Construção de marca exige um mínimo de visão e ousadia
Granado mostra que dá pra vender cosmético sem reforçar estereótipos
A coleção de esmaltes Risqué já foi debatida a exaustão. Mas acho que duas reflexões ainda são importantes. Primeiro, um bom exemplo, de uma linha lançada pela Granado em julho de 2014, homenageando grandes escritoras. E o que isso tem de tão sensacional, você pergunta? É inteligente quando uma marca entende além do que o seu público diz, compreendendo as tendências da sociedade e por conseguinte do mercado. Em tempos em que os ciclos estão cada vez mais curtos, nenhuma liderança permite vantagem suficiente para que uma marca se dê ao luxo de ser passiva e míope, arriscando assim a perder protagonismo.
Sim, foi isso que a Risqué fez. Não é ofensivo o conteúdo da campanha. Para a maioria das mulheres a mensagem passa sem incomodar, soa até fofa. É uma comunicação alinhada com os tempos, segura, cômoda até. Entendo quem defende que o barulho vêm de uma minoria, e que a polêmica só vai ajudar a marca a ganhar awareness e aumentar share. No entanto toda comunicação e interação com o consumidor constrói uma parte da narrativa da marca.
Fora da zona de conforto, do calorzinho do óbvio e do senso comum existe um mundo de possibilidades
No momento em que o feminismo domina as conversas, do Oscar até a ONU, uma marca com público prioritariamente feminino não pode se dar ao luxo de ignorar esse fenômeno. São os ventos de mudança que estão soprando. Construir a partir de novos paradigmas é incerto e arriscado, mas não ler esses sinais e se apegar a fórmulas antigas é apostar as fichas em um modelo que está se esgotando. Sob essa ótica, quando uma marca de beleza celebra as conquistas intelectuais femininas e joga os holofotes em mulheres empoderadas que dobraram o mundo para seus talentos ela está se apropriando da tendência e buscando protagonismo.
E ai vem meu segundo questionamento. Por que só ouvimos dessa coleção da Granado hoje? Porque o ataque aos erros, em qualquer tema ou esfera, é a tônica. E aí dá até pra entender quem reclama que o mundo está ficando muito chato. Fora da zona de conforto, do calorzinho do óbvio e do senso comum existe um mundo de possibilidades. E tem sempre uns aventureiros experimentando esse universo. Pra quem se interessa por comunicação e criatividade são esses trabalhos e processos que valem a pena acompanhar.
// Créditos de imagem: Mel Ferraz do Literature-se
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