Colossal: A empresa transformando ficção científica em realidade
Reverter a extinção de espécies pode estar num futuro bem próximo
E se Jurassic Park não fosse apenas um filme? E se a extinção não precisasse mais ser um caminho sem volta? No SXSW 2025, a Colossal Biosciences apresentou seus avanços no campo da desextinção e da engenharia genética, e a conversa foi conduzida por Joe Manganiello, ator, produtor e diretor, conhecido por seus papéis em True Blood, Magic Mike e como Deathstroke no universo da DC—uma escolha inusitada para um tema que parece ficção científica, mas que, segundo a empresa, já é realidade.
Brincando de Frankenstein?
Desde que anunciou seu projeto de trazer de volta o mamute-lanoso, a Colossal vem sendo comparada a um laboratório saído diretamente de um filme de ficção. Mas, segundo seus fundadores, a ciência envolvida vai muito além do espetáculo. “A extinção não precisa ser permanente. A tecnologia já existe, e temos uma responsabilidade moral de usá-la”, afirmaram os palestrantes.
A empresa revelou novas espécies que estão na lista para desextinção, incluindo o pássaro dodô e o tilacino (o tigre-da-Tasmânia). Cada um desses projetos apresenta desafios genéticos únicos, mas também oportunidades para restaurar ecossistemas inteiros. “Não estamos só trazendo espécies de volta – estamos tentando reparar os danos que causamos”, explicaram.
Já vivemos em um mundo de modificação genética
Se a ideia de recriar espécies extintas parece revolucionária, a verdade é que já vivemos em um mundo amplamente modificado pela engenharia genética. “Se você tem um cachorro, você já está convivendo com um animal geneticamente modificado”, provocou um dos palestrantes.
A diferença é que, até agora, essas mudanças foram lentas, feitas através de cruzamentos seletivos ao longo de séculos. Agora, com as novas ferramentas de edição genética, é possível acelerar esses processos de forma precisa e controlada. “Estamos apenas refinando o que a natureza já faz há milhões de anos”, defenderam.
IA, biologia e o futuro da vida
A engenharia genética não se limita à desextinção. A Colossal está explorando como a biologia pode resolver problemas que antes pareciam impossíveis. Um exemplo? Um micróbio encontrado na Amazônia que originalmente levava séculos para decompor plástico, mas que foi modificado para realizar o mesmo processo em poucos dias. “A natureza já tem as respostas. Só precisamos aprender a fazer as perguntas certas.”
O que podemos aprender com o polvo?
Entre os projetos mais fascinantes discutidos no painel está o estudo dos polvos e das águas-vivas. “O polvo pode editar seu próprio RNA em tempo real. É um organismo que literalmente se modifica para sobreviver”, explicaram. Esse tipo de habilidade biológica levanta questões sobre o que é possível para outras formas de vida—incluindo a nossa. “Se um polvo pode se adaptar a esse nível, o que isso significa para a evolução humana?”
Outro exemplo surpreendente foi a descoberta de uma proteína presente em águas-vivas que pode matar células cancerígenas. “E se a cura para o câncer já existisse, mas estivesse escondida no oceano?” Essa pesquisa reforça a ideia de que a biologia pode oferecer soluções para desafios que a humanidade sequer imaginava.
Longevidade e a nova Arca de Noé
A conversa se expandiu para outro tema fascinante: longevidade. “Nos próximos 20 anos, podemos atingir a velocidade de escape da longevidade—o ponto em que, para cada ano que vivemos, a ciência pode nos dar mais de um ano extra de vida”, afirmaram os palestrantes.
E se conseguimos modificar genes para prolongar a vida, o que mais podemos fazer? A empresa defende que a resposta para muitas dessas perguntas pode estar em espécies já existentes. Elefantes, por exemplo, raramente desenvolvem câncer devido a uma mutação genética específica. “Se entendermos isso, podemos aplicar os mesmos mecanismos para prevenir doenças em humanos.”
Mas a grande questão levantada no painel foi outra: se conseguimos salvar vidas, por que não estamos preservando as espécies que já temos?
A Colossal defende a criação de um banco genético global, uma verdadeira “Arca de Noé” moderna, para armazenar material genético de todas as espécies do planeta. “Não podemos deixar para reagir depois que for tarde demais. Precisamos armazenar essa biodiversidade agora, enquanto ainda podemos.”
Domínio sobre a vida?
A tecnologia apresentada pela Colossal é impressionante, mas também levanta questões éticas. “Queremos ter controle total sobre a biologia? Até onde podemos —e devemos—ir?”, perguntou o moderador.
O entrevistado, Ben Lamm, cofundador e CEO da Colossal Biosciences, foi enfático: “O maior erro seria não fazer nada. Escolher a inação significa aceitar que perderemos metade das espécies do planeta até 2050”.
A pergunta que fica é: se podemos reverter a extinção, modificar genes e talvez até prolongar a vida, quais escolhas vamos fazer?
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