SXSW as dimensões da informação: o excesso, a falta, o fato e a desinformação
Como as marcas podem se apresentar e se posicionar tranquilas no caos de um mar de mentiras?
Esta é a minha primeira vez no SXSW, e tenho a felicidade de estar entre as pessoas que compartilharão um pouco dessa experiência no B9. Não estou somente grato, mas também orgulhoso, pois essa plataforma é uma das minhas referências. Obrigado!
Chego a Austin no intervalo entre duas realidades que se chocam: de um lado, a inteligência artificial que avança em velocidade atômica e fala com a tranquilidade de um chatbot que, não demora, poderá resolver todas as nossas questões; do outro, um surto de sarampo causado pela recusa à vacinação. O SXSW acontece nesse meio, entre a utopia da inteligência ilimitada e as consequências brutais da desinformação.
Entre as dimensões da informação, começo pelo volume, que nunca é demais, mas demanda filtro, curadoria e, penso, no caso de SXSW, um pouco de sorte. Ainda estou perplexo com a quantidade de temas, palestras e outros ativações, ao tentar montar uma agenda ri, tenso, ao me dar conta que já estava há mais de meia hora “favoritando” com muito cuidado uma dezena de eventos no mesmo horário do mesmo dia, nunca foi tão dramática a máxima de que escolher é perder.
Quando o FOMO bate forte no meio do meu peito busco abrigo na frase, quase mantra, de Albert Camus:
“Você nunca será capaz de experimentar tudo. Então, por favor, faça justiça poética à sua alma e simplesmente experimente a si mesmo“.
Um exercício sobre o que é interessante para mim em meu contexto pessoal e como isso conecta e nutre todas as dimensões, dos negócios, às relações, da política, ao mundo e meus filhos.
Na dimensão da falta, não é sobre o volume de informação, inexoravelmente abundante, o que falta é a capacidade de filtrar de maneira muito própria. Mesmo com ótimas curadorias disponíveis, sinto que o SXSW nos empurra a escolher e errar em Austin, nos dois sentidos, transitivo e intransitivo do verbo. Esse exercício pode nos levar a descobrir algo brilhante onde o hype ainda não chegou. Espero tropeçar em várias dessas descobertas.
Por fim, sobre a dimensão do fato e a desinformação, a face mais feia da informação: marquei algumas palestras sobre o tema. A tag de desinformação aparece em muitos contextos – de psicodélicos à deepfake. Com a produção de conteúdo explodindo em velocidade exponencial, como distinguir ciência de ficção científica? E como evitar danos perigosos à humanidade? Veja o Texas, onde a desinformação fermentou dúvidas sobre políticas públicas de saúde, mais precisamente a vacinação de crianças. O sarampo, doença erradicada nos EUA desde 2000 (e no Brasil em 2016), 25 anos depois volta em uma epidemia em diversos estados, em especial o Texas. Os locais mais afetados têm taxas de vacinação abaixo de 90%, incluindo Austin. A desinformação, neste caso, mata, mas como nos salvar dessa epidemia? É uma das coisas que quero entender.
Nesta minha primeira volta de SXSW procuro uma luz que indique um caminho de escape tanto de um futuro orwelliano, onde livros e informações são banidos, quanto de um futuro huxleyano, onde somos soterrados por toneladas de informações, tornando difícil distinguir fato de opinião ou, pior, de sofismas.
E onde entram as marcas nisso tudo? Em um momento em que o “fact-checking” é descontinuado ou modulado de maneira negligente em muitas plataformas que veiculam nossos anúncios, como as marcas podem se apresentar e se posicionar tranquilas no caos de um mar de mentiras? Como ter construir credibilidade em plataformas tão dúbias? Isso importa? Acho que mais do que imaginamos. Vamos observar.
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