O futuro da narrativa no cinema árabe: representatividade, desafios e novos olhares
Existem narrativas de diferentes partes do mundo árabe muito além do que apenas guerra, terror ou deserto
O cinema árabe está deixando para trás uma era de representações limitadas e estereotipadas. Durante o painel “The Future of Storytelling: A Middle Eastern Series” no SXSW 2025, o produtor Gianluca Chakra e a curadora e empreendedora cultural Butheina Kazim discutiram a transformação do audiovisual no Oriente Médio e o impacto dessa nova fase para o público global.
Um olhar além dos clichês
Por muito tempo, o cinema árabe foi reduzido a duas grandes narrativas: a exotização da cultura ou a representação da região como um palco eterno de conflitos. “O Ocidente sempre viu o Oriente Médio como um único país chamado ‘Arábia’, onde todo filme precisava ser sobre guerra, terror ou deserto”, afirmou Gianluca Chakra. Ele destacou que, além da repetição de estereótipos, a “pornografia do sofrimento” dominou a visão ocidental sobre a produção árabe. “Se um filme árabe fosse triste o suficiente, ele ganhava financiamento europeu”, explicou, criticando a forma como o sofrimento era muitas vezes explorado para atender expectativas externas.
O novo momento do cinema árabe
Nos últimos anos, a narrativa tem mudado. Diretores árabes começaram a conquistar espaço em festivais internacionais, apresentando histórias diversas e autênticas que desafiam a ideia de uma única identidade para o Oriente Médio. “O que estamos vendo agora são filmes que exploram realidades cotidianas, dramas humanos, comédias e romances, mostrando que há muito mais no mundo árabe do que tragédia e conflito”, disse Chakra. Essa mudança foi impulsionada não apenas pela ascensão de novos talentos, mas também por festivais e fundos de incentivo locais que passaram a priorizar produções mais conectadas às realidades de seus países de origem.
Outro fator essencial foi a entrada de grandes plataformas de streaming. “Os streamings permitiram que filmes árabes circulassem internacionalmente sem precisar passar pelo crivo dos grandes distribuidores ocidentais, que tradicionalmente filtravam o que era exibido”, afirmou Butheina Kazim. Essa nova dinâmica abriu espaço para narrativas de diferentes partes do mundo árabe, descentralizando a produção e ampliando o alcance dessas histórias.
Onde começar? Filmes para conhecer o mundo árabe além dos estereótipos
Para quem quer explorar essa nova fase do cinema árabe, Gianluca Chakra recomendou algumas produções essenciais:
- Caramel (2007) – Dirigido por Nadine Labaki, aborda a vida de mulheres no Líbano com um olhar sensível e universal.
- West Beirut (1998) – Drama que retrata a guerra civil libanesa pelo olhar de adolescentes.
- The Insult (2017) – Filme indicado ao Oscar que discute tensões políticas e sociais no Líbano.
- Perfect Strangers (2022) – Primeira produção original da Netflix em árabe, baseada no sucesso italiano de mesmo nome.
- Very Big Shot (2015) – Thriller libanês que foi um dos primeiros filmes árabes adquiridos pela Netflix.
O painel concluiu com um convite para que o público busque novas histórias e olhares dentro do cinema árabe, explorando as múltiplas realidades da região sem depender das lentes tradicionais do Ocidente. “Nosso objetivo não é ser uma exceção. Queremos construir uma indústria forte, autêntica e acessível ao mundo”, afirmou Chakra.
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