Criação do “Espaço Favela” no Rock in Rio causa polêmica. Não sem motivos.
Réplica de comunidades cariocas dentro do festival tem boas intenções, mas é questionável
O Rock in Rio anunciou no último dia 25/04, um novo espaço na edição do festival em 2019: o “Espaço Favela”. Projetado para ter uma cenografia grandiosa, lúdica e bem colorida, o ambiente promete retratar a pluralidade cultural das comunidades do Rio de Janeiro, com objetivo de amplificar o olhar do público sobre as favelas e “reforçar a esperança a partir da movimentação da economia criativa“.
O espaço contará com um palco para a apresentação de artistas vindos das favelas cariocas e de diversos gêneros e estilos, incluindo samba, funk, MPB, grupos de percussão e orquestras. Também serão evidenciadas as culturas do Hip Hop, além do retrato da culinária presente nas comunidades do Rio de Janeiro.
Todo o projeto foi desenvolvido em parceria com a Viva Rio, o Sebrae e a CUFA (Central Única das Favelas). A expectativa é que o espaço alcance 10 mil empreendedores, pequenos negócios e profissionais nas regiões selecionadas.
Exatamente pela movimentação na economia de alguns empreendedores das comunidades, não dá pra demonizar por completo o projeto apresentado por Roberto Medina, afinal, de fato parte das comunidades do Rio estará envolvida, mas os problemas da criação do “Espaço Favela” no Rock in Rio são grandes e não podem passar despercebidos.
Favela pra quem?
Quando falamos de um evento como o Rock in Rio, por mais que os números sejam de milhares de pessoas passando por ele todos os dias, ainda falamos de um evento elitizado, no qual os preços dos ingressos não fazem dele acessível para grande parte da população, principalmente para quem mora nas comunidades cariocas – em 2017, os ingressos começaram a ser vendidos por R$ 455,00 (inteira) e R$ 227,50 (meia).
Criar um espaço que representa a realidade de uma população como atração para que outras pessoas, cuja realidade social é bem diferente, possam apreciar e se divertir, torna a vida de muitos simples entretenimento para poucos.
Além disso, embora a intenção seja mostrar que a cultura típica de um ambiente pode ser vista com olhares mais amplos e estendida a todos, ao delimitar que essa cultura só entra no festival depois de criar um espaço especial para ela, a sensação de “permissão” é inevitável.
Para estar no Rock in Rio, um artista da comunidade “precisa” ser visto exatamente assim: como artista da favela, dentro de um espaço que recria seu ambiente de origem. A divisão ainda é clara.
Como marca, o Rock in Rio ainda pode não ter se preocupado com o questionamento gerado em seus consumidores. Se grande parte do público estará replicando fotos “no morro” em seus perfis no Instagram na próxima edição, há uma pequena parcela que olhará o festival com outra visão, ponderando, principalmente, que tipo de pensamentos e posturas ela valida ao participar do evento, coisa que temos visto acontecer em outros festivais como o Coachella, graças ao posicionamento homofóbico e pró-armas de Philip Anschutz, um dos idealizadores do festival.
Roberto Medina frisou bastante durante o anúncio do projeto que sabe que a ação não acabará com os problemas das favelas, mas que o vê como um movimento que pode ajudar a trazer “esperança e oportunidades para quem vive nas comunidades
“.
Realmente, nós também esperamos que, de alguma forma, isso aconteça. Mas é como diz o ditado: “De boas intenções…”.
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