SxSW 2016: os desafios e a necessidade do design antecipar as necessidades do usuário
O SxSW proporciona não só a identificação de novas tendências de mercado, mas também o conflito de ideias, algumas antagônicas, algumas complementares. E é justamente dessa dinâmica que costumam surgir os melhores insights, tanto para profissionais, como para empresas, e nos mais inusitados lugares. Foi exatamente isso que presenciei em uma roda de discussão realizada nos fundos de um popular bar de Austin, onde, de um lado, estava Dries Buytaert, CTO da Acquia, uma das empresas de software que mais cresce nos EUA, e, do outro, Charles Fulford, diretor criativo de uma agência digital do Brooklyn. Na pauta, o papel do chamado design antecipatório para usuários e profissionais.
A proposta da mesa redonda era interessante por si só, já que designers de produtos digitais vêm desafiando cada vez mais as empresas de tecnologia e, em específico, os profissionais de dados — e vice-versa. Trata-se de um conflito que vem gerando debates em todo o mercado digital e cujas ramificações dizem respeito ao futuro papel que agências e companhias de tecnologia podem vir a desempenhar nele.
“Vamos falar da transformação da arquitetura da web e em como temos que repensar websites. Dados não podem ser usados mais para medir o que foi feito, mas sim para imaginar o que será feito”, afirmou Fulford.
Seu argumento era: as pessoas estão ficando sobrecarregadas com tantas informações que têm acesso e com tantas decisões que precisam tomar a cada instante. A solução para isso repousa então no design antecipatório, uma forma de antever o que o usuário quer, sem que ele precise pensar, decidir ou pedir, e oferecer a ele. Para isso, Fulford afirmou, seria preciso diminuir o que se busca (pull) e aumentar o que se entrega para o usuário (push).
O caminho para essa solução, no entanto, esbarra em alguns obstáculos importantes a serem vencidos, principalmente para que ela alcance o formato sonhado pelos designers. O primeiro deles seria a ampla disponibilidade da internet banda larga, sem a qual muitas possibilidades em termos de serviços e recursos digitais não são possíveis. O segundo, o do chamado machine learning, que envolve a capacidade da coleta e análise de dados — algo que, de acordo com Buytaert, é imperativo para uma melhor experiência do usuário.
“Precisamos pensar socialmente, psicologicamente e antropologicamente no que pode acontecer com o usuário, e se antever à isso”, disse Fullford.
“Entregar conteúdo de forma personalizada, antecipada e contextualizada trará cada vez mais variáveis, mas esse é o nosso dia a dia, e estamos muito confortáveis com isso”, complementou Buytaert.
O fato é que o mundo em que vivemos ainda não se organizou para resolver problemas globais
Papo vem, papo vai, a conversa chegou naquele que é talvez o maior dilema do design antecipatório: a privacidade dos usuários e o uso dos seus dados em troca de melhores serviços, e como eles podem ter algum controle e voz sobre isso. A questão não é trivial, tanto que, na esteira da polêmica envolvendo a Apple e o FBI, foi abordada em diversos painéis do SxSW, inclusive na fala do presidente Barack Obama. Quem no futuro terá poder sobre todos esses dados? O Facebook, o Google, os governos? Ainda não sabemos.
O fato é que o mundo em que vivemos ainda não se organizou para resolver problemas globais. O Facebook, por exemplo, apesar de estar nos EUA, é um produto global e qualquer problema nele, ou com ele, afeta pessoas em diversas partes do mundo — vide o despreparo da companhia para lidar com conflitos com a Justiça e as autoridades brasileiras.
Outra questão trazida pela discussão: o foco é entregar contéudos e experiências de forma personalizada, antecipada e contextualizada, certo? Mas o que seria essa contextualização?
Esse foi mais um ponto colocado como a próxima grande evolução dos produtos, e que pelo que entendi, é bem desafiadora. É não só entregar o melhor conteúdo, para a pessoa certa, no momento certo, mas também em como entregá-la dentro de um contexto. Por exemplo, pense numa situação em que você quer lembrar a uma pessoa que ela tem um médico marcado. Onde está essa pessoa agora e qual é a melhor forma de me comunicar com ela de acordo com esse contexto? E-mail, mensagem de texto, áudio ou vídeo? Se a pessoa está dirigindo, ela não pode ler, logo a mensagem de texto não seria a melhor experiência, certo?
Orquestrar todas essas questões, é papo para muito além de uma conversa super agradável num lugar delicioso e cercado de pessoas que respiram inovação, como ocorre no SxSW. De qualquer forma, sem dúvida o evento está sendo eficiente ao me manter oxigenada e aberta a novos questionamentos, novas mudanças e experiências.
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#BrasilAtSXSW – A cobertura B9 do SxSW 2016 tem apoio da Apex-Brasil
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