A nova fronteira da saúde: você está cuidando da sua saúde social?
O futuro das ferramentas digitais deve priorizar conexões autênticas, ao invés de interações superficiais que apenas reforçam a solidão
Se você pensa em saúde, provavelmente associa o conceito à saúde física e mental. Mas e a saúde social? Esse foi o ponto central da palestra de Kasley Killam no SXSW 2025. Formada em ciências sociais em Harvard e especialista em conexões humanas, Killam argumenta que estamos diante de uma nova revolução na forma de encarar o bem-estar: a compreensão de que a qualidade das nossas relações é tão vital quanto exercício físico ou terapia.
A pesquisa é clara: não se trata apenas de um sentimento de solidão ou pertencimento. A falta de conexão social afeta o corpo de forma mensurável. Killam apresentou um estudo em que pessoas foram expostas ao vírus da gripe. As que tinham mais interações sociais tiveram sintomas mais leves e se recuperaram mais rápido. Outro estudo acompanhou 7 mil adultos por quase uma década e revelou que aqueles com menos laços sociais tinham o dobro de chances de morrer no período. “Não importa o quão saudável você seja: sem conexões, seu risco de mortalidade dispara”, alertou.
O problema é real e global. Nos EUA, o ex-Cirurgião-Geral declarou a solidão uma crise de saúde pública. Reino Unido e Japão criaram Ministérios da Solidão. “Como você se sente ao saber que 1 em cada 4 pessoas nesta sala se sente regularmente solitária?”, provocou Killam. Vinte por cento das pessoas não têm ninguém em quem possam confiar, e muitas passam mais de duas semanas sem falar com um amigo ou familiar.
A tecnologia também entra nesse debate: “Os aplicativos e redes sociais que usamos no dia a dia estão nos ajudando a nos conectar de forma significativa ou apenas nos mantendo ocupados?”. Para Killam, o futuro das ferramentas digitais deve priorizar conexões autênticas, ao invés de interações superficiais que apenas reforçam a solidão.
Se a situação é tão crítica, o que podemos fazer? Killam compartilhou estratégias práticas para melhorar a saúde social:
✅ Crie uma ‘to love list’: Assim como fazemos listas de tarefas, faça uma lista das pessoas mais importantes na sua vida e se certifique de manter contato frequente com elas.
✅ Siga a regra 5-3-1: Interaja com pelo menos 5 pessoas por semana, mantenha ao menos 3 relações próximas e reserve 1 hora por dia para conexões sociais.
✅ Escolha conexões em vez de distrações: Em vez de rolar infinitamente no celular, use momentos livres para mandar uma mensagem para um amigo ou ligar para um familiar.
A solução passa também pela educação. “E se ensinássemos crianças a fazer amigos e resolver conflitos da mesma forma que ensinamos educação física?”, questiona Killam. A ideia é incorporar a saúde social desde cedo, para que conexões saudáveis se tornem um hábito natural ao longo da vida.
O impacto também chega ao mercado de trabalho. Equipes que cultivam bons relacionamentos são mais produtivas e inovadoras. “Se sua empresa não está priorizando a saúde social, ela está ficando para trás”, afirmou Killam, destacando que companhias que investem em conexões genuínas entre funcionários têm melhor retenção de talentos e desempenho.
A saúde social é uma tendência crescente. Atualmente, a indústria global de saúde mental é avaliada em US$ 380 bilhões, e a previsão é que atinja US$ 530 bilhões até 2030. “A próxima grande revolução será a inovação na saúde social”, projeta Killam.
O grande questionamento deixado pela palestra foi direto: “Se estamos sempre ocupados e então morremos, qual é o ponto de viver?”. Killam defende que a saúde social não pode ser um luxo, mas uma prioridade. E no fim do dia, talvez o maior investimento que possamos fazer seja simplesmente reservar tempo para nos conectarmos de verdade uns com os outros.
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