Captando os sinais convergentes da mudança
Não se trata de prever o futuro, mas de estar no lugar certo para enxergar o que os outros ainda não veem
No deserto do Novo México, The Lightning Field, de Walter De Maria, não é apenas arte. É um experimento de percepção. Um campo com 400 hastes de aço inoxidável, meticulosamente posicionadas, esperando a combinação perfeita de condições climáticas para revelar um espetáculo da natureza. Quando o raio cai, a paisagem muda. De repente, forças invisíveis se tornam visíveis.
O foresight estratégico funciona da mesma forma. Trata-se de aguçar os sentidos, captar sinais antes que virem trovões de disrupção. Identificar os primeiros lampejos da mudança—avanços tecnológicos, novos comportamentos, conceitos emergentes—antes que eles redefinam mercados inteiros. Não se trata de prever o futuro, mas de estar no lugar certo para enxergar o que os outros ainda não veem. E agir antes que a tempestade chegue.
Amy Webb, futurista e fundadora do Future Today Strategy Group, trouxe exatamente essa perspectiva em sua palestra de hoje: “Uma evolução em IA pode estar no bleeding edge de manhã e virar notícia velha no fim do dia.” Ela foi além do óbvio para falar de IA. “IA é o motor de tudo, mas é apenas uma peça de um quebra-cabeça muito maior”, argumentou. “Empresas que focam só nela e ignoram outras tecnologias convergentes correm o risco de ficar para trás. Duas dessas tecnologias—sensores avançados e biotecnologia—têm evoluído silenciosamente, mas são tão revolucionárias quanto a IA.”
E aqui está o ponto central: a convergência dessas três frentes está criando uma nova realidade. Amy Webb chama isso de inteligência viva — sistemas que sentem, aprendem, se adaptam e evoluem. Essa revolução tecnológica não apenas acelerará a inovação, mas transformará indústrias inteiras e dará origem a novos mercados. Alguns dos exemplos mais intrigantes:
- Sistemas Multi-Agentes – Inteligências artificiais que interagem e colaboram entre si, criando uma inteligência coletiva.
- Embodied AI – Modelos de IA que integram experiências físicas humanas por meio de sensores, levando a IA de observadora a controladora.
- Organoid Intelligence – O uso de células cerebrais para criar sistemas de computação biológica. Sim, isso já está sendo testado comercialmente.
- Wearables acoplados às células – Sensores microscópicos capazes de atuar dentro do corpo, como nano-máquinas acopladas a espermatozoides para melhorar a fertilidade.
A pergunta que fica: empresas e governos estão prontos para o que vem aí? Spoiler: não estão. Mas há três ações urgentes:
🔹 Mapear sua rede de valor – Compreender o ecossistema de fornecedores, distribuidores, consumidores e parceiros que sustentam o negócio. “Quando essa rede está saudável, todo mundo gera valor junto”, disse Webb.
🔹 Comprometer-se a aprender – Acompanhar a próxima onda de inovação e entender como ela pode impactar seu mercado.
🔹 Fazer a coisa certa – Tomar as melhores decisões agora para que o futuro não seja comprometido. Identificar dois ou três casos de uso de alto impacto — e simplesmente começar.
A questão não é se a tempestade vai chegar, mas quando. A única escolha real é estar pronto para captar seus sinais.
Comentários
Sua voz importa aqui no B9! Convidamos você a compartilhar suas opiniões e experiências na seção de comentários abaixo. Antes de mergulhar na conversa, por favor, dê uma olhada nas nossas Regras de Conduta para garantir que nosso espaço continue sendo acolhedor e respeitoso para todos.