Três lições de filmes que vi no final de semana
Fazia tempo que nao via tanta coisa boa e variada num espaço tão curto de tempo. Sou lerdo e preguiçoso, se vejo um longa inteiro numa noite, tenho resistência em desprender mais horas fazendo o mesmo no dia seguinte. Sempre acho que banaliza e que a experiência fica comprometida, que é preciso tempo pra digerir e conviver legal com aquilo que se viu, ouviu e sentiu.
O caso é que, após imersão por semanas num trampo pesadíssimo (que, inclusive, ainda não acabou), meu cérebro precisava respirar outra coisa. E daí vi três filmes em três noites (vi também Triple X pela quarta vez, mas, bem, hehe).
Na noite de sexta, assisti a O Palhaço, dirigido e estrelado por Selton Mello, cara que critiquei várias vezes e me manquei há algum tempo que sinto, na verdade, uma certa inveja dele. Talentoso pra caralho, inspirado, cheio de referências que melhoram a cada semana, caçador de relevância, fornido de contatos indefectíveis e parceiros ponta firme. Pra mim, isso faz um diretor, e é isso que ele é. Além de ser um ator de mão cheia.
O filme, aliás, é uma pérola. Tocante, sem apelação ou melodrama, nos relaciona com um palhaço e dele é nosso reflexo no espelho da frustração, a uma mureta baixa da redenção, do sorriso, do amor, da vida como tem que ser: boa. Fora que tem o Paulo José esbofeteando a doença com sua atuação. Inspirador.
Nunca tinha visto Wall-E e sabia que ia amar quando visse. Pois vi. Andrew Stanton não me fez chorar de saudade de mim mesmo como conseguiu com Toy Story 3, mas tocou fundo de novo. E sempre me surpreendo quando vejo extraterrestres ou um animal qualquer, em um filme, ensinando a gente a ser mais humano (digo isso sobre CGI e animações diversas, tenho certo pavor de bicho de verdade agindo como gente). Dessa vez, é um robô catador de entulho que só queria ter uma companhia além de sua baratinha de estimação.
Mas querer, às vezes, é poder. E, como todos sabemos (e Tio Ben ensinou), o poder anda de mãos dadas com a responsabilidade. Lindo.
127 Horas. Danny Boyle é um profeta. Rei da ilha de edição, joga sempre entre 40% e 70% da responsabilidade do filme em si na rapaziada da montagem. Foda. Sem medo de ser feliz, pega uma história onde o protagonista está sozinho e “parado” quase todo o tempo e transforma num filme até certo ponto alucinante, com direito a alguns picos de aflição memoráveis.
A historinha sobre menos ser mais e o simples ser sempre melhor não serve pra qualquer um, uma vez que não somos todos Boyles. Aliás, confundir simples com fácil é moeda corrente no mercado audiovisual. Assim como quase nenhum ator da atual geração é capaz do que James Franco
faz com certa naturalidade: um aventureiro dependente de adrenalina que só pensa naquilo, sendo aquilo uma coisa muito arriscada, e deixa seus entes queridos invariavelmente a ver navios.
Até se foder.
Isso é aprendizado.
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