Doce sem enjoar
Mais do que qualquer “Guerra dos Mundos”, “Batman Begins” ou o “King Kong” de Peter Jackson, os verdadeiros blockbusters esperados por mim neste ano: “Sin City” (o qual só assistirei no próximo fim de semana) e o remake de “A Fantástica Fábrica de Chocolates”.
E como já disse aqui no blog algumas vezes, eu costumo ser vítima dessas expectativas monstruosas que crio. No fim das contas, a frase que sobra pra mim muitas vezes é: “eu esperava mais…”. Nesse caso, a expressão pode ser acentuada ao envolver aquele que é um dos meus diretores favoritos: Tim Burton.
Eu passei várias tardes da minha infância assistindo a versão original de “A Fantástica Fábrica de Chocolates” a cada vez que ela era exibida na Sessão da Tarde. A indústria Wonka é como aqueles mitos que cultivamos quando criança e depois passamos longos períodos de nostalgia relembrando com os amigos.
Portanto, ao falar de um remake para o filme de 1971 eu poderia ser mais um a reclamar e considerar todo esse papo uma heresia. Mas tinha o Tim Burton na história, e se está nas mãos dele, podemos confiar cegamente. E não só por Burton ter obras inesquecíveis em seu invejável currículo, mas ainda mais porque a bizarrice dark do diretor com o mundo criado pelo escritor Roald Dahl tem absolutamente tudo a ver.
E teve mesmo. O que Burton fez aqui foi expandir de forma incrível o mundo fantasioso da história. Ao colocar na tela aquilo que sabe fazer de melhor, o diretor cria um filme estonteante visualmente. Ao adicionar seu lado sombrio e gótico, Burton tira o açucar exagerado da versão original, deixando o filme dark sem ser pesado, doce sem ser enjoado.
Mas acho que faltou envolvimento. O início é fantástico, mas ao entrar na fábrica de Wonka, “A Fantástica Fábrica de Chocolate” perde incrivelmente o ritmo. Eu esperava uma montanha-russa de emoções e sentimentos, mas que foram por água abaixo assim que percebi que não consegui me envolver com a história.
Johnny Depp faz um trabalho (mais uma vez) excepcional, porém, seu Willy Wonka é tão caricato que cria-se uma barreira personagem/espectador. Eu não me incomodo com fantasias, pelo contrário, as adoro. Além do que, se não fosse assim seria um contrasenso eu ser fã do trabalho de Tim Burton. Mas, dessa vez não colou pra mim.
Adoro “Peixe Grande”, para mim um dos melhores filmes do ano passado, e essa fantasia é empregada o tempo todo. É mais um filme em que Burton repete um de seus temas preferidos: o relacionamento entre pais e filhos. Mas a diferença entre “A Fantástica…” e a produção anterior de Burton é o envolvimento. Em “Peixe Grande” você é levado do início ao surpreendente fim, mas com Wonka nos guiando você se anestesia com a bizarrice e não se surpreende.
Mas calma, o universo Wonka de Tim Burton não é ruim, pelo contrário. É um filme divertido e com visual maravilhoso. Tem os ótimos musicais dos Oompa Loompas interpretados por um só homem: Deep Roy. Tem os esquilos separadores de nozes, a trilha criada pelo sempre competente e colaborador habitual de Burton, Danny Ellfman, tem os mesmos arquétipos criados por Road Dahl e, melhor, dessa vez muito mais fiéis ao texto original.
Bom, sim. Divertido também. Mas nunca memorável. Será um filme ótimo para ser exibido na época do Natal com sua fábulas sobre os valores familiares, mas ainda longe de causar a mesma avalanche emocional que eu esperava e, ainda pude sentir um pouco na meia hora inicial do longa.
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