“É como nos olharmos no espelho cósmico”: NASA celebra três anos de descobertas com o telescópio James Webb
A tecnologia que mudou nossa visão do universo desde os primeiros momentos após o Big Bang
Imagine capturar o momento exato do nascimento de uma estrela. Ou observar água em um asteroide que, pela teoria, deveria ser completamente seco. Ou ainda detectar moléculas complexas na atmosfera de um planeta a trilhões de quilômetros da Terra. Esses são apenas alguns dos feitos revolucionários do Telescópio Espacial James Webb (JWST) nos seus primeiros três anos de operação.
Em um painel emocionante no SXSW 2025, três cientistas da NASA compartilharam as descobertas mais impactantes feitas pelo telescópio que está redefinindo nossa compreensão do universo – além de revelar porque essas imagens nos tocam tão profundamente.
“Trabalho dos sonhos desde os 12 anos”
Quando Dra. Nicole Palombo viu pela primeira vez as imagens da Nebulosa de Carina capturadas pelo Webb, ela chorou. “Foi tão incrivelmente bonito, tão emocionante pensar em quantas pessoas trabalharam por décadas para este momento”, revelou a astrofísica no painel. “A imagem é tão magnífica que acabou se tornando o papel de parede de praticamente qualquer pessoa com quem converso.”
Esse sentimento pessoal compartilhado pelos cientistas demonstra o impacto profundo do telescópio. A Dra. Amber Straughn, que trabalha com o Webb desde 2008, comentou: “Essas missões são tão grandes que pessoas literalmente passam suas carreiras inteiras nelas. Foi um caminho longo e nada fácil.”
O JWST é o maior telescópio científico já enviado ao espaço – tão grande que precisou ser dobrado como origami para caber no foguete. O espelho dourado de 6,5 metros de largura (cerca de 21 pés) só se abriu completamente quando já estava no espaço. Mais de 20.000 pessoas trabalharam no projeto ao longo de 20 anos.
“Lançamos no dia de Natal de 2021. Que presente maravilhoso, não apenas para nós que trabalhamos nele por todos esses anos, mas realmente para o mundo inteiro,” compartilhou Straughn.
As revelações mais surpreendentes
Entre as descobertas mais impressionantes do telescópio está a observação do universo primitivo. “Uma das metas científicas primárias do JWST era olhar para trás no tempo e ver como as primeiras galáxias se formaram,” explicou Straughn. “Conseguimos fazer isso, mas descobrimos que nossas teorias não estavam totalmente corretas.”
O telescópio revelou que o universo primordial é diferente do esperado, com muito mais galáxias brilhantes do que os cientistas previam. Também descobriu que os buracos negros nessas galáxias primitivas são maiores do que deveriam ser segundo os modelos existentes.
“Não ‘quebramos’ a cosmologia, felizmente,” brincou Straughn, “mas estamos tendo que revisar nossas teorias de como a formação estelar funciona no início do universo.”
Outra descoberta revolucionária veio de um lugar inesperado: nosso próprio sistema solar. A Dra. Stefanie Milam explicou como o Webb detectou água em um asteroide no cinturão principal pela primeira vez.
“Esta região do nosso sistema solar está próxima o suficiente do sol onde nenhuma água deveria existir,” explicou Milam. “Mas o Webb, com sua sensibilidade incrível, conseguiu detectar água em um corpo asteroidal de forma conclusiva pela primeira vez.”
Por que as imagens nos fascinam?
Uma das questões mais filosóficas levantadas durante o painel foi: por que estas imagens do espaço nos fascinam tanto? Afinal, diferentemente de montanhas, rios ou pores-do-sol, essas estruturas cósmicas não fazem parte da nossa experiência cotidiana como humanos.
A resposta de Straughn foi profunda: “Talvez em algum nível profundo, percebemos que quando olhamos para essas imagens, estamos olhando para nós mesmos, para nossas origens. O ferro em nosso sangue, o cálcio em nossos ossos, o oxigênio que respiramos – tudo isso veio de algo como isso.”
“Somos incrivelmente e literalmente feitos no cosmos. E acho que essa é uma noção bonita e poética: que quando olhamos para essas coisas, entendemos que estamos olhando para nós mesmos. Somos parte do universo, e isso também nos conecta uns aos outros.”
O Webb supera expectativas
Um aspecto notável do telescópio, enfatizado várias vezes no painel, é que ele está funcionando melhor do que o esperado. O lançamento foi tão perfeito que economizou combustível, estendendo a vida útil estimada de cinco anos para cerca de 20 anos.
“Os instrumentos estão simplesmente funcionando com mais capacidade,” explicou Palombo. “Uma vez em órbita, a um milhão de milhas da Terra, você realmente vê como os instrumentos se comportam.”
Como exemplo da sensibilidade do telescópio, a imagem de campo profundo que o Hubble levou 20 dias para capturar, o Webb conseguiu em apenas seis horas.
O futuro da exploração espacial
Apesar do Webb estar apenas começando seu trabalho, os cientistas da NASA já estão pensando no futuro. O Telescópio Nancy Grace Roman está programado para lançamento até maio de 2027 e foi projetado para estudar o “universo escuro” – a matéria escura e energia escura que compõem 95% do universo, mas cuja natureza permanece um mistério.
Mais adiante, a agência está desenvolvendo tecnologias para um verdadeiro “caçador de vida” – um telescópio especificamente projetado para encontrar vida em planetas semelhantes à Terra, chamado provisoriamente de Habitable Worlds Observatory.
Quando questionada sobre a relevância da NASA em tempos de possíveis cortes orçamentários e avanço da exploração espacial privada, Straughn destacou o papel único da agência: “Acho que uma das capacidades muito únicas da NASA são as missões científicas. A NASA teve realmente grande sucesso em parcerias com a indústria comercial, mas missões científicas talvez nem tanto [para o setor privado].”
“No final das contas, estas são missões financiadas pelos contribuintes, e elas pertencem a vocês. Nós, como cientistas da NASA, estamos fazendo isso não apenas para nós mesmos, mas para o mundo.”
Os fãs do Webb podem acompanhar o que o telescópio está observando em tempo real através do site principal da NASA. E para quem quiser ver mais de perto: após 12 meses ou menos, todos os dados coletados ficam disponíveis gratuitamente para qualquer cientista no mundo baixar e usar – e todas as imagens são, claro, disponibilizadas ao público.
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