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Rodrigo Teixeira critica processo de seleção do representante brasileiro no Oscar

Conhecido do público por “Me Chame pelo Seu Nome”, produtor afirma que os americanos acham que os brasileiros selecionam mal seus representantes para o prêmio

por Pedro Strazza

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas está incomodada com os representantes brasileiros no Oscar. O atual presidente da organização pelo visto acredita que os filmes selecionados pela comissão nacional para disputar a estatueta não representam a diversidade do cinema do país, mas preferem ser um “reflexo” do que já é produzido no cinema estadunidense atual – e é por conta disso que o Brasil até o momento não venceu o sonhado Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

É o que diz, pelo menos, o produtor Rodrigo Teixeira, que durante a coletiva de imprensa do filme “Animal Cordial” na última terça-feira desabafou sobre a situação do atual processo de escolha do representante brasileiro para a premiação. Fundador da famosa produtora RT Features e conhecido do grande público por ter sido o “brasileiro indicado ao Oscar” de Melhor Filme deste ano por seu trabalho como produtor em “Me Chame Pelo Seu Nome”, Teixeira fez um comentário amplo sobre as questões que envolvem o Brasil e a premiação norte-americana depois de ter sido perguntando sobre as chances deste novo projeto, um longa de terror dirigido por Gabriela Amaral, ser nomeado em alguma das categorias da cobiçada estatueta (via CINEVITOR e Esquina da Cultura).

“Eu adoraria que o filme fosse [indicado], mas existe uma comissão que aprova o filme brasileiro que vai pro Oscar e esse comitê tem suas próprias razões pra escolha” ele diz, “mas não necessariamente a gente é bem representado. Não estou aqui pra fazer juízo crítico dos filmes, mas eu acho que em alguns anos que são recentes a gente teve a possibilidade de ter filmes mais fortes, com alguma possibilidade real de saírem de lá vitoriosos”.

Teixeira continua a resposta lembrando de uma discussão que ele teve com o presidente da Academia John Bailey no começo do ano, em meio aos eventos da 90° edição do Oscar no qual esteve presente para promover “Me Chame Pelo Seu Nome” na disputa pelo prêmio. “Isso não sou eu que estou falando, isso eu ouvi do presidente da Academia. Ele acha que a gente seleciona mal e que a gente acha que os americanos não são cinéfilos, o que eles criticam a gente é que eles não são imbecis.” ele comenta, emendando logo em seguida que:

O presidente da Academia falou [isso] pra mim em janeiro, ele perguntou onde está o cinema brasileiro que eles não veem, que a gente não está mostrando isso pra eles, que estamos mostrando filmes que são reflexo dos filmes que eles fazem lá e que eles não procuram isso. Ele me disse que a gente procura originalidade, vocês não estão mostrando originalidade para a gente. Isso é uma crítica, carregue, você é membro da Academia, carregue isso para o seu país e discuta isso com o seu país.

O produtor ainda diz que o presidente da entidade confessou a ele na época que os filmes selecionados pelo comitê soam como grandes provocações aos votantes da premiação. “Ele ainda disse ‘Vocês desafiam a minha inteligência, eu quando recebo os filmes aqui, eles são filmes que eu vejo todo dia no cinema norte-americano, eu não estou vendo uma diferença entre a cinematografia norte-americana e a brasileira'” afirma o executivo.

A última vez que uma produção brasileira apareceu na lista final de indicados da premiação estadunidense foi em 1999, quando o “Central do Brasil” de Walter Salles foi lembrado não só na categoria de Melhor Filme Estrangeiro como em Melhor Atriz para Fernanda Montenegro, que se tornou na época a primeira atriz latino-americana da História a ser indicada para a estatueta. De lá pra cá, o Brasil só conseguiu uma pré-indicação em 2008 por “O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias”, acumulando esnobadas na mesma medida que se avolumam polêmicas em torno do processo de escolha, feito atualmente por um pequeno comitê que faz o processo à partir de uma lista de longas que tenham declarado interesse na disputa. As decisões do júri mais contestadas pelo público envolveram a escolha de “Pequeno Segredo” no lugar de “Aquarius” em 2017, a seleção de “Lula, O Filho do Brasil” para a disputa de 2011 e o próprio “O Ano Em Que Meus Pais…” sendo selecionado ao invés de “Tropa de Elite”, que na época havia levado o Urso de Ouro do Festival de Berlim.

Teixeira ainda teceu mais críticas à metodologia do júri responsável pela escolha durante a coletiva, mas também afirmou – aproveitando do fato da pergunta ter sido feita sobre um projeto de horror – que a Academia ainda precisa resolver um problema em sua relação com produções de gênero, mesmo com todas as mudanças de inclusão feitas nos últimos dois anos:

Existe um segundo problema que é que filme de gênero não vai pro Oscar. Acho que com essas mudanças que a Academia vem fazendo eventualmente daqui um ou dois anos a gente vai ter uma frequência maior. O ‘Corra!’ ano passado foi qualificado, mas ele foi muito mais qualificado sobre uma questão de minoria do que você colocar ele como terror em si. Então assim, a gente tem anos-luz, infelizmente é só um filme que a gente pode selecionar pra ser indicado pra Academia, e aí você passa por um processo em que os produtores, os atores, os artistas não tem como debater, porque existe uma comissão e essa comissão elege, e é o que se passa na cabeça daquelas cinco pessoas que tão fazendo a eleição do filme que vai ser indicado ao Oscar. A gente não tem o poder, a gente não seleciona e envia nosso filme a cada linha e faz uma rotação como se faz com os filmes americanos, é diferente, é arbitrária e não tem como combater isso infelizmente.

A próxima edição do Oscar acontece no dia 24 de fevereiro de 2019. Já “O Animal Cordial” de Amaral e Teixeira, um terror slasher estrelado por Murilo Benício, chega aos cinemas brasileiros no próximo 9 de agosto.

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