- Cultura 11.ago.2015
“O Planeta dos Macacos”: Nova tradução traz material extra que explora as origens do clássico
Bela edição analisa impacto da obra através de entrevistas com Pierre Boulle
Você já está familiarizado com o título, certo? “O Planeta dos Macacos” é um clássico do cinema que teve origem no livro de Pierre Boulle, lançado em 1963. Em 2015, o livro ganhou uma edição brasileira com uma nova tradução e materiais extras, como entrevistas com o autor e análises sobre a obra original e suas variantes.
O livro começa com um casal de namorados que está fazendo uma viagem interplanetária quando encontram uma garrafa com um manuscrito. Ao ler esse manuscrito, a verdadeira história de “O Planeta dos Macacos” se inicia, agora sob o ponto de vista de Ulysse Mérou, um jornalista francês que viajava com um amigo cientista quando sua nave espacial encontra um planeta que eles chamam de Soror – que significa irmã em latim.
O planeta, eles logo percebem, é muito similar à Terra. Eles podem respirar, beber a água dos lagos, comer as frutas das árvores e tudo o mais. Mas o planeta tem dono, e eles são macacos.
Em Soror, os humanos são considerados uma espécie inferior, incapaz de qualquer tipo de raciocínio lógico. Por conta disso, Ulysse é capturado (como um animal), fica em cativeiro (como um animal) e começa a ser estudado pelos símios (como um animal). Os macacos acreditam que a capacidade de fala de Ulysse é apenas um mecanismo de repetição, similar ao de um papagaio. Mas como as mentes inteligentes se encontram, ele logo faz uma aliada, uma pesquisadora chimpanzé chamada Zira, que tenta evitar que ele tenha seu cérebro removido já que ele apresenta essas capacidades tão inesperadas.
Há capítulos que são absolutamente sensacionais, geralmente envolvendo Ulysse e Zira conversando no mesmo nível de eloquência e inteligência. Tudo é muito, muito, muito igual à forma que os humanos regem a Terra, e é engraçado ver isso porque você sente aí uma alfinetada do autor. A história é uma alegoria sobre a humanidade, extremamente inteligente, com um certo pessimismo em relação ao futuro por conta da estupidez humana.
A adaptação para o cinema
O livro foi escrito por um francês e é interessante ver a primeira adaptação para o cinema (Planet of the Apes, 1968), porque ela praticamente sugou tudo o que a América tinha de lifestyle e amor à pátria e colocou no protagonista. No filme de 1968, Ulysse Mérou vira George Tyler, um astronauta loiro, machão e que já chega em Soror fumando e fincando bandeiras.
Enquanto o Ulysse do livro raciocina e sente o ambiente ao seu redor antes de agir, o George Tyler é mais explosivo, acha que os macacos são idiotas por pensarem da forma como pensam, e fica impaciente por ser testado a toda hora por todo mundo. A própria Zira, que é uma grande analista, tem sutileza, tato e até feminilidade, se mostra uma chimpanzé com muitas limitações no quesito inteligência durante os 112 minutos do filme.
Ainda que essas pequenas diferenças se apresentem, o filme funciona muito bem como adaptação. Tem um certo humor, mantém a ironia do Pierre e a essência de muitos personagens, além da moral pessimista que o livro aborda.
O mecanismo de repetição
Enquanto lia, eu lembrava bastante do livro O Humano Mais Humano, onde o autor fala sobre a vitória de uma máquina em uma partida de xadrez com um homem russo. Ele não aceita a derrota porque a máquina não pensou na partida, apenas repetiu as jogadas baseada em uma série de estudos prévios de aberturas de jogo. Se o oponente começava mexendo um peão, o computador já tinha em sua base de dados os próximos movimentos que deveria executar para obter a vitória.
E o Pierre trabalha muito com essa ideia, de que tudo é repetição, portanto não há raciocínio. Isso fica claro durante a narrativa, e se torna ainda mais forte quando a última página é virada. O autor chega mesmo a discutir a presença da alma, uma centelha divina que cada ser humano ou macaco tem, o brilho nos olhos que refletem a inteligência.
O livro é bem interessante e gostoso de ler, e o conteúdo extra mata aquela vontade imediata de conversar com alguém sobre o final do livro e as cutucadas que o autor dá na sociedade. Uma leitura altamente recomendada para quem gosta de debater sobre a vida, o universo e tudo o mais.
FICHA TÉCNICA
Título: O PLANETA DOS MACACOS
Autor: Pierre Boulle
Tradução: André Telles
Editora: Editora Aleph
Páginas: 216
Raquel Moritz é publicitária, autora do Pipoca Musical e adora a imagem dos Três Macacos
nos ensinando a não ouvir o mal, não falar o mal e não ver o mal.
Comentários
Sua voz importa aqui no B9! Convidamos você a compartilhar suas opiniões e experiências na seção de comentários abaixo. Antes de mergulhar na conversa, por favor, dê uma olhada nas nossas Regras de Conduta para garantir que nosso espaço continue sendo acolhedor e respeitoso para todos.