O ponto de fuga de Stanley Kubrick
Kubrick (de longe, meu diretor predileto) fez 13 filmes em seus 46 anos de trabalho. O que é pouco se compararmos a outros diretores – Spielberg, por exemplo, dirigiu 51, produziu 133 e escreveu 21 títulos nos últimos 48 anos. E isso tem uma razão: Stanley era perfeccionista como poucos. Do tipo que levava atores, produtores e funcionários a completa exaustão. O próprio Jack Nicholson surtou com o diretor, depois de refazer um take centenas de vezes, dizendo:
“Just because you’re a perfectionist doesn’t mean you’re perfect!”
E talvez o ponto principal desse cuidado minucioso fosse “apenas” a preocupação com o envolvimento do espectador. Pois ele não via a obra apenas como um artista, mas também como um psiquiatra. Kubrick sabia exatamente como entrar nas nossas mentes e causar desconforto, medo, aflição e excitação. Tanto pela atuação dos atores (como o próprio Jack, em “O Iluminado”), pela fotografia (como a luz natural de “Barry Lyndon”), pela trilha sonora (“De Olhos Bem Fechados”) ou pela visão imposta por suas lentes.
O vídeo acima (One-Point Perspective) mostra uma prática comum do diretor, centralizando o ponto de fuga da cena como em uma pintura renascentista. Primeiro por encarar seus filmes como pura arte. Mas principalmente por saber que essa é a melhor forma de nos puxar para dentro de suas construções.
Kubrick não se provou gênio por um ou outro filme. Na verdade, temo que nós ainda não entendemos tudo o que ele nos disse em sua obra. E é bem provável que achados como o “One-Point Perspective” surgirão durante as próximas décadas, quando nós, pobres mortais, perceberemos mais e mais detalhes (como a história do banheiro, que já postei aqui
) que esse mito deixou para nós.
Amém.
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