Nadia Murad. Foto: Divulgação
A gente vem ao SXSW para ver o progresso — das tecnologias, das sociedades, do humano. E, na maior parte das sessões que se vê por aqui, a sensação é mesmo de avanço: computação quântica, inteligência artificial, ativismo pelas causas certas, e a humanidade movendo-se adiante. Eu costumo sair daqui, sempre, esperançosa. Quase de óculos cor de rosa, mesmo, acreditando que dá pra gente construir um mundo e uma sociedade melhor. Neste ano, vi que na trilha de cinema haviam alguns documentários sobre temas humanos pungentes e resolvi abraçar sessões relacionadas a eles. Um dos meus maiores acertos deste ano.
O primeiro documentário, chamado “Take no Prisoners“, fala sobre o sequestro como ferramenta de troca, política ou de propaganda. Sentei numa sala pequena e ouvi dois cineastas, um negociador de reféns e um ex-correspondente internacional sequestrado por 544 dias no Irã falarem sobre como é complexa a repatriação destas pessoas — não só pela óbvia questão de envolver negociação com terroristas internacionais e domésticos, mas também pela burocracia americana. Na platéia, várias famílias de pessoas repatriadas pelo negociador se emocionaram com a troca entre os palestrantes. Forte.
O segundo falou sobre vigilância e táticas utilizadas na guerra fria e segunda guerra pelas polícias políticas e sobre como aquelas mesmas táticas estão sendo utilizadas agora em países como a Síria. O nome do documentário é “The Spies are Among us“. Também falou-se sobre o medo de que voltem a ser usadas, em escala, com o tanto de dados pessoais que deixamos por aí como nosso rastro todos os dias. Na Rússia, por exemplo, há uma influenciadora (adulta) muito relevante que pede a pre-adolescentes que reportem a ela todas as coisas antipatrióticas que acontecem em seu redor — e dizem que ela reporta o que recebe das crianças ao governo. Triste.
E pra terminar, hoje vi Nadia Murad, ativista política laureada com o Prêmio Nobel, falar sobre o trabalho que realiza após sobreviver a um campo de escravidão sexual. Ela conta que foi presa com outras 6 mil mulheres no Iraque, quando o ISIS executou um massacre sobre a região de religião Yazidi no país.
Nadia sobreviveu a 3 meses de crueldade, se libertou graças a generosidade de uma família local e conseguiu asilo como refugiada na Alemanha. Junto com Amal Clooney, denunciou à ONU seus captores e o marketplace de escravas sexuais que eles montaram. Desde então, Nadia lançou sua própria fundação para combater o estupro e apoiar suas sobreviventes. Uma das iniciativas foi a criação de um “código” para que jornalistas, trabalhadores humanitários e de saúde possam conversar com as sobreviventes sem que elas revivam o trauma por que passaram infinitas vezes.
A despeito das dificuldades que viveu e das ameaças que ainda recebe pelo trabalho que faz, Nadia vê progressos sendo feitos no front pouco a pouco. Ela conta que foi a fé e a esperança que a mantiveram viva até o resgate, e que apesar de não ser uma pessoa religiosa ela se mantém esperançosa (depois de tudo o que viveu). Lindo.
Em tempos de tanto avanço tecnológico, humano e intelectual, a despeito do título deste artigo, não deveria caber mais no mundo este tipo de prática ou divisão ideológica. Ver tantas mentes potentes do mundo todo trabalhando pra que isso aconteça e trazendo esta consciência para cá fez minha semana.
E me fez pensar, também: o que nós estamos fazendo para ajudar?
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