Liberar “A Entrevista” na internet pode ser última saída da Sony Pictures

2014 está terminando de forma terrível para a Sony Pictures. Desde a última semana de novembro, a empresa tem lidado com algo bastante inusitado: uma influência hacker nas suas decisões estratégicas de lançamentos de filmes.

Após ter seus sistemas invadidos em um cyber ataque, uma série de conteúdos polêmicos, que vão desde e-mails entre produtores e atores, dados pessoais de contratados e previsões de lançamentos de filmes vazaram na web. Se isso não fosse suficiente, os hackers também fizeram ameaças seríssimas à integridade das pessoas que visitassem os cinemas para assistir “A Entrevista” (The Interview, no original em inglês), longa-metragem humorístico em que Seth Rogen e James Franco tentam assassinar o ditador norte-coreano Kim Jong-un.

Segundo os hackers, esse filme poderia ser responsável por deflagrar uma guerra contra a Coréia do Norte, e por isso eles ameaçaram usar de violência contra os cinemas que ousassem exibir a produção. Receosos, tanto Rogen como Franco suspenderam as suas aparições públicas para promover o filme, e a Sony comunicou às redes de cinema que “não iria se opor” caso eles preferissem não exibir a produção devido às questões de segurança. Muitas já desistiram de exibir o filme, preocupadas com as ameaças de terrorismo. Com o impacto causado, a Sony anunciou nesta quarta-feira o cancelamento da estreia do filme, anteriormente programada para 25 de dezembro.

“Aviso
Vamos deixar isso bel claro a vocês. Nos horários e locais onde “A Entrevista” for exibido, inclusive a première, haverá um destino amargo esperará aqueles que buscam divertir-se com o terror.

Logo o mundo vai ver o terror que um filme da Sony Pictures Entertainment promoveu.

O mundo estará cheio de medo.

Lembrem-se do 11 de setembro de 2001.

Recomendamos que você mantenha-se distante desses lugares [que irão exibir o filme] durante essa época.

O que acontecer nos próximos dias é resultado da ganância da Sony Pictures Entertainment”, esclarecia o comunicado dos hackers.

A internet não é apenas a melhor opção – agora ela é a única

Dada a situação, Bryan Bishop, do The Verge, aponta para a web como última (e agora única) saída da Sony para evitar que sua produção acabe censurada por hackers anônimos.

“Todas as grandes redes de cinema dos EUA anunciaram que não vão exibir “A Entrevista”. A internet não é apenas a melhor opção – agora ela é a única”, ponderou ele, atualizando sua matéria sobre o assunto.

“É bobo que qualquer um – até mesmo os próprios hackers – acreditem que “A Entrevista” vá simplesmente desaparecer, ou que a vida de um filme comece e termine nos cinemas. As coisas vazam. E se espalham”, lembra Bryan, antes de sugerir o que poderia parecer óbvio. “O que a Sony realmente deveria fazer é levar esse jogo para o online. Jogar o filme no iTunes ou na Amazon”, recomenda ele.

“Pegue a ameaça dos hackers e a desfaça com a verdade que os próprios hackers parecem não compreender: vivemos em um mundo onde cada sala de TV, cada computador, cada telefone é um cinema”.

É preciso lembrar que ao fazer isso, a Sony compraria uma briga ainda maior – além das informações que já vazaram, como listas de filmes a serem lançados em 2016 e 2017, contatos, entre outros, novas informações potencialmente perniciosas para a Sony podem ser liberadas na rede. No entanto, nessa altura do ‘campeonato’, seria ingênuo acreditar que as informações não irão vazar, uma hora ou outra.

Além disso, pode ser uma excelente oportunidade para a Sony testar o lançamento de um filme online, usando o feitiço (a web) contra os próprios feiticeiros (os hackers). Até o momento, tudo o que se sabe é que a estreia de “A Entrevista” continua cancelada, e sem previsão de chegada aos cinemas. Muitas celebridades se pronunciaram no Twitter sobre o caso, ironizando a censura exercida pelos hackers.

Dear Sony Hackers: now that u run Hollywood, I'd also like less romantic comedies, fewer Michael Bay movies and no more Transformers.

— Michael Moore (@MMFlint) December 17, 2014

This only guarantees that this movie will be seen by more people on Earth than it would have before. Legally or illegally all will see it.

— Judd Apatow (@JuddApatow) December 17, 2014

Canceling "The Interview" seems like a pretty horrible precedent to set.

— Zach Braff (@zachbraff) December 17, 2014

Será que a Sony terá coragem de levar a cabo o conselho de disponibilizar o filme online?