Esse texto é um apelo para que não deixem que a importância do Share, compartilhamento, reblog ou o nome que você quiser dar não morra nos próximos anos. A internet foi construída a partir disso (e comentários) e não podemos deixar que o ato de compartilhar se torne algo tão vulgar quanto inócuo. O conceito de frictionless sharing é focado no curto prazo e isso acaba por canibalizar o que desejamos tanto: que as pessoas nos ajudem a disseminar o nosso conteúdo. Claro que conteúdo bom acaba furando esse ciclo e é compartilhado espontâneamente. As vezes até sem ter um botão de compartilhar. É a força do conteúdo que emociona, que cria memórias e histórias que vai fazer com que ele seja disseminado.
Vejam o que aconteceu com o botão de Like/Love/Approve/etc. Ele deixou de ser algo na linha de Thumbs-Up para se tornar algo do tipo do “legal”, “ok, eu li/vi o seu post” e, no caso de mensagens de feliz aniversário, “obrigado”.
E, na minha opinião, o ato de compartilhar não merece o mesmo destino. Quando compartilhamos algo, estamos endossando algo, dando a nossa cara a tapa e falando para o mundo “eu concordo com esse ponto de vista”, “tenho que avisar aos meus amigos sobre isso” e etc. E o que noto hoje é uma coletânea de posts mais focados em construir uma persona do que em ajudar as pessoas. E acho que aí pode estar o problema.
Você é o que você compartilha
Já há estudos sobre pessoas arrependidas em terem compartilhado algo(em PDF) e os motivos vão de publicar algo sob a influência de álcool, drogas, ou sobre algum tópico polemico e por aí vai. Claro que algumas dessas situações tem repercussões imediatas como perder o emprego, acabar um relacionamento e abalar amizades. Mas o que me chamou a atenção foi que algumas pessoas querem ser percebidas de uma maneira favorável. Ou seja, querem ser bem vistas. Se tratarmos o ato de compartilhar como o novo Curtir, o valor do compartilhar vai cair porque nunca vai querer dizer exatamente o quem você é ou o que gosta. Sua opinião passa a não valer tanto, sua influência idem.
Porque nós achamos que podemos compartilhar a esmo? No fim do dia é basicamente isso que estamos fazendo e poluindo o feed e timeline dos seus amigos no caminho.
Você é o que você compartilha. Antes da internet se tornar quase onipresente na nossa vida, as pessoas indicavam as coisas que achavam que eram importantes para as outras. Era uma dica de um livro, de um artigo, de um programa de TV, discos/CDs/Músicas, receita de bolo e até fofocas. E a frequência com que você indicava e para quem vc indicava o que eram as coisas que definia como você seria percebido pelas outras pessoas. Compartilhar/indicar algo para alguém era a sua moeda social. Era algo delicado e que você escolhia a dedo para quem falar o que.
Muitos se vendem como sabe-tudo mas acabam não sabendo muito nem do que compartilham ou compartilham após lerem apenas a chamada
O livro “O Ponto da Virada” – ou do desequilíbrio dependendo da edição – (The Tipping Point, no original), do Malcolm Gladwell fala um pouco sobre isso. Se você está com preguiça de ler o livro, tem um bom resumo na Wikipedia em inglês. Mas vale a pena ler. Preste atenção na parte sobre Mavens que é bem o que estou tentando defender aqui. Sei que nem todos têm essa característica mas agir como um de vez em quando faria um mundo melhor. Pelo menos nas redes sociais.
Se levarmos em conta o número de Dunbar em que você consegue manter um relacionamento social em média com até 150 pessoas e hoje no Facebook temos bem mais ~amigos~ que isso, é só pensar no que isso gera na nossa cabeça.
As vezes eu acho que indicar algo deveria doer. Só assim teríamos um pouco de bom-senso na hora de compartilhar algo. E note que não estou falando em nenhum momento que deveríamos ser mais egoístas ou que devemos parar de compartilhar. Compartilhar algo é tão importante quanto para quem compartilhamos. Se quer agradar todo mundo, compartilhe apenas para as pessoas que têm algum interesse nisso, não nas pessoas que, quem sabe, podem ter algum interesse nesse assunto.
E antes que alguém fale que as pessoas gostam de muitas coisas completamente diferentes e isso talvez tenha algum efeito no que é compartilhado por elas, pode ser um motivo. O fato de estarmos vivendo em um mundo que glorifica o sabe-tudo também pode ser outro motivo mas entender o que importa para quem também deve ser levado em conta. É como contar uma história sobre uma batalha épica para meninas de 6 anos que só brincam de bonecas. Aquela história não vai ser tão interessante assim para elas. Por mais sexista que essa frase soe.
Somando tudo isso ao fato que várias pessoas mudam o seu estilo e o que publicam e compartilham para gerarem mais interações para, teoricamente, serem mais relevantes para toda a sua audiência, que personalidade está sendo construída nas redes sociais? A sua ou aquela que você acha que vai agradar mais as pessoas que te seguem?
Muitos se vendem como sabe-tudo mas acabam não sabendo muito nem do que compartilham ou compartilham após lerem apenas a chamada. É uma pena. E tome conteúdo de auto-ajuda e matérias com uma boa chamada e pouco conteúdo.
As pessoas que conhecemos e confiamos nos influenciam mais do que imaginamos.
As pessoas que conhecemos e confiamos nos influenciam mais do que imaginamos. Se estamos compartilhando qualquer coisa, a quem estamos influenciando? E qual a diferença da pessoa que age dessa maneira e de um spammer que compra base de emails e manda para todo mundo? Em termos de comportamento, acho que pouco.
O mais engraçado é ver que essas pessoas geralmente te perguntam:
“Viu o que eu compartilhei no ________?”
E ficam decepcionadas se você diz que não viu. Assim como aquela sua tia que manda mensagens em arquivos .pps fica quando você diz que não abriu o email dela.
Salvem o compartilhamento e notem como o mundo vai mudar. Se não mudar, pelo menos a timeline das suas redes sociais vai ;)
E, de propósito, vou colocar nos últimos parágrafos para ver se alguém realmente leu o texto todo antes de comentar. Eu concordo que as atrocidades cometidas contra pessoas, animais, meio ambiente e etc devem acabar. Infelizmente, esse tipo de compartilhamento também é muito popular e acho que não tem como impedi-lo ou reduzi-lo.
Quer que esse tipo de coisa acabe? Denuncie o conteúdo para a polícia e para os administradores da rede que você está. Isso sim pode gerar alguma mudança. Se compartilhar é inevitável, compartilhe com quem tem alguma relação com a causa para ver se essas pessoas param de apenas compartilhar os links e começam a doar para essas causas como a excelente campanha da Unicef que avisa que curtidas no Facebook não compram vacinas.
Em tempo: Semana que vem, na terça feira, 07/05/2013, estarei no Social Web Day em São José do Rio Preto/SP.
Em tempo 2: A imagem desse post foi tirada daqui
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