Google quer usar algoritmos para combater crimes de ódio

Os protestos de Charlottesville evidenciaram que, mais do que o acirramento de atos terroristas da extrema-direita, está havendo uma grande ausência do Estado para a liderança de um combate discurso eficaz contra manifestações de ódio.  Mas se os americanos se viram diante do silêncio de Trump, projetos independentes em prol pelos Direitos Humanos estão unindo forças com empresas de tecnologia engajadas em combater artigos e outras manifestações virtuais de teor nazi-fascista. É o caso da parceria entre o Google com a ProPublica, agência independente americana de jornalismo, por meio do Documenting Hate .

O projeto é uma banco de dados sobre notícias que reportam crimes e manifestações de teor xenofóbico, racista, machista ou homofóbico. A intenção é colaborar para uma cobertura jornalística mais apurada, enquanto há uma construção mais consolidada de uma narrativa de enfrentamento ao discurso extremista que, entre os americanos, ganhou mais força desde as eleições de 2016, quando houve a escolha de um presidente que além de não se manifestar diante de protestos como o de Charlottesville, assumiu ainda durante a sua campanha uma atitude alinhada aos interesses da extrema-direita.

Na mesma plataforma, o Google Lab, projeto de jornalismo de dados do Google, criou recentemente uma ferramenta para otimizar as buscas no banco da ProPublica: o Documenting Hate News Index, sistema de busca que além de facilitar a busca, mostra as palavras-chave mais veiculadas às pautas procuradas pelo internauta, levando-o a outras notícias que, juntas, oferecem um panorama maior como o ódio está se propagando nas ruas e nas redes sociais dos americanos.

 

O sistema é muito simples: basta supor que você esteja procurando por notícias ligadas a mulheres negras (black women) entre julho e final de agosto. Ao digitar o tema desejado, o Index encontram notícias publicadas durante o período, e ao lado, oferecem outras keywords que podem levar a outros crimes que não são ligados a mulheres, mas possuem motivações raciais, seguindo o nosso exemplo.

Mas o que mais chama a atenção da plataforma é a inteligência artificial por trás da ideia do Google Lab: ao invés da filtragem realizada pelo Google News, que prioriza resultados de acordo com a relevância das pessoas envolvidas nas notícias, dos lugares e dos eventos ligados diretamente ao acontecimento do texto, o algoritmo utilizado para o projeto da ProPublica prioriza as keywords ligadas à ideia do preconceito implícito no termo utilizado para a busca. No nosso exemplo, encontramos uma história local da Universidade de Albany

sobre duas mulheres negras julgadas por uma suposta falsa denúncia de racismo.

Dessa forma, o projeto quer dar espaço a notícias locais que não estão nos principais veículos noticiosos, o que possibilita um mapeamento mais complexo da intolerância que assola os Estudos Unidos.