Mo chuisle
Um filme onde uma caipira pobre sem nada na vida, decide treinar boxe com um turrão que é o melhor dos treinadores. Esforça-se todos os dias, dia e noite, sofre que nem um cão, começa a ganhar lutas, tem seu grande desafio, vence, é ovacionada pelo público e vira a grande campeã do mundo.
Sim, você já viu algo parecido. A velha história da pessoa pobre e sofrida que consegue vencer as adversidades e tem seu momento de redenção. Parece muito convencional não é? Sim, mas não nas mãos de Clint Eastwood.
“Menina de Ouro” tem elementos bastante comuns, já vistos antes, mas todos eles juntos e na forma como foram embalados por Eastwood, se tornam algo completamente novo. O resultado é um cinema clássico narrativo completamente arrebatador, de fazer o coração mais duro amolecer e levar a personagem Maggie Fitzgerald (Hillary Swank) por dias na cabeça.
O boxe é usado como pano de fundo para que Eastwood faça todas as suas analogias com a vida. A batalha das pessoas por realizarem seus sonhos, o nunca desistir após uma derrota, o arriscar, mas nunca se esquecer de se defender. Todos os personagens carregam um fardo doloroso, uma carga emocional do tamanho de um bonde, pois todos são meras migalhas do que já foram no passado.
Eastwood, o treinador Dunn, dono de um ginásio de boxe decadente que há anos não fala com a filha e questiona os conceitos da igreja por causa de seus sofrimentos. Maggie Fitzgerald, a pobre moça com boa vontade que chega aos 31 anos e descobre sua vida medíocre. Eddie Dupris, interpretado maravilhosamente por (the Oscars goes to…) Morgan Freeman, um velho lutador de boxe em que seus dias de glória ficaram apenas na lembrança e no olho cego após uma luta.
Logicamente que todo o crescimento da personagem de Hillary Swank na tela leva o espectador ao delírio. Torcemos por ela, nos sentimos injustiçados por ela e nos indignamos perante o comportamento de sua família com todo o esforço que Maggie está fazendo.
Mas nada é o que parece. O clima de “Menina de Ouro” é soturno e Eastwood produz uma fotografia magistral ao se apoiar apenas em contrastes de sombra e luz. Em alguns momentos o filme me parecia uma pintura e, assim como seus personagens, a luz e a escuridão se complementam na tela. Uma belíssima direção de arte que já poderia ser observada no perfeito cartaz do filme.
Porém, repito, nada é o que parece. E tudo em “Menina de Ouro” quer apenas nos preparar para o seu derradeiro e arrasador ato final. Quando tudo parece sufocar, temos um pequeno alívio para respirar no meio do caminho. Tanto que o filme traz diversos momentos cômicos, que como definiu o crítico Bernardo Krivochein, funcionam como raios de sol em um céu completamente nublado.
Até o seu final, “Menina de Ouro” vai tocar em temas polêmicos, contrariar dogmas religiosos e colocar você pra pensar assim que as luzes se acenderem. Mas acima de qualquer questão, Clint Eastwood produziu uma obra-prima que consegue levar o espectador em uma jornada inesquecível.
Uma história onde o que importa não é ganhar ou perder, e sim no que aprenderemos e viveremos com tudo isso. Onde o ter medo de se arriscar é deixar passar as grandes oportunidades, pois mais do que nunca, como disse o mestre: “eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.”
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