As maravilhosas opções do mundo da Propaganda
Muitos de vocês já devem conhecer o Trampolim, um excelente site totalmente voltado para a publicidade. Lá, profissionais da área e estudantes falam sobre suas experiências, contam o dia-a-dia de uma agência e dão dicas preciosas para quem está começando.
Os textos que mais gosto são do redator Davi Amarante, que falam sobre cada área dentro de uma agência, digamos, de uma forma bem radical. Lendo sua visão sobre criação e atendimento, quase morri de rir. É tragicômico, mas o pior, é a realidade. E pior ainda, a gente adora essa vida.
Seguem alguns trechos do que o Amarante fala sobre a criação:
O que é?
“A Criação, onde trabalham os criativos (um lindo nome pra dizer às pessoas normais quando lhe perguntam: “o que é que você faz” ¿ “sou criativo”. Com certeza elas têm vontade de dizer: “e eu sou engraçado, bonito, inteligente. E ainda tenho uma profissão”) é um ambiente magnífico. Que geralmente até às 10h30 da manhã está deserto. É nessa hora que começam a chegar os primeiros habitantes (em geral, estagiários). Até às 6 da tarde os cérebros ainda estão a aquecer e só pelas 8 da noite começam a trabalhar. Ficam nessa atividade incessante até 2 da manhã e, por isso, não podem chegar antes das 10 ou 11 no dia seguinte. Faz sentido. Há dois tipos básicos de Criação: a “Túmulo” (onde ninguém abre a boca e cada riso um pouquinho mais alto pode atrapalhar a concentração de quem está no ICQ ou vendo um site de sacanagem, ou lendo uma revista) e a “Casa da Mãe Joana” (onde todo mundo ri alto, faz bagunça, conta piadas sujas, tira sarro dos atendimentos e vê e-mails com mulheres de pernas arreganhadas na frente da Sra. do café).”
Estagiário
“Não espere ser efectivado. Pense bem. Por que é que alguém efectivaria um estagiário que não ganha nada (ou quase) e trabalha feito um camelo? Pra pagar mais? Não faz sentido. Claro, você pode pensar que alguém talvez quisesse tê-lo por lá pelo seu magnífico talento e pela fantástica contribuição que você poderia dar se, em vez de ir embora, permanecesse na equipe. Desista. A única maneira disso acontecer é se você for uma gostosa. Daí a equipe, ou até o próprio Diretor de Criação, podem pensar duas vezes antes de deixá-la ir embora.”
Tablóide de Supermercado
“Pra ser criativo, você também não pode ser pobre. Tem que ter um carrão importado ou uma Harley, pra poder entrar no círculo dos Deuses. Tem que vir de uma família rica, abastada, que tenha lhe proporcionado viagens pelo mundo, livros, visitas a museus, uma bagagem cultural imensa, tudo muito necessário na hora de fazer um tablóide de supermercado. Escrever “Aproveite: Feijão fradinho só R$ 0,89/kg” requer muito background. E um pobre nunca saberia qual a maneira mais estética de colocar a foto do saco de feijão entre o coxão mole e o detergente líquido.”
Agora sobre a vida de um atendimento:
Atendimento
“Tem gente que curte levar chicotadas na bunda, vela derretida nas costas, apanhar com taco de beisebol, torcer pro Corinthians, votar no Maluf e se considera masoquista. Pobrezinhos…mal sabem eles que o nirvana da dor, do sofrimento, da humilhação, da ausência de auto-estima tem um nome: Atendimento.”
Sabão em Pó
“Na primeira etapa da sua infeliz vida como atendimento, a busca pelo emprego, vá primeiro às agências de atendimento, geralmente as grandes multinacionais. Nessas agências a criação é praticamente nula, inexistente e isso pode tornar a sua vida mais fácil. Vá primeiro à McCann (acho que não existe criação lá já faz uns 60 anos), depois Ogilvy, J. W. Thompson, Publicis Salles e outros elefantes. Em uma delas, com um pouco de sorte, você fará parte de um grupo de atendimento com mais de 30 pessoas que se dedicam exclusivamente a lidar da burocracia que envolve a adaptação de um comercial de sabão em pó. Raramente verá a criação, não saberá de nada que acontece nos bastidores dessa excitante lida, mas vai conseguir saber como ninguém como a consumidora considera o sabão em pó o seu cúmplice e companheiro. E com ainda mais um pouco de sorte, pode chegar a diretor dessa conta, participando de encontros latino americanos e quiçá, mundiais, sobre esse maravilhoso sabão. Isso que é vida.”
O Inferno de Dante
“Você rodou, rodou, foi em todas as multinacionais, nas ¿J. Coccos¿ e ¿Eugênios¿ da vida e não conseguiu nada. Eu se fosse você parava de ler agora e, como diria eu mesmo, desistia. Mas, cada um com seus problemas, tem muito masoquista no mundo. Vamos então às agências ¿de criação¿. Nem Dante conseguiria imaginar um destino tão negro, em nenhum dos infernos descritos por ele. Em um dos piores cenários descritos pelo italiano, as pessoas ficavam submergidas até as orelhas em fezes. Pois no seu caso, pode ser que o nível suba muito mais do que isso. Ser atendimento nessas agências é, como eu dizia, ser a privada da agência. Você será obrigado a receber todas as merdas (já pode escrever isso, né, até na novela já falam) da agência e do cliente na sua cabeça. Será obrigado a defender todo mundo, menos você. Se você não defender o cliente, ele pede a sua cabeça. Se não defender a criação, ela pede a sua cabeça. Talvez pra fazer um balde de gelo, já que ela deve ser oca. Ninguém merece uma vida assim. Ser xingado, humilhado, rebaixado, defenestrado por todo mundo o tempo todo, nem masoquista é tão louco assim. Claro, se você for diretor, poderá descontar fazendo o mesmo com seus gerentes, se for gerente, detonando os assistentes e se for assistente, destruindo os pobres dos estagiários. Opa, esse é você. Tá mesmo afim?”
Office-boy
“Mas eu me perdi falando de como é feliz a vida de um atendimento e me esqueci completamente de comentar a respeito do trabalho, do ofício. Bom…basicamente, um office-boy daria conta do recado. Sabe, levar coisas pra lá e pra cá, fazer corpo mole na hora do almoço, ficar com dinheiro da agência se sobrar troco ou conseguir nota fiscal pra reembolso, conversar no telefone fazendo interurbano pra família e dizer que esta falando com o cliente, enfim. Só que do office-boy ninguém enche o saco. E de vagas para office-boy, os classificados estão cheios. Assim como uma agência está cheia de boas intenções.”
Muito bom não é mesmo? Agora confira os textos do Amarante na íntegra lá no Trampolim. Siga os links:
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