O novo horizonte da longevidade: viver bem além dos 100 anos • B9

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O novo horizonte da longevidade: viver bem além dos 100 anos

Não basta viver mais, é preciso viver com qualidade

por Juliana Wallauer / Co-Fundadora do Mamilos
Capa - O novo horizonte da longevidade: viver bem além dos 100 anos
Imagem: Julien Tromeur via Unsplash

Eu sei que você está ouvindo um monte de gurus com promessas duvidosas sobre como vamos viver para sempre. A vantagem de vir para o SXSW é o privilégio de ouvir os cientistas que estão na fronteira do desenvolvimento das tecnologias mais promissoras para realmente entregar essas promessas. No painel The New Frontier of Longevity Science: Living Well Beyond Your Years David Sinclair, professor de genética da Harvard Medical School, trouxe uma abordagem focada na biologia do envelhecimento e nas tecnologias emergentes para reverter o processo de envelhecimento. Já Jeffrey Lieberman, professor de psiquiatria na Universidade de Columbia, explorou o impacto do envelhecimento no cérebro e os desafios de manter a saúde mental ao longo de uma vida mais longa.

David Sinclair: Podemos reverter o envelhecimento?

Sinclair iniciou sua fala com uma provocação: por que algumas espécies vivem centenas de anos e nós não? O que há de errado conosco? Para ele, a resposta está na perda de informação biológica ao longo do tempo.

Sua teoria central é a teoria da informação do envelhecimento, que argumenta que a idade não é simplesmente um acúmulo de danos ao DNA, mas sim uma perda da capacidade das células de interpretar e utilizar corretamente a informação genética. “Nosso DNA é como um CD, e o tempo causa arranhões que impedem a leitura correta das instruções celulares”, explicou. Segundo ele, o envelhecimento é reversível, assim como podemos polir um CD riscado para recuperar sua funcionalidade.

Já pensou poder devolver a visão a idosos? Isso não é mais ficção científica.

Sinclair demonstrou como sua equipe conseguiu reverter a idade biológica de camundongos usando técnicas de reprogramação epigenética, restaurando células velhas a um estado jovem. Esse avanço abriu caminho para testes em primatas e, futuramente, em humanos. “Se conseguimos restaurar a visão de camundongos cegos através da reprogramação epigenética, por que não poderíamos fazer o mesmo para outros tecidos do corpo humano?”, questionou. Atualmente, sua equipe já investiga o rejuvenescimento de diferentes partes do corpo, incluindo cérebro, músculos, pele, sistema reprodutivo e células-tronco.

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Sinclair: a reprogramação celular pode, de fato, restaurar tecidos envelhecidos em primatas. Foto: Divulgação

Ele também destacou o papel das sirtuínas e do NAD+, substâncias que regulam a longevidade celular. O problema, segundo Sinclair, é que os níveis dessas substâncias caem drasticamente com a idade, o que pode ser revertido com compostos como NMN (nicotinamida mononucleotídeo). Estudos preliminares indicam que o NMN pode melhorar circulação sanguínea, reduzir colesterol e até aumentar a capacidade física em pessoas mais velhas. “A ciência está avançando rapidamente. Em poucos anos, poderemos ter medicamentos capazes de reverter aspectos do envelhecimento humano“, afirmou.

Nos últimos anos, sua equipe avançou para testes clínicos, investigando como essas descobertas podem ser traduzidas para humanos. Ensaios clínicos recentes indicam que a reprogramação celular pode, de fato, restaurar tecidos envelhecidos em primatas, um passo crucial para futuras terapias em humanos.

Jeffrey Lieberman: E o cérebro, como envelhece?

Se a longevidade extrema se tornar uma realidade, como garantir que nossa mente acompanhe nosso corpo? Esse foi o foco da apresentação de Jeffrey Lieberman. O psiquiatra ressaltou que o cérebro tem um papel único no envelhecimento: ele não apenas envelhece, mas também molda a forma como experimentamos o envelhecimento.

Lieberman explicou que, ao contrário de outros órgãos, o cérebro não regenera células após determinada idade. A partir dos 30 anos, começamos a perder neurônios, e isso se intensifica com o tempo. O desafio, então, é encontrar maneiras de retardar essa degradação e até reverter danos cognitivos.

Além disso, o cérebro, diferente de outros órgãos, carrega as marcas das experiências vividas. “Enquanto músculos podem ser fortalecidos e tecidos podem ser regenerados, o cérebro carrega cicatrizes das emoções, traumas e aprendizados acumulados ao longo da vida”, explicou. Segundo ele, a ciência já reconhece que essas marcas influenciam a saúde mental e o risco de doenças neurodegenerativas. Nesse contexto, substâncias como a psilocibina vêm sendo estudadas não apenas por sua capacidade de melhorar a neuroplasticidade, mas também por ajudarem a reprocessar experiências passadas e promover resiliência emocional.

Entre as abordagens mais promissoras, ele destacou:

  • Terapias genéticas e epigenéticas, semelhantes às estudadas por Sinclair, que poderiam restaurar funções cognitivas em pacientes com Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas.
  • O uso de psilocibina e outras substâncias psicodélicas, que mostram potencial para promover a neuroplasticidade e aliviar condições como depressão e ansiedade em idosos.
  • Neuromodulação, incluindo estimulação magnética transcraniana, que pode reativar circuitos neurais deteriorados pelo envelhecimento.

“Precisamos entender que não se trata apenas de prolongar a vida, mas de garantir que essa vida seja mentalmente saudável e plena”, enfatizou.



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