não é selva. Entendeu? Aqui a gente fez um lugar, você tem que pensar isso, que as pessoas precisam se sentir bem, elas não precisam tá com a guarda levantada…
Diane: Sim.
Ju: E cara, é isso que a gente tanto conversa aqui. Tá difícil, tá violento…
Peu: E se você assiste…
Ju: tá venenoso. Você simplesmente da ‘scroll’ no seu Facebook, é chorume. É assim, é agressões de ambos os lados. Não tem ninguém livre nessa. Então assim, existem poucos lugares em que a gente consegue se encontrar e ser feliz juntos e conviver em paz numa boa. Então quem vem cagar nessa piscina: Não.
Peu: Se você ver todas as entrevistas que rolaram no evento, todos os entrevistados são constrangidos. Não é uma coisa assim que foi com essa menina ou com outra. Todo mundo tá um pouco constrangido com a abordagem. Inclusive tem um cara vestido de palhaço que ele começa a falar… Ele sugere que as pessoas desliguem a TV, não assistam ao Pânico e leiam livros. Né, é um cara vestido de um palhaço de um filme que eu não vou lembrar. Aí na hora o rapaz que tava lá com a panicat e tal, ele vira, ele tira o microfone da boca do cara e fala “Não é… Inteligente é pagar de trouxa numa feira e não ganhar nada por isso, né?”. Ele usa isso como argumento, pra enfim…
Cris: Não tem como isso ser engraçado.
Peu: Assim, não foi o caso da menina da lambida. Foram todos os personagens que se sentiram incomodados, inclusive o Frank Miller.
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Diane: E isso corrobora com a atitude, a gente vê que crianças, 5, 6, 7 anos… bullying, isso é uma aula de como criar o bullying e fazer bullying nas escolas, pegar o diferente e transformar num exótico…
Cris: no ridículo.
Diane Lima: No ridículo, é. É muito perigoso.
Peu: É diminuí-lo. Era uma tentativa de humilhação, foi escroto. Foi foda.
Daniel: Eu acho que isso era o que a Cris tava falando, que me chamou atenção e vou até pesquisar um pouco melhor aquile… Você consegue analisar uma sociedade por aquilo que a faz rir. Se você fizer uma triagem, o humor é muito agressivo, o humor é de achincalhar, o simples parece que perdeu a graça, então é de se pensar onde a gente está achando engraçado.
Cris: Mais um reflexo da nossa sociedade do quanto a gente é violento. É a política, polícia, o humor… A agressividade está presente o tempo todo.
Daniel: Isso chama atenção porque não é que tá ficando chato o humor, a gente é que tá ficando chato.
Diane: Eu acho que o humor sempre teve essa característica do escárnio. O sorriso é uma forma de violência.
Daniel: Nossa, me lembrou muito o período Medieval, as cantigas de escárnio.
Diane: Sim. Enfim, eu tenho uma aula que se chama Rosto, e nessa aula a gente fala sobre todas as feições do rosto e como se reitera através da cultura e isso é muito isso assim, o riso é para o animal uma forma de agressão também, não é só uma simpatia. Eu abro os dentes pra você pra te mostrar poder, os jornais eles passaram a ter essas charges de humor justamente para escárnio. Porque se a gente for pensar um pouco na humanidade, o humor está sempre presente dessa maneira, sempre pensando em como a gente pode diminuir o outro, de como a gente pode não trabalhar a diversidade, qual é o tipo de humor que…
Ju: Não, mas tem um tipo de humor que é muito forte para te dar um tapa na cara e justamente quebrar e você se enxerga nele, então o escárnio é voltado sempre para você e não para o outro, que é um tipo que a gente sempre fala aqui, o Lui ele é muito pesado, o Louis Sikey é um humorista americano ele é agressivo no que ele fala às vezes, ele tem uma linha do humor que passa e ele gosta de andar só em cima dessa linha, só nela, mas o humor dele geralmente, pra não dizer sempre, é sobre o opressor, ele faz de uma maneira que você se enxerga e enxerga o ridículo que é você por ser daquele jeito, entendeu? Então assim, mas ele fala coisa como por exemplo, ele faz piada com pedofilia, é você que é o ridículo, ele te põe nessa situação de você ver, analisar o jeito que você pensa e as coisas que você quer e do que você ri.
Cris: É que humor é política, humor é política. Só que quando a gente faz essa coisa fácil, essa coisa vil, superficial, mostra também o quanto sua política é rasa, é vil e superficial e eu acho que tem o humor que é o humor que me diverte que me faz rir que é o humor sobre nada, é o ridículo do cotidiano, por isso eu choro de rir como Seinfeld, aquela música é tão patética, eu não esqueço aquele episódio que ele tá com uma namorada nova e eles dois vão escovar os dentes e ele dá uma olhada pro lado e a escova de dente dela cai no vaso e ele pega, só que antes dele avisar pra ela, ela começa a escovar os dentes, e ele não tem coragem de contar, e aí o que ele faz é quando ela tenta beijar e ele “não” e ele passa o episódio todo se esquivando dela e ela sem entender porque mas ele não tem coragem de explicar, e ela pressiona pra caramba, até ele contar “a sua escova de dente caiu no vaso” aí ela ficou muito puta, põe ele pra fora do apartamento, fecha a porta, depois abre a porta e fala: “tá tudo terminado entre nós, eu só queria te falar que tem uma coisa aqui dentro que eu joguei no vaso e tirei” e vai embora e deixa ele pra sempre tentando adivinhar o que foi parar no vaso. Não tem como não se divertir com isso. Dá pra rir.
Ju: O mundo não ficou mais chato…
: É só que o Pânico que tá ultrapassado.
Ju: É!
Ju: A gente vê muito isso na Publicidade, “aí mas tem muita regra tá difícil criar”, cara essa é a própria definição de criatividade né, suprimir barreiras. Você conseguir criar coisas independente das circunstâncias, então se você está reclamando que está muito restrito essa opção, você simplesmente precisa ser mais criativo, cara.
Cris: Apenas justifique seu salário e crie direitinho.
Diane: E com responsabilidade, por favor.
[sobe trilha]
[desce trilha]
Cris: Vamo então ao Farol Aceso? Começando pelo Peu, que tá com a filha em casa esperando para dormir. Então vamos gravar logo pra ele dar um beijo na Betina.
Peu: Bom, meu farol aceso de hoje são duas dicas. Uma delas é acompanhem o Vice Sports, a Vice aqui no Brasil começou, tá mais forte na criar matérias sobre esporte e que não sejam só sobre futebol.
Cris: Tem outro esporte?
Peu Araújo: Tem alguns…
[risos]
Peu: E a gente tem feito um trabalho bem legal, o Guilherme Pavarin que é o editor, eu tô como repórter, tem o Guilherme Santana que também é fotógrafo, uma equipe bem reduzida, tem mais gente da redação trabalhando também, mas a gente tem feito algumas matérias que acho que vale a pena dar uma olhada. Semana passada, advogando bem em causa própria, saiu um perfil que eu fiz com o Carne Frita que é uma das maiores lendas da sinuca no Brasil e está com oitenta e poucos anos.
Cris: Carne Frita, que sensacional.
Diane: Que ótimo né, crocante.
Cris: Já apaixonei, já gostei.
Peu: E enfim, acho que vale a pena ler um pouco da história desse cara que continua vivo mas a gente se esqueceu. É um pouco disso assim. E aí na sexta-feira saiu aquela matéria que todo mundo né, na minha timeline encheu o saco, que eu fiz um treino de Sumô é difícil…
Cris: A matéria tá muito legal gente.
Peu: Sumô não é o esporte do gordinho sedentário, não cara, é difícil pra cacete aguentar um treino, eu me achava forte ali, sempre joguei bola, mas não aguentei não. No domingo à noite passei no hospital, tomando relaxante…
Cris: Você teve que ir no hospital cara?!
Peu: Injeção de relaxante muscular e umas horinhas de soro com analgésico, sei lá anti inflamatório. E a minha outra dica é no sábado a partir das cinco horas da tarde tem a Rabo de Galo, que é a festa que a gente comentou aqui, fica na Casa Brasilis, na Rua Amália de Noronha, 256 ali próximo ao metrô Sumaré, bem pertinho. A Casa Brasilis é um lugar muito legal aqui em São Paulo, que é uma loja de discos, é um espaços pra algumas festas, festas que começam a tarde vão, não terminam tão tarde assim e também é um espaço onde toda quarta-feira rola um evento evento muito legal que se chama Beat Brasilis, que é um encontro de Beatmakers, são caras que produzem som, assim, produzem beats para funk, pra música eletrônica. É um encontro desses caras, eles pegam um disco aleatório e sampleam esse disco e criam um beat meio expresso ali, toda quarta-feira tem muitas edições e toda semana eles sobem o conteúdo de todos os beats, é um negócio assim, é muito rico, muito interessante de se ver, a casa Brasilis é um lugar muito legal. E sábado a gente tem a sexta edição da festa lá, sou eu na discotecagem, o DJ Komodo, que faz comigo, tem o DJ TYO que é o filho do Komodo que tem onze anos só e arrepia demais tocando só com vinil, e nessa edição a gente tem o DJ Nato PK, que é DJ de RAP e acompanha o Ogi e acompanha uns outros MC’S e ele vai fazer um set também, só com vinil, só música brasileira, vai ser muito bom.
Cris: Só pra não deixar de falar que o Ogi fez muito sucesso no som do Mamilos semana passada e a gente recebeu muito retorno, a galera surtou.
Peu: Quem?
Cris: O Ogi.
Peu: O disco do Ogi pra mim é o melhor disco de rap desse ano.
Cris: Foi bem legal. Dani?
Daniel: Eu queria fazer uma indicação de um bazar solidário que vai ter ali na Rua Bartira, 583 se eu não me engano. É um bazar de um pessoal que está apoiando uma família síria, uma não, na verdade um conjunto de família sírias que vieram refugiadas. Então, durante o domingo, começa às dez e acaba às dezoito, vai ter música ao vivo lá, um pessoalzinho tocando, vai ter a família que vai proporcionar uma comida típica para os visitantes, e algumas marcas destinaram a alguns itens de primeira qualidade para serem vendidos para reverter esse dinheiro para essas famílias refugiadas que estão sendo apoiadas, então acho que é uma ideia super legal, quem puder, está mais que convidado. E a segunda é um colega que tá com um Food Truck ali na Miranda de Azevedo. Ele não merece indicação, mas a pizza dele é sensacional, então, Divina Increnca, quem não conheceu, aconselho, a melhor pizza de São Paulo.
Diane: Eu queria indicar duas coisas. A primeira delas é o evento Batata Quente, quem vai acontecer no Largo da Batata, é promovido pelo coletivo Sistema Negro, que é o coletivo Negro, que é o coletivo do Oga, Vini, das meninas…
Cris: O Oga tá sempre entre nós.
Diane: Sim, ele tinha que estar aqui hoje. É uma festa que vai pinçar um pouco sobre tudo que tá acontecendo com as mortes no Rio de Janeiro, desastre em Mariana, enfim eles estão colhendo material, então vestimentas, mantimentos perecíveis, roupa de cama, tudo de um pouco. Então entra lá no Facebook, Batata Quente é o nome do evento, acho que vale a pena colar e colaborar, os meninos têm feito muita coisa legal. A outra é o lançamento amanhã na livraria Cultura do livro “Nós Madalenas”, o coletivo feminista. Vai ter a Jarid Arraes, Djamila Ribeiro, e o nome do livro é “Nós Madalenas – uma palavra pelo feminismo” então vale a pena conferir. E a terceira dica é férias para todo mundo, porque acho que a gente tá um pouco histérico né, eu tenho pensado sobre isso assim, os tons de voz, a gente tá um muito ácido. Então cachoeira e praia pra todo mundo nos próximos um mês.
(Bloco 8) 1:11’00” – 1:20’59”
Cris: Amém!
Ju: Quem dera!
[risos]
Diane: Vamo, gente! Vamo…
Cris: Ju!
Ju: Eu tenho duas dicas. A primeira é… bom, vão lançar o Star Wars e como vocês sabem o Braincast gravou sobre Star Wars e eu assisti quase todos os filmes de novo pro Merigo poder gravar, pra fazer compania pro Merigo, e aí eu descobri uma coisa fantástica que eu resisti muito no início mas depois eu vi que faz muito sentido que é: qual é a ordem correta de assistir Star Wars? Existe uma ordem correta! Principalmente se você for ver com alguém que nunca viu, como a Cris.
Cris: …vi. Eu to aqui quieta.
Ju: Que é: você deve assistir o filme quatro e cinco, pula o seis… Assiste o dois e o três e depois vai pro seis.
Daniel: Coisa boa não pode ser, né Ju! Tudo bagunçado…
[risos]
Ju: Tem… Tem uma lógica incrível. Porque que você começa pelo quatro e cinco? Porque se começar pelo um, dois, três você desiste.
[risos]
Daniel: Justo.
Ju: E segundo, porque um, dois e três eles dão spoiler da coisa mais importante do filme. É como se você fosse assistir o Sexto Sentido sabendo do final.
[aaahhh]
Ju: Porque ele vai contar a origem do Darth Vader, certo? E isso é a grande questão do Star Wars inicial.
Daniel: Minha pergunta só é porque que o quatro e cinco não chama um e dois.
[risos]
Diane: Tudo uma questão de linguagem…
Ju: Porque é uma questão cronológica…
Daniel: Ah, entendi.
Ju: Ok. Então você vai assistir o quatro e o cinco…
Cris: O filme é do meio pros lados…
Ju: … que são os melhores filmes. Aí você, porque que você não assiste o seis? Porque o seis no final ele foi modificado em função do filme um, dois e três.
Daniel: Aaah…
Ju: Então você tem que assistir ao filme um, dois e três pro seis fazer sentido. Então você assiste o quatro e cinco, que são os filmes ótimos, aí você faz como se fosse um flashback, vai ver o dois e o três. Porque que você não vai ver o um? Porque ele é irrelevante, pula esse…
[risos]
Ju: Assiste o dois e o três, e aí depois você volta desse flashback e vai concluir a história com o seis. E conclui lá em cima. Entendeu?
Daniel: Top!
Cris: Eu achei fácil…
Ju: Então tem uma certa barrigada, e aí tem o seis.
Daniel: Anotei na mão aqui.
Ju: Tá? Eu então sugiro que todos vocês, como lição de casa, vejam os filmes nessa sequência e aí eu faço um convite que vocês unam a voz a mim e que a gente faça um encontro de Mamileiros no cinema, pra assistir o filme sete, e que a gente leve a Cris pra assistir com a gente!
[risos]
Ju: Quando não tiver tendo Mamilos, a gente pode se encontrar pra ir no cinema, o que que vocês acham?
Cris: Pra quem não sabe, né, eu nunca assisti nenhum desses filmes.
Diane: Ah, eu também não.
Cris: Aeeeeee….
Daniel: Eu também não…
[risos]
Ju: Então vamo todo mundo!
Cris: Resistência! Resistência!
Ju: Então eu acho que acabou a desculpa, eu acho que a gente pode todo mundo ir junto e vai ser muito legal e vai ser muito divertido. E a gente inclusive pode fazer cosplay pra assistir o filme.
Daniel: A pergunta que não quer calar: o sete tá onde nessa localização? Ele é o sete mesmo?
Ju: Ele é o sete mesmo, entendeu? Então você termina com o sexto lá em cima, com a adrenalina e a expectativa de ver o que que acontece e aí a gente vai no cinema juntos.
Daniel: Jóia.
Ju: Não é incrível? Eu acho que é uma boa ideia. E a última dica, e que na verdade não é uma dica, é um agradecimento porque a Kombi do Chef do meu irmão tá recebendo muita visita de Mamileiros e gente muito carinhosa que chega e conversa com ele e troca ideia, que fala que gosta do programa, fala que gosta de mim, e ele fica muito feliz. E assim… minha família quase não ouve o programa [risos], então o jeito que eles tem de achar que o que eu faço é relevante são esses Mamileiros que vão lá na Kombi do Chef. Então muito obrigada gente, to me sentindo muito querida, muito importante e ele tá achando que o que eu faço é importante… que chega até ele, né. Então assim, brincadeiras à parte, a Kombi do Chef saiu de novo na Veja São Paulo. Ele é pequenininho, ele não tem assessor de imprensa, ele não tem nada, ele é só um menino numa kombi fazendo lanches deliciosos.
Daniel: Coisa fina.
Ju: É, e assim… é um dos melhores programa pra gaúcho em São Paulo. Então assim, quem quiser conhecer o xis de novo fica a minha dica, vai na Kombi do Chef. No Facebook ‘Kombi do Chef’ tem o itinerário dele. Então cada dia da semana ele tá num lugar diferente da cidade. Então se você é da zona leste, da zona norte, da zona sul… Ele sempre vai pra esses lugares, é só você esperar a kombi chegar até você. Vale a pena conferir.
Daniel: Se você não é gaúcho também vale a pena conferir, que eu não sou gaúcho e é muito bom.
[risos]
Cris: Cê tá falando desse negócio aí e eu lembrei, engraçado demais, o meu irmão tá no Canadá né e assim, tem uns quatro meses que ele foi. E diz ele que tava lá na lida e um cara chegou e falou assim “cara, tem um negócio incrível pra você não perder contato com o Brasil, se atualizar… esse podcast aqui é incrível e tal…” aí ele virou e falou assim “ah, minha irmã que faz isso”. Aí diz ele que o cara ficou petrificado… ele falou assim “quem é a sua irmã?”. Aí ele falou “ela é a Cris” e ele falou “MEU DEUS, você é irmão da Cris!!” e ele “é, mas eu não ouço esse negócio não que eu não gosto de podcast. O cara ficou mortificado que ele não ouve…
[risos]
Diane: É muito bom isso. Teve um dia que ele tava andando na rua e…
Cris: … ele falou que o cara pra sempre olhou ele muito estranho.
[risos]
Diane: … a menina gritou “ deixa o cabelo da menina no mundo”. Aí eu falei assim “ai, que bom que você gostou”. E ela falou “é você!” e eu falei “é, sou eu”… Deixa seu cabelo no mundo também…
[risos]
Cris: Meu Deus! Muito bonito… Bom, é… A Ju já tinha até comentado com vocês semana passada que eu tava numa lida muito forte, não tava tendo tempo de fazer mais nada, só que chega num momento que a lida até para de render porque você tá tando naquilo que você não consegue pensar em outra coisa. E aí eu falei, ah vou dar um respiro e vou assistir alguma coisa bem legal pra me inspirar. E aí eu dou de cara com um documentário no Netflix que chama ‘Keep on Keepin’On’ que é uma grata surpresa… é a história do trompetista Clark Terry e ele é um mágico. Ele é muito encantador. Ele já tá bem idoso no filme, no documentário, e mostra a relação dele com um rapaz que ele descobre, um rapaz que é um pianista cego e ele tá ficando cego por conta da diabetes e eles acabam criando uma relação muito próxima só que ele é um professor e um criativo inveterado. Ele cria música o tempo todo, ele inspira esse rapazes o tempo todo e assim, só pra você ter uma noção do moço quem que é, o Miles Davis paga pau pra ele e o Quincy Jones é alucinado por ele. Então assim, o Quincy Jones fala que ele era mirradinho e ia lá e falava “ai, será que eu posso ficar perto de você?” e ele “não, fica aí moleque”. E assim, ele tocando, ele com problema de saúde, ele com respiração artificial e ele não para de tocar. Então assim, é um cara incansável e o amor que ele tem pela música te contagia. E o quanto ele inspira outros rapazes, e aí ce fala assim “ok, eu vou esperar que né, no final, ele é um senhor muito idoso, ele vai morrer…” e ele começa a formar novos músicos! É incrível o fôlego que ele tem de vida. Então e uma música incrível né… aquele naipe de qualidade. Então recomendo, ta lá no Netflix, dá um tempo aí das séries e dá um play.
Ju: Eu esqueci de duas coisas importantes: semana passada eu gravei o 20 centavos. Então é uma oportunidade excelente de vocês verem eu quebrando um pouco o Jorge..
Cris: fighting…
[risos]
Ju: Foi divertidíssimo, um programa super gostoso então vale a pena mamileiros escutarem… E eu gravei ontem, que vai ao ar um dia antes do mamilos na quinta-feira ‘Um Milk Shake Chamado Wanda’. Esse era o crossover mais esperado da podosfera, muito ouvinte pedia que a gente gravasse. Era pra Cris também ir, mas como a gente falou no programa ontem ela tá num relacionamento abusivo com o trabalho… [risos] Mamileiros escutem tá divertidissimo, eu ri muito e a gente tá ansiosa pra receber o pessoal do Milk Shake aqui no Mamilos, pra fazer um Mamilos chamado Wanda.
Cris: Eu só queria finalizar falando que semana passada a Ju falou pra todo mundo mandar um obrigada pra mim no final do programa, e eu recebi centenas de obrigada, fui soterrada pelo carinho de vocês e é por isso que eu num largo esse trem. Mas eu queria falar a verdade. Essa branquinha que senta aqui do meu lado, ela que carrega o balaio sozinho na cabeça. Porque se não é ela, não tem programa. Eu fico num sufoco, eu fico num aperto e ela pega o touro pelo chifre e faz o negócio acontecer então o obrigada na verdade é pra ela… eu venho aqui pra figurar um pouquinho. Manda beijo pra ela agora!
Ju: #TamoJunto
Cris: Fica a gostosa sensação de mais um mamilos no ar. Beijo galera!
Ju: Beijo!
[sobe trilha]