O tropeço da Arezzo
Sendo eu amante de sapatos e única mulher a postar no Brainstorm9, me esforcei para escrever um texto imparcial sobre o assunto que surgiu na madrugada de ontem pra hoje: a nova coleção Pelemania da Arezzo. Então desisti da imparcialidade e resolvi sim dar a minha opinião:
Burrice.
Se você está boiando sobre o assunto, não precisa de muito esforço pra entender. A coleção Outono / Inverno 2011 da marca de calçados femininos traz produtos feitos com pele de raposa e coelho, e com couro de cabra. Fazendo uma rápida busca no Google, você vai ver que o assunto repercutiu.
No Twitter já existem milhares de manifestações, a maioria delas negativa. Quem defende o lançamento, traz um argumento pra lá de coerente: “não sei por que tanto auê se no prato de vocês tem a mesma coisa”. Mas como vegetariana*, acho que isso abre uma brecha pra eu falar alguns pontos sobre o assunto.
Algumas teorias sobre como essa ideia surgiu na área de marketing / produtos da empresa:
1. A gente tá ficando muito povão, hein? Vamos dar um up, investir, lançar produtos diferenciados a preços caríssimos. Que tal… humm.. já sei! Vamos usar pele de outros animais, vai ser o maior glamour!
2. Pessoal, como não tivemos ainda nenhuma grande idéia pra coleção deste ano, vamos adotar a polêmica como estratégia, ok? Pensem aí em alguma coisa que vá bombar na internet. Quero viralizar este ano, blz?
3. Se nossas lojas são em shoppings e nossas clientes amam passear com seus cachorros nos shoppings, que tal se a gente criasse produtos que fossem iguais aos seus bichinhos? Ia ser sucesso, meu povo!
É impossível estimar o tamanho da burrice e da ingenuidade pra uma empresa com tantos anos e tantas coleções nas costas. Estamos em 2011, ano em que os direitos dos animais são mais discutidos até do que os direitos humanos. Estamos num país onde a propaganda está mais cricri do que nunca e onde os clientes estão ao mesmo tempo mais opinativos e mais influenciáveis. Onde a estratégia “falem mal, mas falem de mim” não funciona mais (se é que já funcionou). Onde centenas de concorrentes estão ali, ávidos por uma pisada na bola sua pra cair de pau e se posicionar de forma diferente, como melhor e mais gente boa (mesmo que não seja verdade). Onde não é mais tão óbvio associar glamour, estilo e riqueza à crueldade e exploração (ainda existe muita coisa podre por trás de marcas incríveis, mas o “chique” está justamente em esconder bem isso).
Não sei se não procurei direito, mas a imagem acima já não está mais no site da marca. O destaque na seção “vitrine” foi trocado pelos produtos da coleção Retrô. Mas se você quiser ver com detalhes todos os itens da “super novidade fashion”, as fotos estão no site da Gloria Kalil, acompanhadas do selo “acho Chic”. ¬¬
Aproveitando o linguajar fashionista, só digo uma coisa: acho Disgusting.
*quem me conhece pessoalmente sabe que eu não sou uma militante do movimento, não tenho nenhum fanatismo e não saio por aí fazendo discursos sobre minha escolha.
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