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Apesar da estética bela, “O Animal Cordial” não se aprofunda nos temas

Longa-metragem de estreia de Gabriela Amaral Almeida faz análises sociais superficiais, mas acerta no tom

por Matheus Fiore

A sociedade brasileira é objeto de constante estudo no nosso cinema. Na atual década, encontramos desde análises de escopos mais fechados sobre grupos específicos, como o trabalho de João Dumans e Affonso Uchoa em “Arábia”, que disseca a vida dos trabalhadores do interior do país, até obras que criam um retrato com os principais estereótipos do nosso povo, como fez Kleber Mendonça Filho em “O Som Ao Redor”. Se falamos de proposta, o filme de estreia de Gabriela Amaral Almeida, “O Animal Cordial”, mais se assemelha ao segundo. O longa desenha uma investigação acerca do comportamento do brasileiro médio em situações que permitam ao indivíduo se despir das amarras sociais, além de também traçar um forte comentário sobre conflitos de classes e ascensão social.

A trama acompanha o fim de um dia de trabalho comum em um restaurante de classe média. Enquanto os últimos clientes ainda jantam, o proprietário, Inácio (Murilo Benício), chantageia seus funcionários a permanecerem no lugar para preparar um novo menu. Entre os membros da equipe temos Sara (Luciana Paes), a assistente do gerente/dono, e Djair (Irandhir Santos), o chefe da cozinha. Tudo ia bem até que uma dupla de rapazes (um deles vivido por Humberto Carrão) invade o lugar e anuncia um assalto. Ap´ assalto se transforma em uma situação ainda mais bizarra, fazendo com que todos se tornem reféns e, então, temos um filme. Alguns personagens são amarrados, outros são agredidos e outros estão no poder. Cada grupo, então, lutará para alcançar seu objetivo, seja ele fugir, vingar-se ou manter o grupo no local.

O que mais diferencia o trabalho de Gabriela dos de Uchoa, Dumans e Mendonça, porém, é o fato de ser um filme de gênero. O terror emerge principalmente pela construção de atmosfera do longa, que se deve principalmente a vários fatores, como o design de produção, por exemplo, que cria ambientes macabros pelo uso de um vermelho cor de sangue, ou a fotografia, que aposta numa condução claustrofóbica, fincando sua câmera nos rostos dos personagens.

Ao utilizar seus personagens para tecer comentários sociais, “O Animal Cordial” acaba não evoluindo por nunca sair da superficialidade. Há um retrato do sentimento de revanchismo que muitas vezes se manifesta em vítimas de crimes; há uma crítica aos que acreditam que devem fazer justiça com suas próprias mãos; há até mesmo comentários sobre homofobia. Infelizmente, tudo é demasiadamente raso, ganhando no máximo uma citação que marque a presença do tema, mas sem que haja nenhum trabalho narrativo para que eles se tornem parte do desenvolvimento dos personagens. Nesse ponto, a única exceção é a jornada de Sara, que busca a ascensão social por meio da submissão voluntária à vontade de seu patrão. É, porém, uma única personagem com complexidade em meio a um elenco acorrentado a estereótipos.

Ainda sobre os personagens, uma característica digna de elogios de “O Animal Cordial” é como as personalidades se revelam de acordo com as situações. Sara, por exemplo, é uma personagem gentil e atenciosa com todos, mas quando passa a ter qualquer autoridade no ambiente, mostra-se uma pessoa cruel, ao ponto de reproduzir discursos opressores que ouvia de outras pessoas. Esse talvez seja um dos maiores acertos da obra, já que com essa transformação na personalidade da moça, “O Animal Cordial” faz jus ao seu título, mostrando como por trás das máscaras sociais, podemos esconder figuras de comportamento bestial.

Ao utilizar os personagens para tecer comentários sociais, “O Animal Cordial” não evolui por nunca sair da superficialidade

Um grave problema de “O Animal Cordial” é sua estrutura. Quando o sequestro acontece, o filme parece chocar-se contra um muro. O espectador fica um bom tempo assistindo a acontecimentos circulares, que trazem os personagens tentando encontrar saídas para a situação na qual se encontram. Outro empecilho é que essas tentativas de fuga nunca se traduzem em cenas concretas, o que somado ao fato de os vilões do filme parecerem não ter ideia do que querem, faz “O Animal Cordial” parecer um filme desengonçado.

Há, além das raízes sociais do roteiro, um interessante estudo sobre as reações instintivas, algo de fácil conclusão se pensarmos que o sexo e a violência são os dois elementos mais destacados dos 95 minutos de “O Animal Cordial”. Considerando isso, não é à toa, portanto, que o vermelho seja a principal cor do filme, já que, visualmente, é a cor que pode ser utilizada tanto para imprimir sensualidade quanto para evocar perigo ou brutalidade.

O resultado do primeiro longa-metragem de Gabriela Amaral Almeida é interessante, mesmo que irregular. É indubitável que, visualmente, o filme tem força, principalmente pela forma inteligente com que a diretora registra as cenas, utilizando sempre uma quantidade reduzida de ângulos para os ambientes que resulta numa mise-en-scène teatral e aproveitando ao máximo os olhares e expressões faciais dos personagens por meio de close-ups. A falta de sustância do roteiro, porém, impede que o todo seja potencializado. “O Animal Cordial” vislumbra muitas possibilidades narrativas e, na ânsia de realizar todas, não é competente em nenhuma.

Além das raízes sociais do roteiro, há um interessante estudo sobre as reações instintivas

Há ainda um trabalho impecável na trilha sonora e na edição de som. A trilha, que muito lembra a de “Laranja Mecânica” pelo uso do moog e pela semelhança com músicas clássicas – há uma passagem que, intencionalmente ou não, muito lembra trechos de composições de Vivaldi – é um show à parte, e ajuda a dar uma aura mística à narrativa. Já o trabalho de som aproveita os silêncios para potencializar sons de manuseio de armas e lâminas, o que ajuda a imprimir tensão.

Ao lado de “As Boas Maneiras”

, o longa de Gabriela Amaral Almeida cimenta ainda mais o caminho para uma promissora fase do terror brasileiro. E mesmo que tenha tantas irregularidades, “O Animal Cordial” ainda é um longa cheio de predicados técnicos e dramáticos, sendo muito bem defendido por seu elenco e muito bem sustentado pela parte técnica, mesmo que, vez ou outra, suas críticas pareçam prolixas.

nota do crítico

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