Comic-Con 2011: Mentes Brilhantes
Ideias são sempre necessárias, mas até onde são realmente criativas e fruto da visão da elite da direção atual? Quem responde é Guillermo Del Toro, William Shatner e Shawn Levy!
SAN DIEGO – No mundo do entretenimento, ideias acionam conexões interpessoais, que iniciam movimentos comerciais, que inspiram multidões e geram milhões. Esse processo, porém, só acontece de forma ideal quando parte de uma elite de diretores e produtores, como por exemplo, Guillermo Del Toro, JJ Abrams, Steven Spielberg e os “novatos” Jon Favreau, Nicolas Winding Refn e Shaw Levy entram em cena e conseguem mesclar qualidade com potencial comercial. Falamos com alguns deles ao longo dessa semana para entender um pouco mais sobre a alta criatividade da vanguarda hollywoodiana. Sobrou até para William Shatner, que assume cada vez mais seu papel de entrevistador e divulgador de ideias e mentes brilhantes.
Há alguns meses, em sua conta do Twitter, Kevin Smith declarou que “para se fazer um filme, basta ter uma ideia e convencer outras pessoas a gostarem da sua ideia”. Por mais simplista que pareça, essa é a força motriz da relização cinematográfica em Hollywood, algo originado por ideias, mas movido a infindáveis reuniões – uma das piadas mais recorrentes por aqui, aliás; Danny Boyle foge de Hollywood e dos grandes filmes por causa disso – e constante convencimento dos donos do dinheiro. É um sistema, fato; e todo sistema permite anomalias, que, assim como na Matrix, tendem a ser brilhantes, especialmente comparadas à uma massa praticamente uniforne de filmes feitos de acordo com fórmulas e para agradar públicos específicos.
Essa estagnação encontrou um inimigo desbocado e, em tese, forte o suficiente para fazer algo a respeito: Guillermo Del Toro, diretor de “O Labirinto do Fauno” e “Hellboy”.
“O maior inimigo da criatividade é a segurança”, definiu em painel na Comic-Con. “Fazer filmes é algo sempre perigoso e quando a segurança entra na frente, a criatividade voa pela janela”.
Talvez seja justamente essa exigência de liberdade criativa que o mantenha afastado da direção e cada vez mais envolvido com produção e suporte a outros cineastas. “É nossa obrigação procurar e produzir novos diretores; manter sempre as mesmas vozes no comando é a pior coisa para a indústria”. Nesse caso, Del Toro estava apoiando amplamente o trabalho de Nicolas Winding Refn, o dinamarquês no comando do surpreendente Drive, com Ryan Gosling e Carey Mulligan, enquanto divulgava o terror “Don’t Be Afraid of the Dark”, que escreveu e produziu.
“Existe uma ideia imbecil de que devemos aspirar a perfeição. Hollywood vive jogando isso na nossa cara. Por isso gosto de mostros, eles são a representação máxima da imperfeição”, argumenta Del Toro. “Imperfeição é algo que podemos replicar e, no processo, realizarmos algo em vez de ficar procurando a ‘fórmula perfeita’ e nunca tirar a bunda da cadeira. Mas sendo bem sincero, monstros são um verdadeiro ‘foda-se’ para essa busca pela perfeição, inclusive com repercussões líricas e extremente poderosas”.
Com a língua menos afiada e nem tantos fãs espalhados pelo mundo, o diretor Shaw Levy (“Uma Noite no Museu”) pensa como Del Toro, entretanto, vê no realismo e nos efeitos práticos o caminho para fugir da “busca pela perfeição”. Em seu novo filme, “Gigantes de Aço” (Real Steel), com Hugh Jackman, ele insere robôs lutadores no mundo real para, justamente, explorar suas deficiências. “Michael Bay é um maestro no que faz e isso ninguém tira dele, mas seu mundo é indiscutivelmente o da fantasia, tudo pode acontecer. No caso de Gigantes de Aço, projetamos um futuro para a Humanidade e nossos robôs precisavam se encaixar, não chamar a atenção desnecessariamente”.
A solução encontrada por Levy foi construir, de fato, os personagens cibernéticos e, nas cenas com humanos, movê-los até o limite permitido pela mecânica e, daí para a frente, inserir os efeitos especiais. “Já ultrapassamos o ponto em que a tecnologia permite vazão a qualquer ideia visual. Visitei algumas empresas para discutir os detalhes de ‘Viagem Fantástica’ (remake sob seu comando e produção de James Cameron) e não há mais barreiras; o grande desafio criativo hoje em dia é não exagerar e errar na dose”.
Do outro lado do espectro, longe do calor da ascenção, William Shatner transformou seu documentário “The Captains” – no qual entrevista todos os capitães da Enterprise – numa experiência definitiva em sua carreira. Shatner se diz homem interessado em pessoas e suas motivações, em suas ideias e de onde elas surgem. “Precisamos entender o quão rara são as ideias, os verdadeiros atos criativos”, comenta à reportagem do Brainstorm9.
“Muito do que fazemos é reflexo de nossas experiências ou recriações do que nos cerca, mas isso não é um problema. Dá para viver feliz desse jeito; é uma questão de procurar a criatividade no lugar certo. Cozinhar, por exemplo, pode ser um ato criativo e grandioso, entretanto, não damos atenção por se tratar de uma tarefa com duração curta e sem muita repercussão em longo prazo. A não ser que as pessoas envolvidas descubram o elemento mais fundamental a cada ideia, seja um prato novo ou um filme transformador: apreciar a criação. Isso a torna especial, única e, para quem quer que seja, eterna”.
Embora os diretores levem boa parte dos méritos, é preciso reconhecer casos de criatividade extrema nas outras áreas e um desse nomes, inevitavelmente, é Andy Serkis. Extremamente centrado em sua profissão e ator a abraçar o sistema da captura de performance (diferente da captura de movimento) pelo trabalho em “O Senhor dos Anéis” e “King Kong”, Serkis reinventou a brincadeira toda em “Rise of the Planet of the Apes” ao interpetar o símeo César em locações reais; pela primeira vez, levando a tecnologia para longe da tela verde.
O diretor Rupert Wyatt explica a criação de Serkis: “Além de ter sido o pioneiro nessa tecnologia, Andy é o ator que mais compreende a capacidade e as minúcias do que a captura de performance pode fazer, logo ele é capaz de atuar de modo eficaz e comovente e transmitir isso diretamente para o filme.”
Agora é hora de correr de volta para o San Diego Convention Center. A Comic-Con continua com força total!
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