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Sempre há um porém

por Carlos Merigo

Antes de mais nada, é bom dizer que não tenho intimidade alguma com o universo concebido em “Hellblazer”, nunca nem sequer passei perto de uma HQ da série. Portanto, o que posso dizer sobre o filme é minha opinião como obra cinematográfica, sem tocar em fidelidade com os quadrinhos e discussões do genêro (se eu falar alguma merda, me corrijam, por favor).

Mudaram o Constantine original de loiro para um Keanu “Neo” Reeves e trocaram a Inglaterra por Los Angeles. Essas são as alterações principais que sei em relação a história original. Mas sem conhecer, posso apostar, na terra da rainha seria bem mais legal.

Como leigo nos quadrinhos, posso dizer que “Constantine” é um filme que agrada, diverte e conta com cenas fantásticas. Isso sem dúvida. Porém (sempre há um porém), só vai ter uma experiência completa e muito mais agradável com o filme quem realmente conhece as HQ’s.

Primeiro porque o espectador precisa se entregar a história logo de cara. O mundo sobrenatural e as criaturas demoníacas de “Constantine” pipocam na tela sem muita enrolação, explicação. Quem não vai muito com a cara de um universo tão fantasioso, pode se pegar bocejando lá pela metade do filme.

Eu particularmente adoro esse tipo de história. A cena inicial de exorcismo é fantástica. E assim como o mexicano que é atropelado e John Constantine enfrentado demônios formados por insetos, me fizeram vibrar na poltrona do cinema. São seqüências ótima sobre o embate entre céu e o inferno que há muito não apareciam na telona.

Porém (de novo, John tem razão), a grande quantidade de elementos e personagens secundários que aparecem a todo instante acabaram me incomodando. Acho louvável abolir apresentações de personagens para os espectadores leigos e até evitar contar uma historinha sobre a origem de Constantine, como é comum em filmes baseados em alguma coisa consagrada. Mas o diretor estreante Francis Lawrence, me deixou a nítida impressão de que precisou encher lingüiça no meio do filme para cumprir a duração de 122 minutos.

Em muitos momentos, senti que a embalagem era mais importante que o conteúdo. A história foi comprometida em favor do visual. Mas lógico que a fotografia e os movimentos de câmera ousados adicionam um estilo fantástico ao filme.

Adoro esse tipo de recurso, e Lawrence, profundo conhecedor desse universo nos vídeo clips que já produziu, alcança um resultado visual que é uma verdadeira montanha-russa para os nossos olhos. Diria que é um filme obrigatório para todo diretor de arte, ou para quem um dia almeja ser um.

É só uma pena que o diretor tenha optado na maior parte do tempo, por dar mais ênfase a aventura visual do que na melhor característica do filme: o humor negro e ironia de seus personagens. Quando Constantine abria a boca para retrucar alguma coisa, ali eu pensava comigo mesmo: “Pô, fala mais, reclama mais, discute mais com todo mundo antes de partir pra porrada com os demônios”.

Infelizmente isso não acontecia. E o melhor aspecto do filme acaba ficando mais raso do que um pires. Um exemplo é o embate final entre Deus e o Diabo, com um Peter Stomare perfeito no papel do tinhoso. Ali “Constantine” ganha corpo, toma sua verdadeira forma. Mas isso acontece em poucos momentos.

A inglesa Tilda Swinton como anjo Gabriel também é um show a parte, dando um ar sereno e ao mesmo tempo amedrontador ao personagem. Keanu Reeves, bom, o cara não tem a melhor expressividade do mundo, mas convenhamos, tem uma presença incrível em cena. Ele dá credibilidade ao personagem e seu estilo se encaixou muito bem com o ar blasé de Constantine.

No final das contas, “Constantine” segue uma linha de altos e baixos. Começa muito bem, perde força na metade e tem um final excelente. Sai do cinema satisfeito, mas ao mesmo tempo pensando que, com algumas mudanças na narrativa, eu poderia dizer algo bem maior do que meramente “satisfeito”.

O filme diverte, apresenta seqüências incríveis, sem dúvida, mas fica a sensação de que Francis Lawrence poderia ter feito um “Constantine” inesquecível mais pelo seu roteiro, diálogos e personagens, do que por efeitos digitais.

Ah, e antes que eu me esqueça. Em um eventual “Constantine 2”, Sr. Lawrence, coloque o Peter Stomare mais tempo na tela. Se nos poucos minutos que aparece ele praticamente rouba o filme, imagine o tio Lu e Constantine juntos em grande parte da projeção e com aquelas tiradas sensacionais entre eles? Certamente, uma seqüência muito superior a original que acabei de assistir.

PS: Não saia do cinema antes de terminarem os créditos finais. Há uma cena importante logo depois.

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