SXSW 2025: Tecnologia é política

“Há décadas em que nada acontece e semanas em que décadas acontecem.” A frase, atribuída a Lenin, foi usada por Amy Webb para abrir sua apresentação no SXSW 2025 e nunca pareceu tão apropriada. Em um mundo onde a convergência tecnológica está reescrevendo as regras da sociedade em tempo recorde, Webb trouxe à tona três macrotendências que, segundo ela, vão moldar o futuro imediato:

1. A combinação de sensores e AI vai transformar a IA de espectadora em decisora (talvez, controladora). Aqui, a combinação de várias IAs em sistemas multi-agentes (MAS), que se auto-organizam e decidem coisas sem supervisão ou ação humana, vai mudar o jogo. O desafio pra isso funcionar direito é fazer AI entender contexto, coisa que hoje ela não faz. E o caminho pra resolver isso da forma mais rápida é corporificar a inteligência artificial e permitir que ela faça a ingestão de dados físicos. E que lugar melhor há pra hospedar AI do que os cérebros humanos? Pensem na economia de energia pra começar.
   
2. Inteligência Viva. Se os cérebros são os melhores ambientes para AI morar, por que não criar estruturas que contenham vários “mini-cérebros” juntos? A biocomputação está avançando rapidamente, com cientistas construindo os primeiros computadores baseados em células cerebrais humanas: a Cortical Labs acabou de lançar um nesta semana. Essa convergência permitirá que a matéria se torne programável. E isso pode nos fazer reprogramar a vida. Pense em criar um bebê sem depender de nenhum ser humano, por exemplo.
   
3. A década dos robôs – mas não como os imaginamos. Os robôs que vamos ver antes dos humanóides são os bio-híbridos, dedicados a executar tarefas específicas. Amy mostrou dois exemplos: um robô que reage à luz por ser um híbrido de fungos com tecnologia e um outro que lembra uma água-viva, e que coleta informações e dados no fundo do mar. Ou um “wearable” para o esperma humano chegar mais rápido onde deve (sim, o esperma “se perde” no caminho para o óvulo). Ou um tijolo que “limpa o ar” das cidades como um pulmão. Estas máquinas microscópicas vão nos trazer poder sobre a natureza.

Ela chamou o momento em que estamos de “O Além” (The Beyond, em inglês). Segundo Amy, estamos na era da inteligência viva, e este tipo de biointeligência vai influenciar as descobertas e as decisões futuras dos líderes – de comunidades, de empresas, de governos.

Para que a gente possa sair desta era fortalecido, educação e os incentivos certos (aqui estamos falando de política, sim) são fundamentais. Aliás, em vários momentos da palestra e da coletiva de imprensa dela, a indissociabilidade entre tecnologia e politica foi evidente.

Ouvir Amy falar nunca é “confortável” – a gente sempre sai dela meio zonza. Mas sempre é um momento em que a gente se sente hidratado pelo conhecimento—o puro suco do SXSW.

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