Há 50 anos, Franklin estreava como o primeiro personagem negro de “Peanuts”
Sobre Martin Luther King, Charlie Brown e a tal da resiliência
Franklin, o primeiro personagem negro da Turma do Charlie Brown, fez sua estréia há exatos 50 anos, no dia 31 de julho de 1968.
E 1968, o tal do ano que não terminou, já começou bem complicado para os Estados Unidos.
Em janeiro uma grande ofensiva vietcongue mudou os rumos da Guerra do Vietnã, fazendo eclodir protestos e pressão pela retirada das tropas americanas.
Em fevereiro aconteceu o Massacre de Orangeburg, onde manifestantes que protestavam contra a segregação racial foram assassinados.
É neste contexto que a história de Franklin começa a ser escrita, no dia 4 de abril de 1968, com o assassinato de Martin Luther King.
Chocada com a notícia, a professora americana Harriet Glickman resolveu que precisava fazer alguma coisa.
Nem todo mundo acha que pode mudar o mundo escrevendo uma carta.
Mas foi o que ela fez.
Escreveu pedindo ao cartunista Charles Schulz que ele incluísse um menino negro nos Peanuts, a turma do Charlie Brown e Snoopy.
Ela acreditava que os quadrinhos, lidos por milhões de pessoas, poderiam ajudar a influenciar as atitudes americanas em relação à discriminação racial.
Para surpresa de Harriet, ele respondeu sua carta. Mas não estava convencido. Tinha medo de parecer paternalista.
Glickman, que era branca, entrou um contato com amigos negros pedindo ideias para que o novo personagem não fosse encarado como um coitado.
Deu certo. Schulz se convenceu que valia a pena correr o risco.
Assim surgiu Franklin.
Mas como introduzir um personagem tão importante assim? Do jeito mais casual possível.
Duas crianças se encontram por acaso na praia. Como crianças fazem, começam a conversar. A conversa vira a construção de um castelo de areia. O castelo vira convite para o novo amigo ir na sua casa e continuar a brincadeira.
Um pequeno passo para os quadrinhos, mas um salto gigante para os leitores da tirinha.
A reação, na sua maioria, foi positiva. Claro, alguns jornais do sul dos Estados Unidos se recusaram a publicar a série. Outros editores “mais liberais” falaram que não tinham nenhum problema com o personagem negro, desde que ele não aparecesse na mesma escola que os brancos.
É aqui que entra a tal da resiliência.
Na psicologia, resiliência é a capacidade de uma pessoa lidar com seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão, seja qual for a situação.
Assim fez a professora Glickman.
Assim fez Charles Schulz.
E assim foi feita a história.
Em tempos de Trump, lembrar do discurso de Martin Luther King, mesmo que através de um personagem de história em quadrinho, parece mais necessário do que nunca.
Caso contrário ele vai continuar sendo apenas um sonho.
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