SXSW 2017: Como a tecnologia pode transformar a fé
É o momento certo para pensar de forma diferente sobre como e onde as pessoas encontram significado em suas vidas
Há centenas de anos a Igreja (entenda aqui qualquer instituição religiosa) é a melhor contadora de história que já existiu. Ao longo do tempo sua platéia foi mudando de comportamento, muito influenciada pelas revoluções impulsionadas pela tecnologia. De Gutenberg ao Google, a tecnologia só fez com que as fronteiras para a religião diminuíssem. Hoje, como estamos conectados o tempo todo, o papel da Igreja está em transição: de mentora para agregadora.
Não é mais ali, e só ali, que as pessoas estão buscando suas respostas, mas na internet. Você sabia que muita gente foi ao Google após as recentes eleições americanas pra tentar achar uma explicação espiritual para o resultado de Trump ser o novo presidente? É no espaço virtual que a busca pelas respostas, mais do que as perguntas sobre fé, tem acontecido. O lugar físico dos templos religiosos é hoje procurado muito mais para que haja um senso de pertencimento a uma comunidade do que para as respostas de quem é Deus, por exemplo.
A tecnologia traz mais informações e facilita o acesso às escolhas, seja de produtos, serviços, bens de consumo e como estamos vendo aqui no SxSW, até da fé, por quê não? Hoje são muitas vozes falando sobre um mesmo tema e o mesmo acontece com a religião: se você não está contando a sua própria história, ela está sendo contada a partir de outros. Não tem apenas A voz de UMA instituição. Entender como a Igreja entra nesse ambiente e disputa a atenção dos seus fiéis com o último meme de gatinho da semana ou tretas políticas é um desafio.
O painel sobre a tecnologia transformando a fé, no SXSW, trouxe uma discussão muito interessante sobre esses caminhos ao mostrar que até o senso de comunidade que as igrejas e templos traziam já pode ser encontrado online. Já imaginou juntar jornalistas, religiosos, crentes, curiosos e ateus num mesmo ambiente para trocar conteúdo sobre fé sem julgamentos? Isso é o que propõe o On Faith: conectar as pessoas em sua busca de significado. Uma rede social de fé, que vai te entregando conteúdos e conexões de acordo com o que você procura (espiritualmente falando).
Sally Quinn, uma das palestrantes, é jornalista e escritora, e co-fundadora da comunidade online On Faith. Sally rodou o mundo para seu projeto de religião e conta que após o 11/09 os americanos ficaram mais reservados ao falarem sobre suas crenças, sendo quase um tabu abordar religião no dia a dia. “Ninguém vira para o colega de trabalho e fala: oi, sou ateu. O que você acha disso? No que você acredita?” – diz ela que era referência na editoria de economia e se dedicou de cabeça ao novo projeto. On Faith passou então a ser esse espaço e aborda as questões de fé em diferentes formatos e partir de colaboração. Reúne na plataforma renomados estudiosos religiosos de todas as denominações, fazendo da rede a primeira discussão interativa e mundial sobre religião e seu impacto na vida global.
Ao lado de Sally, o programador Hindu Shawn, falou um pouco sobre a questão tecnológica e como é importante a presença da igreja nesses espaços. Se não há mais diferença entre digital e real e as formas digitais formam o nosso ambiente social, se a igreja não tem presença, estamos ausentes dessa conexão com a fé no dia a dia.
O poder da experiência com a fé ainda vem da conexão humana e a tecnologia tem um longo caminho pela frente nesse sentido
Para Sally, “o poder da tecnologia – atravessar paredes, construir pontes digitais e comunidades virtuais através de divisões reais – é algo que pode transcender qualquer religião”. Muitos ateus às vezes insistem que, em 2017, a religião deve acabar morrendo. Tomando conceitos da biologia evolucionária, eles vêem a crença como um resquício antiquado de uma era anterior: a falha de software na humanidade, uma falha que precisa de uma atualização.
No entanto, claramente, é o momento certo para pensar de forma diferente sobre como e onde as pessoas encontram significado em suas vidas – e como usar a tecnologia para formar melhores laços uns com os outros. Shown acrescenta ainda que nesse contexto é importante perceber como os “tecnólogos estão servindo ao espiritual, mas não ao religioso”.
O conteúdo é parte fundamental dessa conversa. Basta observar a atuação do Vaticano nas redes sociais, por exemplo, e você consegue perceber que esse caminho não está sendo desbravado apenas por marcas ou políticos. A Igreja une bem essas duas frentes e está se aliando a todas as plataformas e formatos para fazer com que sua mensagem chegue ao maior número de pessoas. Ter uma religião ou não, não está em questão aqui, mas sim o formato e o poder de mobilização quando você tem o maior contador de histórias do mundo usando melhor o que temos de tecnologia social disponível hoje.
A conversa está tão quente que essa foi a primeira vez que um funcionário do Vaticano participou do evento. “Esta é a idéia clássica de como a inovação funciona”, disse Osman, o pontífice católico. Além de toda parte de conteúdos estratégico, planejamento de canais e brand, ainda deixou bem claro uma série de questões para gestão de crise nas redes sociais. Na luta contra o ódio online, “nós realmente precisamos ter mensagens bem trabalhadas para responder essas pessoas”. Frase endossada em coro por um muçulmano e um ateu que compunham a mesa de debates.
Para o bem ou para o mau, por trás dos algoritmos estão os humanos. Por trás de marcas, de campanhas, de estratégias. Por trás da religião, também. Mas, por trás da sua fé, só você, e hoje com a tecnologia como aliada para não cair num conto qualquer. No fim do dia as pessoas só querem viver melhor seja no seu trabalho, na sua casa, com seu vizinho… e um mundo mais amplo de informações pode ajudar nesse processo.
O poder da experiência com a fé ainda vem da conexão humana e a tecnologia tem um longo caminho pela frente nesse sentido. Quando alguém acredita em alguma coisa, pode fazer o outro acreditar também e esse é o encanto de qualquer conteúdo em rede, hoje potencializado pela ausência de fronteiras, graças ao mundo conectado. Há em curso, junto com isso, uma mudança na maneira como as pessoas querem explorar sua fé.
Por fim, deixo aqui as três regras do pontífice para as mídias sociais:
Ouçam mutuamente, conversem com outras pessoas, sejam fonte ou encorajamento”
Acho que são regras pra vida. Tá vendo como as coisas se misturam? Que assim seja!
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Esse conteúdo é oferecimento da Apex-Brasil, que divulgará durante o SXSW 2017 a campanha Be Brasil, uma narrativa envolvente que promove um Brasil confiável, inovador, criativo e estratégico no mundo dos negócios. Saiba mais em www.bebrasil.com.br/pt
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