Twitter da polícia de Baltimore pede que pais sigam exemplo de mãe do viral e busquem filhos nos protestos
Sucesso do vídeo pode ter influenciado posicionamento oficial, mas a mãe estava mesmo com medo do filho ser agredido pelos policiais (!)
Tem circulado na internet nos últimos dias um vídeo de uma mãe bastante abalada, que remove o filho de uma manifestação na base de broncas e palmadas. O protesto do vídeo acontece em Baltimore, nos EUA, desde o início da semana, mostrando uma população indignada pela morte de mais um jovem negro, Freddie Gray, que faleceu devido a um grave ferimento na coluna vertebral, ocorrido enquanto ele estava detido por supostamente portar um canivete.
Toya Graham aparece no vídeo perceptivelmente abalada, fazendo o que conseguia para tirar o filho do meio da manifestação. O receio dela? “Não quero que ele seja um Freddie Gray”, confessou ela posteriormente, em entrevista à CBS News.
https://www.youtube.com/watch?v=SSgOKODPlKk
O curioso é que o receio de Graham era que o filho acabasse sendo agredido pela polícia, a mesma polícia que, mais tarde, usou a atitude dela como exemplo a ser seguido por outros pais que identificassem seus filhos entre os manifestantes. O pedido foi feito através do Twitter oficial da polícia de Baltimore. “Muitos jovens estão em meio a grupos agressivos. PEDIMOS A TODOS OS PAIS QUE LOCALIZEM SEUS FILHOS E OS LEVEM PARA CASA”, diz o tuíte.
Several juveniles are part of these aggressive groups. WE ARE ASKING ALL PARENTS TO LOCATE THEIR CHILDREN AND BRING THEM HOME.
— Baltimore Police (@BaltimorePolice) April 27, 2015
Do que posso depreender, é bem possível que a decisão da polícia de fazer tal pedido tenha vindo da dificuldade de conter os manifestantes. Essa tensão racial já paira sobre os EUA desde o caso de Ferguson, com a morte de Michael Brown, e não tem melhorado nem um pouco nos últimos dias. O sucesso do vídeo da mãe contendo seu filho a tapas, que recebeu milhares de visualizações e rendeu diversas matérias nos jornais do mundo todo, pode ter parecido uma boa ideia para a polícia. Lembra bastante a proposta da Ogilvy Brasil pela paz nos estádios, em uma ação que escalou mães de torcedores para fazerem a segurança durante as partidas de futebol.
No entanto, no caso específico de Toya Graham, paira uma grande ironia no ar: o grande motivo para que ela se movimentasse e retirasse o filho das manifestações era justamente o receio de que a polícia viesse a agredi-lo. Não é exatamente esse o ponto da manifestação, de evitar a violência policial contra negros? No final do dia, talvez a preocupação dessa mãe seja exatamente o ponto que faz muita gente se indignar e ir para as ruas. Talvez não seja uma situação onde um garoto de 16 anos como o filho de Toya devesse se envolver, mas que precisa sim de discussão. E sabe onde essa discussão tem acontecido bastante? Nas redes sociais, onde é possível acompanhar a opinião de celebridades como o elenco de “The Wire”, de atores como Jesse Williams (de Grey’s Anatomy) ou de apresentadores, através da hashtag #BaltimoreRiots.
No Periscope, alguns jornalistas têm feito transmissões ao vivo, entrevistando pessoas que estão fazendo parte das manifestações em Baltimore, como foi o caso de Paul Lewis, do The Guardian.
No Twitter da The Economist, a provocação que acompanha a hashtag traz os números de mortes em trocas de tiros entre policiais e suspeitos.
Deaths from police shootings: America 458 Germany 8 Britain 0 Japan 0 http://t.co/MeULYqfftR #BaltimoreRiots pic.twitter.com/sYYNzBbTZR
— The Economist (@TheEconomist) April 28, 2015
Já pensou se a discussão no Brasil fosse sobre o mesmo assunto? Só o estado de São Paulo, o número de mortes em decorrência de ação policial ultrapassa e muito o número total dos EUA – segundo a Human Rights Brasil, foram 728 mortes em 2014
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