Sexta-Feira 13 [Arquivos de Crystal Lake] • B9

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Capa - Sexta-Feira 13 [Arquivos de Crystal Lake]

Sexta-Feira 13 [Arquivos de Crystal Lake]

Livro de David Grove disseca os bastidores de uma das maiores franquias de terror do cinema

por Raquel Moritz

Você sabe o nome do homem que esconde o rosto atrás da máscara de hóquei, certo? Há mais de 30 anos, Jason Voorhees é sinônimo de terror. Com sua história (e origem) contada inúmeras vezes no cinema, o ícone dos slasher movies poderia não ter sido 1% de tudo que é hoje não fosse a equipe dedicada (e um pouco sortuda) que trabalhou no primeiro filme, lançado em 1980.

Resenha de Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake, da DarkSide Books

O livro “Sexta-Feira 13 [Arquivos de Crystal Lake]” (David Grove, DarkSide® Books, 2015) disseca os bastidores do primeiro filme, dirigido por Sean S. Cunningham, e traz informações sobre os processos de criação, produção e filmagem do longa.

O mais interessante é ver como um filme que começou como uma jogada de marketing – e dependeu de alguns artifícios improvisados do roteiro para capturar o espectador – se tornou um sucesso. A visão de Cunningham, somada à sorte e ao momento certo, fez o filme arrecadar US$40 milhões no mundo todo – tendo gasto apenas US$500 mil.

Inicialmente havia um logo. Havia um título. Havia uma estratégia. Nenhum personagem. Nenhuma trama. Nenhum cenário. Cunningham, que havia feito dois filmes infantis e alguns white coaters (uma espécie de filme pornô que era registrado como educativo graças à uma brecha no sistema de classificação), estava buscando outras coisas quando a ideia de “Sexta-Feira 13” o atingiu, e isso foi bem antes de existir um roteiro e um conceito.

Resenha de Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake, da DarkSide Books

Grove inclusive menciona um momento em que o diretor resolveu publicar um anúncio do filme na Variety para “reservar” o nome. A ação deu certo, pois outro longa com o mesmo nome estava em andamento e acabou tendo seu título alterado (para The Orphan, de John Ballard) a fim de evitar confusão entre os espectadores, depois de muitas negociações.

“Eu circulei o anúncio no verão, perto do 4 de julho, na semanal Variety (…) e os telefones começaram a tocar sem parar”, relembra Cunningham. “Todo mundo queria esse filme. Eu disse: ‘Merda, eu preciso filmar isso logo’. Então nós corremos e tentamos escrever um roteiro e conseguir o elenco para filmarmos.” – Cunningham

Resenha de Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake, da DarkSide Books

A própria ideia de rodar o filme em um acampamento surgiu bem mais à frente, quando diretor e roteirista sentaram para listar os locais isolados mais legais para servirem de cenário ao filme, bem como os tipos de mortes bizarras que queriam que fizessem parte da história.

Falando em mortes bizarras, o comando do mestre Tom Savini (que também assina o prefácio deste livro) no departamento de efeitos visuais fez toda a diferença. A reação visceral causada no público estava profundamente relacionada com as habilidades de Savini em mostrar sangue, cortes e fraturas. Tom havia sido um fotógrafo de guerra no Vietnã (o diretor de fotografia Barry Adams também havia servido como fotógrafo na mesma guerra) e se inspirava nessa experiência brutal para trabalhar no cinema. A forma como o sangue escorre, como a faca perfura os corpos, como os olhos ficam vidrados, isso tudo ficou bastante próximo da realidade por conta da bagagem de Tom Savini, que já havia mostrado a que veio com os zumbis de Romero.

Um dos triunfos de “Sexta-Feira 13” teve leve inspiração na obra de Stephen King, “Carrie“. Os dois roteiros compartilham um desfecho parecido e, nesse momento, Tom Savini entrava nas salas de cinema só para ver a reação do público com a cena do lago, momento que a platéia esperava os créditos finais aparecerem. É aqui que surge um gancho para dar continuidade à história de Jason, ainda que este não fosse o objetivo inicial.

Resenha de Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake, da DarkSide Books

O livro “Sexta-Feira 13 [Arquivos de Crystal Lake]” traz inúmeros depoimentos de atores, produtores, fotógrafos, editores, entre outros profissionais que trabalharam no filme, para ajudar a narrar a saga que foi rodar o longa com um elenco inexperiente (salvo pela presença de Betsy Palmer, a mãe de Jason, praticamente a última pessoa a ser escalada quando o filme já estava em andamento) em um acampamento localizado em uma cidade fria e pequena.

Os acidentes, os truques, as conquistas, os atrasos no pagamento, os casos extraconjugais, as festas, tudo é tratado pela equipe, entrevistada no início dos anos 2000. Se o livro falha em algo, é em não tratar todos os depoimentos que abordam determinado assunto, tornando-se um pouco repetitivo ao mostrar duas ou três pessoas falando as mesmas coisas, como que para confirmar a veracidade do que ocorreu.

Resenha de Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake, da DarkSide Books

Fotos inéditas também complementam a edição, que tem uma diagramação primorosa repleta de cenas de bastidores, cartazes e outras coisas sangrentas, casando bem com a proposta do livro. O título faz parte da Coleção Dissecando da DarkSide Books, uma linha que busca revelar os segredos por trás de grandes clássicos do terror, como “O Massacre da Serra Elétrica” e “Evil Dead”. Inclusive, parece que a coleção vai crescer nos próximos meses.

Coleção Dissecando DarkSide Books

Outro detalhe bacana é o acabamento das edições. O livro chega aos leitores em duas versões: a Limited Edition (capa dura com a máscara do Jason, detalhes em baixo relevo e verniz) e a Classic Edition (brochura com o pôster original do filme na capa). Apesar da brochura ser mais “simples”, não confunda com versão econômica. O livro em capa mole não perde em quase nada para a dura, e vai da vontade do leitor escolher um deles para morar na estante.

Independente do seu interesse pelo filme, um livro como este é uma leitura super bacana para quem é fã de cinema e gosta de saber como os filmes são feitos. Nem tudo se baseia em orçamentos multimilionários, estrelas consumadas e roteiros bem planejados – ou ao menos não naquela época. Um pouco de improviso, talento e sorte fazem parte do jogo.

FICHA TÉCNICA
Título:
SEXTA-FEIRA 13 [ARQUIVOS DE CRYSTAL LAKE]
Autor: David Grove
Tradução: João Marques de Almeida
Editora: DarkSide Books
Páginas: 320

Resenha de Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake, da DarkSide Books

Raquel Moritz é publicitária, autora do Pipoca Musical, e acredita que vale a pena ensinar 13 maneiras de sobreviver a uma Sexta-Feira 13

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