O que acontece quando jovens são ouvidos?
Dica: ideias transformadoras sendo desenvolvidas no presente
Em meio a tantas discussões no SXSW sobre crises climáticas, colapsos institucionais e as incertezas da inteligência artificial, a palestra Moonshot & the Next Generation of Changemakers trouxe um sopro de esperança. Em vez de previsões cínicas ou distópicas, o painel mostrou algo raro: jovens que não apenas sonham com um futuro diferente, mas estão construindo esse futuro agora.
Se inovação é sobre imaginar novos caminhos, por que ainda limitamos tanto quem pode ser ouvido? Quantas soluções estamos desperdiçando simplesmente porque insistimos em achar que idade é sinônimo de experiência?
A nova geração de inovadores
O painel reuniu jovens que já estão transformando o mundo em diversas áreas. Yasmine Abdu, fundadora da CarbonTrac, usa inteligência artificial para ajudar supermercados e consumidores a reduzirem emissões de carbono. Ela não chegou até aqui por acaso: já venceu nove hackathons, além de ter sido reconhecida pelo prefeito de Londres por seu trabalho com sustentabilidade. Matyas Bohacek, pesquisador em Stanford, trabalha com deepfakes e segurança em IA. Simon Klinga, aos 17 anos, enviou seu próprio satélite ao espaço para testar o uso de lasers na remoção de lixo espacial. Seu projeto foi tão inovador que inspirou a criação do programa espacial estudantil da República Tcheca.
Esses projetos não são apenas ideias; são respostas concretas para alguns dos desafios mais urgentes do nosso tempo. “Se conseguirmos tornar escolhas sustentáveis mais fáceis do que as insustentáveis, a mudança acontece”, explicou Yasmine. Sua plataforma permite que consumidores vejam a pegada de carbono de produtos no supermercado e façam trocas inteligentes com um clique. Simples, direto e impactante.
Oportunidades surgem quando padrões são quebrados
Os participantes do painel não chegaram aqui seguindo caminhos tradicionais. Mikey, por exemplo, encontrou sua vocação analisando lixo e entendendo que ele conta histórias. “O desperdício não é só um problema ambiental, é um reflexo de como consumimos e priorizamos recursos”, explicou. Já Simon começou a trabalhar com engenharia espacial ainda no ensino médio e, aos 17 anos, já testava suas ideias com a NASA.
Mas o que permitiu que essas ideias saíssem do papel? Acesso, apoio e a chance de errar. “Minha avó me ensinou a programar porque ela queria um tempo de silêncio”, brincou Matyas. “Foi assim que comecei.” Pequenos incentivos no momento certo geram efeitos exponenciais.
A tecnologia pode salvar o mundo – mas não sozinha
Muito se fala sobre como a tecnologia pode ser a solução para os problemas do planeta, mas o painel trouxe uma visão mais equilibrada. “A tecnologia sozinha não resolve nada se for usada dentro dos mesmos padrões que criaram os problemas”, alertou Mikey. “Precisamos mudar a forma como pensamos sobre inovação, especialmente quando se trata de sustentabilidade e equidade.”
Simon, que trabalha com soluções para lixo espacial, trouxe um exemplo claro. “O espaço está se tornando um depósito de lixo porque tratamos a órbita como um recurso infinito. Agora, estamos correndo atrás do prejuízo. Se tivéssemos pensado na gestão de resíduos desde o começo da era espacial, não estaríamos enfrentando esse problema agora.”
A importância de ouvir—de verdade
O ponto mais forte da palestra foi um lembrete simples, mas essencial: jovens não precisam de condescendência ou discursos motivacionais vazios. Eles precisam ser ouvidos e ter a chance de agir. “Não queremos que nos digam que somos o futuro. Queremos que nos deixem trabalhar no presente”, resumiu Yasmine.
No final, a mensagem foi clara. Se quisermos um mundo melhor, talvez a primeira coisa a fazer seja parar de subestimar quem já está tentando construí-lo.
A pergunta que fica: quantas ideias transformadoras já foram ignoradas simplesmente porque vieram de alguém jovem demais?
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