Xeiquerobeibe: O que nos ensina o comercial da Honda com Matthew Broderick
Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off) é um clássico da juventude de qualquer tempo. Nossos filhos vão ver e curtir, boto fé. Filmaço que veio pra ficar, que lembra a gente que a transgressão é possível no cotidiano, e não apenas quando se tenta mudar o mundo com uma flashmob (tipo churrasco na Crack-o-land), e vai além das estripulias bundamoles de um mercadão em crise.
Não é um comercial escoteiro que pode esvaziar aquele dia em que Ferris Bueller resolveu cabular aula e tocar o puteiro a bagunça cidade afora. Tenho a minha teoria da conspiração, dos “criativos” pensando no Matthew Broderick cantando em chinês pra “brincar” com o maior mercado do mundo ou mesmo escancarando o suposto poder que esse ou aquele carro transmite a quem o compra (e depois o próximo carro e o próximo carro e o próximo carro e a tal sensação de poder que nunca permanece…).
Aliás, a despeito de toda crítica destrutiva que vocifero por aqui, eu vi Bueller vivo, querendo sair e tomar conta daquele “filme”, estrapolar a porra produção toda, cantar “XEIQUEROBEIBE, TWIST AND SHOUT”. E durou dez segundos, enquanto ele olhava o leão marinho taxidermizado, imóvel como a vida de um homem que depende do carro que dirige pra se olhar no espelho com o mínimo de satisfação.
Contra mim, afirmo que propaganda de carro não me convence desde que eu era moleque. Nunca vi como justificar a necessidade de possuir tal caranga usando um cachorro-peixe ou colocando pôneis pra saracotear no motor de quem tem o pior veículo. Ainda mais hoje em dia com a progressão geométrica do aquecimento global e o recorde de ozônio na cidade de Sâo Paulo (vesti o ecochato como um vegetariano veste o tuberculochato).
Vejo Ferris Bueller além disso, mesmo ao volante daquele carro vermelho que devia poluir pra caralho caramba. Naquele dia ele podia tudo. E todo mundo pode tudo em algum momento, principalmente quando solta o grito preso na garganta e canta seu XEIQUEROBEIBE, não por causa de uma carcaça de metal recheada de plástico, sustentada por quatro rodas e um motor movido por cavalos imaginários.
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