King Kong (2005) **** • B9

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King Kong (2005) ****

por Carlos Merigo

Desde que a trilogia “O Senhor dos Anéis” mudou a sua vida e causou impacto cultural na sociedade, tanto pelo ponto de vista cinematográfico como por fazer muita gente finalmente descobrir a obra de Tolkien, Peter Jackson se transformou num diretor maior do que seu próprio trabalho.

Mal comparando, funciona da mesma maneira quando você vai numa livraria e vê uma capa escura qualquer apresentando a inscrição “Stephen King” em letras garrafais. O título e o conteúdo do livro perdem importância, como se dissessem: é dele, leiam.

Peter Jackson não gosta de assinar seus trabalhos, mas você sabe que por trás “daquilo” existe um cara que sabe como fazer “aquilo” como ninguém.

Jackson é um mago da técnica e alia essa capacidade com uma boa história, atuações e dramaticidade. Por isso, ao lado de um gorila de 7 metros, o diretor é a maior estrela do filme.

Com suas mais de 3 horas de duração, “King Kong” é um showcase de Jackson e de sua WETA Digital. Ter sentimentos em relação a um animal é algo absolutamente natural, ainda mais quando se trata de uma espécie com humanidade genética. Mas fazer isso utilizando hardware e softwares são outros quinhentos. E “King Kong” faz. Algo só comparável ao sentimento causado pela bola Wilson de “Náufrago” (e nem computadores foram necessários pra isso).

E o que essa refilmagem de Jackson mais corrobora, é que as verdadeiras bestas somos nós. Humanos. Incapazes de perceber a senciência de um animal, que Ann Darrow (Naomi Watts) avisa em todo instante que berra “no!” e “stop!”. Contudo, nossa consciência pode ficar um pouco mais tranqüila quando torcemos para que Kong quebre logo as correntes e pise nas pessoas no teatro.

E “King Kong” não é apenas um milagre da computação gráfica, como também faz um cinema tradicional de encher os olhos. Quem pode duvidar disso com a maravilhosa reconstrução dos anos 1930 e atuações convincentes de atores que trabalharam a maior parte do tempo sobre fundo verde?

Mas é o mesmo fundo verde que por vezes quebra a magia de cinema. Em momentos de ação descerebrada facilmente dispensáveis, quando vemos atores correndo de dinossauros feitos em computador, lembramos que na verdade estamos assistindo uma projeção, sentados numa poltrona e dentro de uma sala atapetada.

Incomodava-me o fato de saber que novas criaturas grotescas eram inseridas na tela apenas para fazerem os personagens correrem mais, gritarem mais e postergarem mais o que realmente importa no filme. O suspense inicial (apesar de demasiadamente longo) é interessante, o final (apesar de já sabermos muito bem o que acontece) é estonteante, mas no meio, quando se torna um videogame jogado por outra pessoa, “King Kong” perde a força.

De qualquer forma, “King Kong” diverte e emociona, e mais do que isso, presta uma homenagem cabal ao clássico de Cooper e Schoedsack. Mas o melhor do filme, é que ele oferece uma relação personagem x espectador como poucas produções atualmente conseguem fazer. Nós nos importamos com o protagonista e sofremos por ele. E é nesse exato instante que o remake de Jackson deixa de ser um punhado de efeitos digitais de encher os olhos e comove.

Mérito maior conseguir isso com um público anestesiado por mundos fantasiosos, situações escabrosas tanto na ficção como na realidade. Público esse, uma maioria que nunca sequer assistiu a versão original de 1933, que poderia facilmente achar a história de um gorila gigante que se apaixona por uma mulher uma bobagem sem tamanho.

Sinal de que a “fábrica de sonhos” ainda pode funcionar. Ainda bem.

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