Louie Schwartzberg e o poder da beleza como cura
Em tempos em que algoritmos manipulam nossos sentimentos com medo, ansiedade e ressentimento, a beleza pode ser um vetor de mudança
Louie Schwartzberg vê o mundo de um jeito que a maioria das pessoas não vê. E talvez seja exatamente isso que o torne um dos cineastas mais fascinantes da atualidade. Pioneiro na arte da fotografia em time-lapse e especialista em capturar os ritmos invisíveis da natureza, Schwartzberg passou as últimas décadas explorando como a beleza pode nos transformar. Você pode não reconhecer o nome à primeira vista, mas provavelmente já assistiu a um dos seus TED Talks sobre gratidão, micélios e o poder das imagens para despertar nossa consciência.
No SXSW 2025, ele trouxe uma provocação essencial: e se pudéssemos usar a beleza como ferramenta de cura? Em sua palestra “Visual Healing”, Schwartzberg apresentou suas mais recentes pesquisas e experiências que exploram a relação entre imagens, emoções e saúde. A jornada começou nos laboratórios da ciência, passou pela espiritualidade e chegou a uma conclusão poderosa: precisamos de mais beleza e menos medo.
A cura pela visão
O conceito de Visual Healing (cura visual) surgiu da observação de que os estímulos visuais têm um impacto profundo no nosso bem-estar. Se sons e cheiros são usados como terapias, por que não imagens? Essa foi a pergunta que Schwartzberg levou para pesquisadores de neurociência. Os primeiros estudos já mostram que contemplar padrões naturais pode reduzir a pressão arterial, diminuir o estresse e até potencializar os efeitos de terapias com psicodélicos.
Em parceria com hospitais e centros de pesquisa, ele criou experiências onde pacientes escolhem paisagens para “viajar” enquanto estão em tratamento. “Onde no mundo você gostaria de estar para se sentir curado?”, perguntava a interface do projeto. Os pacientes escolhiam entre florestas, oceanos, desertos e, a partir daí, entravam em um estado de relaxamento mais profundo. “A beleza nos ancora no presente, e estar presente é o primeiro passo para qualquer processo de cura”, explicou.
A experiência de contemplar imagens de beleza não apenas acalma, mas também desperta um senso de assombro e pertencimento. “Precisamos de serotonina fluindo pelo nosso cérebro e nosso corpo. Precisamos da serotonina que vem da beleza para equilibrar a adrenalina e o cortisol que são despejados em nós todos os dias pelo medo. Precisamos de mais beleza e menos medo”. “A beleza nos convida ao amor e à ternura”, disse Schwartzberg. E é exatamente isso que a torna tão poderosa: em tempos em que algoritmos manipulam nossos sentimentos com medo, ansiedade e ressentimento, a beleza pode nos devolver o caminho e nos motivar a fazer a coisa certa.
A gratidão e o olhar cinematográfico
O olhar de Schwartzberg para a beleza da vida não nasceu no acaso. Ele cresceu em Nova York, filho de sobreviventes do Holocausto, e viu desde pequeno a importância da gratidão. Seus pais, mesmo tendo enfrentado o horror da guerra, olhavam para cada refeição, cada dia de sol, como um milagre. “Eles me ensinaram que estar vivo já é uma vitória”, contou.
Foi esse olhar que o levou ao cinema. Na juventude, ele se envolveu em movimentos sociais e começou a documentar protestos contra a Guerra do Vietnã. Sua câmera era uma ferramenta de denúncia e resistência. Mas foi na natureza que ele encontrou sua verdadeira vocação. A beleza do mundo natural o fascinava, e ele passou a capturar aquilo que os olhos humanos não podiam perceber: o desabrochar de uma flor, o movimento de nuvens em dias, o crescimento de fungos ao longo de semanas.
Hoje, ele vê seu trabalho como um convite à gratidão. “A gratidão nasce do encantamento. E a beleza tem esse poder: de nos fazer pausar, respirar e reconhecer o milagre da vida.”
A teoria da beleza como força transformadora
Para Schwartzberg, a beleza não é apenas estética: “A beleza é a linguagem secreta que nos motiva a fazer o que é certo”. “Se você quer proteger algo, você precisa primeiro amá-lo. E para amar, você precisa vê-lo de verdade.”
A indústria e a política entenderam isso há muito tempo. A beleza sempre foi usada para vender produtos e ideias. Mas e se, em vez de ser uma ferramenta de consumo, a beleza fosse usada como um vetor de mudança?
Schwartzberg defende que olhar para a vida através das lentes da beleza não é apenas um exercício estético, mas uma necessidade emocional e social. “Se olharmos para a vida através da lente da beleza, mudamos o mundo”. A beleza nos conecta com algo maior, nos faz sentir parte de um todo e resgata em nós a ternura, a empatia e a vontade de proteger aquilo que amamos.
Nós sempre protegemos aquilo que amamos. E talvez seja disso que o mundo mais precise agora.
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