Transcrição Mamilos 74 – Rio em calamidade, Massacre indígena e Tite na seleção
Jornalismo de peito aberto
Essa transcrição é um carinho dos Melhores Ouvintes Leticia Dáquer, Ana Tirico, Fernanda Cappellesso, Alan Bastos, Kelle Davidoski, Samuel Freire e Debora a todos os mamileiros. Vida longa aos esforço colaborativo \o/
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(música) Vim dizer… Vou falar… Vão tremer…
Ju: Olá você, que sempre nos escuta e já é nosso amigo mesmo que a gente não te conheça… Que já chega conversando com a gente, “Oi, Ju, a gente te escuta há tanto tempo que parece que já é íntimo!” Estamos aqui, mais uma semana pra refletir sobre os assuntos que povoam as redes sociais, puxa a cadeira, pega o café e vem conversar. Eu sou a Ju Wallauer.
Cris: Eu sou a Cris Bartis e vamos nessa. Som do Mamilos. Caio, seu paladino do som, quê que a gente vai ouvir essa semana?
Caio: Olá, personas, Corraini aqui novamente para trazer a vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana! Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa, pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail [email protected], [email protected]. E facilita em muito a minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. Nesta edição nós iremos ouvir as músicas da campanha da Caixa para as Olimpíadas. As meninas vão comentar sobre a ação durante o episódio, mas eu me adiantei, dei uma ouvida, e achei que combinam muito bem com o som do Mamilos. Então fiquem aí com o som do Edi Rock, o Projota, o Rashid e a Karol Conká no Som do Mamilos
(música – Edi Rock) Tenho o Brasil na camisa, na pele, no coração, e um sentimento que permanece e acima de toda razão, paixão, sei bem o que tem que fazer, meu nome é o quê?, vontade de vencer… e o pé direito dá sorte, as duas mãos, confiança, o nosso braço forte, nossa grande aliança, no topo, o soco, o golpe perfeito, a distância, o salto, é a causa, é o efeito
Ju: E o beijo para:
Cris: Curitiba
Ju: São José dos Campos
Cris: Maranhão
Ju: Porto Alegre
Cris: Brasília
Ju: Paraguai
Cris: Canterbury, na Inglaterra
Ju: Quatis, no Rio de Janeiro
Cris: Um beijo pro Ulisses, do NBW, que agora tá gravando podcast com passarinhos ao fundo numa das suas intermináveis viagens, e na verdade a gente tem uma proposta, ouvintes. Se você é fã do NBW and fã do Mamilos, que tal vocês fazerem um crowdfunding pra eu, Juliana, André e Barata irmos até Londres e gravar esse cross maravilhoso, todos nós juntos, ali em Londres? Se vocês pagarem a gente vai. Cê vai, Ju?
Ju: Com certeza.
Cris: Então… Gente, cês dão uma força, fala a verdade.
Ju: E falem com o Mamilos… Comé que a gente vai saber se vocês estão amando, detestando, concordando, se vocês não falarem nada? Não adianta só ficar se debatendo na cadeira, né. Quanta gente escreve pra gente falando, “eu pareço maluca, discutindo com vocês no meio da rua, e no ônibus”, então assim, não fala sozinho, migo, miga, miga sua loka, pára com isso, escreve pra gente, fala com a gente no Facebook, no Twitter, na página do B9, ou no e-mail. Presta atenção no e-mail que cês vivem nos perguntando, ó o e-mail, qual é, Cris?
Cris: [email protected]. [email protected] E depois de um longo inverno o nosso delicioso quadro Mamilos Cromados acontece hoje de um jeito muito, muito especial. Gente, pelamor, alguém explica a maravilhosidade da campanha da Caixa Econômica Federal! Sim, vocês ouviram, eu falei Caixa, eu não estou brincando! É uma campanha pra apresentar e incentivar os atletas olímpicos que eles patrocinam. Nossa, numa boa, tá muito legal, tem muito tempo que eu não vejo um negócio tão bom, sambaram na cara da concorrência, e…
Ju: [Dó do patrocinador oficial, apenas
Cris: Aquele tudo de Bra? Nossa, deve tá chorando encolhidinho num canto, tipo meudeusdocéu gastei esse dinheiro todo… Ficou sensacional, pra quem não viu a gente vai colocar o link aqui na pauta, em tempo de Cannes o melhor é falar de coisa boa. A Caixa…
Camila: Que coisa verdadeira, né, de fato pessoas que existem, uma homenagem pertinente…
Cris: Histórias reais!
Camila: Não é!
Cris: Então o quê que a Caixa fez, ela fez clipes maravilhosos com música exclusivas pra apresentar a história de cada um desses atletas. O rapper Prejota canta a história do canoísta Fernando Fernandes, Rashid canta a história de Arthur Zanetti nas argolas, e saiu agora a da Karol Conká contando a história da lutadora Joice Silva. Tá matador, tá arrepiante, as músicas são ótimas, pra baixar, pra compartilhar, então assiste lá, a gente vai colocar aqui, o site é conquistadoesporte.com.br. Caixa, minha filha, cê tá de parabéns!
Ju: Não, assim, entendeu a tendência, né, no caso do vídeo da Conká que foi o único que eu vi. Entendeu a tendência, entendeu o que as pessoas querem ouvir, o que as pessoas querem falar, qual é a discussão que é pertinente, né, enquanto em Cannes tão lá aprovando peça merda…
Cris: E coisa que não existe…
Ju: E assim, aprovando peça machista, premiando peça machista, vai lá a Caixa, samba na cara da publicidade…
Cris: Foi lindo.
Ju: Lindo, assim, muito bem executado, muito bem executado, a música tá linda, a direção de arte tá linda, a linguagem tá linda, tá, assim, tá tudo perfeito, parabéns, Caixa. Não vou, não vou nem aplaudir porque eu não tenho palavras, não sei o que dizer, só sei sentir.
Cris: Eu não vou aplaudir, eu vou cantar as músicas.
Ju: E o merchand?
Cris: Esse merchand não podia ser mais especial, sabe por quê? Porque é do Oga, é, o Oga é famoso demais, olha o quê que ele tá fazendo. Ele vai participar agora, no sábado, de 16 às 22 horas, de uma exposição, na verdade é um projeto bem legal, deixa eu explicar pra vocês. O nome do lugar é Casinha Comes e Bebes, e eles fazem um Casinha Comes e Bebes Convida. A ideia do projeto é difundir culinária brasileira e dar voz a nomes importantes da cultura por meio da gastronomia e arte. Então eles fazem esses eventos periódicos. Nesse sábado tá lá o nosso querido Oga no seu papel de artista plástico fazendo ali a exposição dos seus trabalhos, que são lindos, e o evento ainda vai ter um especial que é a discotecagem do Rabo de Galo, ou seja, Peu junto! Vai acontecer sábado, então, dia 25, de 16 às 22 horas. A Casinha Comes e Bebes fica na Alameda Lorena, 514. Cola no Oga, gente, vai ser sensacional. Parabéns, querido, a gente tá feliz com esse projeto seu, muito legal.
Ju: Vocês já devem ter visto, porque a gente compartilhou, mas é muito importante falar da campanha Jornalistas Contra o Assédio, que nasceu a partir da demissão de uma jornalista do portal IG. O que aconteceu, há dias atrás essa jornalista sofreu assédio do cantor Biel, durante uma entrevista, e denunciou à polícia. O portal IG prometeu todo o tipo de assistência, e duas semanas depois…
Cris: [Catorze dias depois…
Ju: Catorze dias depois demitiu ela por corte, apenas ela. Só ela. Então assim, os jornalistas mesmo, partiu dos jornalistas essa decisão de levantar um voz pela classe, pela categoria, quanto mais a gente puder engrossar esse coro, apoiar isso, dar visibilidade pra isso, e trazer essa discussão pra pauta, porque é vergonhoso um portal de um lado apoiar, dizer que não, realmente, e ele se aproveitou da visibilidade que a polêmica trouxe, e na hora de realmente bancar, demitiu a menina, né, então assim… Ela foi duplamente assediada, né, sofreu duas vezes.
Cris: Tem várias jornalistas juntas falando nesse vídeo e contando coisas assim… É super difícil, da total falta de respeito e o quanto isso é comum. Não foi um caso, a gente tem duas jornalistas aqui na mesa hoje, não, não sou eu e Juliana, cês sabem, a gente é publicitária, a gente tá falando de gente séria mesmo que veio participar do programa…
Ju: [Gente que não faz…
Cris: E elas tão contando mesmo que é uma coisa comum, que acontece mesmo, e que é chato pra caramba. Não é chato, desculpa, é crime. E… vamo pro Fala Que Eu Discuto?
Ju: Bora.
(música) Isso é parte do que eu sou
(música – Karol Conká) Então vai… A valentia vem de berço
Cris: No Twitter o Sam Junino disse, “Menina, que tapa eu levei no Mamilos Pod dessa semana, viu, destrinchando o amor romântico e me deixando mais pé no chão pra eu levar a vida com o Felipe Lucena”. Um monte de gente falou dessa pauta, achei incrível, foi barro o programa passado…
Ju: Foi barro, né, também achei barro.
Cris: Foi muito barro, é, barrearam todos os nossos comentários…
Ju: A Michele Souza disse, “E o Oscar da Melhor Interpretação de Contraponto vai para… Ju Wallauer, pelo papel de tia homofóbica” (risadas)
Cris: No Facebook a (incompreensível) disse, “Sempre nutri restrição quanto ao conceito de crime de ódio, figura jurídica que, salvo engano, majora a pena com base na motivação do crime. Ocorre que na democracia, reconhecendo-se o conceito de minorias e a necessidade de protegê-las e assegurar-lhes respeito e segurança, essa política penal é realmente relevante. Tinha restrição porque o conceito implica em reconhecer que não somos todos iguais, e surpresa, não somos mesmo. Assim sendo, cabe sim ao Estado reconhecer, dar suporte e defender as minorias, para garantir a diversidade característica da democracia real. Democracia é diversidade e respeito. Readaptei minha visão. Ponto para o Mamilos”.
Ju: Por e-mail o Igor Alcântara disse, “Olá meninas, tenho 39 anos e sou cientista de dados e podcaster. Quando ainda morava no Brasil casei-me com uma pessoa maravilhosa que foi uma incrível companheira. Nos mudamos de cidade no mesmo dia de casamento pra tentar a vida, sem emprego e nem casa pra morar. Tivemos que morar no carro por um tempo. Passamos fome, enfrentamos uma barra enorme, e aquilo nos deixou muito mais unidos. Depois de um tempo as coisas foram melhorando. Seis anos depois resolvemos ter uma filha. Já na gravidez eu notei que ela estava mais distante de mim. Eu dava o meu apoio, mas também deixava ela ter o espaço que pedia. Resumindo a história, logo depois que nossa filha nasceu, acabamos nos separando por ela me confessar que era lésbica e que inclusive estava trocando mensagens com uma outra menina pela internet. Aquilo me destruiu. Eu cheguei a tentar tirar a minha própria vida. Não foi homofobia, mas foi pelo fim do casamento. Eu não sabia viver sem ela e nem fazia sentido. Só que eu tinha uma filha recém-nascida, e precisava renascer pra ser o pai que ela merecia. Depois acabei tendo outro filho com outra namorada. Essa namorada era muito religiosa e homofóbica, e vivia
Ju: (…) “tentando me convencer a pedir a guarda da minha filha para retirá-la daquele “ambiente”. Bom, hoje não estou casado com nenhuma das duas, casei-me de novo com uma antiga amiga de escola e estamos curtindo nossa filhinha de 11 meses. Como meus dois filhos mais velhos estão crescendo nos dois extremos, acho fácil demonstrar através deles como o preconceito é sim uma construção social e o que importa na educação dos filhos é ética e amor. Minha filha sempre soube que a mãe dela gosta de mulheres, sempre conviveu com gays e isso para ela nunca foi um problema. Eu já conversei com ela dizendo que se um dia ela gostasse de meninas ou meninos, eu acharia tudo normal e ela nem entendeu o motivo de eu falar isso. Já meu filho começa a achar que essas coisas são erradas e eu tento desconstruir isso dentro dele. Minha filha está crescendo e se tornando uma pessoa sem preconceitos, mais feliz e inclusiva. Espero que consiga, mesmo distante, ajudar para que meu filho cresça da mesma forma. Hoje em dia sou amigo da minha primeira esposa e ainda me ressinto de não ter dado mais apoio a ela. Eu saí da vida dela para que ela pudesse viver feliz a sexualidade dela, mas minha dor me impediu de ser mais amigo. De todo modo, hoje em dia ela está feliz e isso me deixa também muito feliz. Parabéns pelo programa meninas, não perco um”.
Cris: Eduardo Marques: “sou branco, hétero, classe A, estudante universitário, meu pai me ajuda a pagar as contas e faço estágio em uma multinacional e estou gordo. Resumidamente, na pior das hipóteses existe apenas 1 tipo de preconceito que se aplique sobre mim e olha lá. Estou mandando esse e-mail por um simples motivo, eu acredito que sou homofóbico, pois lá no fundo quando vejo um casal homossexual passa por um segundo na minha cabeça um sentimento de estranheza. Entretanto eu sei que estou errado, eu sei que esse sentimento não tem motivo para existir. Eu tento melhorar para que esse sentimento mude e sei que quando eu tiver filhos eles não serão como eu, saberão que existe amor e afeto independente de sexo ou gênero”. É um passo, é um começo.
Ju: Mas todo mundo gente…
Cris: Exatamente!
Ju: Ninguém nasceu todo trabalhado na desconstrução e é desconstruído em todos os aspectos…que não erra em nada… Tá todo mundo aqui aprendendo, gente.
(Sonora Som do Mamilos – Campanha da Caixa para as Olimpíadas – Projota 5F’s: “Era eu e o mundo. Era eu pelo mundo”.)
Ju: Vamos então para os trending topics? Eu quero apresentar quem está com a gente, de volta, restabelecida, sã (…)
Cris: Gente, sério!
Ju: (…) e salva, depois do último Mamilos que ela gravou de casa com H1N1 (…)
Cris de Luca: Por telefone!
Ju: (…) Por telefone!
Cris de Luca: Sem voz!
(risos)
Ju: Tossindo a cada cinco segundos. Assim se sacrificando, entrou em campo (…)
Cris: Amor! O nome disso é amor!
Ju: (…) por amor… Né? Mas agora, assim, 100%, está conosco: Cris de Luca.
Cris de Luca: Olá galera! Tô de volta!
(risos)
Cris de Luca: Sempre com temas polêmicos, né?
Ju: Você está aqui para cariocar, né Cris?
Cris de Luca: Olha…hoje eu posso puxar o s na boa…
(risos)
Ju: Quem mais que está aqui?
Cris: Do outro lado do ringue, a deliciosa que já veio aqui encantar com a voz dela e com o conhecimento que ela tem: Camila! Que bom ter você aqui de novo! Apresente-se para os nossos ouvintes!
Camila: Oi galera! Eu sou a Camila Matoso, sou repórter da Folha. Tô muito feliz de estar aqui de novo também.
Ju: E você gravou com a gente o programa polêmico sobre a FIFA né?
Cris: Ah foi mesmo!
Camila: É…sobre os escândalos.
Ju: Foi.
Cris: O que a gente gosta é de treta mesmo.
(risos)
Ju: Então assim: se vocês se apaixonarem por ela, o que eu acredito que vai acontecer, depois vocês voltem lá e escutem o outro programa.
Cris: Nossa, eu adoro a voz dela!
Ju: Muito boa.
Cris: Eu acho muito bom de ficar ouvindo.
Ju: Eu também! Então vamos lá! Vai pro giro de notícias Cris!
Cris: Número 3: “Professora que pediu a suas alunas ‘memes’ de ‘Cem Anos de Solidão’”. Gente essa notícia é uma delícia!
Ju: Melhor professora.
Cris: É, desculpa tá? A gente falando de meme de novo, duas semanas seguidas né? Mas a cada ano a professora chilena de língua e comunicação Jacqueline, de 53 anos, pensa numa forma diferente de avaliar as suas alunas adolescentes. Ela não repetir prova porque ela acha que isso desmotiva os estudantes. Olha isso: (…)
Ju: Também acho!
Cris: (…) ela já pediu às alunas histórias em quadrinhos de Dom Quixote, intervenções com batucada da obra de Miguel de Cervantes e fotonovelas baseadas em O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar. Para a leitura de Cem Anos de Solidão, Bustamante este ano pediu a elas memes da história de Gabriel García Márquez. As jovens de 17 anos, surpresas e divertidas, fizeram. Tem o link na pauta e é muito legal! Gente, isso é educador, né? Coisa linda!
Ju: Você está trabalhando a mesma coisa, cara. Só incluiu prazer na tarefa, é só isso.
Cris de Luca: Aprender brincando.
Ju: Né? Why not? Dois: “Sérgio Machado está reunindo provas para confirmar encontro com Temer”. O ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, está reunindo provas para confirmar ao Ministério Público Federal seu encontro com o presidente interino Michel Temer durante a campanha eleitoral de 2012. Segundo afirmou em delação, Temer teria pedido R$ 1,5 milhão para financiar a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, numa reunião ocorrida na Base Aérea de Brasília. Com informações da locadora de veículos, será possível ao MPF traçar o percurso do carro através do sistema de GPS. Machado quer, ainda, o testemunho do motorista que o levou ao aeroporto para o encontro com o agora presidente interino.
Cris: A gente andou numa canseira de política e não tem falado muito sobre isso. Mas o NBW dessa semana faz um apanhado muito interessante sobre essa delação do Machado, carinhosamente chamado de Machado Giratório porque saiu machadando pra tudo quanto é lado…. Eles fazem uma análise muito boa, na minha opinião. São gravações e delações ainda mais graves que a do Delcídio. Uma coisa não imputa a outra, mas do tanto que a gente falou de Delcídio, tá falando muito pouco dessa. Recomendo ouvir aí para entender um pouco melhor esse cenário. Número um: “A cruel morte da onça Juma que envergonhou o comitê olímpico”. Assim…é muito difícil essa notícia, sério mesmo, ela não faz nenhum sentido.
Ju: É uma vergonha alheia.
Cris: Não, tipo tá muito difícil ser a gente.
Ju: Nossa…Todo dia é um 7×1 diferente, né?
Cris: Todo dia!
(risos)
Ju: Pode ser pra qualquer esporte né? Adapte a metáfora esportiva para o que você quiser.
Cris: Felina foi exibida acorrentada durante passagem da tocha olímpica em Manaus. Depois fugiu e foi abatida. A morte chocou internautas. Aí teve um comunicado, feito pelo comitê olímpico: “Erramos ao permitir que a Tocha Olímpica, símbolo de paz e da união entre os povos, fosse exibida ao lado de um animal selvagem acorrentado. Essa cena contraria nossas crenças e valores. Estamos muito tristes com o desfecho que se deu após a passagem da tocha. Garantimos que não veremos mais situações assim nos Jogos Rio 2016”. É o mínimo que a gente espera, tá? Só queria falar isso.
Ju: Menos tempo cuidando de livrarias tradicionais que usam os aros olímpicos e mais tempo olhando o que que os canais oficiais estão fazendo, ok? Obrigada! De nada! Vamos para o primeiro trending topics então. E o Rio decretou calamidade pública, né Cris…
Cris de Luca: Decretou.
Ju: Olha que beleza. Eu vou chamar e depois você entra, já entra de sola, já entra na voadora. A 49 dias dos Jogos Olímpicos, o governo do Estado do Rio de Janeiro decretou estado de calamidade pública nesta sexta-feira, dia 17, no Diário Oficial Estadual. O texto assinado pelo governador em exercício, Francisco Dornelles, apontou a grave crise financeira no Estado do Rio de Janeiro, que impede o cumprimento das obrigações assumidas em decorrência da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Diversos fatores explicam o decreto de calamidade pública, como gastos com Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, má gestão de recursos públicos e queda na arrecadação de royalties de petróleo. Essa medida pode ter efeito cascata. E aí Cris…explica para a gente o que que está acontecendo.
Cris de Luca: Tem algumas coisas que causam estranheza nesse pedido. O primeiro é o fato do pedido em si. Geralmente quando um estado chega a pedir calamidade pública, ele está relacionado à algum tipo de desastre natural, né, e não por uma questão de má gestão ou de falta de arrecadação. A segunda questão que chama a atenção nesse caso é que já em 2015… em fevereiro de 2015… todo mundo sabia que o Rio estava em uma crise. O governador Pezão, que na época estava na ativa, chegou a dizer que ele iria fazer um programa de recuperação financeira do estado justamente porque o estado tinha perdido os royalties do petróleo, vinha com perdas de arrecadação muito forte de ICMS, aliás um dos motivos pelos quais o estado do Rio Grande do Sul também está passando por muitas dificuldades. Então assim, tem uma crise fiscal que está atingindo diretamente os estados. Então somou: os royalties do petróleo com a crise fiscal e com a má gestão efetiva dos gastos públicos. E as áreas que estão mais paralisadas são saúde, educação e segurança que são (…)
Cris: Coisa pouco básica.
Cris de Luca: (…) as três áreas que realmente a gente depende do governo estadual, porque é ele que…na educação não porque o governo municipal entra, na segurança em alguns estados você tem a guarda municipal mas a guarda municipal não cumpre o mesmo papel de segurança pública que o estado cumpre. Então a segurança dos cidadãos do estado inteiro em todas as cidades é um dever do estado, né?
Cris: Só…Assim, e não é qualquer graninha que está se devendo não. Só para ter uma noção do valor (…)
Cris de Luca: Não, é muito. Deixa eu falar.
Cris: (…) da segurança pública são R$ 668 milhões, educação R$ 624 milhões, só a Universidade do Estado do Rio precisa quitaruma dívida de R$ 74 milhões, a Saúde Pública está devendo R$ 346 milhões. Hospitais como o Rocha Faria, os médicos tiveram de fazer a limpeza em ambulatórios e banheiros para que eles pudessem trabalhar.
Cris de Luca: Então.
Cris: Parece mesmo calamidade, né.
Cris de Luca: É. Mas assim, a questão é: o que foi feito de 2015, de fevereiro de 2015, até…a gente está em junho de 2016. Foi um ano e pouquinho…que parece que as coisas realmente não andaram no Rio de Janeiro. Tem uma pesquisa que eu fiz aqui, olha, só pra você ter uma ideia, o estado do Rio de Janeiro estava devendo R$ 250 milhões à quarenta empresas que prestavam serviço ao governo no início de 2015.
Cris de Luca: O Pezão quando falou sobre as questões todas de porque quando a arrecadação tava ruim, diz que no ano que tinha passado, 2014, ele teve uma queda de R$ 2 bilhões na arrecadação de imposto sobre circulação de mercadoria.
Ju: ICMS.
Cris de Luca: Do ICMS né. E uma previsão de menos R$2,2 bilhões de royalties do petróleo. Então, assim, são R$ 4 bilhões a menos entrando num…na conta do governo, que tava começando a acumular dívidas. Não foi feito nada pra trazer esse caixa de volta. Tá bom, você não vai conseguir R$ 4 bilhões é…
Ju: Da noite pro dia…
Cris de Luca: Da noite pro dia. Mas você podia tá começando a fazer alguns programas de incentivo pra ta indústria… tentar de alguma forma recuperar a cidade. E a gente não viu isso acontecer. Já naquela época..é.. a gente tinha a Rio Previdência como a fase mais visível da crise, e esse ano isso se agravou. Então a Rio Previdência, como você falou aí, são R$ 12 milhões em 2016.
Camila: Só..éé..
Cris de Luca: No fundo.
Camila: …a questão de…de não ter feito nada desde que se soube que a situação era difícil, talvez seja o que embasa algumas opiniões de especialistas que dizem que se tratou…de que o decreto se trata de uma jogada né.Então..de..
Ju: É então, disse que eu queria falar, porque eu tava conversando com a Cris, fui falar quais iam ser as pautas de hoje né. E eu não conseguia lembrar da palavra, né, porque é…“decretou calamidade pública”, porque toda vez eu esbarro que eu me lembro de moratória. Ah porque o Rio decretou falência e não é falência, eu tenho que procurar a palavra, eu não consigo encontrar e tal. Eu tô engasgando com isso. E a Cris falou: ‘É, porque tem muito mais a ver com moratório e com falência do que de fato calamidade pública.’ E até assim, pra quem assistiu o House of Cards é muito parecido com o que Frank Underwood fez. Que ele usou um fundo, que era pra catástrofe nacional, e ele alegou que…que o desemprego tava tão grande que era um estado de catástrofe. Então aquela coisa de torcer as palavras, eu fiquei pensando muito nisso, Cris. É que é assim, nos dois casos né? Tanto na ficção, quanto na realidade. A regra ela é boa, só que nenhuma regra vai ser a prova de mau caráter, entendeu? Então se você quiser, você consegue distorcer qualquer regra.
Cris de Luca: É…então vamo
Ju: Entendeu…
Cris de Luca: Vamo partir de um princípio de um seguinte, de fato foi uma forma de fazer com que o governo federal ajudasse
Camila: E desse o dinheiro
Cris de Luca: E doasse dinheiro. Isso ok, não tem que discutir, tá lá posto.
Camila: Quando tem..
Cris de Luca: É. Agora daqui pra frente a gente precisa ver como que esse dinheiro vai ser aplicado, porque ele precisa de fato suprir as necessidades de segurança e de saúde, porque a cidade do Rio de Janeiro vai sediar um grande evento, e o estado do Rio de Janeiro vai ter um bando de turistas circulando pelo estado inteiro.
Camila: Sim.
Ju: Mas Cris…
Cris de Luca: É o que se espera. Então…
Ju: O que..a…o grande medo é que em situação de emergência você tira a necessidade de licitação, então o que tem se falado é que ‘Ai como é caráter de emergência, virou bunda-le-lê e esse dinheiro vai correr solto’.
Cris de Luca: Sim. Ele agora vai poder licitar sem…
Camila: Seem…Contratar sem licitar.
Cris de Luca: Aliás Contratar sem licitar né. Aí entra essa questão de que a gente precisa saber pra onde esse dinheiro vai
Ju: Transparência né.
Cris de Luca: Tem que ser transparente né…
Cris: E eu acho que…
Cris de Luca: Não tem outro jeito.
Cris: …tem até um problema inicial que é de onde que surgiu isso. E é claro que se gastou muito dinheiro na organização das Olimpíadas, só que também lendo um pouco do que as pessoas tavam falando, mesmo se não houvesse o evento, ia tá quebrado do mesmo jeito.
Cris de Luca: É isso que eu tô tentando demonstrar aqui..E..
Camila: Éé…
Cris de Luca: E o dinheiro da Olimpíada não é do governo…[murmúrios] é do município. Não, tem muito privado, mas quem construiu a boa parte da infraestrutura que tá recebendo os jogos, e recebeu dinheiro do COI, não foi o estado, foi o município. O que o estado tinha que colocar era a contrapartida desses pilares; segurança e saúde. Porque não são da alçada…
Ju: Atribuições.
Cris de Luca: E atribuições do município.
Camila: Sim.mas é..é justamente essa questão né. Se não tivesse….não tivesse uma Olimpíada batendo na porta do…o Rio conseguiria convencer e a acordar com o Temer que ele tá em…um decreto de calamidade pública…
Cris de Luca: Exaato…
Camila: …nessa altura do campeonato?
Cris de Luca: Dificilmente não. Na verdade o pedido foi feito, foi feito agora…
Camila: Em cima disso,
Cris de Luca: Em cima disso. Porque, senão você não conseguiria realmente garantir que o estado…Bom, com essa situação que tá, eu tive no Rio de Janeiro, voltei do Rio de Janeiro agora, e a situação realmente é complicada. Eu,é..a…a cidade que devia tá vivendo um momento de euforia, não tá feliz. Sabe. Você vê o Rio de Janeiro e não tá feliz sabe..
Cris: Como que vai tá feliz. Tem 390 mil servidores sem receber!
Cris de Luca: Exatamente.
Cris: É muita gente sem receber.
Cris de Luca: Falta dinheiro circulando na cidade.
Cris: E aí…
Cris de Luca: Você vê isso claramente.
Camila: Só dá raiva um pouco né? De você ouvir fala isso né, pô ok…temos essa Olimpíada, mas pera aí, vocês podiam ter feito…usado isso melhor antes, pensado antes, visto o que vocês podiam fazer e o que não podiam fazer. E não chegar nessa altura do campeonato, que a gente é obrigado a falar ‘Ahh, bom, enfim é o que tem né? Pra fazer…’
Cris de Luca: Não. É..tem algumas coisas, eu pergunto o seguinte, Ninguém foi ouvir o governador anterior. Tinha que ouvir…
Cris: Já vem…
Cris de Luca: …o Sérgio Cabral.
Ju: [risos]
Cris de Luca: Porque vinha desde lá, entendeu?
Ju: Sim.
Cris de Luca: Não dá pra nenhum veículo de imprensa ir lá encostar o Sergio Cabral na parede e dizer assim: ‘Meu amigo, eaí? Como é que tava quando você entregou? Eu me lembro que na época das discussões do royalties do petróleo, ele foi um dos governadores mais ativos. Né…tentando reverter essa situação, porque ele sabia que ele ia ficar com o rombo, né. Esse sumiu. Ninguém ouve falar dele. Ninguém tá falando e ninguém foi pra procurar pra ouvir o que ele tinha a dizer também
Cris: Você sabe qual que é o meu desespero, porque eles colocaram lá três bases pra tá na crise né, tá gastando muito com a Olimpíada, o…a crise do petróleo e má gestão. No fundo, tudo é má gestão. Porque o que que eles fizeram com o negócio do royalties do petróleo? Você vai fechar um orçamento. Quando você fecha um orçamento, você tá pensando no que vai entrar. Os caras não, não passaram pela cabeça deles que ia ter crise. Eles fizeram um orçamento onde o barril do petróleo custava cem dólares, o barril agora tá custando trinta, então eles fizeram um cálculo..
Cris de Luca: Esse é o grande problema…
Cris: …esse que é. Então assim, tudo se resume à má gestão. E aí pra mim onde que tá o problema, eles fizeram uma conta de uma…de uma dívida fixa, com dinheiro variável.
Ju: uhun..
Cris de Luca: Mas vamos lá, vamos voltar lá atrás. Na época da conta da dívida fixa, ninguém podia prever que a crise ia chegar tão forte no país e fora do país, que o preço do barril do petróleo ia cair tanto ee outra questão que é muito importante tem ali também é…a economia se retraindo. Então a gente teve uma retração econômica no país violentamente, que fez com que as arrecadações municipais realmente caíssem também. Por isso que teve aquela fila de …
Ju: Não, todos os estados estão capengas né. O Paraná foi terrível…[não compreensível, acho que é Belo Horizonte] tá feíssimo também…
Cris de Luca: Aqui também. Então assim o efeito cascata do que tá acontecendo que é..é muito…
Ju: Preocupante.
Cris de Luca: Preocupante. Pra usar a palavra mais leve!
[Risos]
Cris de Luca: Sabe, é meio caótica a história né. E…a gente precisa saber como vai recuperar isso.
Camila: É.
Cris de Luca: Agora não tenha dúvida de que na situação que o Rio de Janeiro tava, ele viu, nas Olimpíadas, um…uma..
Ju: Um bote de salva vidas né?
Cris de Luca: Um bote de salva vidas pra ter pelo menos um…
Ju: Uma sobrevivência.
Cris de Luca: Respiro pra saber o que que vai fazer daqui pra frente né.
Camila: Sim.
Cris de Luca: Porque, assim, tem muita gente em greve no Rio de Janeiro, então você tinha, policiais em greve, você tinha a saúde em greve…
Cris: Ah.
Cris de Luca: Você imagina…
Cris: …o pessoal que trabalhar em necrotério tava em greve….não conseguiam a liberação de corpos pra enterrar…
Cris de Luca: Você tem equipamentos…
Ju: Jesus.
Cris de Luca:…você tem equipamentos parados. Você imagina que hoje a polícia técnica não pode fazer um exame ou mesmo os exames mais comuns técnicos de polícia e de…saúde, você não consegue fazer porque você não tem dinheiro pra pagar os equipamentos, você tá devendo os fornecedores! Lá desde trás.
Camila: É.
Cris de Luca: Então assim, que que acontece aí o cara olhou pra Olimpíada, e falou ‘bom, das duas uma, ou eu uso esse artifício aqui pra receber um dinheiro.’ E combinou antes, que a gente sabe, não foi escondido de ninguém que ele foi lá e conversou com o Temer ‘vou fazer’ e antes de fazer, fez, e o Temer abriu a bolsa e entregou. Porque, a gente não pode esquecer o contexto. E o contexto é que há um mês e pouco atrás houve uma pressão muito forte pra tirar a Olimpíada daqui e levar a Olimpíada pra Londres. A OMS pediu pra levar as Olimpíadas pra Londres, por causa da Zica, né.
Cris: Zica, impeachment e agora tamo quebrado.
Camila: [risos]
Cris: E mataram a onça. Tá fácil essa notícia…
Cris de Luca: Não, então é assim…
Ju: Fala a pergunta que você falou ‘ah, todo mundo sabe que ele foi lá conversar com o Temer e tal.’ Cris…
Ju: O Temer concedeu isso… Falou “Não, beleza!”… Combinou o jogo por bondade no coração dele?
Cris de Luca: Não! Evidente que não!
Ju: Por preocupação com os médicos, com os professores?
Cris de Luca: Evidente que não. Eles são do mesmo…
Ju: Com os funcionários públicos?
Cris de Luca: Eles são do mesmo partido, gente. São PMDB.
Cris: Não…
Cris de Luca: A minha única dúvida nessa história é que, assim… Tá todo mundo botando panos quentes porque todo mundo quer a olimpíada aqui, né? Se fosse uma outra senhora que tivesse sentada naquela cadeira e fizesse a mesma coisa…
Camila: Imagina, gente…
Cris de Luca: O que que iria acontecer…
Camila: (Risos)
Cris: Nossa!
Ju: Mas, Cris, qual foi o bem bolado que fizeram aí?
Cris: Então, não é uma situação só do Rio. O Rio só mesmo, como a Camila tá falando, aproveitou a situação (tom sarcástico)…
Ju: Porque é olimpíada, né?
Cris: Olimpíada pra pedir o empréstimo. O governo falou assim “Vai ser um efeito cascata. Todo mundo na sequência vai começar a decretar calamidade.”. E aí eles falaram “Não, beleza.”. O governo virou e propôs uma suspensão do pagamento de seis meses pela dívida. Então, congelou a dívida dos estados por seis meses. É só uma barganhinha, muito simples. Enquanto eu congelo a sua dívida, você vai votando aqui no que eu tô pedindo.
Cris de Luca: A gente tem uma eleição, Cris?
Cris: É isso.
Cris de Luca: Em outubro. Os seis meses estão dentro da eleição de outubro. Das eleições municipais. Aonde todos os partidos fazem a sua base.
Ju: Mas, ‘Ô, Arnaldo’?
Cris de Luca: Tá bom, gente? Pergunta que não quer calar, foi a primeira que eu fiz aqui: a gente pode decretar calamidade pública por não ter dinheiro para pagar as contas?
Camila: Se você tiver uma olimpíadas à dois meses, você pode.
[Risos]
Cris de Luca: Isso! É essa, sabe? É essa a questão. E, inclusive, eu li uma matéria, não me lembro em qual jornal, que dizia que vão ter decretos que vem por aí pra justificar o pedido de calamidade do Rio de Janeiro.
Ju: Só melhora.
Camila: Eu fui agora pro Rio e alguns colegas me lembraram… Lembraram de uma frase do Dorneles, quando nos tempos de vacas gordas, né, em que ele disse, quando ‘tava’ na discussão dos royalties do petróleo… E ele disse assim “Royalties não é igual a bala de festa que pode sair distribuindo”. E aí a gente vê, agora, acho que seis anos depois dessa frase dele, quem tá distribuindo é o governo federal pra pagar justamente aquilo que eles gastaram por conta, né. E é a mesma pessoa, por acaso, que tem que assinar um decreto de calamidade pública.
Cris de Luca: É assim…
Camila: O mundo dá muitas voltas.
[Risos]
Cris de Luca: É tudo muito complicado, porque o Rio já vinha numa situação muito ruim. Antes mesmo… Assim, já sabia que ia ter olimpíada e ele vinha acumulando dívida, acumulando dívida, acumulando dívida…
Cris: Fazendo brasileirice. Vamo indo, vamo indo…
Cris de Luca: Má gestão e má gestão, gente. Em qualquer lugar do mundo. É má gestão.
Cris: É isso.
Cris de Luca: E não dá… E não dá, assim… Se você olha pra trás, bem pra trás, quando o Pezão deu essa declaração aqui de 2015, ele estava assumindo um governo, tinha sido eleito, e ele tinha assumido um governo porque o antigo governador tinha saído pra concorrer a um cargo público e não se elegeu no cargo público. Então, um governador saiu, entrou o que era o vice, concorreu uma eleição, ganhou a eleição e começou a tentar recuperar o estado. Tem uma coisa importante pra falar aqui. É… Quando o Pezão foi chamado pra ser governador, vice-governador do estado do Rio de Janeiro, ele tinha um papel muito importante porque ele era municipalista. O que que é ser municipalista? Ele era um prefeito que tinha uma influência… E a gente sabe hoje lidando com internet, com o digital, o quanto influenciadores são importantes… Ele tinha influência em todo o estado, então ele trouxe com ele uma massa de votos enorme que ajudou que ele se elegesse governador depois. Ele foi secretário de obras.
Cris: Não vem… Não sabe fazer gestão. Fala Sério.
Cris de Luca: Entendeu? E ele fez uma estão maravilhosa quando ele era prefeito.
Cris: Uhum.
Cris de Luca: Então, assim. Tinha uma esperança de que a coisa resolvesse e a coisa não se resolveu. Assim, falta aí puxar o fio dessa meada, sabe? Ir puxando, puxando, puxando, pra ver pra onde esse dinheiro foi.
Cris: A situação é crítica mas a gente é brasileiro e acho que quando tiver bem pertinho da olimpíada a gente vai tentar se divertir um pouco. Afinal, a festa já tá toda paga. A gente vai ter que ir de qualquer jeito, sabe?
Ju: Ah! Vai ser a mesma coisa que foi com a copa, gente.
Cris: É. Eu acho…
Ju: Chiamos, chiamos, chiamos, mas na hora que chegou todo mundo se divertiu porque, afinal de contas, a gente vai pagar essa conta de um jeito ou de outro.
Cris: Não. Exato. E depois vai passar e a gente vai ter que ver como é que paga essa conta.
Cris de Luca: Quer ver outra coisa importantíssima. O COI antecipou alguns pagamentos que ele tinha que só liberar a partir de agosto, não é isso?
Camila: Isso. Antecipou, agora…
Cris de Luca: Ele antecipou agora. E assim, esse dinheiro está entrando em caixa antes da gente ter eleição, da gente ter tudo. Porque ele só ia entrar lá na frente, já na véspera da eleição. Olha que coincidência!
Camila: Não, é… E o comitê organizador também fez… Teve que fazer agora recente uma super manobra de um dinheiro que ele tinha que dar pro esporte brasileiro, pro COB, ele fez uma manobra de colocar, pra dar no próximo ano e dividir em parcelas pra colocar isso como dinheiro que entrou no ano passado pra fechar o balanço positivo. E aí, só assim ele conseguiu fechar é muito louco você ver todos os participantes da olimpíada em situação catastrófica, né?
Cris: É isso ai, aguardamos…
Ju: Não tem fim, né cara?
Cris de Luca: Ainda tem uma outra questão. Quer dizer, a olimpíada era pra ser a vitrine do país. Era pra ser um momento… Porque…
Ju: Sim.
Cris: Nossa, vai ser, só que tá tudo quebrado…
Cris de Luca: É. Assim, tá uma vitrine ruim. E pior, o impeachment poderia ser votado durante as olimpíadas. Graças a Deus, não vai ser. Era só o que faltava (Risos).
Camila: Tem um historiador até que faz parte de um grupo de estudos do COI, que o Lamartine da Costa, e falou que nunca… Enfim, eu confio no que ele está falando ali, estuda isso a muito tempo. Nunca aconteceu nada parecido de chegar num lugar que vai sediar a olimpíada e estar nessa situação. Ele falou “Ó, teve em Turim, estado de guerra em algum lugar, em outro que não aceitava o presidente, mas tudo foi resolvido… bem resolvido antes e nunca se chegou a nada parecido com o que a gente está vendo hoje”. Ele falou “Ó, é pra gente dar risada mesmo, porque… E tratar com ironia tudo isso, porque…”
Cris: Rir de nervoso.
Cris de Luca: Teve até aquela história de um corredor negro que ganhou na Alemanha de Hitler.
Camila: Né?
Cris de Luca: Um corredor negro americano.
Cris: É isso. Aguardemos…
(Música: ‘Muita luz e foco, força e fé!’)
Cris: Massacre em terras indígenas. A Fazenda Yvu é alvo de uma disputa territorial. Ela faz parte da área já estudada pela fundação nacional dos índios, a FUNAI, para compor a terra indígena Dourados Amambaipeguá I, que está em processo de demarcação. Segundo um relatório publicado pelo órgão federal em 13 de maio, os Guarani Kaiowá foram expulsos dessa área há décadas pelo próprio governo para que fossem feitas fazendas. Os fazendeiros possuem a titularidade da terra e dizem que não saem do local sem serem indenizados plenamente. O que o governo federal afirma que é impedido de fazer pela constituição. Os índios, muitas vezes vivendo em situação de precariedade em reservas superlotadas ou acampamentos improvisados, cansaram de esperar pela resolução do impasse e passaram a fazer a chamada retomada dessas terras habitadas pelos seus ancestrais. Entram nas fazendas onde montam acampamentos e acabam sendo expulsos por grupos de fazendeiros, muitas vezes com truculência. Foi o que aconteceu nessa última terça-feira. Os índios afirmam que tiveram motos, bicicletas e roupas queimados por fazendeiros, enterradas em um buraco cavado com ajuda de um trator. Cinco homens foram baleados e um morreu durante esse confronto.
Ju: Antes de falar sobre isso, é bom a gente fazer um disclaimer. A gente nunca conversou sobre a questão indígena aqui no Mamilos. Ela sempre foi bastante pedida, a gente tem uma série de conflitos nos últimos anos, eles estão cada vez mais frequentes. O que a gente acha é que esse tema é muito complexo pra se falar num Trending Topics então a gente sempre deixa pra fazer numa Teta. Porque, assim, você tem que explicar o cenário, da onde veio tudo isso, uma série de contextos, né? É diferente, por exemplo, quando a gente discute aqui a situação do Rio de Janeiro, todo mundo em acesso a, mais ou menos, a maior parte da discussão, a maior parte dos dados. E a questão indígena, a gente não em o mínimo de educação, noção, conhecimento pra participar da discussão. Então, assim, a gente entende que é um tema supercomplexo. Como várias vezes a gente já evitou de falar no assunto, então a gente trouxe para o Trending Topics. Mas isso não é uma Teta, a gente não vai ter visões opostas, a gente não vai explicar didaticamente tudo que aconteceu e a gente não vai abranger toda a discussão indígena. A gente vai falar sobre esse confronto específico.
Cris: A gente tem ali… Uma coisa que me assustou bastante é saber que o Brasil, desde 2011, é o país que mais pessoas morrem em conflito de terra no mundo. Assustador isso, assim, é um país muito grande e a gente tem disputa de terra nessas áreas que são, do que a gente chama de grandes metrópoles, né? Segundo as Nações Unidas, 92 indígenas foram assassinados em 2007. Agora, já em 2014, saltou pra 138.
Ju: Foi…
Cris: Então a gente tá crescendo esse número…
Ju: Os órgãos de defesa dos direitos humanos declararam que esse é o maior desafio de direitos humanos do Brasil na atualidade.
Cris de Luca: Isso é uma questão histórica porque eu conheci algumas pessoas que são descendentes de donos de terras, de fazendeiros, na região ali do Rio de Janeiro. E eram pessoas que eu tinha em alta conta. Algumas já morreram, eram senhores, senhoras, tal. E a vida inteira eles achavam que os índios, falavam isso, verbalizavam… Pessoas instruídas que defendiam posições até, muitas vezes, avançadas pra idade que tinham e pro tempo que tinham, mas quando se referiam ao índio, achavam que era sub-raça. Eles tinham horror de índio. Era assim, porque o índio representava pra eles uma ameaça pra terra que eles tinham. Eu tive várias discussões dizendo assim “vem cá, antes de você ser o dono da terra, o dono da terra era o índio.” (…)
Cris: “Menino nem te conto, essa terra já tinha dono.”
Cris de Luca: (…) Já tinha dono, exatamente. E o que você falou agora, Ju. Tudo que você falou só mostra que de lá pra cá, desde 1500 até hoje, a questão indígena sempre foi relegada a segundo plano. A gente não tem instrumento pra falar, porque a gente deliberadamente não foi educado a falar. A gente não discute isso, nem na escola. A gente fala que os índios viviam no Brasil, que eram os primeiros habitantes do lugar que a gente está e acabou. Tem o dia do índio, e no dia do índio todo mundo faz folclore e não discute a questão indígena.
Ju: A sensação que eu tenho é que é tipo saci, sabe? Índio. Que é uma coisa que assim, que você gasta o tempo que você gasta pra falar de lendas brasileiras e tal, e é muito no esteriótipo sabe? então, imagino que esses teus amigos falavam que eles eram indolentes (…)
Cris de Luca: Exatamente.
Ju: (…) Não é? Então assim, eu nem vou ficar repetindo aqui porque não constrói, só destrói. Mas eu acho que assim, de uma forma geral existe uma opinião bem pré concebida, que é baseada em esteriótipos. Não é baseada em uma observação, não é baseada em conhecimento, não é baseada em “ah então, eu tenho um amigo que é antropólogo e ele viveu um tempo com os Guaranis, e ele me contou essas e essas histórias.” “Ah eu vi um documentário sobre os índios e isso e isso…”. Não. É conhecimento bem raso né?
Cris: É que a gente tem uma percepção de “evoluímos! Por que ainda tem gente que não vive assim?” É uma falta de respeito com a vivência do outro. Então assim, “olha, desculpa pra que ter gente em oca, em tribo? Se hoje a gente tem internet e roupa e celular?” Então na verdade, desde 1500 a gente faz uma força extrema pra extinguir esse povo.
Camila: E nessa época muitos foram extintos, exatamente né? Eu tenho exatamente essa mesma impressão. Um assunto que a gente não domina porque a gente não trata, e é um assunto que… por exemplo quando a gente fala de preconceito com negros, com gays, etc, é uma coisa que faz parte da realidade de todo mundo. Você convive, enfim. Eu fui agora no Rio e por acaso eu cruzei com um grupo de índios que estavam indo no comitê organizador da olimpíada, reclamar justamente de espaço de terras que tinham sido tomadas, enfim. Mas assim, sei lá, talvez tenha sido a única vez que eu cruzei com índios na minha vida. (…)
Cris: (…) Você olhou para aquilo e falou “o que que é isso?” né?
Camila: Foi exatamente essa reação geral ali, todo mundo e falou “gente que tá acontecendo aqui?” Uma garota até perguntou: “nossa mas eu não sabia que ainda tinha.” Tipo, “ainda tinha? Como assim ainda tinha?”
Ju: Animais exóticos né?!
Cris de Luca: Salvo raras exceções por exemplo, eu sou de uma geração que cresceu ouvindo os irmãos Villas-Bôas desbravarem o Brasil e mostrarem como era a cultura indígena. Eu cresci nessa época. Então a minha visão dos índios é uma visão diferente e de muito respeito, porque isso marcou muito a minha infância, a minha adolescência e principalmente a época que eu entrei na faculdade. Agora, os irmãos Villas-Bôas foram morrendo e a gente não viu esse debate sobre a causa indígena continuar. Esse debate simplesmente desapareceu. E no lugar do debate ficou uma patrulha, quando a gente não tem o descaso, a gente tem a patrulha. Então eu vou dar um exemplo da patrulha. Eu tive a oportunidade, quando eu trabalhava no Comitê Para a Democratização da Informática, de participar de um projeto que se chamava “Rede Povos da Floresta”. O que era a Rede Povos da Floresta? Era levar comunicação e internet para aldeias indígenas do estado do Pará. Eram duas aldeias indígenas do estado do Pará, uma da etnia Ashaninka e a outra da etnia Yawanawa. Uma aldeia em Belo Horizonte, que era dos Krenak, do Ailton Krenak, era um índio maravilhoso… é ainda né, ta vivo. É um dos caras que mais defende a causa indígena hoje. E no Rio de Janeiro, em Paraty, uma aldeia Guarani. Era pra interligar essas quatro aldeias. E qual era a ideia? Era fazer com que os Ashaninkas, que mais cuidam da cultura deles, contaminassem por exemplo, os Guaranis para que eles recuperassem a cultura dos índios Guaranis. Por quê? Os Guaranis estão totalmente aculturados para aquela região onde eles vivem. E os Ashaninkas vieram para o Brasil e fizeram questão de manter toda a cultura deles, e a cultura deles é Inca, Peruana. Então aqui, aquelas roupas peruanas maravilhosas, que lá são feitas com lhama, eles começaram a cultivar algodão para poder fazer as túnicas de algodão que são mais leves e tal. O que essas aldeias faziam? Elas pegaram a internet, por exemplo, a aldeia Yawanawa tinha muito problema com malária. Quando alguém ficava com malária, pegava malária na aldeia, levava-se três dias pra descer o rio, pra chamar o médico, depois mais três dias pra subir e pro médico chegar lá. Eram seis dias. Quando chegava lá muitas vezes o índio já tinha morrido. Então o que eles queriam? Encurtar esse tempo. Essa era uma das questões, porque dava pra chamar o médico pela internet e o médico só subir. Então em três dias o médico estava na aldeia. Era pra isso que eles queriam. E eu percebi que eles tinham uma organização interna muito bacana, assim, cada pessoa na aldeia cumpre um determinado papel, uma determinada função. E as pessoas que estavam vindo buscar a comunicação, eles diziam que eles eram “guerreiros treinados para aprender a cultura branca e tirar da cultura branca o melhor que ela tem pra ajudar a cultura indígena”. Então não era em momento nenhum, um aculturamento nosso dos índios lá levando a internet. Eles sabiam porque eles queriam a internet. E eles ensinaram muita coisa pra gente. Quando eu publiquei isso no Globo, na época eu estava trabalhando lá, nossa!! Choveu e-mail e choveu carta (porque naquela época as pessoas ainda escreviam carta, leitores mais antigos que a gente chamava de “leitor amigo” no Globo. Aquele que “eu tenho a assinatura do Globo há 50 anos” sabe?). E esse cara, desesperado dizia assim: “Não! Vocês estão levando a internet pra lá, vocês vão aculturar os índios, eles vão começar a jogar, eles vão começar a ver pornografia” (…)
Ju: (…) Candy Crush
[risos]
Cris de Luca: (…) “eles vão começar…”. Não meu amigo. Eles não vão! Porque só quem tem acesso à internet, são essas pessoas. E quando as crianças vão ter acesso à internet, é um acesso controlado e monitorado, que a gente não faz com as nossas crianças.
Cris: O que a gente vê, não é a toa que a gente não tem contato, por que 98% das reservas ficam na Amazônia. E o que causa todo esse problema e toda essa confusão? As terras ficam em locais bastante isolados e essas terras são muito ricas. E como eles estão em locais muito isolados, eles estão muito à mercê de serem atacados por indústrias que querem explorar a riqueza daquelas terras. As principais indústrias são: a mineração, o garimpo, a agropecuária e a madeireira. (…)
Cris de Luca: (…) Madeireira principalmente.
Cris: (…) Então o que acontece? Eles estão vivendo lá numa determinada reserva e a terra é invadida. Como esse cara faz pra contar que a terra foi invadida? Ele tem que ir no Ministério Público denunciar. É extremamente difícil porque não tem nenhum tipo de fiscalização e a denúncia é muito difícil. Essa é uma situação de exploração irregular. Inclusive o garimpo, levou muita doença para esses lugares. E a segunda condição é de terras que foram retiradas e eles estão exigindo essa nova posse.
Ju: É, no caso dessa foi isso. Esse é o problema. Porque assim, eu acho que a discussão começa a ficar mais complicada quando você tem o que tá acontecendo agora. Porque assim, se você estava numa terra, se o índio estava numa terra, e eu cheguei la e te tirei, é mais fácil de todo mundo entender. Que olha “gente você roubou minha bola, me dá minha bola e tá tudo certo.” O que acontece é que é bem pior, porque as pessoas que estão reclamando da terra, elas compraram a terra. Entendeu? Elas compraram a terra. Então assim, tem dois tipos de reserva… e isso é interessante da gente ver porque é isso que tá dando problema agora. Todos esses conflitos, e conflitos piores que vão ser difíceis da gente resolver, mais difíceis que os anteriores. São por quê? As primeiras demarcações foram lá na Amazônia que tem menos gente pra abrigar. E agora as demarcações estão acontecendo mais para as regiões Sudeste e Sul. Então (…)
Cris de Luca: (…) Tem outra questão aí também, na Amazônia a gente não fica sabendo de muita coisa, que foi o que eu aprendi com esses índios. (…)
Ju: (…) Claaaro.
Cris de Luca: (…) Eles queriam a internet pra falar assim: “o madeireiro tá vindo aqui e tá tirando.” A invasão às vezes vem da fronteira, porque a gente tá muito limítrofe ali na região da Amazônia com vários países. Então o cara vem de outros países, rouba madeira aqui e leva pro país dele. Então o índio também serve como uma espécia de proteção das nossas fronteiras. Só que, aí o conflito armado lá acontece sem a gente saber, sem o Governo Federal saber, sem ninguém saber. São mortes que não estão nem contabilizadas nisso que a Cris falou.
Camila: E não é só o Ministério Público que está longe, né? Tudo que tá longe.
Ju: Tudo tá longe, né?
Cris de Luca: A gente não sabe muito da Amazônia, sabe.
Ju: Não.
Cris de Luca: A gente conhece muito pouco.
Ju: Então, como eu estava falando, tem dois tipos de reserva. Na verdade, dois tipos de terra indígena reconhecidos hoje. Reserva é o que foi feito pelo serviço de proteção ao índio, que é o anterior à FUNAI. Qual o problema de reserva, desse conceito? Quando você ouvir reserva, você já tem que entender que foi feito, há muito tempo atrás, como um ‘cala a boca’, entendeu? Então, assim, olha, eu precisava dividir as terras pra vender para os fazendeiros e tinha uns índios ali atrapalhando, mas também não posso tirar os índios e botar em lugar nenhum…
Cris de Luca: Você fica aqui…
Ju: Então eu defino que vou colocar esse índio nesse lugar, defino um cantinho pra eles, e o resto… Eu tiro eles de onde eles estavam, coloco num cantinho ali que eu chamo de reserva, e o resto eu divido pros fazendeiros. Qual é a questão? Essa reserva não considera se era ali que eles enterravam os mortos, não considera se era ali que eles pescavam, se era ali que eles caçavam, se eram peregrinações que eles faziam… Não consideram nada disso. É por um critério utilitário e não por um critério de cultura, de modo de vida e tal. Essa reserva… Então a gente está falando de um caso que foi exatamente isso. Esses índios foram tirados de onde eles viviam e foram colocados nessa reserva. Então não é que eles tinham uma terra, estavam lá vivendo felizes e os homens maus vieram, invadiram e tiraram eles de lá. Não. Você está com um conflito entre duas pessoas que tem direitos, entendeu? Então cada lado se acha coberto de razão. O que acontece hoje, que não é uma reserva que a FUNAI faz, é chamar de território indígena. Ela obedece à constituição, ou seja, você não pode pegar qualquer espaço, você tem que dar um espaço que atenda as necessidades dos índios. Passa por três processos: identificação, declaração e homologação. Só esse processo de identificação, que é um processo que você pega uma equipe multidisciplinar, um antropólogo, um geólogo, um historiador, enfim, uma equipe completa pra estudar e ver se essa demanda é real. Então o índio não pode chegar, por exemplo, que era uma coisa que eu não sabia… Porque o Brasil, é todo, antes da gente chegar, habitado por índios.
Cris de Luca: Era indígena.
Ju: Então eu pensava assim, né, porque eu… Gente, eu não entendo nada disso. Eu pensava assim: gente, mas o índio pode chegar aqui na casa da Cris e falar assim ‘escuta, isso aqui… Minha avó vivia nessa terra, então sai você’. Ele não pode fazer isso, não é assim que funciona, entendeu? Então vai uma comissão pra ver se realmente faz sentido, se aquela terra era realmente, o que eles chamam é de “áreas habitadas em caráter permanente utilizada pra atividade produtiva imprescindível à preservação dos recursos ambientais necessários ao bem estar e pra reprodução física e cultural”, de costumes e tradições. Então, assim, eles vão ver se realmente era uma terra que eles sempre usaram, nunca saíram, nunca deixaram de estar lá e que eles precisam ter aquilo para continuar existindo. A existência deles depende daquela área. [murmúrio de concordância] Se for isso, sai um relatório dizendo ‘olha, essa terra é uma terra indígena, um território indígena’. Depois disso tem a declaração e a homologação. O que aconteceu é que essa terra que eles entraram em disputa, porque eles estavam em uma reserva minúscula, onde eles não cabiam, onde eles não conseguiam ter subsistência, onde as pessoas ficavam doentes, em estado de miséria, favelizadas, sem condições de viver a cultura delas e de sobreviver e acabavam numa taxa de suicídio bizarra… Aí eles falaram ‘gente, nossa terra não é aqui. A gente precisa daquela terra ali.’. Ok. Demorou 10 anos pra esse relatório ficar pronto. 10 anos. E aí agora, faltavam mais essas duas etapas para eles, de fato, reaverem a terra deles. Como eles não queriam esperar, que demorasse mais 10 anos em cada etapa, e porque numa batalha judicial eles poderiam atrasar o quanto…
Cris: Fica pra sempre, não sai isso…
Ju: As pessoas conseguem usar o sistema muito melhor do que eles. A grosso modo falando, é isso… Obviamente.
Cris de Luca: É. Por isso que esses… Por isso que esses índios lá, as tribos, tinham essas figuras que vinham pra cá pra estudar aqui pra entender como é que você pensa.
Ju: É, porque, assim, se…
Cris de Luca: E pra ter os instrumentos pra se defender.
Ju: Se o jogo é esse, eu tenho que saber as regras do jogo pra poder jogar, senão não tem como, né? OK, beleza. É esse o contexto. Então o contexto é: eles entraram pediram e esperaram 10 anos, receberam… Quando a gente viu a movimentação dos índios em Brasília, era justamente pra cobrar que esse relatório fosse divulgado, saísse, né? Porque ele já estava pronto! Estava engavetado pronto.
Cris: Eu fico tentando entender qual que é… “Como” um relatório demora 10 anos, sabe? Por mais que…
Cris de Luca: Então…
Ju: É por causa disso…
Cris: Como que demora 10 anos. É muito tempo.
Ju: São muitos interesses, né?
Cris de Luca: Eu estou vendo aqui, tem 544 terras indígenas na Brasil. A maior parte delas na Amazônia legal. Dessa total, 426 estão regularizadas, 38 estão delimitadas, 66 estão declaradas e 14 estão homologadas.
Ju: É isso.
Cris de Luca: 544, 14 homologadas.
Ju: É, entendeu?
Cris: Exato.
Ju: [não entendi!]
Cris de Luca: Havendo ainda 129 locais em estudo.
Ju: Aí o que… Só pra terminar… Tudo bem, a gente já entendeu um lado, né? Porque, assim, isso é pensando num sistema que é… O sistema derrota eles, mas isso é quando alguém usa o sistema, porque geralmente é na bala, na força, na truculência. Mas, OK. Pensando no sistema, o sistema já bate neles. Do outro lado, você não tem pessoas que expulsaram esses índios, você tem pessoas que compraram essa terra. E por que que a lei fala que ele… Qual é a grande treta? Diferente de MST, reforma agrária, diferente de todas as outras vezes em que você vai desapropriar uma terra, especificamente na questão indígena, a constituição diz que você pode pagar pelas benfeitorias, mas não pela terra. Enquanto a gente está falando de Amazônia em que as pessoas fizeram grilagem, tem uma série de outras coisas em que elas não pagaram pela terra, ou tem várias maracutaias aí, você consegue negociar, você consegue usar a força da lei. Enfim, quando você vai falar com essa galera que pagou pela terra, que comprou do estado, aí é muito mais complicado. Então esse conflito você não vai conseguir resolver nessa base, entendeu? A gente chegou num impasse em que, assim, o índio tem o direito indiscutível, isso está na constituição, e essas pessoas tem algum direito, o direito de, pelos menos, se você me vendeu, você tem que me entregar e se você vai me tomar o que você me vendeu você tem que me ressarcir. Então pra resolver isso tem uma PEC que está tramitando pra tentar mudar essa… É uma emenda na constituição pra dizer que vai poder indenizar os fazendeiros.
Cris de Luca: É ressarcir…
Ju: Pra tentar resolver isso, entendeu? Pra… Então, enfim, é um conflito sangrento, mas não é um conflito de iguais. Eu acho que esse é o maior problema. Então, assim, você tem, não só, o sistema jogando contra… Então, assim, você demora 10 anos pra fazer um relatório, como você tem os fazendeiros chegando pra expulsar os indígenas falando assim ‘ou vocês saem daqui, eu vou resolver do meu jeito’. E a polícia está junto com eles. Tá vendo isso acontecer. E aí você tem o caso de essas pessoas baleadas, o caso de uma pessoa morta, e esses baleados todos que estavam no hospital ficaram 48 horas e ninguém veio perguntar o que tinha acontecido, não tem investigação nenhuma, sabe? Não veio ninguém. O único grupo que foi até lá ver o que estava acontecendo foi uma comissão da Câmara Legislativa. Então, assim…
Camila: Aí, também, como o governo pensa, né, qual é a linha do governo faz diferença, né, porque se você tem um governo mais autoritário ou que olha menos pras minorias… Esse conflito ser resolvido sozinho e eu não precisar me dedicar tanto a isso, é melhor, né? Que se resolva ali. Agora se você tem um governo que olha mais, mais humano, vamos dizer, pelo menos tem um olhar maior.
Ju: Mas, não tivemos, tá? Dilma nunca se meteu nisso.
Camila: Pois é. De um e outro.
Cris: Na verdade, a gente tem um problema seríssimo. Eu tive a oportunidade de entrar um pouco mais nessa área quando fiz um trabalho para o Incra, gigantesco. Na verdade, tanto… A questão do índio é muito próxima da questão do quilombola, que é outra comunidade massacrada e tem semelhanças com condições de produtores rurais acampados. A gente precisa de uma reforma agrária. A reforma agrária é pra dar as terras a quem se deve a terra, pagar a quem precisa sair dali e entrar nessa negociação e evitar mortes, evitar condições de vida precárias, favelização, destruição de cultura, empobrecimento das áreas agrícolas. Então, na verdade, o indígena é um pedaço dentro de um território gigantesco, mas de qualquer forma, e os quilombolas vem aí na sequência, a gente perde completamente a nossa história, completamente a nossa cultura, porque, sabe o que a gente quer mais ‘vamos ficar quietinhos até que o mais forte realmente dizime o mais fraco’ e aí o problema se dá por resolvido. É mais ou menos por aí. Então assim…
Cris de Luca: Lei do velho oeste…
Ju: É.
Cris: Exato, porque essa condição de ‘ai, olha que dificuldade’… A constituição não permite que eu pague para sair da terra e ele falou que não vai sair. Então, assim, o governo serve para isso, para intermediar isso, para fiscalizar e para fazer com que se entre em acordos onde não morram pessoas.
Ju: É, então, mas pensa isso, Cris. Por exemplo, quando você tem uma obra de metrô, é um ótimo exemplo. Eu não posso, pro teu bem estar, pra maximizar o bem estar da Cris, evitar uma obra de metrô que vai beneficiar uma população inteira, certo? Então não estou nem aí se você quer vender sua casa ou não, você vai vender a sua casa, é compulsório vender a sua casa. Beleza? Beleza! Sinto muito o bem estar de todos estar acima do seu bem estar. Então o governo não vai pagar o preço que você quiser. Ele vai determinar um preço que é o preço médio, nunca vai ser o preço melhor de mercado…
Cris: Nunca é… Nunca é…
Ju: Então vamos lá… Não é o melhor preço de mercado, é um preço OK, mas eu não posso te tomar. O governo não tem direito de te tomar. Então, é disso que a gente está falando. Assim, não quero saber se por direito é dele, se é uma questão que é nacional, se é um questão de que está na constituição e tal. Vai ser entregue, mas eu não posso te tomar. Entendeu? Então tem que resolver…
Cris: Então o…
Cris de Luca: Então como é que são feitas… As desapropriações são o que?
Ju: De terra indígena?
Cris de Luca: Não, de terra indígena não sei se tem, mas de fato… De fato tem desapropriação…
Ju: De MST, de…
Cris: Não, é porque… A desapropriação é feita mediante laudo de improdutividade da terra. Uma terra não produtiva, se eu comprovar, ela é desapropriada. Não é o caso. O que eu estou querendo dizer é que o problema existe e ignorá-lo não vai fazer com que ele suma. Não sei se a solução é tomar, não sei se a solução é enfiar o índio em outro lugar. Falou? Paciência. O negócio é que a gente ignora o conflito, a gente não se mexe, a gente fica ali esperando aquela panela de pressão explodir.
Cris de Luca: Se resolver sozinho…
Cris: O certo e o errado não é o que tem que ser dito aqui na mesa. O que tem que ser dito aqui na mesa é que não se pode ignorar o problema.
Cris: Você tem que resolver o problema, ele não vai se resolver sozinho. Se chegar a uma conclusão que: “Índio sinto muito, olha só a gente estudou, estudou, estudou e chegou numa conclusão que Paciência, perdeu playboy”.
Vamo ter que lidar com essa situação entendeu? O problema é que a gente não chega nessa definição. Fica lá esgarçando a situação até morrer gente, até dizimar cultura…
Cris de Luca: Uma boa forma de tentar resolver isso era fazer com que os órgãos do governo se falassem por que…
Cris: Ai você tá querendo muito (risos)
Cris de Luca: Eu não sei como é essa relação do INCRA com a FUNAI, por exemplo
Cris: A FUNAI é falida né? O INCRA é falido. A FUNAI é menor ainda, mais falida ainda.
Cris de Luca: Como é que fica?
Cris: E é por isso que o único índio que eu lembro, da minha vida inteira é o Joruna. Então assim, a gente tem pouquíssima representatividade indígena até ali no congresso. A bancada deles não existe entendeu? Mas a bancada da mineração e da agropecuária e da madereireira é putz, muito forte. então assim, a gente tá falando de um caso de nem ter acesso à terra, mas quando eu te dou o acesso a essa terra, eu não protejo essa terra de indústrias que podem entrar ali e explorar. Inclusive tem uma PL, hoje mineração na terra indígena é proibido. Existe uma PL pra flexibilizar isso, pra permitir.
Cris de Luca: É, isso eu tava olhando
Cris: Então assim, o problema não vai se resolver sozinho, pelo sim ou pelo não ele precisa ser resolvido. É isso
Ju: Como eu realmente sou muito, muito ignorante desse assunto eu conversei um pouco com a Tatiana Klein do Instituto Sócio-ambiental. O que eu mais não entendia, eu tava tentando, mas deixa eu entender o que está acontecendo aqui e tal. E eu falava: “Não, mas eles erraram. Por que você tá me explicando que tem 3 etapas, e na primeira, só por que tinha passado a primeira eles invadiram.” Ela: “Não, eles retomaram”. “Não, mas não faz sentido por que é uma disputa, se é uma disputa a gente combinou as regras do jogo e você tem que respeitar. Se a gente tiver em disputa pela minha casa enquanto não tiver a ordem de despejo eu não preciso sair.” E Ela: “Não, mas a situação não é essa, não sei o que… A volta foi grande até eu conseguir entender que o que ela tava me explicando era simplesmente, e era difícil pra ela admitir pois ela é apaixonada pela causa, é que o seguinte: Tá, eles tão errados sim, eles só poderiam entrar depois que o processo todo tivesse completo, mas é mais ou menos o exemplo que a gente sempre dá das feministas quebrando vidraça sabe?
Cris: Que é tão desleal
Ju: Que é assim: Eu tentei conversar, eu esperei pacientemente, eu fiz tudo dentro da regra e assim, ninguém nunca vai me ouvir se eu não fizer barulho. E eu ja fiz barulho orando, já fiz barulho mudando o avatar para Guarani Kaiowá, eu já fiz, entendeu? O jeito pacífico, o jeito dentro da regra do jogo eu já fiz. Ou eu vou quebrar o jogo ou nunca vai acontecer
entendeu? Então assim, eu tenho todas as minhas restrições à questão da violência né? De como a gente tem que resolver conflito e tal, mas consigo entender que são coisas diferentes entendeu?
Cris de Luca: O triste dessa história toda é que não vai ser a primeira história que a gente vai contar e nem a última.
Ju: Não é que assim…
Cris de Luca: Passa ano e sai ano e a gente continua….
Ju: A gente tá muito longe e por isso assim, eu tenho certeza que a gente falou barbaridades aqui, tenho certeza que a gente foi muito parcial, tenho certeza que esse foi um debate muito pobre, mas ele serve pra começar a colocar o assunto na mesa, pra que a gente se interesse, pra lançar o assunto sabe? Então assim, teremos ainda uma teta pra explicar, explorar isso em profundidade e eu acho que o importante é que se comece a falar né Cris? Por qu não tem visibilidade nenhuma. Quem não tem visibilidade vai desaparecer sem que ninguém se importe.
Cris de Luca: É, e assim, eu to lembrando aqui do índio Gaudino sabe? Toda vez que você procura “índio morto” bate no Gaudino. O Gaudino foi em 97, então vai fazer 20 anos e a gente continua desrespeitando os indígenas.
[Sobe Trilha]
[Desce Trilha]
Cris: Vamo passar então para o nosso tópico número 3? Tite é o novo técnico da seleção. Treinador mais vitorioso da história do Corinthians, nome quase unânime entre os torcedores, ele vai assumir a seleção até o final da Copa do Mundo da Rússia 2018. O comandante tem 55 anos e tá deixando o Corinthians para a tristeza dos Corinthianos, depois de tantos títulos e numa entrevista coletiva ele conversou um pouco sobre esse novo desafio que ele tá assumindo, um pouco do porquê agora, foi uma entrevista até bem polêmica e é sobre isso que a gente vai falar um pouquinho. conta pra gente Camila, o que significa o Tite na seleção nesse momento?
Camila: Bom, eu acho que significa muita coisa, e muita coisa polêmica também. (risos). Ele na verdade, em 2014, quando o Brasil perdeu a Copa, o vexame inesquecível, e todo dia a gente tem um novo 7×1, era ele o nome que se cogitava o mais cotado para assumir a seleção com a demissão do Felipão, e o telefone dele nunca tocou, nunca procuraram ele naquele momento e veio o Dunga.
Cris: Mas antes também, não entre ele e o Felipão, não houve nenhum… já foi o Felipão direto?
Camila: Já foi o Felipão direto
Cris: Por que eu lembro que na época que o Felipão foi, ele já tava bem demais, ele já vinha ganhando um monte de título. Então você tá querendo dizer que o convite nunca veio? Que só veio agora?
Camila: Só veio agora.
Cris de Luca: Posso me intrometer? É que eu acho que naquela época ele mesmo tinha dito que ele não aceitaria por que ele queria fazer aquele ano sabádico que ele fez pela Europa, pesquisando todos os clubes europeus, vendo como se jogava lá e tal. Já tinha uma negativa prévia dele antes do convite vir.
Camila: O Felipão veio a assumir no final de 2012, comecinho de 2013, logo com depois da saída do Mano. Ai enfim, depois dele veio o Dunga, e durante o tempo do Dunga, diz o próprio Tite, que ele foi chamado duas vezes para conversar sobre seleção e ele não quis falar sobre isso. Aí assim, qual era o contexto daquele momento? Era o que a gente falou aqui: O escândalo da FIFA que atingiu a CBF em cheio também, e ele disse “Não, não vou conversar sobre isso agora. Não me chamaram quando eu tava disposto agora eu não vou conversar.” E ai ele chega agora numa missão difícil, que parece até uma loucura falar isso né? Mas na missão de tentar classificar a seleção brasileira pra Copa.
Cris: Só me faltava essa né Camila?
Camila: É, e justamente ele disse isso na coletiva de imprensa que é uma coisa que pode acontecer, e tem muita gente que torce para que o Brasil fique fora.
Cris de Luca: Eu. Eu torço. Eu torço. Tô torcendo muito.
Cris: De verdade?
Cris de Luca: De verdade. Porque eu amo o futebol brasileiro e se o futebol brasileiro não tomar um tranco maior do que o 7×1 nada vai ser feito. Nada. Esse país só vai se conscientizar que o nosso futebol está um horror na hora que a gente não for, pela primeira vez na história, pra uma Copa do Mundo.
Cris: Ahh não gente, deixa pra próxima geração. Eu não quero passar por mais essa não.
Camila: Pois é e tinha gente com enfim, com essa torcida, tinha gente com a torcida que o Tite dissesse não pra CBF que isso seria já um baque importante, mais um né?
Cris: Era meio que esperado inclusive, porque ele assinou o abaixo-assinado lá pedindo a saída do presidente da CBF tem pouquíssimo tempo.
Camila: Tem pouquíssimo tempo.
Cris: Então assim, você vai lá e pede a demissão e depois o cara vira seu chefe? Como é que funciona isso ai?
Camila: Pois é, e isso é justamente uma das polêmicas da coletiva, ele não explicou. (risos)
Cris de Luca: Eu também tô nesse bonde aí. Eu achava que ele ia negar, que não podia ir.
Camila: Ele foi perguntado 3 vezes sobre isso durante a coletiva e ele muito democrático, disse a todos que estavam ali presentes, inclusive pras pessoas que assistintindo pela televisão: “Não fiquem constrangidos em me fazer perguntas.” E nisso ele foi firme, mas ele não respondeu às perguntas. (risos)
Ju: Não, mas ninguém é obrigado a responder…
De Luca:(rindo) Isso não quer dizer que eu vá responder. Você pode perguntar, mas isso não quer dizer que eu vá responder.
Camila: Tanto que essa é a brincadeira. Bom pelo menos a gente tem uma diferença entre o Dunga e o Tite, ele pelo menos deia perguntar né? Já é um Começo.(risos)
Ju: Sim, mas sabe o que eu fico pensando? Ok já que isso a gente não vai saber, como é que ele colocou em paz ali a consciência dele, com o fato dele trabalhar na CBF dado tudo o que ele sabe. O que eu fico pensando é no quanto que ele consegue de fato, sendo uma pecinha só, fazer a engrenagem funcionar diferente.
Então assim, algumas coisas que interferem no trabalho do técnico da seleção, todos os esquemas dos cartolas lá amarrados da CBF que escalam jogadores por que tem interesse na bolada que esse cara vai valer depois, que vai ter passe e não sei o que. Isso ele consegue ter autonomia para escalar quem ele quiser, por exemplo?
Camila: Então, os familiares do Tite falaram que assim que ele chegou na sede da CBF pra conversar com o Marco Polo Deonero, presidente, a primeira coisa que o presidente falou foi Olha, o futebol é seu, eu não tenho nada a ver com isso. Ai a gente sabe que não, não é bem assim, tem alguns contratos que são claros com relação a isso, por exemplo
Camila: Que dizem ‘Ah! A seleção tem que estar com os seus melhores’. Não pode ser uma tentativa, por exemplo, de só escalar os jogadores que estão no Brasil pra ver como funcionaria ou só os que estão jogando fora. Enfim, a gente sabe que não é exatamente assim, tão independente, autônomo. Mas, eu acho também, isso é opinião, que também não é… O que acontece, o que a gente pode desconfiar, o que tá se investigando, a maior parte das coisas acontece longe do campo, ou um pouco distante, vai, não precisa ser tão longe. Mas é entre contratos de transmissão de…
Cris de Luca: Imagem, de TV…
Camila: De Imagem… De TV… Os campeonatos, enfim… Então, eu acho que…
Cris de Luca: Jogos da própria seleção, né? A gente já teve época de Copa do Mundo que a gente tinha que fazer o treino aberto e tinha que fazer um jogo amistoso pra cumprir um contrato da CBF.
Ju: É, então, mas isso é outra coisa, porque assim… O primeiro passo é se ele consegue escalar que ele quiser. Você acha que sim, que ele consegue?
Camila: Eu acho que ele consegue.
Ju: Dentro de alguns limites, mas ele consegue.
Camila: Eu acho que hoje ele consegue, assim, digo, em relação a empresário pedir, eu acho que hoje ele consegue escalar quem ele…
Cris de Luca: Quem ele brindou…
Ju: Aí o segundo estágio é… Já fugiu dos cartolas, agora vamos falar do segundo estágio. Ele consegue controlar o domínio de patrocinador que transforma todo o preparo da seleção em um espetáculo e interfere sim na performance? Porque uma coisa que se falou um monte na última copa foi como tudo era pouco foco, né? Porque você até tira o princípio de concentração, porque você não vê nem a sua esposa nem o seu filho porque, teoricamente, é olho no jogo. Você está completamente concentrado, né, se preparando porque em 90 minutos você vai decidir tudo, então é concentração total e é o oposto do que a gente vê com a ‘farra do boi’ de patrocinador, né?
Camila: É, essa parte já é mais difícil realmente. Mas eu acho que ainda tem uma terceira parte que é justamente você conseguir separar completamente tudo que tá acontecendo, que tem um presidente que não viaja, por exemplo, do campo e da bola e do dia-a-dia ali. Eu acho, sinceramente assim, eu acho que o tempo que ele teve no Corinthians, não é comparando Andrez Sanches ex-presidente do Corinthians (murmúrios) com o Marco Polo Del Nero, mas é comparando situações políticas que (Ju: Sim), ali, eu não acho que o Tite é totalmente blindado, mas ele mostrou que um pouco ele conseguiu superar isso. Então, o Corinthians, assim como o Flamengo, como todos os outros grandes, são ambientes políticos muito difíceis também e não é achar que os problemas estão só na CBF, que era o que a gente estava comentando aqui quando estávamos fora da gravação, eles estão dentro dos clubes e a gente só não conseguiu mostrar todos, entendeu? Mas eles estão dentro deles.
Cris de Luca: É, tem muito, tem muito…
Cris: O que eu percebo assim é que acho que a gente vai pra um mundo muito ilusório quando vai pro futebol porque o futebol, a CBF, é uma empresa como qualquer outra e na empresa em que estou eu também não consigo fazer tudo que eu quero. Eu preciso lidar com a política, com os cargos, com o que pode entrar, eu tenho que cumprir o que o cliente está pedindo, então quer dizer, esse universo de ‘é super difícil fazer o meu trabalho’ é difícil pra qualquer pessoa. Eu acho que muitas vezes quando vai pro futebol a gente começa com esse negócio muito ilusório que tipo ‘ah, o técnico tem que fazer o que é melhor para o time’. Não, é uma empresa, ele tem que fazer o negócio… É tipo assim, é difícil mesmo, tem que colocar os jogadores, prestar atenção no patrocínio, prestar atenção nos contratos e fazer o time jogar. E é por isso que eles ganham dinheiro demais pra fazer isso. Eu acho que não tem essa coisa romantizada (Cris de Luca: Mas acho que…) mesmo não com 100% de autonomia, é claro que as coisas tem um limite. Mas também nunca vai ser assim: o cara entra, escala quem ele quiser, faz do jeito que ele quiser, porque é pro bem do esporte. É uma empresa, tem que gerar lucro.
Cris de Luca: Acho que esse é o ponto forte dele. Eu acho que ele tem dois pontos fortes. O primeiro ponto forte é que ele navega bem por esse universo aí. Ele consegue fazer bem essa costura, pelo menos, pelo que a gente tem visto da atuação dele no Brasil como um todo, mesmo lá na segunda divisão quando ele ainda era técnico da segunda divisão. O segundo ponto que eu acho que é muito importante dele é que ele é um bom motivador. Então, ele pegou times arrasados, pegou jogadores que ninguém dava nada e conseguiu fazer com que esses… Essas peças trabalhassem bem juntas e, de fato, trabalhassem como um time: ordenados, com esquema de jogo, o que a gente não tem visto no brasileiro esse ano e nos anos anteriores também. Poucos times tem esquemas de jogos tão bem definidos.
Camila: Tão bem definidos.
Cris de Luca: Então, assim, acho que isso é uma coisa bacana. Onde pega aí que eu não gostaria dele na seleção brasileira? Eu acho que ele é retranqueiro, eu acho que ele tem um estilo que está muito casado para o futebol brasileiro, o futebol que a gente está jogando hoje aqui, que pra outros estilos de futebol do mundo, a gente vai jogar com seleções do mundo inteiro, não vão funcionar.
Cris: Eu nem sei se…
Cris de Luca: Não adianta botar uma retranca contra a Alemanha, sabe?
Cris: Eu não sei se necessariamente…
Cris de Luca: A gente pode não perder de sete mas vai perder.
Camila: É.
Cris: Eu não sei se necessariamente ele vai fazer isso. Se ele não fosse um cara aberto, ele não teria ido no mundo inteiro ver outros exemplos. Eu acho que isso já mostra…
Cris de Luca: Foi e voltou. Voltou pro Corinthians, implantou um monte de coisas que ele viu lá fora e continua retranqueiro.
[Risos]
Camila: Eu acho que, uma das coisas… Ele fica… Uma das coisas que mais deixa ele bravo é quando chamam ele de retranqueiro.
[Risos]
Camila: É muito engraçado.
Cris de Luca: Mas ele é!
Camila: E a brincadeira era que ele foi fazer esse ano sabático pra aprender alguma coisa no ataque (Risos), porque o resto já estava tudo bem e tal. E aí uma das perguntas, das várias perguntas que ele ouviu quando ele voltou, era ‘mas e aí, você aprendeu a não ser retranqueiro?’ e era uma coisa que ele ficava bravo. Acho que ele melhorou um pouco nesse sentido, mas é o estilo que ele tem.
Cris de Luca: Dele.
Camila: Mas a gente, no 7 x 1, eu me lembro…
Cris: A gente que falar nisso…
[Risos]
Cris de Luca: Infelizmente é a ferida aberta…
Cris: Forever.
Camila: Eu confesso que… Eu estava trabalhando, estava lá no estádio no dia inclusive…
Cris: A culpa é sua! Sua pé frio!
[Risos]
Camila: Naquele momento, se a gente fosse… Muita gente falava assim ‘Não, a gente não pode se apequenar na frente da Alemanha. Se a gente ficar retrancado, a gente vai mostrar que a gente é pequeno. Vamos pra cima!’ E aí… (Risos) deu 7 a 1.
[Risos]
Camila: Então, assim…
Cris: Ai que tristeza!
Cris de Luca: Mas acho que ali… O problema não foi ir pra cima não, o problema foi que a gente estava completamente sem esquema tático nenhum.
Cris: O problema foi levantar aquele dia. Não foi ir pra cima, nem pro lado…
[Risos]
Cris de Luca: Gente, a gente não tinha esquema tático. Aquele dia estava entregue mesmo…
Cris: Você sabe aquele dia em que você devia ter ficado na cama. Foi a seleção naquele dia.
Cris de Luca: Nada funcionou ali.
Cris: Nada!
Camila: Eu acho que o que mais se pensa mesmo é a questão de, tipo, você ter uma terra arrasada ali e aí claro que o Del Nero olhou e falou assim ‘Não. Tudo bem. Agora eu tenho que colocar alguém que vá me preservar aqui, porque, enfim’… No dia em que ele anunciou o Dunga, todo mundo falou assim ‘Mas não e possível. Não é possível’… (Ju concorda) E aí ele coloca uma pessoa que ali vai blindar ele, né?
Ju: Sim.
Camila: Vai blindar a política, tudo o que está acontecendo. E aí será que… Não julgo nem um pouco nem o Tite nem qualquer outro que aceitasse, porque é a oportunidade que você tem de treinar a seleção brasileira.
Cris: Eu acho que os técnicos trabalham pra isso, né?
Cris de Luca: Mas você… Você… Pelo que você está falando, você acredita que o Del Nero jamais chamaria um técnico estrangeiro porque esse técnico estrangeiro não blindaria ele?
Camila: Não, eu acho que poderia blindar… Depende o técnico estrangeiro que ele chamasse. Se ele chamasse o Gareca, que foi técnico do Palmeiras, acho que dificilmente blindaria. Agora se ele chamasse o Guardiola, que um dia falou assim…
[Confusão, todas opinam]
Cris de Luca: ‘Mas eu quero! Eu quero treinar a seleção brasileira!’
Camila: Eu acho que blindaria, pô! Não é possível que se o Guardiola blindar o Del Nero…
Cris: Milha filha, o Guardiola blinda eu, blinda você, blinda todo mundo…
[Risos]
Cris: Blinda a seleção inteira, blinda os ternos Armani, blinda a galera toda…
Camila: Não, mais eu acho que o Tite, nem se… Não vamos comparar, tá? Não é uma…
Cris de Luca: Pois é, o futebol brasileiro precisa de um cara desse.
Camila: Pois é, mas assim, eu acho que a gente tem tudo que…
Cris: Ah não, eu acho que a gente tem orgulho demais.
Camila: Pois é, mas eu acho que dentro do que é possível, eu acho que isso já blinda e muito o Del Nero. Agora, os mais apaixonados acham que não devia ter aceitado. Seria histórico.
Ju: Seria histórico.
Camila: Imagina 3 horas depois de uma reunião na sede da CBF e foi de jatinho, nã nã nã… Aí sai dali e dá um entrevista coletiva assim ‘Infelizmente eu não posso aceitar…’
Cris de Luca: Olha, eu não sei…
Camila: ‘…é contra os meus princípios como eu já havia dito antes’.
Cris: Nó!
Cris de Luca: Era o que eu esperaria, sabe?
Ju: É, assim, de verdade, ele construiu uma história pra que você esperasse dele. Não é de qualquer pessoa.
Cris de Luca: Isso!
Ju: O Tite construiu uma história em que era possível…
Cris de Luca: Que ele falasse isso… Exatamente…
Ju: Você sabendo que isso era muito difícil, ele tivesse feito.
Cris de Luca: Eu vou te dizer que se ele tivesse feito isso ele cresceria muito no meu conceito. Até como treinador.
[Risos]
Ju: Mas deixa eu te perguntar uma coisa? Justamente pegando no seu conceito, que eu concordo, de que ele é um motivador, uma das questões que se levanta em toda copa, a gente volta na mesma questão… Qualquer vez que o Brasil perde, não precisa nem ser em copa. De que você tem cada vez mais os melhores jogadores estão no exterior, estão longe do Brasil, a carreira deles não está aqui, não está nos nossos campeonatos, não está na opinião que os brasileiros tem dele, não depende de nenhum brasileiro e que isso diminui cada vez mais o comprometimento que eles tem com a seleção. Então se antes ser escalado pra seleção era ‘Nossa, a maior glória da vida’, hoje já é meio que o job que o cara tem que fazer. Então, sempre se tem essa discussão de que assim ‘ah, tá bom’. O cara não vai dizer que não. Se escalam ele pra seleção, ele não vai dizer ‘Ah não, passa outra hora’, porque no final do dia copa é maior arena do futebol, mas por outro lado ele não vai entregar 100%, porque ele não vai se arriscar, por exemplo, se contundir e não poder jogar
Camila: Você está falando da Champions League.
Ju: Exatamente, que é onde pagam o salário dele, entendeu? Então assim, isso é uma coisa que toda vez a gente e acaba discutindo isso de novo, que o jogador está cada vez mais ligado no clube e menos ligado na seleção.
Cris de Luca: Mas aí é que o…
Ju: O Tite, como motivador, ele tem potencial de resgatar um pouco desse orgulho de jogar, do querer jogar… Assim, além do que é publicitário, do que é marketês, mas de fato ter um comprometimento.
Cris: Honrar a camisa!
Ju: Honrar a camisa?
Camila: Eu acho que, pela forma como ele chega, com mais respeito que a pessoa que ele antecedeu, eu acho que naturalmente faz você lidar com uma forma diferente com isso, assim. Tanto o jogador quanto o torcedor. Isso tudo que você falou é tanto pra um jogador quanto pra um torcedor. O cara está ali muito mais ligado num campeonato brasileiro…
Camila: Naturalmente faz você lidar de uma forma diferente com isso. Assim, tanto o jogador quanto o torcedor, que é isso tudo que você falou, é tanto pro jogador quanto pro torcedor, o cara ele tá ali, muito mais ligado num campeonato brasileiro, que a gente pode discutir se é legal ou se não é, do que num jogo de eliminatórias, enfim, de um jogo da seleção. O cara não se empolga mais tanto. Ai quando você tem um cara que me falem quem gostava do Dunga, eu não conheço. Sinceramente assim…
Cris: Acho que nem a família.
Cris de Luca: Nem como jogador, nem como treinador.
Camila: Pois é…
Cris: Nem como figura.
Camila: Nem como figura. Então eu acho que isso era muito desmotivante mais do que se o seu ex presidente da CBF tá preso ou se o presidente viaja. Entendeu? agora quando você tem uma pessoa ali e aí vai ser o dia a dia que vai mostrar isso pra quem ele convocar, enfim os jogadores corintianos, os últimos com quem treinou gostavam porque achavam que isso acrescentava algo pra eles. Então isso vai ser, e assim vale dizer que não é só um trabalho do técnico Tite, ele tem uma equipe que assim eu valorizo muito mais até do que ele como pessoa.
Cris de Luca: Que ele como pessoa.
Camila: O tite é um cara mega reservado, difícil de falar, mas tem um cara ali chamado Cleber Xavier que é o cara que fala com todo mundo, que brinca, que você vai conversar, pra pedir entrevista com jogador (que eu tive que fazer muito pra fazer o livro), o cara é apaixonado pelo Cleber, sabe? É um negócio impressionante e isso ele tá levando junto.
Cris: Então, Mas ele ta levando também o filho dele, né?
Camila: Pois é, o que vocês acham?
Cris: Então isso que é tenso, o cara vai lá e assina um abaixo-assinado pro Deonero sair e no Estatuto da CBF não podem trabalhar parentes, é proibido. A primeira coisa que o Tite faz é: Não, o meu filho vem. E ai o Deonero foi falou : Tudo bem, pode trazer.
Cris de Luca: Mas isso é a mesma coisa, que eu esperava que ele dissesse não e quando ele levou o filho eu ainda fiquei mais surpresa ainda. Eu falei: Que isso…
Cris: Ai nossa, ai não dá pra te defender, né meu? Você vem aqui fala não à corrupção mas se corrompe o estatuto do lugar que você veio pra trabalhar agora. Aí eu acho que dá uma queimada no filme.
Camila: Não, e assim, longe de querer defender a CBF, mas só assim, esse novo estatuto não, ele não foi aprovado ainda, então assim eles certamente vão arranjar um jeito pra ser assim: Olha aquilo que a gente estava pensando se aplica a aqui…
Cris de Luca: Ao próximo
Camila: Ou ao próximo ou não a comissão técnica. A comissão técnica ter filhos trabalhando, o pai e o filho, por exemplo, no Palmeiras a gente tem o Cuca e o Cuquinha. Enfim…
Cris: Se isso faz sentido ou não, eu não sei, o negócio é que estava escrito lá que não pode e daqui a pouco vão falar: Ah, mas não pode menina e ele é menino.
Sabe, tipo, dar aquelas desculpas.
Camila: Na verdade mais do que um código de ética eu acho que é uma questão dele, que eu ele devia ter falado que ele não ia levar, independentemente do que diz o código de ética. Era o que tinha que ter acontecido no Corinthians também. Ai amigos, você levou, você vai ouvir o quanto tiver que ouvir o tempo inteiro, entendeu?
Cris de Luca: É uma questão de posicionamento pessoal.
Ju: Vale a pena, né?
Camila: Será que não vale ele, enfim, ser ser próprio assessor ali na sua casa, enfim, não sei, eu acho que é uma coisa…
Cris: O menino tava bem no Corinthians, deixasse ele lá…
Cris de Luca: Vou fazer carreira longe de você e até ser seu adversário.
Camila: Ele entrou no Corinthians pelo Tite, ele não tinha…
Cris: Tudo bem, agora deixa ele lá, pra ver se ele vai aprumar, levar a carreira dele mesmo, mas você levar ele…
Cris de Luca: Agora eu queria te fazer uma pergunta. O fato do nosso presidente da CBF não poder viajar, isso não esvazia um pouco todo aquele protagonismo que a CBF teve lá fora e isso não se reflete no fato de que hoje os próprios clubes não deixam o jogador vir. Por que eu acho que a gente pode mudar os técnicos que a gente quiser na seleção, até o Guardiola pode vir, o problema da seleção é outro, o problema da seleção é que a gente tem uma seleção que tava igual a seleção da Argentina alguns anos atrás ela só se reúne na véspera do torneio, um mês antes, às vezes tá bom dois meses antes isso não é suficiente pra essa galera jogar junto mesmo que siga o mesmo time durante muito tempo, sabe? A seleção argentina só começou a jogar bem na hora que alguém chegou lá e montou um time pronto para jogar com Messi que é uma peça que entra, mas que ta ali coeso e que jogou junto muito tempo, tem uma base. A gente não tem, eu acho que o grande problema é esse e dificulta muito fato da CBF ter perdido força internacional, porque antigamente os times de gostavam de ceder jogador pra CBF porque era uma vitrine, hoje deixou de ser.
Camila: É… exatamente isso. E a situação, certamente, a pior situação que tem hoje é a situação política da presidência e de a gente ter visto, em sei lá 6 meses, três meses e três presidentes diferentes. Que você olha e fala: Coronel o que? Coronel Nunes. A tá, entendi, quem é ele, sabe? É uma situação muito complicada. Assim, só que ai a gente, e aí eu acho que esse foi o pensamento do Tite. O Tite olhou, assim: Nossa o mundo acabou a FIFA, o FBI, acabou, chega. Vou assinar aqui, pede renúncia. Não, não vou, se me chamar eu não vou. Aí ele começou a ver: mas pô, o cara não vai embora não, FBI você não falou que você ia, que o trabalho não ia parar ali e ai meu? O cara ta aqui ainda, você lembra, ah tá bom, enfim… Todos os caras saíram, tem um que sobrou que é o Deonero. E ai a Fifa já puniu, baniu Fulano, já tirou Ciclano, já fez não sei quem pagar multa e o cara nada, nada, nada…E ai o Tite deve ter pensado, vai ver sei lá, o cara não fez nada de errado, não vai sair nunca dai, é melhor eu pegar essa oportunidade. E ai, assim, a situação que a gente vê é essa, a gente tá esperando a qualquer momento, a gente acorda, abre o e-mail: “Deixa eu ver se tem algum comunicado da Fifa.”, e esse comunicado nunca vem, mas o cara não pode viajar, segundo ele porque os advogados acharam que é melhor, que é mais seguro…
Cris: Aham, aham…
Camila: Então assim, é uma situação…
Cris de Luca: Ai você soma os 7×1, o escândalo da Fifa, um presidente que não pode viajar e a camisa do Brasil perdeu o peso que tinha. E ai vem um arbitro e valida um gol de mão contra o Brasil, é um absurdo sabe, não dá pra pensar. A época que eu vivi do futebol brasileiro era inimaginável que um arbitro validasse, na dúvida era pró Brasil, não era contra o Brasil.
Cris: Boa sorte, Tite! Vamos então para o Farol aceso.
[Sobe a música]
Ju: Vamos então para o farol aceso. Cris de Luca o que que você indicar?
Cris de Luca: bom primeiro eu vou pegar o gancho da cidade do Rio de Janeiro, carioca como sou, vou indicar o Museu do amanhã não por causa da arquitetura, que todo mundo já falou, teve muita polêmica em torno dele, mas ele tem tido laboratórios muito interessantes, vale a pena tentar chegar lá e participar de uma dessas oficinas. Por exemplo, já teve oficina de internet das coisas, usando aquele computador que é uma plaquinha, o Raspberry Pi. E a ideia é que projetos que sejam criados ali, por pessoas comuns que dominem internet ou não dominem internet, possam vir alegado pra cidade do Rio de Janeiro. Então são propostas de oficinas com um motivo específico, uma solução pra você resolver um problema específico da cidade. É essa a ideia, então pra internet das coisas no Rio de Janeiro. Teve uma outra também, sensacional, de bio design as pessoas aprendiam a fazer tecidos biológicos, usando leveduras e coisas do genêro, é muito bacana, então vale a pena, assim que chegar no Museu do Amanhã, procurar uma dessas oficina ou se escrever através da internet e participar, por que é muito legal e é na prática botar a mão na massa no amanhã, né? É essa ideia. E depois eu quero fazer, na verdade, aqui uma provocação eu tenho uma outra indicação já que o outro tema foi Seleção Brasileira, eu quero indicar o Simioni como técnico da Seleção.
Cris: Polêmica…
Cris de Luca: Nada melhor que um argentino para treinar o Brasil hoje…
Cris: Ai que horror…
Ju: O que você acha, Camila? Faça a sua indicação depois dessa polêmica toda…
Camisa: Bom eu vou indicar uma prainha, com pouca internet, pra você não precisar ficar assistindo nem Tite, nem Simioni. É Pissimguaba, é uma vilinha de pescadores na verdade, foge daquela coisa cheia, e é muito bonitinha, mesmo, vale muito a pena e é bem perto de Parati também, se você quiser um dia pegar um pouco mais de conforto você dar um pulinho lá. E, tem a Ilha das Couves que fica a 20 minutinhos de barco, Pissimguaba só fica cheio por isso, porque tem muito carro que vem pra pegar o barquinho e ir até essa ilha. Mas vale muito a pena passar um fim de semana lá, mesmo no inverno. E vou indicar também meu livro: Tite, pra você poder ler e chegar as conclusões se ele pode ou não melhorar alguma coisa ou não na seleção Brasileira.
Cris: Boa…
Ju: Cris o que que você manda?
Cris: Eu tenho duas indicações. A primeira foi o Gérson Brito no Twitter que nos lembrou, perguntou se a gente já tinha assistido e eu achei legal para falar aqui, o filme “As vantagens de ser invisível” eu acho esse filme uma fofurisse sem fim. Na verdade eu acho que tem poucos filmes de adolescentes, por que depois que você se torna mãe, a maioria dos filmes de adolescentes que você vê, eu pelo menos, me vejo muito mais no papel da mãe, do que no papel dos adolescentes. Eu já to nessa fase, tipo “A culpa é das estrelas” eu só conseguia pensar na mãe da menina e nesse caso das “Vantagens de ser invisível” eu me vi tanto naquele papel, sabe? Naquele papel de se encontrar, de ter problema, de ser adolescentes, de querer experimentar, de ser revoltadinho assim, vento na cara
Cris: (…) E eu acho que os atores tão todos tão bem. Me dá vontade de ter sido amiga deles, sabe? Eu gostei muito do filme. É um filme… É um filme confortável, um filme gostoso. Eu gostei muito mesmo e indico pra vocês. Obrigada pela lembrança, Gerson. Continuando, eu queria indicar a série “River”. É uma série britânica que tem no Netflix. É pequenininha, ela tem 5 capítulos. Não dá pra eu falar muito senão eu vou estragar. É curtinha, então você vai lá assistir, tá? Eu tô te pedindo. Eu nunca te pedi nada. Por que? Porque eu achei muito interessante a visão que tem. É uma série policial, eu gosto bastante de série policial britânica. Então assim, já é uma boa deixa pra você ir, né? Eu já falei o suficiente. Eu vou um pouquinho mais longe. Porque que eu gostei tanto? O ator é fantástico. Eu nunca vi um cara que transmite com o olhar a sombra, a dor, a dificuldade, e quando ele sorri, o negócio ilumina. Ele é outra pessoa quando ele sorri. Eu fiquei muito impressionada com isso. Então ele vai do sombrio, de uma pessoa que está extremamente deprimida para uma pessoa que sorri. E a atriz que contracena com ele é muito boa também. Eu já tinha assistido ela em outros seriados, ela não é muito conhecida não. Ela é fantástica. Então é um investigador, tem alguns casos que ele investiga, ela é a parceira dele. Vocês vão conhecer muito sobre a relação de parceria e eu achei isso muito legal. Muito legal. E eu indico a série pra caramba. Você vê em uma sentada. Depois me conta o que vocês acharam. Ju, conta ai. O que que tem?
Ju: Eu indico mais uma série água com açúcar, “feel good movie”, o filme “Becoming Jane”, que é a história de Jane Austen, de como ela se transformou numa escritora. Ele tá no Netflix. Como eu lia os livros dela, enfim, eu achei muito interessante de ver que obviamente ela se inspirou em muitas situações da vida dela pra fazer os personagens e é muito interessante pensar quais eram as opções pra mulher naquele tempo. Assim, muito disruptivo, muito revolucionário, você querer ser uma escritora mulher naquela época. Se hoje a gente tem superdebates sobre o espaço que as escritoras tem, então imagina o que era naquela época. É um filme superleve, é supergostoso. Primeiro, filme de época, já gostei, já curti, já dei ‘like’, já compartilhei. Segundo, Jane Austen, já curti, já compartilhei. Se você não foi convencido até agora, também vale ver porque a Maggie Smith, que é do Downtown Abbey, a avó lá que é a condessa viúva, participa e eu acho ela fantástica. Tudo que ela faz eu acho incrível, ela é uma excelente atriz, e ‘by the way’ também tem Anne Hathaway, que tá… Sabe quando… Porque eu acho, assim… Às vezes eu não gosto dela, mas quando ela faz o papel de menina adorável, ela faz o papel dela mesma, eu acho ela incrível.
Cris: (Risos)
Ju: Então, ela tá assim tão fofa, tão doce, tão… Tá… Tá uma gracinha. Funcionou super pra esse filme. Então indico super o filme e na vibe de indicações musicais, o Spotfy criou o gênero Proud em apoio às vítimas da Pulse em protesto contra o preconceito e tal. Assim, tem várias playlists ali, é muito legal, mas eu curti mesmo a playlist do Hugo Gloss, que é pra bater muito o cabelo, bater muito cabelo. A Pride Classics, que são… Todos você sabe dançar. Aquelas músicas de casamento, fim de casamento… É assim, muito divertida, pra dançar muito. E por fim, tem uma que é só de latinos, que, ‘Gente do céu!’, eu descobri porque que… Assim, eu sabia que tinha alguma coisa faltando na minha vida, sabe, Cris de Luca?
Cris de Luca: Você está numa rumba?
Ju: Não, não. Eu estava assim, sabe… Eu tava feliz, eu conquistei muitas coisas, mas alguma coisa tinha ficado pra trás, não tava completa.
Cris de Luca: Salsa, rumba…
Ju: Quando eu ouvi Thalia, eu soube que era isso, sabe?
[Risos]
Ju: Que era isso que estava me faltando. Então assim, alegre o seu dia. Se dê esse presente.
Cris: E a gente tem uma surpresa final. Um ouvinte muito querido, que veio de muito longe, que influencia esse Mamilos. Ele é o leitor amigo. Ele é o ouvinte amigo. (Risos) Então, que manda e-mail, que fala, que conversa. Messias, é um prazer te receber aqui. Muito bom te conhecer pessoalmente, a gente tá muito feliz de receber você na nossa casinha. Você descobriu que a gente é de verdade.
Messias: Não é um programa de computador.
Cris: Não é. E, por favor, deixe aqui a sua indicação pro Farol Aceso, aproveita.
Messias: Mamileiros e mamileiras, meu nome é Messias Martins, sou de Olinda, Pernambuco, tenho algumas indicações. Um projeto particular que é o “Litera Negra”, que é… Vai ser um canal de vlog de literatura sobre autores negros e autoras negras. A ideia é colocar um pouco mais de cor nessa nossa literatura que ainda é tão branca.
Cris: E divulgar, né? Tem pouco espaço pra divulgação. É bom pra poder conhecer um pouco.
Messias: Sim.
Cris: Ó, me fale de Chimamanda, hein? Minha preferida. Diva.
Messias: Sim. Adoro. Se ela me desse bola, eu casava muito.
Cris: Até eu! Até eu casava.
Messias: Eu tinha até dúvida sobre qual delas eu gosto mais. Qual dos livros dela. Ela é maravilhosa.
Cris: Ela é maravilhosa. Ela é maravilhosa. E a segunda indicação?
Messias: A segunda é o som do Olafia. Eu comecei a ouvir essa semana. Quando cheguei aqui, os meus amigos me apresentaram. Eu estou curtindo muito. Se vocês me permitirem uma terceira outra. O filme que é o…
Cris: Por favor. Aproveita, você veio de Olinda, eu acho que você pode falar. Eu acho…
Messias: Pois é…
Cris: Apenas acho…
Messias: Agradeço. É o filme ‘The White People’, que é ‘Queridas Pessoas Brancas’. É um filme muito bom. A gente tem poucos filmes, assim, que falam sobre o povo negro, feito pelo povo negro, com a direção negra também. O roteirista, todo mundo assim… É um filme fantástico e aí eu deixo como uma dica também.
Cris: Ótimo, meu querido. Muito obrigada pela visita.
Messias: Agradecido.
Cris: Depois a gente que vai lá te visitar.
Messias: Por favor.
Cris: Obrigada pelas indicações também.
Messias: Nossa água lá do mar é quente. Então, vocês vão gostar.
Cris: A gente tá precisando de um calorzinho aqui, né? A gente tá precisando. Está muito frio esse São Paulo.
Messias: Obrigado a todas.
Cris: É isso então. Temos mais um Mamilos. Mais uma vez obrigada pela participação de vocês, suas queridas. E a gente se fala em breve. Beijo.
Ju:
beijo, pessoal!
(Música: ‘Meu pé cravado no solo / Abram as cortinas do show / Isso é parte do que sou’)
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