Cadê o Brasil?
Como nosso país pode entrar no ciclo do empreendedorismo que fez o Vale do Silício crescer e se transformar no que é hoje
Muito tem se falado sobre novas tendências de negócios e o impacto da tecnologia na vida das pessoas. Inclusive, esses foram os principais assuntos discutidos este ano no SXSW – o maior evento de inovação e criatividade do mundo. O que eu não vi até agora é uma reflexão sobre o destaque do Brasil no exterior com relação a esses temas.
Esse ano foi a quarta vez que eu participei do SXSW e é nítido como a divulgação sobre o que se tem feito no Brasil em inovação diminuiu. Em 2014, falou-se bastante do nosso País. Em 2015, falou-se pouco. Em 2016, menos ainda e em 2017 a percepção que eu tive é de que o Brasil perdeu seu espaço. O SXSW é um palco de suma importância, pois você tem ali pessoas do mundo inteiro discutindo inovação. A partir do momento que o Brasil é pouco citado, isso é muito ruim para o nosso ambiente de negócios.
Mas por que falou-se pouco do Brasil? A instabilidade política e econômica que o país vive direcionou o interesse do mercado e das coberturas nacional e internacional para estes temas. Consequentemente, deixou-se de se acompanhar o desenvolvimento do ecossistema de startups por aqui.
Por outro lado, nós que estamos no Brasil já percebemos uma recuperação do mercado financeiro nacional. No Cubo coworking Itaú temos exemplos de empresas residentes que fecharam mais negócios no primeiro trimestre de 2017 do que no ano de 2016 inteiro. A Todo Cartões, empresa que opera programas de cartão presente, pré-pagos e fidelidade para varejistas e e-commerces, terminou 2016 com 14 negócios e só no período de janeiro a março deste ano ela já teve 16 contratos assinados.
A lição de casa que fica é criarmos um grupo ativo para o fomento e discussão do tema inovação no Brasil
Tenho a sensação de que no segundo semestre de 2016, as pessoas viram que não podiam ficar com aquela apatia para sempre e que era preciso se mexer. Com isso, o que estava represado nos últimos dois anos começou a ser liberado no início de 2017. Muita coisa está em jogo ainda, mas o aumento da confiança dos agentes econômicos e a discussão do ajuste fiscal já são indicadores otimistas também. Acredito que a barreira foi quebrada e o ambiente de negócio brasileiro começou a acelerar.
Eu costumo dizer que em 2016 e 2017 as grandes empresas estão se adaptando ao modelo de trabalho com as startups. Em 2017 e 2018, grandes empresas irão começar a contratar startups em mais volume. Em 2018 e 2019, a grande empresa começar a investir em startup e no mundo de inovação. Em 2019 e 2020, grandes empresas irão começar a comprar startups. Esse último cenário é muito importante para fechar o ciclo do empreendedor, que começa um negócio sozinho, depois recebe uma rodada de investimento, ganha até uma segunda rodada de investimento, cresce e vende a sua empresa.
Depois, esse empreendedor vai investir em mais cinco ou dez empresas. Esse é o ciclo do empreendedorismo que fez o Vale do Silício crescer e se transformar no que ele é hoje.
A lição de casa que fica é criarmos um grupo ativo para o fomento e discussão do tema inovação no Brasil. Precisamos mostrar para o mundo o que está acontecendo de bom aqui. O mundo tem que saber que o ambiente de negócio brasileiro mudou, que ele é sério, que temos instituições sérias, que respeitam legislação, contratos e que estamos entrando numa rota de crescimento. E por que o mundo precisa saber disso? Porque isso atrai investimento, parcerias, novas empresas e o interesse de pessoas de fora querendo empreender no Brasil. Isso tudo junto contribui para o desenvolvimento do nosso país.
Estamos vivenciando um movimento extremamente positivo e temos todos os fundamentos para acelerar o ambiente de negócio brasileiro. Só precisamos mostrar isso para o mundo.
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Flavio Pripas lidera o CUBO coworking Itaú, um projeto de fomento ao empreendedorismo digital no Brasil patrocinado pelo Itaú Unibanco e pela RedPoint e.Ventures. Antes deste projeto e de ter lançado duas empresas como empreendedor digital, foi Diretor de Tecnologia do Banco J.P.Morgan, Head de Desenvolvimento do Credit Suisse Hedging-Griffo e Head de TI America Latina do JPMC Vastera. Formado em Ciências da Computação e MBA na FGV/SP
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