- Cultura
- / Social Media
- / Tech
Mesmo com Copa, os telespectadores estão mais dispersos que nunca
A alternância entre televisão e smartphone chega a 27 vezes por hora, de acordo com estudo da Nielsen
A Nielsen Holdings, empresa global de mensuração e análise de dados, fez um estudo sobre os espectadores e sua atenção às telas. A média de troca de telas – isto é, a alternância entre televisão, smartphone e outros aparelhos – para um jovem chega a 27 vezes por hora, de acordo com estudo da Nielsen.
A neurociência pode ajudar a entender como isso ocorre. A Copa do Mundo de 2018 chega justamente no momento que os especialistas da área chamam de “a era da distração”. Isso ocorre pelo fato de que nunca houve tantos estímulos visuais paralelos à televisão, o que faz com que o público sempre tenha outros pontos visualmente chamativos que criem a tendência de desconectar a pessoa dos televisores.
Um estudo da Nielsen Neuroscience mostra que, nos anos 2000, o americano ficava em média 44 horas por semana assistindo a televisão ou ouvindo rádio. Já em 2016, o americano tinha mais tempo para tais atividades, dedicando 65 horas semanais ao consumo de mídia eletrônicas. A grande transformação, porém, é a variedade de opções de telas: hoje a televisão não disputa apenas com o rádio, mas com celulares, tablets, notebooks e demais eletrônicos.
A diretora da Consumer Neuroscience da Nielsen Brasil, Janaína Brizante, explica o que acontece com a atenção do espectador diante da variedade de telas: “A atenção é como se fosse um bolo. Posso ter que reparti-lo com mais pessoas, mas continua sendo um bolo só. Se aparecem mais pessoas na festa, elas vão ter que ficar com uma fatia menor”, disse a especialista.
“Era da distração” impacta nas produções audiovisuais
Se o cinema ainda é uma experiência audiovisual imersiva – tanto pela necessidade de não pegarmos o celular, quanto pelo ambiente escuro e demais elementos que nos tornam parte de uma experiência maior –, o mesmo não acontece com outras mídias.
A “era da distração” faz com que boa parte das produções audiovisuais para televisão (novelas, séries, minisséries etc) tenham uma linguagem mais simplificada a fim de facilitar o entendimento do público. Há, portanto, programas construídos com um visual mais básico, geralmente baseado em enquadramentos dos rostos das pessoas que falam, enquanto no cinema, por exemplo, há inúmeros filmes que utilizam planos abertos em cenas importantes.
Além do visual mais simples, há também uma necessidade de tornar o conteúdo mais expositivo, verbalizado, já que o público em geral, na maior parte das vezes, nunca estará com sua atenção voltada exclusivamente para uma tela. Será possível, então, compreender os momentos chave de uma trama de uma minissérie, por exemplo, mesmo que o espectador esteja olhando para o celular.
É interessante notar, porém, que desde o começo dessa década, algumas produções vêm desafiando este modelo, como as séries Breaking Bad e Better Call Saul
, que apostam em construções visuais mais cinematográficas, alegóricas e silenciosas.
Apesar do sucesso desses programas, a tendência ainda é a da simplificação, já que o espectador já está “programado” para alternar telas e dividir sua atenção entre várias telas.
Comentários
Sua voz importa aqui no B9! Convidamos você a compartilhar suas opiniões e experiências na seção de comentários abaixo. Antes de mergulhar na conversa, por favor, dê uma olhada nas nossas Regras de Conduta para garantir que nosso espaço continue sendo acolhedor e respeitoso para todos.