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“O Hobbit: A Desolação de Smaug” sofre com a ingenuidade de Peter Jackson

A segunda parte da trilogia coloca em risco a imagem e a eficiência do diretor

por Fábio M. Barreto

“O Hobbit” sempre teve uma história simples: um grupo de personagens precisa vencer desafios para derrotar um dragão, encontrar riquezas e retomar uma cidade perdida. É a famosa base da indústria do RPG: “uma aventura”. Foi assim que Peter Jackson iniciou sua segunda visita à Terra-Média com “Uma Jornada Inesperada” (falei dele aqui), primeiro da série de filmes encomendados pela Warner Bros. para adaptar o trabalho inicial de J.R.R.Tolkien.

Inicialmente, tratava-se de uma dobradinha que, logo, por conta das bilheterias, virou trilogia. Festejei a decisão, afinal, quanto mais tempo passeando por Mirkwood, Esgaroth, Bree e Bolsão melhor, não? Idealmente, sim. Na prática, a coisa foi diferente e o resultado de “A Desolação de Smaug” coloca em risco a imagem, e a eficiência, de Peter Jackson.

Logo de cara, é preciso dissociar simplicidade de infantilidade. Ideias simples podem ser complexas e o mercado infantil já emocionou e transformou muitos espectadores. Nenhuma das duas coisas é, necessariamente, negativa. Muita gente usa o conceito do próprio Tolkien sobre “O Hobbit” ser uma obra mais infantil para diferenciar essa nova trilogia de “O Senhor dos Anéis”. Sempre foi, tanto que é leitura de Ensino Médio nos Estados Unidos e na Inglaterra.

The Hobbit
Para muitos a presença de Smaug justifica as três horas de projeção, para outros tantos é enrolação e obviedade demais

O que acontece nos novos filmes é isso: uma ideia simples, ganhando mais volume, complexidade e uma injeção de adrenalina. Muito, claro, por conta da necessidade dos três filmes – inspirado num livro de menos de 300 páginas – e da maior novidade: um segundo longa com a história deveras diferente do original. Esse elemento chama a atenção não apenas por novos personagens ou cenas prolongadas, mas pela transformação da índole de personagens. Curioso lembrar que uma das críticas a “Uma Jornada Inesperada” foi justamente a fidelidade ao livro. Tudo mudou. E funcionou?

Essa questão é subjetiva demais. Para muitos, a história vai ter arcos mais elaborados e a presença de Smaug justifica as três horas de projeção, para outros tantos é enrolação demais e obviedade demais. Mesmo não tendo amado “Uma Jornada Inesperada”, comprei o Blu-Ray e já assisti mais de 20 vezes. Farei o mesmo com esse novo filme, mas por ser fã.

O fã vai querer visitar a Terra-Média, embora considere, até o momento, a Batalha do Abismo de Helm melhor que todas as horas da nova trilogia. Fã é fã e estou feliz com esse meu lado. Agora, o cara que gosta de sentar na poltrona, ser carregado por uma boa história e ver um bom filme. Ah, esse está sofrendo aqui. Detonar por detonar é um desserviço, afinal, subjetividade é sinônimo de porrada hoje em dia. Logo, vamos a alguns fatos.

Peter Jackson no set

Peter Jackson no set

Um cineasta para todos analisar

The Hobbit

Primeiro, lembra que metade do texto anterior falava sobre os 48 quadros por segundo? Sumiu! Muitas salas têm disponibilidade, mas a Warner preferiu mostrar a versão 24fps para a imprensa, não divulgou uma linha sobre o formato e mantém a oferta na surdina. Cerca de 750 salas nos Estados Unidos e mais de 2500 no resto do mundo. Fato: o experimento falhou e nenhum outro grande filme abraçou a ideia. Toda a revolução tecnológica e o blablabla caíram por terra (pelo menos por enquanto, James Cameron está filmando “Avatar 2 e 3” com mais quadros por segundo), mesmo com uma significativa margem de aceitação. Sobrou apenas o 3D tipicamente mais escuro e, via de regra, desnecessário.

Aí vem um dos maiores problemas: “A Desolação de Smaug” é ingênuo. Bobo mesmo. E a culpa é de Peter Jackson, que, aliás, é o primeiro personagem a aparecer em cena. Simples pode ser bom; infantil também. Bobo é difícil de engolir. O diretor aprovou (teoricamente) uma edição óbvia e desinteressante. A primeira cena do encontro entre Thorin e Gandalf, e os dois “caras maus” é descarada ao extremo, sem tensão, sem criatividade. Algo feito no automático.

E a sensação não se dissipa ao longo da projeção. Peter Jackson usa e abusa da repetição dos movimentos de câmera, recicla suas próprias ideias (a cena na qual Tauriel, em bom papel de Evangeline Lilly, cura um dos membros da companhia de Thorin é exatamente igual ao salvamento de Frodo por Arwen) e caiu na armadilha do segundo filme. Ele assume ter “filmado demais”, mas, na inexistência da trilogia, muitas das cenas seriam mais breves ou ficariam na edição. Kill your darlings, é a regra máxima e ele a desrespeitou. Cinema é entretenimento, mas não é parque de diversões e essa é uma das deslizadas de “A Desolação de Smaug”.

Peter Jackson abusa da repetição dos movimentos de câmera e recicla suas próprias ideias

Assistir à fuga nos barris garante a mesma sensação de visitar o brinquedo do “King Kong”, dirigido e criado por Peter Jackson para o Universal Studios, aqui em Los Angeles. Correria, movimento, aquela forçada de barra básica – mas plenamente aceitável – e a relevância dramática nula. O mesmo vale para a montanha-russa dentro de Erebor, na qual tanto roteiro quanto PJ soltaram a franga e deram vazão a todos os sonhos mais malucos. Seriam ótimos extras para o Blu-Ray, com certeza, e atrações garantidas no eventual parque temático tolkeniano! Fica difícil não imaginar duas coisas: como teria sido caso Guillermo Del Toro dirigisse; e como seria tão mais empolgante, e igualmente lindo, em dois (ou mesmo um!) filmes mais condensados.

The Hobbit

Hobbit

Um Fã para Todos Adorar (alguns spoilers)

Houve melhorias, claro. A maior delas foi a melhor efetividade da trilha sonora, que fugiu da repetição ad eternum da música tema dos anões e carregou a trama com mais variedade e força. A atuação de Martin Freeman, que já era fantástica, melhorou mais ainda. E, claro, Smaug foi revelado com magnanimidade, imponência e fogo! O monstro ficou fantástico e fez jus ao trabalho de voz de Benedict Cumberbatch. Uma combinação bela e assustadora.

O descompromisso com o material original permitiu maior liberdade ao roteiro, sem dúvida. Um triângulo amoroso surgiu, assim como diversas ligações – de validade questionável – com “O Senhor dos Anéis” e uma nova rodada da discussão de Merry e Pippin com Barbárvore, desta vez, diluída entre Legolas & Tauriel e Bardo & Anões. Lutar é preciso? Ser egoísta é sempre visto com péssimos olhos no universo cinematográfico de Tolkien.

Mas, justamente por soar como preambulo, a discussão não é concluída. Thorin e Bilbo (subutilizado nesse capítulo) enfrentam seus demônios frente a frente. O hobbit sofre pela tentação do Um Anel, enquanto o anão é confrontado com a ganância de seus antepassados e, novamente, falha na maioria dos testes. O Thorin de Peter Jackson é extremamente falho, com alguns momentos de grandiosidade. Provavelmente, uma construção para um desfecho de grande escala no terceiro filme durante a Batalha dos Cinco Exércitos.

The Hobbit

The Hobbit

Há muito acontecendo. Gandalf desvenda o “mistério” da identidade do novo senhor de Dol Guldur, depois de fazer uma visitinha aos picos de Rhudaur; os homens de Esgaroth – uma cidade castigada pelos séculos de esquecimento e empobrecimento desde a queda de Erebor – tentam se manter vivos mesmo como clara alusão à corrupção e ao definhamento social; e Thranduil, pai de Legolas, se torna o catalisador de preconceito, arrogância e egoísmo e, até certo ponto, é o vilão do filme, afinal de contas, o novo super-orc não faz muita diferença.

Beorn foi totalmente desnecessário, diga-se de passagem. São vários arcos, várias continuações de conceitos iniciados no primeiro filme e que só vão fazer sentido no capítulo final. E aí mora um dos problemas, pois fica difícil encarar “A Desolação de Smaug” como um filme fechado, pois não há uma trama específica contida nele e sua conclusão também fica no meio do caminho, inconclusa.

E qual a função de um filme de passagem? Protelar algo claro desde o princípio. Haverá uma grande batalha antes da Guerra do Anel. E ela vai envolver todos os povos apresentados por essa looooonga introdução. Homens sem esperança, anões divididos, orcs e goblins sob a liderança de Sauron e as águias, sempre as águias.

“A Desolação de Smaug” é um exercício de paciência, alimentado pela expectativa de um desfecho digno. A diferença é clara entre a mentalidade da finada New Line, que não permitiria tantos exageros – até mesmo por estar com o pé atrás no início da produção – e da Warner, que aposta no “quanto mais, melhor!”. Dois estúdios, duas trilogias, um mesmo diretor reagindo de formas completamente diferentes.

“A Desolação de Smaug” é um exercício de paciência, alimentado pela expectativa de um desfecho digno

Peter Jackson disse que essa é “provavelmente, a última vez que voltará a visitar a Terra-Média” como diretor, então, está aproveitando para filmar tudo que quer. Eu entendo. E, sem dúvida, faria o mesmo. E erraria do mesmo jeito.

Da última vez, torcemos pelas versões estendidas, agora o sentimento é o oposto. Torço muito para que essa não seja a “trilogia frustrante” da geração atual, assim como os últimos de George Lucas foram para a minha, mas só um filme brilhante salvará o dia, a Terra-Média e dará relevância a tanta enrolação.

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Fábio M. Barreto é tolkeniano, adoraria morar em Minas Tirith e é autor da ficção “Filhos do Fim do Mundo”

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