Maturidade infeliz
Costuma-se dizer que os filmes do diretor Alexander Payne fazem um sério tratado sobre diversos aspectos do “american way of life”. Como no ótimo “Confissões de Schmidt”, por exemplo, onde o personagem de Jack Nicholson percebe lá pelos seus 60 anos de idade, que sua vida foi absolutamente medíocre. Trabalhou demais, juntou dinheiro, ganhou um coração de pedra e no final das contas nada disso valeu a pena. Pelo contrário.
Mas será que os filmes de Payne tratam apenas da vida de um norte-americano médio? Será que a obsessão pela vitória é restrita apenas a sociedade americana? De jeito nenhum.
No meu ver, as perspectivas na vida e as conseqüências no final dela valem para muita gente neste planeta. A perseguição de objetivos que até então pareciam vitais, e em certa fase de vida perdem completamente o sentido quando descobrimos que existem coisas muito mais importantes, fazem parte da realidade de muitos.
E assim como Schmidt, Miles, o personagem de Paul Giamatti em “Sideways – Entre Umas e Outras”, vive a infelicidade na maturidade, só que desta vez na fase dos 40 anos. Miles é um escritor fracassado e Jack, seu melhor amigo, um ator de quinta. A fim de comemorar a despedida de solteiro de Jack, os dois viajam durante uma semana visitando vinícolas pelo extremo meridional da Califórnia.
E é nos vinhos que Payne encontra sua metáfora para dissertar sobre a realidade comezinha de seus personagens, numa espécie de “road movie” tragicômico. Durante a viagem os sentimentos vão se aflorando, e ambos os personagens começam a enfrentar tudo o que tentavam fugir até então. Principalmente Miles, que se embebeda para escapar de sua eterna depressão, mas sempre volta a ela.
Os dois se confrontam, pois enquanto Miles quer uma semana de sossego, degustando vinhos e jogando golfe. Jack quer tocar o foda-se e curtir o máximo possível antes de seu casamento. Porém, mesmo com objetivos diferentes, eles parecem não perceber que a felicidade pode residir no momento, na situação em si e não em algo que esta por vir.
O objetivo de Alexander Payne é mostrar que grande parcela da humanidade é incapaz de viver o presente, e apenas acreditam que a felicidade está no futuro ou nos bons momentos do passado. Assim é Sideways, que coloca a felicidade sempre num lugar distante e intocável.
Algumas mensagens no filme são claras, como diz Maya em certa altura, que os vinhos atingem seu apogeu em certa idade, mas que se passar do ponto começa o declínio inevitável.
Além de todo seu contexto dramático, Sideways tem uma capacidade incrível de criar situações cômicas. Em muitos momentos o público parece esquecer o drama da vida medíocre dos personagens, pois caem na gargalhada, quando temos um alívio a realidade totalmente angustiante de Miles.
Thomas Haden Church e Virginia Madsen tem excelentes atuações, mas é Paul Giamati que brilha no filme. É uma pena que apenas agora os críticos voltem os olhos para ele, um veterano de mais de 30 filmes. Não há explicação para a injustiça da Academia ao não indicá-lo ao Oscar de Melhor Ator, que já o tinha ignorado solenemente em “Anti-Herói Americano”.
Giamati exibe com maestria toda a complexidade de seu personagem em Sideways, atuando com uma naturalidade incrível. Mas se ele não foi reconhecido pela Academia, o mesmo não pode-se dizer do filme em si, que recebeu 5 indicações ao Oscar: Filme, Diretor, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Roteiro Adaptado. Sem contar os 2 Globos de Ouro que ganhou, como Melhor Filme – Comédia ou Musical e Melhor Roteiro.
Sideways é divertido, dramático e muito realista ao mesmo tempo. Trata os sentimentos e os erros que cometemos para dar valor a eles com uma grande sinceridade.
Mas no fim das contas, Sideways pode parecer um filme conformista, já que ao invés de mudar nossos destinos, devemos esperar por algo que sirva como uma salvação, como um amor, por exemplo. E esperar algo acontecer para que nossa vida mude, sem se esforçar muito para a mudarmos nós mesmos, não parece a melhor coisa a fazer.
Acho que ainda temos todas as armas nas mãos para sermos felizes e evitarmos a maturidade medíocre dos personagens de Alexander Payne. Ou não. Vai depender do ponto de vista quando você tiver seus 40 ou 50 anos.
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