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SXSW 2025: A grande reinicialização dos games

A indústria de jogos enfrenta um futuro de consolidações, medo de riscos e audiências uniformizadas

por Juliana Wallauer / Co-Fundadora do Mamilos
Capa - SXSW 2025: A grande reinicialização dos games
Imagem: Joost van Dreunen. Foto: Divulgação SXSW

A indústria de games, avaliada em US$ 250 bilhões, está vivendo um momento de turbulência. No SXSW 2025, Joost van Dreunen, professor da NYU e especialista no mercado de jogos, traçou um panorama de um setor que, depois de anos de crescimento desenfreado, agora se vê diante de desafios estruturais profundos. O entusiasmo em torno de novas tecnologias e promessas de inovação contrasta com um cenário de custos crescentes, estratégias repetitivas e um mercado cada vez mais homogêneo.

Os últimos anos foram marcados por declínios inesperados e falhas retumbantes. Jogos como aqueles da Sony e Ubisoft, que chegaram ao mercado com grande expectativa, falharam em entregar experiências memoráveis. O motivo? Um modelo de negócios que exige investimentos exorbitantes tanto em desenvolvimento quanto em promoção, tornando cada novo projeto uma aposta arriscada. E, quando algo dá errado, as consequências são devastadoras: ondas de demissões atingiram estúdios grandes e pequenos, consolidando um ciclo de retração.

Van Dreunen destacou como a indústria voltou ao “modo medo de risco”. Em vez de inovação, temos um mercado de ideias padronizadas, onde todos competem pela mesma audiência com as mesmas estratégias. O resultado é um ambiente onde poucos se arriscam a tentar algo novo, e quando tentam, acabam caindo nas armadilhas da superespecialização. Um erro comum é mirar demais em um único demográfico e negligenciar a diversidade de jogadores. Exemplos como Roblox mostram os riscos desse modelo: apesar do sucesso estrondoso entre o público infantil, a plataforma luta para manter relevância conforme sua base de usuários envelhece.

 Carnival, Adult, FemAle, Person, Woman, Crowd, People, Clothing, Footwear, Shoe, face, Head, Parade, Mardi Gras
Roblox / Divulgação

Outro grande fracasso abordado na palestra foi o VR. Durante anos, a realidade virtual foi vendida como o futuro inevitável dos jogos, mas nunca se consolidou como um negócio sustentável. A promessa de mundos imersivos esbarrou em dificuldades práticas, falta de apelo massivo e barreiras tecnológicas que ainda não foram superadas. Assim como a Web3 e outras apostas grandiosas, a diferença entre ambição e realidade se tornou evidente. Van Dreunen ironizou esse descompasso ao questionar: “Se a tecnologia é tão revolucionária, por que ainda estamos jogando os mesmos jogos de sempre, só que com um headset caro na cara?”.

Olhando para o futuro, Van Dreunen propôs uma nova abordagem baseada em três princípios: low tech, low brow e low cost. Em meio à saturação tecnológica, experiências mais acessíveis e menos dependentes de inovações caras podem encontrar espaço. Jogos de tabuleiro e esportes como pickleball são exemplos de como formatos “low tech” continuam cativando o público. O conceito de low brow sugere ampliar a audiência ao invés de elitizar o consumo, enquanto o low cost reforça que nem toda grande ideia precisa de um orçamento astronômico para prosperar.

Ele também fez provocações diretas a grandes nomes da indústria, inclusive Elon Musk. “Estamos apostando todas as fichas no metaverso, nos carros autônomos e nas inteligências artificiais que vão revolucionar tudo, mas, sinceramente, alguém aqui acredita que o Twitter melhorou desde que Musk assumiu?”, questionou, arrancando risadas da plateia.

Ao abordar o sucesso do filme do Mario, Van Dreunen usou o exemplo para levantar dúvidas sobre o modelo atual da indústria. “Se um encanador de bigode e um dinossauro falante conseguem fazer um bilhão de dólares no cinema, será que estamos realmente certos ao investir bilhões em hiperrealismo e narrativas complexas para um público que, no fim, só quer se divertir?”, provocou.

 Business Card, Paper, Text, Chart, Bar Chart
Imagem: Juliana Wallauer

A lição deixada por Van Dreunen no SXSW 2025 é clara: para evitar o colapso criativo e financeiro, a indústria de games precisa se reinventar. E, para isso, talvez seja necessário olhar menos para as promessas do futuro e mais para o que já funciona no presente.

E, antes de encerrar, Van Dreunen fez questão de disparar sua última provocação: “Elon Musk quer colonizar Marte, reinventar os transportes e até redefinir a inteligência artificial. Mas, por favor, alguém avise a ele que a indústria dos games não precisa ser salva por ele”.



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