Quebrar a barreira supersônica pode também redefinir sucesso

Hoje eu fiz aqui uma das coisas que mais gosto: assistir a uma palestra da NASA. E ela fez comigo exatamente o que eu penso que o SXSW deve fazer com a gente: me fez sentir algo.

Pouca gente sabe, mas um avião supersônico não produz um estrondo apenas no momento exato em que quebra a barreira do som. Na verdade, ele arrasta esse ruído consigo ao longo de todo o percurso em velocidade supersônica, criando um “boom” que pode ser ouvido por quilômetros. Essa é a razão pela qual, desde os anos 1970, voos supersônicos não podem acontecer sobre os continentes, sobre áreas habitadas.


A missão Quesst, liderada por um time da NASA composto por Cathy Bahn, Larry Cliatt e Nils Larson, quer mudar essa realidade. O objetivo é ambicioso: transformar o estrondo característico do voo supersônico em um ruído sutil, um “thump” discreto e quase imperceptível. Se bem-sucedida, a iniciativa pode redefinir completamente as regras da aviação e reabrir o mercado para viagens comerciais em velocidades superiores a Mach 1.


A chave para essa revolução é o X-59, aeronave experimental desenvolvida pela NASA para testar um design inovador que reduz a onda de choque causada pelo voo supersônico. Os primeiros testes estão programados para este ano, com voos sobre cidades selecionadas nos Estados Unidos.

Um F-15 ao lado do X-59, durante teste de interferência eletromagnética. Imagem: NASA


Caso os testes confirmem que ele pode voar sem incomodar quem está em solo, a NASA planeja compartilhar seus dados com governos e empresas da iniciativa privada. O objetivo final é impulsionar uma nova regulamentação para o setor, permitindo que aeronaves comerciais voem em velocidades supersônicas também sobre a terra.


No meio desta conversa, Nils Larsson, o piloto de testes da missão, abriu o coração e falou que ser piloto é um sonho de criança realizado: que desde cedo é o que ele queria fazer e que testar este avião, na visão dele, é o pico da sua carreira.


Mais do que o que ele disse, a forma honesta com que ele falou me pegou no estômago: “I get to do the coolest thing” (se referindo a pilotar). Ele está, naquele palco, genuinamente feliz e realizado. Pra ele, o sucesso é sentar naquele cockpit.


E aí eu me peguei pensando em como quem senta nos assentos corporativos hoje define sucesso de outro jeito. Sucesso como riqueza, como projeto de poder, status. E como esta definição, até a chegada da geração Z, tinha virado verdade e precisa mudar. Precisamos de mais Nils por aí!


Voltando pra missão Quesst: o impacto desse avanço pode ser gigantesco. Se hoje um voo entre Nova York e Los Angeles leva cerca de seis horas, com uma tecnologia como essa, o tempo de viagem poderia cair para menos da metade. Se o “boom” der lugar ao “thump”, o mundo vai, literalmente, encolher.



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Publicador por
Juliana Vilhena Nascimento @junascimento

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