Jobs: Menos, gente
Como tudo mundo (ou muita gente), essa semana me senti como se tivesse perdido um amigo: Steve. Passei uma noite cabisbaixo, navegando pela web, lendo tweets, depoimentos, vendo o povo colocar velas digitais (e reais) nas lojas, etc, etc… como seu eu tivesse uma relação com o cara. Não tinha.
Nunca fui MacFag mas o fato é que nos últimos anos a Apple me pegou: celular, depois micro e mais recentemente tablet. Comprei por razões bem racionais, algumas emocionais, claro, mas nenhuma passional.
No dia seguinte, mesmo tendo pedido para meu pessoal fazer homenagens nas plataformas que criei (coisa que eles curtiram, claro) comentei com a Bia, minha mulher: estamos todos exagerando.
Quando a Apple diz na sua home “… o mundo perdeu um ser humano fantástico…” ela está manifestando uma homenagem – um direito seu – mas em última análise, está fazendo propaganda – das mais eficientes, diga-se.
Nada de errado, afinal propaganda é a alma de qualquer negócio e Jobs sempre foi o maior garoto propaganda da própria empresa quando vivo, por que não quando morto?
Mas é propaganda, ponto. E nada de errado, repito.
O que acho errado é transformar isso tudo em mito e perder a dimensão e o contexto das coisas
Jobs é um dos melhores CEOs e empreendedores do mundo, no doubt about it! Mas, transformar isso em “um dos melhores seres humanos do mundo” é, no mínimo perder o contexto. E o contexto dele sempre foi empresarial, de negócios e nada, ou quase nada, além disso.
Vida pessoal? Complicada. Relação com funcionários? Complexíssima. Filhos? Tudo meio estranho, ao menos o que se sabe. Engajamento em causas? Nenhuma, só a própria, a da Apple. Preocupação com o planeta? Não que se saiba. Caridade? Não que a imprensa conheça. Sem falar nas questões ligadas à própria empresa, como trabalho “escravo” na China, control freak em tudo, inclusive nos conteúdos que trafegam nos seus aparelhinhos.
Este artigo do Gawker – “Porque todo mundo é tão educado ao falar de Steve Jobs” – aprofunda e detalha esses e vários outros pontos e, num certo ponto menciona os “Crazy Ones”
, os desajustados, os rebeldes, os criadores de problema… aqueles que alguns chamam de loucos… mas a Apple chama de gênios… e relata como Jobs deixou justamente a maior parte dos Crazy Ones de fora de suas plataformas!
Incrível pensar nisso, não?
Intuitivamente era o que eu dizia para a Bia e lendo o artigo do Gawker tudo me pareceu transparente e claro. E a proposta final do artigo – que se o legado do Jobs para as futuras gerações será bom ou ruim depende de quão honestamente entendermos a vida dele – me parece um alerta importante.
Sem mitos, sem over valorizações e, claro, sem over críticas, teremos a real dimensão de quem foi Jobs; um gênio, um empreendedor impressionante, mas um ser humano normal, cheio de contradições, problemas e incongruências, como eu, como você, como todos nós.
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