Alex procura um Adão para sua mãe
E nos faz refletir sobre o papel da internet nas relações humanas de outras gerações
Antes de ler o textão que vem a seguir, assista ao vídeo. Esse é um post sobre gerações, sobre amor, sobre a forma como as pessoas se relacionam e sobre um vídeo caseiro que ultrapassa os 4 milhões de views em 9 dias.
SOBRE GERAÇÕES:
Em termos de internet, talvez seja possível dividir a nossa sociedade em gerações. Não de acordo com a idade, mas de acordo com a relação que as pessoas têm com a rede mundial de computadores. Existem as que consomem conteúdo, entendendo a internet como uma grande fonte de informação e entretenimento, enxergando com certa distância os “seres” que alimentam “aquilo”. De onde vem cada vídeo de youtube, texto nos sites, fotos, memes, músicas, textões e nudes? Pouco importa; a fonte não é importante a ponto de influenciar na forma como aquele conteúdo será recebido e talvez compartilhado. Esse grupo provavelmente nunca se questionou sobre a origem do que consomem.
Em termos de internet, talvez seja possível dividir a nossa sociedade em gerações. Não de acordo com a idade, mas de acordo com a relação que as pessoas têm com a rede mundial de computadores.
Por outro lado, existe a geração que produz conteúdo. É uma infinidade de temas, mídias, qualidades e objetivos. Gente que quer ganhar fama, gente que quer ganhar dinheiro, gente que quer matar o tempo, gente que quer encontrar a realização que não encontra no trabalho. O que existe em comum entre todas elas é a vontade de impactar outras pessoas, de provocar algum tipo de reação. Em termos bem cabeçudos: colocar em prática o conceito de “comunicação”, ou seja, transmitir uma mensagem de uma parte a outra.
Alex Lyngaas, autor do vídeo acima, é dessa segunda geração. Ele entende claramente conceitos de storytelling e entende a necessidade de se dedicar por algum tempo para garantir a qualidade do que está produzindo. Escolheu um tema que é interessante a todos de alguma forma (a busca pela alma gêmea) e decidiu explaná-lo de uma forma divertida e inusitada. Soube editar bem o vídeo, usou uma trilha boa que não se sobrepõe aos outros elementos, colocou cachorro e criança pra garantir o bônus de fofura, e ainda equilibrou bem o roteiro e o espontâneo. Numa análise técnica: Alex mandou bem.
SOBRE AMOR:
Entre milhões de definições de “amor”, vou aqui sugerir mais uma: amor é quando alguém só você vê algumas das qualidades em alguém, até porque só para você aquele alguém decidiu mostrar certas qualidades.
Alex mostra sua mãe sob a ótica de alguém que ama. Gestos, características e momentos que fazem de Eva uma pessoa incrivelmente única. No vídeo ele consegue deixar todos um pouco apaixonados não só por ela, mas pela relação que eles dois têm. E aí, considerando o objetivo do filme, ele é pontual: quem não gostaria de conviver com essa mulher? Quem não gostaria de entrar pra essa família?
Amor é quando alguém só você vê algumas das qualidades em alguém, até porque só para você aquele alguém decidiu mostrar certas qualidades.”
Além disso, quando ele busca um Adão para fazer par com Eva, ele não está só brincando com a coincidência dos nomes de um dos casais mais famosos que conhecemos. Ele coloca sua mãe como A Mulher, aquela que foi a primeira (de sua vida), que é referência para a forma como ele vê a vida. Ela é um ícone maior que seu nome.
Alex quer encontrar um Adão que goste das coisas que ela gosta. Mas, principalmente, que a veja da forma como ele a vê.
SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AS PESSOAS:
Os registros que Alex faz de sua mãe são diversos, mas não incluem nada sobre ela estar lá, de olho no smartphone, vendo a vida dos outros e esquecendo da dela própria. Eva se mostra uma mulher que curte mais o estilo 3D old school (ou seja, ao vivo).
Quando seu filho conta sobre os planos de colocar o vídeo na internet, no YouTube, a reação dela é de susto. Talvez por ter noção de que jogaria sua vida para qualquer pessoa do mundo ver. Ela se assusta, ela pensa, ela ri, ela confia nele porque, depois de uma declaração dessas, sabe que Alex não faria algo que pudesse causar algum mal a ela. Ou talvez por nunca ter pensado em encontrar um namorado na internet, afinal de contas, isso é algo muito característico da vida real (para ela, você não precisa concordar e nem discordar aqui).
Fato é que, apesar de querer encontrar um Adão, fica muito claro que Eva não sofre de solidão. Ela não está sozinha: tem amigos, tem família faz esporte, brinca, se diverte. Ela não é uma pessoa triste. Eva interage com o mundo de tantas formas que não deixa um vazio.
Se eu fosse fazer um vídeo desse para algumas pessoas, quantos registros não seriam de pessoas olhando para telas de celulares, tablets e computadores.
Por outro lado, fiquei aqui me perguntando: se eu fosse fazer um vídeo desse para algumas pessoas (ou se fizessem um desse sobre mim; o que não precisa, porque tenho muita sorte de já ter encontrado meu par <3), quantos registros não seriam de pessoas olhando para telas de celulares, tablets e computadores. Quanto do “o que ela gosta” não seria fotografar o prato antes de comer, tirar foto no espelho, conferir quantos likes recebeu no Facebook, mandar vídeos e piadas pelo whatsapp. Os registros de vida seriam, em grande parte de vida não vivida, ou de vida vivida por outros.
Não é uma crítica à nossa sociedade moderna. Ou melhor, é, e faço mea culpa. Mas me comprometo, a partir de agora, a viver imagens mais “registráveis”.
SOBRE O VÍDEO:
Estou ansiosa, e receosa, pela continuação.
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